Um blog do Ministério Fiel
Com Deus no fundo do poço
Nossa vida é cheia de altos e baixos. As causas que podem nos levar, por vezes, à depressão, são as mais variadas, impactando nossas emoções, dilacerando nosso espírito e nos fazendo escorregar, pouco a pouco, para o fundo do poço. E muitos de nós poderemos chegar às cavernas e poços da vida algum dia. Como reagir? Como encontrar ajuda neste vale escuro que nos parece sem saída?
Milhões de perguntas surgem em nossa mente, deixando-nos confusos e perdidos, entorpecidos diante de todas as inseguranças quanto ao amanhã. Nos vemos solitários em nossos baús de recordações quando, nos bons tempos, as pessoas nos rodeavam e, com elogios enchiam nossos egos, fazendo-nos brilhar. Mas agora só nos restam as recordações, e as pessoas se foram. Até mesmo os amigos. Estamos sozinhos. Parece que ninguém mais se lembra de nós, e o nosso retrato no espelho está distorcido e distante. Nem nós nos reconhecemos!
No escuro, não conseguimos discernir bem nem mesmo quem somos, ou nos lembrar de quem éramos, ou pensar se teremos um amanhã. Ontem derrubamos gigantes, mas hoje nos deixamos assustar até com o zumbir de um mosquito. Assim Davi se sentia, no fundo do poço, na caverna. Duas cavernas, Adulão de Engedi, foram refúgio para este fiel, amoroso amigo de Deus, chamado por ele para uma grande missão, homem segundo o coração de Deus. Herói de seu povo depois de derrubar o gigante Golias, vencer exércitos inimigos e ser transportado do pastoreio de ovelhas nos campos para o palácio real e ungido como rei no lugar de Saul, agora era o objeto de sua obsessão por matá-lo, tendo que fugir e se esconder. Gente que ama ao Senhor e é amado por Ele também pode atravessar os vales escuros da vida!
Mas Davi conhecia um Amigo que não o abandonara e nunca o faria: o Senhor Deus. E foi a Ele a quem clamou:
“Ao Senhor ergo a minha voz e clamo; com a minha voz suplico ao Senhor. Derramo diante dele a minha queixa, à sua presença exponho a minha angústia. Quando dentro de mim esmorece o espírito, tu sabes o caminho por onde devo andar.” (Salmos 142.1-3a)
Davi sabia que, pior que a situação em que se encontrava, era sua reação diante do sofrimento que o acometera: era a sua alma que estava no cárcere da vida!
Por isso, ele fez ao Senhor o seu pedido maior, aquele que somente Ele poderia atender:
“Tira a minha alma do cárcere para que eu dê graças ao teu nome; os justos me rodearão, quando me fizeres esse bem.” (Salmos 142.7)
Um paciente com depressão no setor de psiquiatria
João estava ali, entre os pacientes do Setor de Psiquiatria do Hospital. Mais um rosto, abatido por anos de luta e de dor, procurando uma última saída antes de tentar o suicídio mais uma vez. Jornalista bem-sucedido, fora dilacerado por uma dor física e persistente, de origem desconhecida, que quase o enlouquecera, levando-o a perder casamento, trabalho, bens e morar na rua. Desesperado, sem chão e sem futuro em vista, fora abandonado por todos. Ninguém se importava com ele. A depressão tomara conta de sua alma e não havia mais cores em sua vida. Agora, só lhe restava mais esta tentativa na medicina! Nem Deus parecia querer dar-lhe ouvidos, e estava cansado de clamar!
Naquela noite Gavin, meu marido, e eu, como Capelães hospitalares, chegamos ao Setor para fazer contato com os novos pacientes dando-lhes ouvidos, examinando o momento mais adequado para fazer um breve culto e dispondo-nos para o aconselhamento bíblico. O rosto de João chamou a nossa atenção, tão abatido que estava. Olhos sem brilho, cabelo embaraçado, sorriso há muito ausente.
A princípio, ele não nos deu muita atenção. Cansado de tentar, nada nem ninguém mais o fazia ter esperança. Depois de uma brilhante argumentação sobre o silêncio de Deus, diante de nosso olhar atencioso, decidiu nos dar ouvidos por alguns segundos. Afinal, não lhe faria mais mal!
Falamos pouco e, com sua permissão, oramos, deixando-lhe um versículo para ler, no Salmo 142.7 “Tira a minha alma do cárcere!”. Pedimos ao Senhor por seus exames médicos, pela descoberta de seu problema de saúde, e pelo tratamento eficaz. Oramos por sua vida, sua família e por seu futuro. Tudo em poucos minutos.
Orações, poucas palavras e textos bíblicos se seguiram naqueles dias, até a semana seguinte, quando João nos recebeu, pela primeira vez, com um tímido sorriso. O problema havia sido descoberto em sua face: nevralgia do nervo trigêmeo. A data da cirurgia se aproximava e, pela primeira vez sentimos uma expressão de esperança em sua face.
O resultado da cirurgia foi positivo, e pela primeira vez, em anos, não sentia mais dor. Ao visitá-lo neste dia, pudemos conhecer o verdadeiro João: cabelo penteado, sorriso no rosto e um novo horizonte diante de seus olhos. Sua vida recomeçava naquele momento, ao receber a Cristo como seu Salvador, confiando que Ele poderia lhe dar nova razão para viver e um futuro seguro, em Suas amorosas mãos.
O ministério de Capelania Hospitalar
O Ministério de Capelania Hospitalar da ACS – Associação de Capelania na Saúde teve início 39 anos atrás, através de Eleny Vassão, Capelã evangélica titular no Hospital das Clínicas de São Paulo, estendendo-se depois para muitos outros hospitais no Brasil e também em outros países. Capelania é gente cuidando de gente, missão urbana além das paredes da Igreja, feita por gente bem alimentada pela Palavra, capacitada para o ministério e cheia da compaixão e da gentileza de Jesus. Sensível às pessoas das mais diversas culturas, crenças e contextos, tem o intuito de apresentar-lhes o amor de Cristo através da Palavra e de suas vidas.
Sendo capacitado para levar o consolo e a esperança
A capacitação para o ministério envolve cursos teóricos, com matérias como Teologia do Sofrimento, Ética, Bioética, Evangelismo e Discipulado em hospitais, Música e Artesanato para enfermos, Capelania em Pediatria, e muitas outras. Depois de trabalhos escritos, leituras e cartas de recomendação, é feita uma entrevista para a seleção. Sendo aprovado, o aluno é convidado para fazer um Aprimoramento, com treinamento prático, individual e supervisionado nos hospitais, acompanhado por capelães e treinadores da ACS. A continuidade é feita através de Cursos Níveis 2 e 3, com ênfase aprofundada na Teologia do Sofrimento, Aconselhamento Bíblico, Psiquiatria, Cuidados Paliativos, UTI de Queimados e outros.
Passo a passo, o aluno vai se preparando para se tornar um Capelão, organizando sua equipe e recebendo a orientação e o suporte para abrir novas capelanias em todo o país, levando o conforto e a esperança em Cristo aos enfermos, seus familiares, profissionais da saúde e funcionários nos hospitais. As portas estão abertas, e a necessidade é muito grande, pois só a Pessoa de Jesus é Deus presente, companheiro e consolo no sofrimento, aquele que liberta eternamente nossa alma do cárcere.