A resposta de Deus é melhor do que o que pedimos

Um rei piedoso, encurralado em um canto mortal, nos ensina uma verdade libertadora sobre a oração.

Em uma das grandes tragédias de toda a Escritura, Absalão, filho de Davi, tirou proveito do amor de seu pai e conspirou contra ele. Agora a rebelião se fortaleceu e Davi não tem outra opção a não ser fugir de Jerusalém, na esperança de viver para lutar no futuro (2 Samuel 15.14).

Enquanto ele se retira, chorando enquanto anda, descalço, com a cabeça coberta de vergonha, a situação fica pior. Ele descobre que seu conselheiro mais valioso, Aitofel, cujo conselho “era como se alguém consultasse a palavra de Deus” (2 Samuel 16.23), se juntou a Absalão (2 Samuel 15:12). No entanto, neste momento mais desesperador, quando Davi poderia ter desmoronado, ou sucumbido em autopiedade, seu reflexo está voltado para Deus. Ele inspira uma oração:

Ó Senhor, peço-te que transtornes em loucura o conselho de Aitofel. (2 Samuel 15.31)

Um apelo improvável

É certo que a oração parece totalmente improvável, se não impossível, humanamente falando. Ninguém era mais sábio do que Aitofel. Orar para que o sábio conselho de Aitofel se transforme em loucura é como pedir que o sol fique parado. No entanto, esses são os momentos para os quais Deus nos deu a oração. Ele ouve o seu povo. Não para trazer mais conforto a uma existência já confortável, mas justamente para os momentos nos quais a vida e a morte estão em jogo.

A oração não é o exercício de nomear antecipadamente o que parece ser o curso natural de ação. A oração não é um palpite educado em voz alta para Deus sobre o que já parece se desenrolar. E certamente não é para aconselhar a Deus sobre como as coisas devem acontecer, como se ele precisasse de um conselheiro (Romanos 11.33-34). Em vez disso, a oração é para virar a maré, para mudar o aparente curso da história. A oração é para tempos de desespero e momentos terríveis, quando estamos encurralados; quando, humanamente falando, o resultado desejado, o que parece ser a última chance, é dolorosamente improvável de acontecer e precisamos de Deus. Precisamos que ele intervenha.

Sem a interrupção da Providência que cuida dos detalhes para perturbar o que parece ser, do nosso ponto de vista, o curso natural da ação, estamos condenados. Mas se ele é Deus, e se ele ouve, e se ele age, então temos uma chance de lutar. Causa e efeito não ditam o resultado final; Deus sim. Então, Davi ora.

Deus faz o impensável

Assim que Davi orou, Husai, o arquita, que é leal a Davi, o encontra com a túnica rasgada e sujeira na cabeça em luto (2 Samuel 15.32). Davi orou para que o conselho de Aitofel azedasse, mas agora Davi age também com fé. Ele envia Husai para fingir fidelidade a Absalão, servir como espião e talvez até “dissipar-me-ás, então, o conselho de Aitofel” (2 Samuel 15.34).

Husai sai e, como Aitofel, é recebido na conspiração de Absalão. Uma das primeiras ordens da atividade é perseguir Davi e alcançá-lo enquanto ele recua. Aitofel fala primeiro: “Perseguirei Davi esta noite […] enquanto ele está exausto e fraco” (2 Samuel 17.1–2). Em geral, este é um conselho sábio. “Esse plano pareceu bom a Absalão e a todas as autoridades de Israel” (2 Samuel 17.4). O grande sábio falou, e isso parece um acordo feito. Seria o fim de Davi, se não fosse por Husai, que então fala.

“O conselho que Aitofel deu desta vez não é bom”, diz o espião (2 Samuel 17.7). Ele então retrata Davi não como o homem fraco e desencorajado que ele é, mas como poderoso, enfurecido e especialista em guerra. E Deus faz o impensável: ele fez com que os corações de Absalão e de todos os homens de Israel dissessem: “O conselho de Husai, o arquita, é melhor do que o conselho de Aitofel”. Como é? Que reviravolta impressionante! Algo impossível, se não fosse Deus. Só o próprio Deus pode transformar os corações assim. E assim, 2 Samuel 17.14 acrescenta a explicação: “Pois o Senhor havia ordenado derrotar o bom conselho de Aitofel, para que o Senhor pudesse prejudicar Absalão”.

