Um blog do Ministério Fiel
Confissões de uma preguiça sofisticada
Como desperdiçamos a vida de forma sutil
Se você soubesse que tem apenas cinco anos para viver, você viveria mais nesses cinco anos do que nas décadas que ficaram para trás?
Com “viver” não falo de longevidade, ou nem vale a pena discutir o assunto. Falo de viver desperto, com propósito, sem distrações de prazeres vazios. Para você, a qualidade desses cinco anos é preferível? Será que cinco anos mais vivos para com Deus e com os que nos cercam poderiam ofuscar décadas de atividade e vanglória, mas pouca plenitude?
Ah, navegar sob as estrelas acordado para a vida, sentindo a brisa e ouvindo a música das ondas a se quebrar! Como é diferente da triste deriva, indo de uma refeição para a outra, de um episódio ao outro, de um ano ao outro.
Você sente a preciosidade do tempo? Você está mesmo vivendo? Segurar a mão do cônjuge ou esperar em uma fila pode ganhar um novo significado quando consideramos que ocorre nessa estrela cadente chamada “vida”.
O bem que eu podia ter feito
Então, fico perplexo quando lembro de quantos momentos valiosos deixei escapar. Horas e horas que passaram sem que eu me desse conta, perdidas sem consideração alguma. Tantas moedas de prata desperdiçadas, trocadas por pedrinhas e bolhas.
Apesar de não deixar as boas novas para trás — ou seja, que essa negligência não terá a última palavra, mas que a graça terá —, o aguilhão saudável ainda pode ser sentido. E, se permitirmos, ainda é instrutivo. Quando desperto para o valor do tempo, para a simples possibilidade em algum período, suspiro por quantos momentos irremediavelmente caíram entre as rachaduras; e isso me leva a pedir a Deus mais misericórdia e ajuda para melhor administrar o tempo que me resta.
Isso é verdade principalmente quando considero o tempo perdido no trabalho; quanto bem que duraria mais que eu foi perdido por minha preguiça e desatenção?
O que escondeu tal percepção de mim por tanto tempo é que eu nunca me considerei preguiçoso. Eu faço as coisas. Às vezes, trabalho pesado. Ninguém, ao olhar para mim, diria que durmo demais, ou que negligenciei meus estudos, ou que adiei indefinidamente as coisas difíceis. Mas, olhando para trás, percebi em minha vida profissional que muitas vezes vivi como uma preguiça sofisticada. Aqui estão algumas características.
1. Lento para iniciar
O prehuiçoso tradicional nem começa as tarefas. Ouvimos sua voz quando ele ainda está na cama: “Um leão está lá fora; serei morto no meio das ruas” (Provérbios 22.13; 26.13). Ele nos afirma que até iria trabalhar como todos nós, se não fosse esses felinos assassinos.
Ele afirma que eles o impedem de ir ao trabalho:
Um leão aguarda na esquina
Ir trabalhar? Não tenho adrenalina;
Ficarei e festejarei, não obstante.
Ah, mas que fera irritante!
Ficar confinado é pior do que se imagina!
Ele afirma que eles o impedem de ir à igreja:
Um leão ruge ao redor,
Devorou bons homens sem dó;
Claro, não há nenhum crime
Se o perigo o deprime.
Esperarei até que ele vire pó!
Embora eu não dê desculpas tão tolas, como uma preguiça sofisticada, eu começo minhas tarefas em algum momento. Os leões rugindo na rua não me detêm indefinidamente, mas me atrasam. Quando olho para frente e vejo as tarefas se acumularem, decido que preciso me alongar antes da atividade; talvez checar uma rede social, ou verificar meu e-mail, ou um lanche rápido. Quantas horas perdi “entrando no clima” para começar algo difícil?
2. Rápido para tirar um intervalo
Sabemos que o preguiçoso tradicional “mete a mão no prato e não quer ter o trabalho de a levar à boca” (Provérbios 19.24). Essa ilustração é a foto do perfil dele.
O preguiçoso começou a tarefa. Sua mão, como um guindaste manobrando um canteiro de obras, levanta, vira de lado e cai sobre a tigela cheia. Após o impacto, alguns salgadinhos pulam para fora. Enquanto o observamos, aguardando um retorno triunfante, esperamos, esperamos e esperamos. A gravidade o ajudou na queda, mas agora o traiu. A subida é demais para ele.
Ele novamente parece ridículo. Com a atividade está diante dele, ele fica imobilizado, com a mão no prato. Seus olhos estão abertos, mas parecem estar fechados. Seus dedos caem no prato e permanecem, relutantes em retornar ao pedido desanimado de seu mestre. Ele está vivo, mas não está. É um homem, mas não é. John Foster dá a ele um sério epitáfio: “Aqui jaz uma pessoa que não perdeu nada ao ser enterrada, pois é um homem tão bom abaixo do solo quanto acima dele” (An Essay on the Improvement of Time [Um ensaio sobre o aproveitamento do tempo], 189).
