Mais do que pureza sexual: cinco ambições para o homem cristão

Se nosso discipulado de rapazes consiste meramente em encorajar disciplinas espirituais e controlar a tentação sexual, por que deveríamos ficar surpresos quando nossos homens são espiritualmente imaturos e nossas igrejas carecem de liderança?

Desde que eu era adolescente, tenho visto grupos de discipulado de homens lutando para superar a prestação de contas da leitura da Bíblia e da luta contra a pornografia. Conversamos sobre outros assuntos, inclusive assuntos importantes, mas a verdadeira agenda era ter certeza de que tínhamos lido a Bíblia e não tínhamos visto pornografia. A mensagem não intencional ao longo do tempo foi: a maturidade espiritual consiste em devoção constante e pureza sexual. Porém, ao estabelecer um baixo padrão para os homens, inevitavelmente os treinamos para serem preguiçosos, egoístas, inseguros e destituídos de ambições. Criamos uma geração de homens para cumprir tarefas espirituais e depois ir jogar videogames.

Mas, em Cristo, os homens são capazes de muito mais do que ler da Bíblia e ter autocontrole (não quero diminuir essas atividades). Deus nos criou e nos redimiu com energia para liderar, arriscar, servir, iniciar, trabalhar duro, sacrificar e amar como Cristo amou; para nos esforçarmos por algo eterno; para cuidar dos outros e atraí-los para Jesus.

Os homens podem fazer mais

Qual seria o aspecto de tais homens? Bem, poderiam se parecer mais com Abel, que sacrificou o primeiro e melhor do seu árduo trabalho por Deus (Hebreus 11.4). Poderiam se parecer mais com Noé, que temia a Deus e obedecia com reverência (Hebreus 11.7). Poderiam se parecer mais com Abraão, que viveu pela fé de que as promessas de Deus se tornariam realidade, mesmo quando Deus lhe ordenou que deixasse o conforto e a segurança do seu lar (Hebreus 11.8-10).

Podem parecer-se mais com José (Hebreus 11.22), que sofreu horrível e injustamente sem resmungar, pois viveu e sofreu com Deus. Poderiam parecer-se mais com Moisés, que recusou “os prazeres fugazes do pecado”, preferindo ser odiado e perseguido com o povo de Deus a desfrutar do luxo no mundo rico que sempre conheceu (Hebreus 11.25-26). Ou poderiam se parecer com Gideão, Baraque, Sansão, Jefté, Davi, Samuel e os profetas,

que pela fé conquistaram reinos, fizeram justiça, obtiveram promessas, pararam a boca dos leões, extinguiram o poder do fogo, escaparam ao fio da espada, tornaram-se fortes pela fraqueza, tornaram-se poderosos na guerra, puseram exércitos estrangeiros em fuga. (Hebreus 11.32-34)

Talvez tenhamos expectativas tão pequenas em relação aos homens (e a nós mesmos) porque perdemos de vista o quanto Deus pode fazer através de um homem fraco, quebrado, muitas vezes falho, mas fiel e disponível. Então como é que nos tornamos homens de Deus mais eficazes, que geram frutos, como estes grandes homens?

Um bom guia para os homens de deus

Como podemos construir uma visão mais forte e mais plena para os homens cristãos a partir da Bíblia?

1 Timóteo 4.12 é um texto familiar, porém estranhamente ignorado, para os homens. O apóstolo Paulo escreve ao seu filho espiritual, Timóteo, um jovem (não uma criança) presbítero na igreja:

Que ninguém vos despreze pela vossa juventude, mas deem aos crentes um exemplo na fala, na conduta, no amor, na fé, na pureza.

Ao longo dos anos, muitos de nós ouvimos este versículo utilizado em ministérios de jovens para encorajar os adolescentes a deixar de lado baixas expectativas e a se esforçarem para ser discípulos exemplares de Jesus. Enquanto Timóteo era um jovem, no entanto, não era um menino. Como as duas cartas revelam, qualquer que fosse a sua idade (provavelmente entre 20 e 30 anos), ele assumiu uma responsabilidade notável na igreja. Já era um “homem de Deus” adulto, e o seu pai espiritual o exortava a agir em conformidade.

Homens de Deus (velhos e jovens), será que estamos servindo de exemplo a outros crentes na fala, na conduta, no amor, na fé e na pureza? Vamos explorar cada um brevemente, analisando o que é fidelidade.

