A tentação não é um inimigo trivial

A tentação muitas vezes prevalece contra nós por causa de nossas suposições triviais e ingênuas sobre ela.

Nós esperamos que a tentação marche pela porta da frente, vestida como um lobo, anunciando-se em alta voz à medida que se aproxima. Mas a tentação geralmente prefere a porta dos fundos, a janela do quarto e aquela rachadura entre as tábuas do assoalho. A tentação depende da sutileza e da nuance, do engano e da surpresa, da ignorância e da ingenuidade. Para começar a sentir o sabor da vitória, temos que começar a tratar a guerra como uma guerra. Temos que estudar o inimigo de nossas almas.

Nós lembramos da história de Sansão e Dalila porque ela dominou o homem mais forte da época. Mas já paramos para realmente perguntar como? Como Dalila subjugou um homem que acabara de matar mil homens? Quando desvendamos os segredos de sua sedução, eles podem se tornar armas para nós contra qualquer tentação que enfrentarmos.

A ambição da tentação

O primeiro passo para levar a tentação mais a sério é lembrar que a tentação tem uma missão: arruinar sua alma e roubá-lo de Deus. Nenhuma tentação é inocente ou trivial. Todos os esquemas e tramas da tentação existem para este fim: sua miséria eterna. A tentação lhe agradará para abusar de você, o seduzirá para desfazê-lo e o distrairá para destruí-lo.

Dalila pode ter sido motivada por dinheiro em vez de ódio, mas ela ainda estava determinada a destruir Sansão. Os filisteus, seus inimigos assassinos, disseram a ela: “Persuade-o e vê em que consiste a sua grande força e como que poderíamos dominá-lo e amarrá-lo, para assim o subjugarmos” (Jz 16.5). Alguns versículos antes, Sansão havia matado mil deles com apenas uma queixada (Jz 15.16). Tais homens estavam sedentos de sangue, do sangue de Sansão, e Dalila estava muito disposta a preparar a matança.

Como a mulher proibida, os lábios da tentação gotejam mel, “mas o fim dela é amargoso como o absinto agudo, como a espada de dois gumes” (Pv 5.4). A tentação rouba nossa honra e desperdiça nossas vidas (Pv 5.9); estraga nossa força e arruína nosso trabalho (Pv 5.10); termina apenas em futilidade e arrependimento (Pv 5.11). “O ladrão”, Jesus diz, “vem somente para roubar, matar e destruir” (Jo 10.10). Essa é a missão da tentação, por mais doce e prazerosa que possa parecer no momento.

Então, como Dalila procurou destruir Sansão? Como a tentação venceu até mesmo o homem mais forte?

A tentação conduz com prazer

A primeira lição pode parecer óbvia: a tentação nos seduz oferecendo prazer. “Persuade-o e vê em que consiste sua grande força e com que poderíamos dominá-lo” (Jz 16.5). Antes que a tentação possa nos levar à destruição, ela deve nos atrair com alguma promessa de satisfação.

“Declara-me, peço-te, em que consiste a tua grande força”, Dalila diz a Sansão, “e com que poderias ser amarrado para te poderem subjugar” (Jz 16.6). Nós podemos esperar que ela bajule ou flerte, mas, em vez disso, ela pede diretamente a ele que conte seu segredo. Olhando assim, pode nem parecer sedução. Mas esse tipo de conhecimento é intimidade. Pedir era testar seu amor e convidá-lo a se apaixonar mais por ela.

Claramente, Sansão não confiava totalmente nela (ele mentiu), mas ele também claramente gostava de sua atenção e afeição. Caso contrário, ela não teria tido uma segunda chance. Ele entretinha seus jogos porque tinha provado seu amor – um amor vazio, com certeza, mas que o agradava do mesmo jeito. Todo pecado depende desse amor. Como John Piper diz: “O poder de toda tentação é a perspectiva de que isso me fará mais feliz. Ninguém peca por senso de dever”. Que pecados o assediaram e que felicidade eles prometeram?

O prazer pecaminoso sempre será atraente se não colocarmos nossos corações em um prazer superior. “Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente” (Sl 16.11). Plenitude de alegria, não as frações que geralmente aceitamos com o pecado. Delícias perpetuamente, não as emoções de curta duração de luxúria, ou ganância, ou preguiça, ou inveja. O poder da tentação depende de acreditarmos que o pecado é melhor do que plenitude e eternidade. Depende de estarmos cansados ou entediados de Deus, o prazer mais profundo e forte do universo.