Ninguém poderia ter previsto isso. Nem mesmo Davi o fez na hora de sua oração. A palavra enganosa de Husai ganha o dia, os dominós começam a cair e em breve virá o fim de Absalão e a salvação de Davi.

Ele responde melhor do que pedimos

Então, Deus respondeu à oração de Davi. Respondeu mesmo? Lembre-se de como o rei havia orado: “Ó Senhor, peço-te que transtornes em loucura o conselho de Aitofel” (2 Samuel 15.31). Deus não respondeu a essa oração. De fato, 2 Samuel 17.14 confirma que Aitofel havia dado “bom conselho”. No entanto, não encontramos nenhum lamento de Davi de que Deus não respondeu à sua oração. Nenhuma reclamação de que o Senhor escondeu seu rosto, ou que seus ouvidos foram tapados, ou que ele não podia ver. Sem luto. Nenhuma frustração. Nenhuma mácula.

Davi fez uma oração aparentemente impossível, deu um modesto passo de fé e confiou em Deus para operar a salvação para ele. E para Davi não houve algo inalcançável que Deus não tenha respondido exatamente como ele pediu. Na verdade, Davi se deleita em orar e louvar um Deus que tem o hábito de responder melhor do que pedimos.

Nenhum roteirista poderia prever

Em seu comentário sobre 2 Samuel, Dale Ralph Davis observa:

Assim que [Davi] ora, Yahweh começa a responder à sua oração, e isso de uma maneira que nenhum roteirista poderia imaginar. Nossas orações lidam com o quê; as respostas de Deus lidam com o quê, como e quando. E como o “como” pode nos surpreender! (p. 160)

Nosso Deus se deleita em nos libertar de sermos os autores de nossas próprias histórias de salvação. Quando oramos, não é nosso trabalho prever como Deus pode trazer o resgate nem apresentar os detalhes para ele, mesmo que seja nosso instinto fazer exatamente isso.

A maioria de nós, pais, ficaríamos um pouco aborrecidos se nossos filhos não apenas pedissem coisas, mas também insistissem em explicar exatamente como deveríamos cumprir seu pedido. É a alegria de um pai surpreender seus filhos com os meios e com o fim.

Felizmente, mesmo quando tentamos aconselhá-lo, nosso Pai celestial é paciente. Ele suporta nossa loucura. E ele também quer nos libertar da sensação de que precisamos dar-lhe as direções. Não apenas não podemos dar-lhe instruções, mas podemos confiar que seu coração é muito maior para os propósitos santos do que os nossos corações são. E suas maneiras de responder às nossas orações, de acordo com sua boa vontade, são mais impressionantes do que podemos sonhar. Ele gosta de responder melhor do que pedimos.

Não precisamente, mas substancialmente

Aqueles que já andaram com esse Deus por um tempo ainda que modesto viram que ele responde muito melhor do que pedimos. O que, juntamente com o coração de seu Pai (Lucas 11.11-12) e o dom de seu Espírito (Romanos 8.26-27), nos dá um grande incentivo para orar e continuar orando. Em outras palavras, nossos instintos humanos, nossa ignorância e nossa incapacidade de aconselhá-lo não são desestímulos para orar, mas, sim, uma boa razão para continuar pedindo àquele cujas respostas são melhores do que nossas petições.

Ele sabe. “Teu Pai sabe” (Lucas 12.30). Nós não. “Não sabemos orar como convém” (Romanos 8.26). Seus juízos são insondáveis; seus caminhos, inescrutáveis (Romanos 11.33). Essa é a maior razão para pedir a ele.

Já respondido

Quando Paulo celebra “aquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos” (Efésios 3.20), ele não é um otimista irracional. Ele não está nos pedindo para esperar sem fundamento “o melhor ainda está por vir”, sem provas sólidas no passado e no presente. E Paulo as fornece, enraizando sua doxologia no evangelho que acabou de recitar. Estávamos mortos em pecados, e Deus nos deu vida juntamente com Cristo. Estávamos separados e alienados, sem esperança, e Deus nos aproximou pelo sangue de Cristo.

No evangelho, nosso Deus já respondeu melhor do que poderíamos ter pedido. Cristo veio, morreu, ressuscitou e, embora muitas vezes não saibamos exatamente como orar, sabemos que nosso Pai gosta de ouvir nossos pedidos e superá-los.

Por: David Mathis. © Desiring God Foundation. Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: God Answers Better Than We Ask.

Original: A resposta de Deus é melhor do que o que pedimos. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Heitor Rocha de Almeida. Revisão: Renan A. Monteiro.