1. O que dizemos (ou não dizemos)?

Primeiro, o que significa dar um exemplo piedoso na fala? Podemos pensar imediatamente em coisas que os homens não devem dizer. Afinal, o próprio Paulo diz: “Que não haja imundície, nem conversa tola, nem brincadeira grosseira, que estão fora do lugar…” (Efésios 5:4). Os homens cristãos devem ser visível e audivelmente diferentes dos homens do mundo; estranha e poderosamente livres de toda imundície, loucura, rudeza e corrupção (Efésios 4.29). Contudo, não devemos nos contentar com sermos conhecidos pelo que não falamos, mas também pelo que falamos.

Mais uma vez, Paulo escreve: “Não haja imundície, nem conversa tola, nem brincadeira grosseira, que estão fora do lugar, mas, em vez disso, haja ação de graças” (Efésios 5.4). Não apenas a ausência de profanidade, vulgaridade e crueldade, mas o som surpreendente da ação de graças masculina. De encorajamento (1 Tessalonicenses 5.11). De sabedoria e honestidade (1 Coríntios 12.8; 2 Coríntios 6.7). Da esperança evangélica (Efésios 6.19). Do bom ensino na igreja e no lar. Em resumo, “que o vosso discurso seja sempre gracioso, temperado com sal, para que saibais como devereis responder a cada pessoa” (Colossenses 4.6).

Quando consideramos as nossas conversas, ligações, mensagens, tweets e e-mails, servimos de exemplo para outros homens?

2. Como gastamos nossa vida?

O que significa dar um exemplo piedoso na conduta? Paulo frequentemente associa estes dois primeiros — fala e conduta, palavra e obras — em suas cartas (ver Romanos 15.18; Colossenses 3.17). Poderíamos compreender onde Paulo quer chegar se perguntarmos: O que a forma de viver a vida, especialmente como gasta seu tempo, seu dinheiro e sua atenção, diz sobre Jesus?

Primeiro, diz alguma coisa sobre Jesus? Que tipo de conclusões as pessoas tirariam sobre o seu Deus depois de observarem você de perto durante uma semana, um mês, um ano? Se professarmos Cristo e nossas vidas ainda se parecerem com as dos outros, o cristianismo parecerá apenas mais uma opção vagamente espiritual, branda e ineficaz entre muitas outras.

“Visto que todas essas coisas hão de ser assim desfeitas”, escreve o apóstolo Pedro, “deveis ser tais como os que vivem em santo procedimento e piedade” (2 Pedro 3.11). “Em santo procedimento” é literalmente traduzido “em conduta santa”, a mesma palavra. À luz de quem Jesus realmente é e da realidade que voltará, que tipo de homens devemos ser? Será que temos passado a breve existência que Deus nos deu aqui na terra como exemplos dignos nas nossas escolhas e prioridades?

3. Como servimos aos outros?

O que significa dar um exemplo piedoso no amor? Uma forma eficaz de avaliar como gastamos o nosso tempo, dinheiro e atenção é perguntar que bem tangível estamos a fazer pelos outros. Um homem cujo trabalho árduo apenas serve a si próprio é um homem digno de pena, não de imitação. Podemos dizer todas as coisas certas, mas se não tivermos amor, não somos nada (1 Coríntios 13.1). Podemos fazer todo o tipo de boas obras, mas se não tivermos amor, não somos nada (1 Coríntios 13.3). Os homens de Deus devem ser homens de grande amor, homens profundamente empenhados em tomar a iniciativa (muitas vezes a grande custo) para o bem dos outros, especialmente o seu bem eterno.

“Sede vigilantes, permanecei firmes na fé”, escreve Paulo aos líderes em Corinto, “agi como homens, sede fortes. Que tudo o que fizerdes seja feito com amor” (1 Coríntios 16.13–14). O amor é vital para a masculinidade. E é vital para a força. “O amor edifica” (1 Coríntios 8,1). O amor unifica (Colossenses 2.2). O amor não dá prioridade aos seus próprios desejos e desejos, mas procura servir as necessidades dos outros (Gálatas 5.13). O amor trabalha com enorme labor para o bem dos outros (1 Tessalonicenses 1.3).

Então, quem amamos? Um cônjuge, os nossos filhos, a família da nossa igreja, os nossos companheiros de quarto, vizinhos e colegas de trabalho, os perdidos? E como, especificamente e de forma tangível, os amamos? Você iria querer que um homem mais jovem imitasse você?

4. A nossa fé está estagnada ou apaixonada?

O que significa dar um exemplo piedoso na fé? Mais uma vez, o amor e a fé frequentemente aparecem juntos nas cartas de Paulo (ver Efésios 1.15; 6.23; 1 Tessalonicenses 3.6). Enquanto pensamos no amor como algo visível e sensível, muitas vezes pensamos na fé como algo privado e invisível. Como podemos dar o exemplo em algo que os outros não podem ver?

