Um blog do Ministério Fiel
Só o coração dele pode curar o seu
Nós caminhamos por esse mundo caído em ruas de promessas quebradas. Crentes ou descrentes, ricos ou pobres, jovens ou velhos; poucos, se é que há alguém, estão imunes. Para alguns, um pai que prometeu tanto, mas esteve pouco presente. Para outros, um amigo de confiança, que não estava lá em um momento de necessidade. Ou, talvez, uma esposa infiel que o deixou, restando somente a memória dolorosa de seu voto vazio: “Até que a morte nos separe”. Nós sabemos o que é expor nossos corações e senti-los sangrar.
Se nossos inimigos nos tratassem com dureza, conseguiríamos suportar (Salmos 55.12). Mas quando o culpado é um amigo próximo, a ferida é mais profunda. Em resposta, alguns escolhem mumificar seus corações em vez de arriscar novas feridas. Eles sabem exatamente o que C.S. Lewis quis dizer quando escreveu:
“Amar é ser vulnerável. Ame qualquer coisa e certamente seu coração vai doer, e talvez se partir. Se quiser ter a certeza de mantê-lo intacto, você não deve entregá-lo a ninguém, nem mesmo a um animal. Envolva-o cuidadosamente em seus hobbies e pequenos luxos, evite qualquer envolvimento, guarde-o na segurança do esquife de seu egoísmo. Mas nesse esquife – seguro, sem movimento, sem ar – ele vai mudar. Ele não vai se partir; vai tornar-se indestrutível, impenetrável, irredimível.” (Os quatro amores, pág. 155-156).
De repente você amou e perdeu, fez um voto de nunca mais amar de novo. Você se mantém a uma distância longa e segura do amor e da angústia. Você não irá e não se permitirá passar por toda aquela dor novamente.
Corações de pedra
E você mudou. Escamas cresceram. Você se esqueceu do som da sua própria risada. Você focou seus afetos em pequenas coisas; selou o seu coração em um caixão seguro, sem movimento, sem ar, até que reste apenas uma pedra. Uma vítima de grandes amores, agora morta. O que se pode dizer para convencer você a viver novamente?
Pode-se dizer que há um amor tão superior, tão inabalável e tão profundo que ameaça, inclusive agora, inundar seus pulmões com ar, lançar luz em seu esconderijo e invadir o seu cofre egoísta com uma chama esquecida há tempos: a esperança. Esse amor ameaça romper as barreiras para cobrir você com vida e substituir o coração de pedra por um que bate, como já foi feito por muitos antes. Tal amor ameaça entronizar a si mesmo e capturar o nosso ser por inteiro, fazendo-nos viver (e ser machucados) novamente, com uma alegria recém-descoberta.
Esse amor não rejeita, mas supera a verdadeira dor que sentimos, as verdadeiras cicatrizes que carregamos, os verdadeiros pecados que sustentamos, assim como os pecados reais que cometemos. Nós necessitamos de um Salvador, um Redentor, um Noivo para nos salvar e se comprometer a nunca nos abandonar por causa de nossos pecados contra ele.
E contra toda a esperança, ele veio. Em um mundo de amores humanos que nunca satisfazem, há escritos a respeito um homem que é totalmente Deus: Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim (João 13.1).
Ele ama até o fim
Através de dolorosas descobertas, muitos de nossos amores foram ponderados, mas ficaram aquém das expectativas. Contemple algo diferente.
“Ora, antes da Festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim” (João 13.1)
Jesus sabia que sua hora tinha chegado. Ele sabia o que estava à frente. Ele conhecia o horror antes da hora. Ele conhecia Isaías 53 muito bem. Até então, ele havia escapado de pedras sendo lançadas contra ele e de multidões que queriam jogá-lo de um penhasco. Mas, agora, pregos, chicotes, zombaria, vergonha e a ira de seu Pai estavam diante dele. Apenas ter disposição não seria a prova de um ato espontâneo de amor, lançado em trevas desconhecidas, que ele não havia considerado. O preço do seu amor foi premeditado, previsto e predito, inclusive por ele mesmo.
Que descrição que João nos fornece da morte brutal de Jesus e de sua passagem deste mundo para o Pai! Enquanto João relembra aquela noite, sua caneta se move, resumindo: “Tendo amado os seus… amou-os até ao fim”. Ele os amou através do ensino, das revelações, das curas, do cuidado e das correções. Ele os amou perfeitamente, em cada segundo em que esteve com eles. E, tendo os amado desde a fundação do mundo, ele os amaria até o fim, mesmo até tal fim.
O seu ileso coração
Ele não os amou por apenas 90% do caminho. Ele não abandonou nem hesitou. Sua promessa de fidelidade para sua noiva, antes e agora, não foi até a morte, mas além dela. Seu amor por seu povo, um amor semelhante ao de seu Pai por ele (João 15.9) não o fez desistir, mas o impulsionou através do dia mais escuro da história. Os açoites não tocaram esse amor. Os pregos não o perfuraram. Seu coração em favor de seu povo foi a única parte dele que permaneceu ilesa.
E esse amor hoje encontra corações duros, inquebráveis e impenetráveis, e os substitui; encontra corações rebeldes, feridos e machucados, e os refaz; pega corações imóveis e os faz pulsar com vida celestial.
Você conhece o amor de Deus? Arrependeu-se e creu nas boas novas de que Cristo morreu e ressuscitou para que os culpados pudessem viver para sempre com ele, como seus amados? Venha com sede. Venham pobre. Venha em meio a sua bagunça. Se fôssemos ele, nós não suportaríamos a ira de Deus por nós mesmos:, “mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5.8).
Facilmente inclinado a amar
Será que falamos a outras pessoas desse amor de Cristo que, de maneira tão bela, nos capturou (2 Coríntios 2.14) e agora nos controla (2 Coríntios 5.14), prendendo-nos de modo que nem tribulações, nem aflições, nudez, fome, perigo ou espada podem quebrar (Rm 8:35)?
Aqueles de nós que abraçam a teologia reformada devem ser especialmente fervorosos nesse ponto. Charles Spurgeon disse com razão:
“Aqueles que escutam um pregador calvinista são prontos para deturpar Deus… Muitos dos nossos ouvintes, através de nossas afirmações, mesmo as mais cautelosas, são capazes de expressar uma caricatura de Deus em vez de uma imagem verdadeira. Imaginam que Deus é um ser rigoroso, irado e feroz, facilmente inclinado à ira, mas não tão disposto a amar.”
Facilmente inclinado à ira. Não tão inclinado a amar. É essa a impressão que passamos? É essa a imagem em que nós mesmos somos tentados a acreditar?
Nosso grande Deus possui um coração incrivelmente grande para com pecadores. Ele é incomparável em grandeza e amor. Cristo foi traído, mas não traiu; foi desamparado enquanto se recusou a desamparar e foi abandonado para morrer, para que seu povo pudesse estar onde ele está, para sempre. Na mesma hora em que o amor de seus discípulos encolheu e esfriou, o seu amor ardeu e brilhou ao máximo.
Em seu amor podemos confiar; seu amor permanece até o fim.