Pela graça de Deus, eu não sou assim. Minha mão retorna, mas não imediatamente. Sou rápido em ter intervalos como recompensa por fazer o que apenas era meu dever. Isso é bom o suficiente por enquanto, eu penso; não quero exagerar. Um trabalhador mais concentrado, sem interrupções, completaria a mesma tarefa em uma fração do tempo. Um trabalhador mais concentrado poderia realizar outra vida de trabalho simplesmente redimindo os intervalos.
3. Aberto a interrupções
Com minha atenção, tenho contribuído para com as notáveis empresas que lucram com os distraídos. Cada mensagem de texto e cada vídeo do Youtube parece muito mais interessante quando estou trabalhando. Cada dia de trabalho me ofereceu várias paradas para descanso.
O preguiçoso tradicional também conhece o poder de uma pequena pausa.
Um pouco para dormir, um pouco para tosquenejar,
um pouco para encruzar os braços em repouso,
assim sobrevirá a tua pobreza como um ladrão,
e a tua necessidade, como um homem armado. (Provérbios 24.33-34)
Hoje, o maior ladrão de tempo é um homem pequeno. Ele é especialista no pouco. Somente um pouco mais de sono, um pouco para tosquenejar — deixe-me ficar na internet só mais um pouco, ou conversar só mais um pouco, ou assistir só mais um pouco.
Ele vende distrações durante o dia de trabalho e, embora aceite grandes quantias, se necessário, ele prefere moedas e notas pequenas: dez, quinze, vinte minutos. Você sabe, custos inofensivos.
Eu, como uma preguiça sofisticada, comecei e parei, comecei e parei, como um adolescente aprendendo a dirigir um carro com câmbio manual. Enquanto a preguiça clássica pode não acordar até que ele seja roubado de tudo, eu volto para casa todos os dias apenas perdendo alguns dólares aqui e ali. A soma total não posso estimar.
4. Adia o trabalho mais difícil
Este é um dos truques mais inteligentes da preguiça sofisticada: ela até trabalha: para evitar fazer um trabalho mais difícil. É o garoto que vê o pai chegando e corre para tirar o lixo para que seu irmão lave a louça. Ele escolhe trabalhar quando deve, só para se poupar do trabalho mais difícil depois.
O resultado final é típico da preguiça:
Passei pelo campo do preguiçoso
e junto à vinha do homem falto de entendimento;
eis que tudo estava cheio de espinhos,
a sua superfície, coberta de urtigas,
e o seu muro de pedra, em ruínas. (Provérbios 24.30-31)
Mas o texto não nos fala da preguiça sofisticada dentro de sua casa, mostrando seus pratos limpos, roupas lavadas e cama bem feita. Muitas vezes, fiz o trabalho mais fácil dentro de casa e sequer tentei fazer o trabalho mais difícil.
Servo negligente
O tempo é precioso demais para deixá-lo escapar de forma tão sutil. Quem se aproxima da sepultura tem maior compreensão de seu valor; bem-aventurados seremos se pudermos despertar antes de nos aproximarmos desse sono. Jesus procura nos ajudar a despertar para a mordomia da vida na parábola dos talentos.
Ao servo trabalhador que confia em seu Mestre, que acredita nele, o ama e conhece o privilégio de seu serviço, e assim investe e transforma seus cinco talentos em mais cinco, seu mestre lhe diz:
Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor. (Mateus 25.21)
O servo preguiçoso, com medo de seu Mestre e desconfiado de seus motivos, enterra seu talento no chão. Ele não o perde, mas também não melhora. A tal homem, o Mestre diz:
Servo mau e negligente! […] Cumpria, portanto, que entregasses o meu dinheiro aos banqueiros, e eu, ao voltar, receberia com juros o que é meu. […] Lançai-o para fora, nas trevas. (Mateus 25.26-27, 30)
Eu, no entanto, tenho descrito alguém que não está na parábola. É o servo a quem o Mestre dá cinco talentos, mas ele traz de volta apenas mais dois em vez dos cinco completos. Ele poderia ter trazido mais, mas perdeu muito tempo com coisas menores.
Quer nos restem cinco ou cinquenta anos, a vida é a coisa mais terrível de se desperdiçar. Se você tem sido tal servo, considere comigo que glória aguarda o fiel servo cristão. “Muito bem, servo bom e fiel”, um elogio eterno. “Sobre o muito te colocarei”, uma mordomia eterna. “Entra no gozo do teu Senhor”, uma felicidade imortal na vida com nosso Deus.
É possível que isso não nos ajude a ter uma vida mais fiel na total dependência de nosso Salvador?