Podem não ser capazes de ver a nossa fé da mesma forma que ouvem as nossas palavras e observam as nossas boas obras, mas podem ver-nos a lutar pela fé. Na mesma carta, Paulo escreve: “Combate o bom combate da fé. Toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado e de que fizeste a boa confissão perante muitas testemunhas” (1 Timóteo 6.12). O que significa combater o bom combate da fé?

Combater o bom combate da fé significa estar preparado para lutar. Significa esperar obstáculos e até oposição (1 Pedro 5.8). Significa suportar provações, dificuldades e desilusões com esperança e alegria (2 Coríntios 6.10). Significa arranjar tempo para se encontrar com Deus mesmo quando não é conveniente, mesmo quando estamos cansados, mesmo quando o trabalho é exigente e as crianças são difíceis, porque “a fé vem pelo ouvir, e o ouvir, pela palavra de Cristo” (Romanos 10.17). Significa meditar na palavra dia e noite (Salmo 1.1-2). Significa orar sem cessar (1 Tessalonicenses 5:17). Significa comprometer-se com a comunhão da fé, uma igreja local, e ali servir fielmente (Hebreus 10.24-25).

Então, a nossa vida de fé assemelha-se a uma luta pela fé? Você gostaria que um homem mais jovem combatesse o bom combate como você?

5. Você tem domínio próprio em santidade e honra?

Finalmente, o que significa dar um exemplo piedoso de pureza? Sabemos que a pureza que Paulo tinha em mente aqui era, pelo menos, a pureza sexual. Ele diz mais tarde aos homens jovens na mesma carta: “[Exorta] às mulheres idosas, como a mães; às moças, como a irmãs, com toda a pureza” (1 Timóteo 5.2).

Esse tipo de respeito e autocontrole separará um jovem rapaz no nosso mundo — um mundo cheio de homens que procuram satisfazer suas luxúrias sexuais, viciados em aplicativos para conhecer novas mulheres, e passando de uma moça para outra sem pensar duas vezes. Os homens que se relacionam com as mulheres com toda a pureza não serão como a maioria dos homens, que, por não conhecerem a Deus, vivem de acordo com as suas luxúrias (1 Tessalonicenses 4.3-5).

No entanto, essa pureza envolve mais do que apenas pureza sexual. O mundanismo, ou seja, a devoção explícita ou sutil à cultura pop, aos esportes, ao cinema, às compras, aos meios de comunicação social, ou o que mais o atrai, pode ser tão espiritualmente destrutivo como a tentação sexual (Tiago 1.27). Cada um pode ser um presente de Deus que nos leva a mais de Deus, e cada um pode tornar-se um falso deus que silenciosamente nos afasta dele. Nossas mentes e corações são marcados pela pureza? Expressamos singeleza de devoção e afeto para com Deus? Treinamos todo o nosso ser (coração, alma, mente e força) para o amarmos mais do que tudo? Desejamos que um homem mais jovem imite a nossa pureza?

Os homens foram feitos para mais

Nada nessa visão e nesse chamado diminui a importância de ler a Bíblia e resistir à pornografia. De fato, os homens que buscam a piedade nestas áreas — na fala, na conduta, no amor, na fé e na pureza — serão ainda mais zelosos para meditar sobre a palavra de Deus, e ainda mais zelosos pela pureza, online e na vida real. Nenhum homem se torna um homem de Deus sem se banquetear diariamente com a palavra de Deus. E nenhum homem se torna um homem de Deus sem mortificar seus desejos egoístas e pecaminosos.

Conforma discipulamos homens, não esqueçamos a pornografia — sem dúvida uma das maiores, mais difundidas e mais disponíveis ameaças às suas almas. E nunca menosprezemos a Bíblia — o único e maior arsenal de verdade, coragem, santidade e alegria que temos. Mas chamemos também os homens para mais: para abençoar outros com palavras, para não desperdiçar a vida na tela do celular, para estabelecer horários, energia, e força no amor, para buscar a Deus com afinco dia após dia, e para controlar e usar o corpo com honra e santidade.

Em suma, que possamos ser homens de Deus, salvos e humilhados pela graça dele, que levam outros a fazer o árduo trabalho de Deus, de formas que revelem e provem a glória do seu Filho.

Por: Marshall Segal. © Desiring God Foundation.Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: More Than Sexual Purity: Five Ambitions for Christian Men.

Original: Mais que pureza sexual: cinco ambições para o homem cristão. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Hugo J. Ribeiro. Revisão: Renan A. Monteiro.