Por que esquecemos do Espírito Santo?

Quando cristãos citam o Credo Apostólico, nós prestamos especial atenção no Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra e em Jesus Cristo, seu Filho e nosso Senhor. Mas, quanto ao terceiro membro da Trindade, nós apenas dizemos, “Eu creio no Espírito Santo.” Posteriormente, credos e confissões passaram a dizer mais sobre o Espírito, embora a maioria ainda diga mais sobre o Pai e o Filho.

Ainda que algumas tradições cristãs foquem mais na pessoa e na obra do Espírito Santo (por exemplo, o Pentecostalismo e suas ramificações), a maior parte dos cristãos dão mais atenção ao Pai e ao Filho. Nos anos 1980, dois teólogos até escreveram um livro intitulado The Holy Spirit: Shy Member of the Trinity (O Espírito Santo: o membro tímido da trindade). O Espírito Santo é realmente o membro tímido da Trindade? Quanta atenção deveríamos dar a ele em nossas orações, adorações e devoções? O Espírito deseja mais da nossa atenção?

Um com o Pai e o Filho

Para começar a responder essas perguntas, precisamos primeiro admitir que o Espírito Santo frequentemente é mal compreendido. Na verdade, em uma pesquisa de 2014 do Ministério Ligonier, 50% das pessoas que se auto-intitulam evangélicas disseram que o Espírito Santo é mais como uma força do que uma pessoa. Eu suspeito que esses números não melhoraram desde então. O Espírito Santo não é um tipo de poder místico, que misteriosamente mantém o universo unido e ajuda o Luke Skywalker a mover objetos com a sua mente. Por toda a Bíblia, nós vemos que o Espírito Santo é uma pessoa divina ativa, totalmente envolvida na missão de Deus no mundo.

Como uma das três pessoas do único Deus, o Espírito compartilha da mesma vontade divina do Pai e do Filho. Mais do que isso, em um sentido bastante real, o Pai, o Filho e o Espírito Santo compartilham das mesmas ações. Quando o Pai age, o Filho e o Espírito também agem. Não significando que o Pai ou o Espírito encarnaram, mas sim que os três membros da Trindade operaram na encarnação. Adonis Vidu diz da seguinte forma, “eles compartilham da mesma agência, portanto das mesmas atividades.” Quando nós oramos ao Pai e ele age, o Filho e o Espírito estão agindo com ele.

Dessa forma, há um sentido no qual não podemos separar as orações e adorações que são feitas ao Pai e ao Filho das que são feitas ao Espírito. Ainda assim, o Evangelho de João claramente fala sobre o Filho glorificando o Pai (Jo 13.31; 17.1) e ambos, o Pai e o Espírito glorificando o Filho (Jo 13.31; 16.14; 17.1). Mas quem glorifica o Espírito? Exatamente quanta atenção ele deseja?

 O dom da Nova Aliança de Deus

A missão do Espírito no plano de redenção é apontar para Jesus. Porém, essa missão não minimiza o Espírito; pelo contrário, ela demonstra a unidade profunda da Divindade. Reflita sobre as palavras de Jesus a respeito do Espírito em João 16.14: “Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar.”

Jesus provavelmente está se referindo aqui à inspiração do Novo Testamento, o qual seria amplamente escrito pelos seus apóstolos. Em outras palavras, o Novo Testamento nos diz que o Espírito é o agente ativo que dá forma ao Novo Testamento. Pedro diz que algo semelhante aconteceu com o Antigo Testamento: “Nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1.21). O ponto dos dois textos é que o Espírito Santo é o agente principal e autor da Escritura. Somente isto já o faz digno de nossa atenção e adoração.

Não somente deveríamos dar atenção ao Espírito porque ele é um membro da Trindade e autor principal das Escrituras, mas no nosso dia a dia Deus nos chama a conscientemente depender do Espírito Santo. Se estamos unidos pela fé em Jesus, então nós recebemos o dom do Espírito (At 2.38). Essa é uma das razões que fazem a Nova Aliança ser tão incrível: todo o povo de Deus recebe o dom do Espírito para que todo o povo de Deus seja equipado para o chamado de Deus para nós.

Se você é parte do povo dele, você também receberá o Espírito e demonstrará a sua obra enquanto ele te empodera para cumprir a sua missão. Andar em obediência diária ao nosso Rei Jesus, amar uns aos outros e nos reunirmos como igreja, buscando alcançar nosso próximo e as nações, são obras miraculosas do Espírito. Todo cristão pode apoiar-se nessas verdades – porque nós acreditamos no Espírito Santo e nós cremos que, debaixo da Nova Aliança, todo o povo de Deus recebe o dom do Espírito.

Buscando o poder do Espírito

Nós podemos ver o poder transformador do Espírito mais claramente em um texto como Romanos 8. Na primeira parte de Romanos 8, Paulo escreve, “Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado” (Rm 8.3). Como resultado dessa obra, nós andamos de acordo com o Espírito e não somos escravos da carne (Rm 8.12-15). Nós temos o Espírito, portanto nós não somos mais escravos do pecado.

Paulo continua, “Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis” (Rm 8.13). O próximo versículo descreve a forma de mortificar os feitos do corpo pelo fato de sermos “guiados pelo Espírito” (Rm 8.14). Nós seguimos o Espírito para onde ele nos levar e ele nos leva à conformidade da imagem de Jesus (Romanos 8.29).

João Calvino disse, “O avanço de todo homem na piedade é a obra secreta do Espírito” (Institutas 3.24.13). Mas a obra secreta do Espírito não nos torna passivos. Romanos 8, e outros versículos semelhantes, indicam que nós podemos buscar ativamente a ajuda do Espírito Santo conforme ele nos sustenta e nos conforma à imagem de Jesus. Nós não podemos ser transformados à imagem de Jesus se não dependemos conscientemente do Espírito. Portanto, é bom e correto pedir ao Espírito Santo para nos encher e empoderar na luta contra o pecado. Nós podemos pedir-lhe que nos transforme à imagem de Jesus.

Atenção apropriada

Deveríamos orar para o Espírito Santo? Com certeza. Quando confessamos nossa fé no Espírito Santo, nós afirmamos a sua personalidade divina e sua igualdade para com o Pai e o Filho. Também confessamos que ele dá poder a todo seguidor de Jesus para crescer em sua semelhança de Cristo, e assim podemos nos apoiar nele para ajudas diárias e em cada momento do dia.

Mesmo enquanto damos atenção ao Espírito, nós não deveríamos esquecer de João 16.14: o Espírito glorifica Jesus. Nem deveríamos esquecer que Jesus nos ensina a endereçar “nosso Pai” em oração (Mt 6.9). Assim, se nós oramos exclusivamente para o Espírito Santo, ou falamos apenas sobre glorificar o Espírito, isso não está de acordo com a ênfase do Novo Testamento nos papéis do Pai, Filho e Espírito Santo no plano de redenção. Nós devemos orar frequentemente para o Pai nos transformar à imagem do seu Filho. Mas, ainda que façamos isso, nós reconhecemos que essa oração não será respondida separadamente da obra do Espírito.

Desta forma, devemos dar atenção apropriada ao Espírito Santo. Nessa era gloriosa da Nova Aliança, o próprio Espírito Santo nos empodera para a missão de Cristo e nos transforma à imagem de Cristo. Nós podemos orar para ele, glorificá-lo e buscar sermos empoderados por ele.