A tentação se acumula na vergonha

Se o pecado não pode nos atrair com o prazer, ele nos atacará com a vergonha. Dalila não estava progredindo através da sedução, então ela começou a questionar a integridade de Sansão. Ela disse a ele: “Como dizes que me amas, se não está comigo o teu coração? Já três vezes zombaste de mim e ainda não me declaraste em que consiste a tua grande força” (Jz 16.15). Percebe a ironia na estratégia dela? “Como dizes que me amas, se não está comigo o teu coração?”, enquanto o coração dela está nos bolsos dos homens perigosos lá fora.

Como Dalila, a tentação esconde seus próprios motivos assassinos para envergonhar seu alvo. A tentação pode não dizer como Dalila: “Como você pode dizer que me ama?”, mas pode perguntar: “Como você pode dizer que ama a Deus?”.

Uma razão pela qual alguns cedem com tanta frequência é porque eles acreditam que o pecado é quem eles são. Satanás é um acusador. E ele não acusa ocasionalmente, mas dia e noite (Ap 12.10). Se ele pode convencer você de que ainda é a mesma velha pessoa – escravizada pela pornografia, consumida pela inveja, enfurecida pela raiva, indefesa diante da preguiça –, ele pode convencer você a fazer qualquer coisa. Nossa vergonha e autopiedade são o alimento de Satanás. Sem elas, ele e todos os seus esquemas ficarão com fome e morrerão.

Quando Satanás vem acusar você – “Como você pode dizer que ama a Deus?” –, saiba de antemão como você vai responder. “Eu não sou quem eu era (2Co 5.17). Fui crucificado com meu Rei (Gl 2.20). Meu pecado foi cancelado (Cl 2.14), e não governa mais sobre mim (Rm 6.14). Em Cristo, não há mais condenação para mim (Rm 8.1). Deus me deu tudo o que preciso para resistir à tentação (2Pe 1.3; 1Co 10.13). Portanto, não serei envergonhado (Rm 10.11)”.

A tentação desgasta

Dalila seduziu Sansão, depois o envergonhou e, consequentemente, o deixou exausto. “Importunando-o ela todos os dias com as suas palavras e molestando-o, apoderou-se da alma dele uma impaciência de matar” (Jz 16.16). O que começou como um flerte de brincadeira acabou em fadiga e desespero. Ela pressionou e implorou, pressionou e implorou, até que ele (mesmo ele!) não pôde suportar o peso dos avanços dela. A tentação já foi assim para você?

Talvez você tenha resistido a explodir de raiva com seu cônjuge a princípio, mas ele não cedeu. Talvez você tenha se recusado a clicar naquele website a princípio, mas algumas horas depois você estava mais cansado e vulnerável. Talvez você tenha trabalhado duro a semana toda e não tenha cedido à preguiça, apenas para sucumbir a maratonar séries de fim de semana. Talvez você tenha tido autocontrole ao se alimentar por várias semanas, mas os desejos lentamente o dominaram. A tentação raramente é uma única flecha a ser evitada, mas é muito mais semelhante a uma ampla e prolongada guerra, destinada a nos desgastar até nos rendermos.

Se a tentação depende da exaustão, a batalha contra a tentação deve ser mais do que fazer e não fazer no momento. Junto às armas com as quais a maioria de nós está familiarizada – a palavra de Deus, oração e jejum, comunhão e responsabilidade –, nossa capacidade de resistir aos ataques da tentação depende, pelo menos em parte, da saúde e da vitalidade de nossos corpos. Um bom sono, uma dieta saudável e exercícios regulares são armas muito mais eficazes contra nossos pecados do que podemos imaginar ou esperar. Se nós os negligenciamos ou os desprezamos, convidamos Satanás a causar destruição.

Então, se quisermos vencer a tentação, devemos estudar a tentação – ela seduz, envergonha e cansa –, bem como preparar nossas almas para a guerra. Mergulhe a si mesmo em uma Alegria superior, ancore sua identidade e segurança em quem Deus diz que você é, e depois durma um pouco. A tentação não é um simples inimigo, então, a nossa não será uma simples vitória. Mas em Cristo ela é garantida.

Por: Marshall Segal. © Desiring God Foundation. Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: Temptation Is No Simple Enemy.

Original: A tentação não é um inimigo trivial. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Julia Maria. Revisão: Renan A. Monteiro.