“A letra mata”? A Teologia em Chamas

Como estudar mais da Palavra de Deus sem perder o fervor

“A letra mata”? Como estudar mais da Palavra de Deus sem perder o fervor

Você já desejou intensamente conhecer mais a Deus, mas ficou com medo de que pitadas de teologia afetariam a sua devoção ao Senhor? Afinal, não dizem que “a letra mata”?

O dilema: a “Letra” da teologia mata o fervor espiritual?

Quando adolescente, ouvia que meditar na Palavra de Deus era algo essencial para a vida cristã, tão importante quanto comer e respirar. Por esse motivo, era necessário separar um tempo em nossas agendas para ter intimidade com Deus.

Uma das dificuldades que eu tinha com isso era que a meditação nunca passava de 20 minutos de um ritual pela manhã (isso quando conseguia não pegar o celular), com anotações no caderno brochura, resumidas em “quais promessas encontrei nesse texto” e “como devo viver minha vida hoje a partir dessa promessa”, seguidos de uma oração um pouco mais demorada que 4 minutos pelo foi lido.

Os dias passaram e comecei a sentir a necessidade de ir mais fundo em minha vida devocional e em meu crescimento espiritual. Nesse momento, foi quando comecei a ter coragem de pesquisar por palavras como “teologia”.

Mas não foi fácil, pois o termo “teologia” era como um palavrão para mim, pois constantemente me lembrava da irmã piedosa da igreja que apontava o dedo em riste, dizendo: tome cuidado com esses estudos, pois a letra mata.

Quem é capaz de ir contra a senhorinha da igreja local, que por tantos anos conheceu irmãos e irmãs, que viu as idas e vindas de pastores, que permaneceu firme nas reuniões de oração e nos grupos de visitação da comunidade?

Como estudar mais sobre Deus e ter intimidade com ele se a matéria que trata desse assunto — a teologia — é considerada um palavrão ao coração e uma comprovação do motivo dos que se “esfriaram” na fé, ou seja, deixaram de ter manifestações mais fervorosas durante o culto público e a vida em comunidade?

O conflito: como eu amo a “Letra”?

O salmo 119, o maior do Saltério, é uma exaltação à Palavra de Deus. Uma poesia escrita por quem teve intimidade com o Senhor, resultado de meditação, estudo e vivência com as Escrituras.

É possível notar o quanto o estudo e a vivência da Palavra trouxeram ao salmista uma abordagem teológica e experimental em todos os 176 versos. No último versículo, o salmista revele aquilo que todos acusam que o estudo aprofundado causa:

Desgarrei-me como a ovelha perdida (Sl 119:176ª)

O motivo, porém, não era por causa do estudo, mas porque ele se esqueceu “dos teus [do Senhor] mandamentos”. Ele precisava estudar e memorizar e se aprofundar ainda mais para não se desviar!

Assim também foi com o profeta Jeremias. Após ser chamado por Deus para uma dura missão e lembrando-se da afronta que tem sofrido dos seus perseguidores, ele confessa:

Achando-se as tuas palavras, logo as comi, e a tua palavra foi para mim o gozo e alegria do meu coração; porque pelo teu nome sou chamado, ó Senhor Deus dos Exércitos (Jr 15.16).

A Palavra de Deus era um deleite tão intenso para o profeta que ele se apressou em tomá-la e comer, e ao fazer isso seu coração se encheu de gozo e alegria. Isso não o fez desviar. Pelo contrário, a Palavra aprofundada em seu coração o fez perseverar!

Veja, então, o prazer pelo estudo da Palavra, por aquilo que muitos chamam de “Letra”, era considerado doce! O autor de Provérbios descreve com precisão o que ele recebe ao passar mais tempos com a sabedoria das Escrituras:

Come mel, meu filho, porque é bom; o favo de mel é doce ao teu paladar. Assim será para a tua alma o conhecimento da sabedoria; se a achares, haverá galardão para ti e não será cortada a tua esperança (Pv 24.13,14).

Então, a Bíblia parece apontar que a “Letra” tem matado é de amores aqueles que têm passado mais tempo com ela.

A contraprova: a “Letra” apagou o Espírito?

Mas a nossa irmã piedosa não está totalmente errada. Muitos jovens, ao começarem a estudar teologia, deixam de amar a igreja local e se tornam aqueles que apenas apontam o dedo para os erros. Ou até pior, se tornam acadêmicos incrédulos, que deixam de crer nas Escrituras como Palavra de Deus, inspirada, inerrante e verdadeira para a vida do crente.

Esses, tiveram seus corações e mentes arrebatados pelo liberalismo teológico de algumas instituições. E aqui se encontra o problema: essa teologia liberal não era uma teologia de amor pela Palavra, mas de suspeita da Bíblia. Na verdade, o que esfriou foram as engrenagens que alimentavam um ventríloquo de aparência externa de “vida cristã” de Deus. (1Jo 2.18-19).

A evidência: “a letra mata, mas o Espírito vivifica”

A esta altura se faz necessário explicar o que “a letra mata, mas o Espírito vivifica” realmente significa.

[…] o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica. E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de glória, a ponto de os filhos de Israel não poderem fitar a face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, ainda que desvanecente, como não será de maior glória o ministério do Espírito! (2 Coríntios 3:6-8).

Paulo, escrevendo aos Coríntios em sua segunda carta, no capítulo 3, está no meio de um argumento de defesa contra aqueles que têm duvidado de seu apostolado. Em seguida, ele faz a diferenciação entre a antiga e a nova aliança, de como a aliança da lei, em Moisés, foi suplantada pela aliança superior em Cristo, que não está escrita em tábuas de pedras, mas agora nos corações (uma alusão a Jr 32.31-40 e Ez 36.26-27).

