Nunca estamos sozinhos

Solidão é uma experiência dolorosa. Fomos criados como seres relacionais e a solidão vai na contramão do projeto divino de vivermos em comunhão. Fomos criados para conhecermos e sermos conhecidos, e houve um tempo que isso acontecia com inocência, profundidade e sem a dor da hostilidade ou separação (Gn 2.18-25).

Mas com a entrada do pecado na história da humanidade, surge uma tensão que nos separa e isola uns dos outros. É isso que o pecado faz: traz separação. O pecado separa o Homem de Deus, divide a humanidade e torna hostil o relacionamento entre o homem e a criação (Gn 3.7-24). Nisso tudo há dor. Muita dor.

Precisamos de esperança para enfrentarmos a solidão. Precisamos do Criador para encontrar um caminho rumo aos relacionamentos para os quais fomos criados para desfrutar. É meu desejo trazer uma reflexão que leve você a entender um pouco mais da experiência da solidão, seus desdobramentos e a esperança que temos em Jesus. Acompanhe comigo:

A diversidade da experiência da solidão

Nem toda experiência de solidão é igual. Por isso, nem todo consolo chega da mesma forma para comunicar esperança para quem se sente solitário. Basicamente, o solitário sofre em algum lugar entre dois extremos: a solidão circunstancial ou a solidão de identidade. “Estar só” não é a mesma coisa que “ser só”!

“Estar só” faz referência a uma circunstância temporária; essa é a solidão circunstancial. Nem por isso deixa de ser doloroso, mas nos ajuda a enxergar a situação de forma diferente. Por outro lado, “ser só” é uma expressão de identidade, que rouba a esperança de quem assim se define. Não importa o que aconteça ao seu redor, alguém que se define como só é capaz de sentir a dor da solidão no meio de uma multidão.Sua solidão é circunstancial ou de identidade? Quando a dor da solidão bate à porta, o que está acontecendo? É a dor da saudade de um relacionamento que não existe mais? É o anseio por uma companhia que nunca chegou? É a dor da rejeição, seja pela hostilidade de alguém ou percepção de inadequação no grupo que lhe cerca? Sua resposta a essas perguntas começa a lhe dar pistas para entender a natureza de sua solidão: circunstancial ou de identidade.

Nunca estamos sós

A solidão circunstancial é resultado da percepção de estar só, sem desfrutar da companhia de alguém. É uma percepção dolorosa, que cria um anseio por estar com alguém. Talvez por saudades (1Ts 2.17) ou até mesmo por abandono (2Tm 4.16). Nossa esperança pode não mudar as circunstâncias de forma imediata, mas certamente muda nossa perspectiva.

Você nunca está realmente só. Não há como fugir da presença de Deus (Sl 139.7-10). E é justamente essa realidade que nos assiste na solidão enquanto buscamos cumprir nossa missão (2Tm 4.17). Então, enquanto passamos por um período de privação de companhia, a certeza da presença de Jesus é o que devemos desfrutar enquanto buscamos formas de cumprir a missão que Ele nos deu (Mt 28.18-20).

Não somos sós, mas UM

Identificar-se como alguém “solitário” é um problema mais profundo. Quando a solidão deixa de ser uma condição para ser parte de nossa identidade, nos afastamos dos recursos espirituais disponíveis para conhecermos mais do Senhor. Lembre-se, o conhecimento de Deus é a essência da vida eterna (Jo 17.3). Fomos alcançados pela graça de Deus e colocados numa comunidade de fé chamada de “Novo Homem” (Ef 2.15). É justamente nesse Novo Homem comunitário que desfrutamos do conhecimento e da plenitude de Jesus (Ef 4.13). Quando ajustado, o corpo de Cristo promove a edificação mútua (Ef 4.16), refletindo uma realidade espiritual que desfrutamos com Deus (Jo 17.20-23). Ser parte de uma comunidade é nossa identidade, não nossa circunstância.Por isso, identificar-se como alguém solitário é se afastar da esperança que resolve a dor da própria solidão. Não há dúvidas que viver em comunidade apresenta inúmeros desafios, mas precisam ser encarados com os olhos da fé, não de nossa torta experiência.

Então, seja você alguém circunstancialmente sozinho ou identificando-se como “sozinho”, só tem um lugar para onde correr: o Senhor. Estou só, mas ele nunca me deixa. Estou só, mas faço parte de uma comunidade de pessoas compradas pelo sangue de Jesus. As duas realidades trabalham para expandir minha experiência de solidão para uma comunhão significativa com Deus e com meus irmãos.

Estamos juntos em Cristo!