A “Letra”, neste verso, está representando toda a aliança da lei que, neste contexto da carta, faz oposição à nova aliança do Espírito (v 4-6). É o Espírito Santo quem arrebata o coração dos seus para obediência à Palavra, obediência à Lei. Apenas o mandamento escrito em pedras ou em algo externo não muda ou transforma o coração, mas sim o Espírito (Rm 2.27-29) que escreve os mandamentos dentro dos corações.

Assim, “Letra” aqui nada tem a ver com uma repreensão de Paulo aos que estudam teologia. O apóstolo não está falando que o estudo teológico das Escrituras vai esfriar ou extinguir o Espírito. O apóstolo está condenando legalistas; e mostrando que sem a ação do Espírito não há vida espiritual.

Então, não é o estudo que é o problema. O problema é o estudo da teologia sem o poder do Espírito. Mas essas coisas não são opostas?

A solução: teologia em chamas

Orlando Boyer escreveu, em seu livro Os heróis da fé, sobre como vinte homens transformaram suas épocas ao devotarem suas vidas ao Senhor. Todos tinham uma coisa em comum, “uma vida constante de oração”. Mas observo também que eles tinham um conhecimento contínuo e crescimento sobre Deus e sua Palavra.

O que podemos observar nesses homens é o que Martyn Lloyd-Jones descreveu em seu livro Pregação e pregadores. São termos que eu nunca colocaria juntos. Aliás, pensava serem opostas: “o conhecimento da Palavra e o poder do Espírito”, que quando juntos se tornam Teologia em Chamas!

O exemplo do apóstolo Paulo como “teologia em chamas”

O estudo das Escrituras nunca matou ninguém espiritualmente. Ao contrário, fez com que o mundo fosse transformado pela renovação do poder do Espírito usando homens e mulheres. Observe como o foi na vida do apóstolo Paulo, ao ser impactado por Cristo.

O apóstolo foi cheio do Espírito e logo passou a pregar e anunciar que Jesus era o Cristo (At 9.17-20), mas isso não tirou a necessidade de Paulo se aprofundar em estudos. Na verdade, Paulo passou catorze anos de estudo antes da sua primeira viagem missionária. Imagine, são 5.113 dias de uma constância que não acabou após começar seu trabalho missionário, seu coração permaneceu em chamas por toda a vida.

No Novo Testamento, Paulo escreve dizendo que nos primeiros anos, ele aprendeu com o próprio Mestre, Jesus Cristo (Gl 1.11-12,17), na Arábia, logo após a sua conversão. E então, três anos depois, foi visitar os apóstolos em Jerusalém. Porém, a Igreja que havia sofrido a perseguição de Paulo, ainda tinha medo e não acreditava em sua conversão.

Apenas após o testemunho de Barnabé, corroborando com a transformação de Paulo, de que agora sim ele era um dentre eles, que os irmãos passaram a recebê-lo. Porém, por causa da perseguição dos gregos, o enviaram para Tarso, onde ele ficou por mais dez anos em estudo e anonimato (At 9.26-31).

Passado os anos, Barnabé foi buscar Paulo. Para o quê? Para ficar durante o período de um ano estudando com os irmãos em Antioquia. E o mais impressionante aconteceu, algo que têm marcado a Igreja até hoje:

E sucedeu que todo um ano se reuniram naquela igreja, e ensinaram muita gente; e em Antioquia foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos (At 11.26).

Foi por causa de um tempo grande de reunião pública de estudos, ensinando e aprendendo, que a cidade deu um “apelido” para esse povo que se ajunta para estudar: cristãos — pequenos cristos, discípulos de Cristo, aprendizes de Cristo!

É por isso que a reação de Festo não nos surpreende, diante da defesa do evangelho que Paulo fez:

Estás louco, Paulo; as muitas letras te fazem delirar (At 26.24).

Ou seja, “Paulo você está maluco de tanto ter estudado”. Por quê? Porque o cristão estuda, ele se deleita nas Sagradas Escrituras, ele ama a Palavra de Deus.

Ainda nesse episódio, o rei responde a Paulo dizendo que ele, por pouco, não o convence a se tornar uma dessas pessoas que se reúnem com outras para ler, ouvir e estudar sobre Cristo Jesus: um cristão (At 26.28).

Somente um homem tomado pelo fogo e poder do Espírito Santo, pode anunciar o Evangelho através de uma mensagem tão clara: arrependam-se dos seus pecados e se tornem pequenos cristos, leitores e estudantes do seu mestre e Senhor Jesus Cristo.

O convite: como você pode manter a chama e crescer em intimidade com Deus?

Estudar ou não estudar, ainda é uma questão? 

Pelo que foi dito acima, essa é uma questão que já foi resolvida pela própria Igreja no primeiro século. Porém também podemos relembrar que a Escritura não se contradiz, ela não desestimula o crente a “conhecer mais da Letra”, afinal o que mata o “povo é a falta de conhecimento” (Os 4.6).

Os maiores problemas agora são quatro:

  • Como começar um estudo?
  • Onde posso estudar?
  • Qual material está de acordo com a visão bíblica e histórica?
  • Tudo que tenho disponível na internet é confiável?

Mas toda essa ansiedade podemos resolver com o Ministério Fiel. Há 60 anos a Fiel tem lutado para que a Igreja no Brasil não morra por falta de conhecimento, mas cresça conhecendo mais a Deus, tendo mais intimidade com ele.

Por isso, eu o convido a conhecer os Cursos Fiel, uma Plataforma que irá ajudar a sua caminhada espiritual. Lá você encontrará aulas confiáveis ensinadas por pastores e professores que creem no poder do Espírito em inspirar as Escrituras e para transformar nossas vidas.

Acesse para crescer em intimidade com Deus; manter o espírito vivo e a teologia em chamas.