Invisível e Inconfundível

Como a Escritura apresenta o Espírito Santo

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Deus é incompreensível. Isso significa que, ao mesmo tempo em que podemos conhecê-lo verdadeiramente (porque ele se revela a nós), nós jamais conseguiremos compreendê-lo. Ele é infinito, eterno e trino, por isso ele se revela a nós de formas que se ajustam às nossas capacidades. Como diz um determinado teólogo, Deus fala de maneira humana a humanos, e isso faz com que o verdadeiro conhecimento de Deus seja possível.

Ainda assim, às vezes nós ainda temos dificuldade em conhecer a Deus, não apenas no sentido pessoal do conhecimento, mas no sentido básico do que é que estamos falando. Esse é especialmente o caso do nosso conhecimento sobre o Espírito Santo.

Quando estamos falando sobre o Pai, nós temos um parâmetro concreto a partir do qual podemos trabalhar. Todos nós temos pais terrenos (para o bem ou para o mal), portanto temos um ponto de partida para nos envolvermos com Deus, nosso Pai celestial. Da mesma forma, quando falamos sobre o Filho, nós temos um parâmetro concreto baseado na encarnação. O Filho foi feito homem por nós e para nossa salvação. Os Evangelhos nos dão uma imagem magnífica de Jesus, o Messias, totalmente Deus e totalmente homem, e isto nos permite chegar até ele.

Mas o Espírito é intangível, até um pouco abstrato. Apesar de nós reconhecermos e confessá-lo como uma “pessoa” divina, temos dificuldade em encontrar um parâmetro concreto para conseguirmos entendê-lo. E, em algum nível, isso acontece de propósito. Jesus nos diz que quando o Espírito Santo vier, “Ele me glorificará” (Jo 16.14). Em outras palavras, a obra fundamental do Espírito Santo na Nova Aliança é apontar para e glorificar a Jesus.

No entanto, a Escritura nos dá uma série de representações que nos ajudam a compreender melhor a pessoa do Espírito Santo.

Vento, Sopro, Espírito

O próprio nome do Espírito (pneuma em Grego) está ligado ao vento, ar e espírito. O vento é um ar em movimento que possui efeitos significativos no mundo enquanto permanece invisível. Em João 3, Jesus nos diz que devemos nascer de novo do pneuma (Jo 3.5). Ele continua dizendo que o pneuma sopra onde quer; nós ouvimos o seu barulho, mas não vemos de onde vem e para onde vai (João 3.8). Isso indica que nós conhecemos o Espírito da mesma forma que conhecemos o vento – pelos seus efeitos.

Tal como o vento, o sopro é um ar invisível em movimento – mas dessa vez significando aqui o ar que traz vida ao corpo. Deus soprou em Adão e ele se tornou um ser vivo (Gn 2.7). Em João 20.22, Jesus sopra sobre seus discípulos e diz, “Recebei o Espírito Santo.” Assim, passamos a conhecer a ação do Espírito ao considerarmos a forma como o sopro se move para dentro e para fora dando vida aos nossos corpos físicos.

A palavra pneuma também se refere à configuração interior de uma pessoa ou o seu temperamento. Jesus abençoa aqueles que são “pobres de espírito” (Mt 5.3). Pedro descreve o caráter de uma mulher de Deus como “uma beleza permanente de um espírito manso e tranquilo” (1 Pedro 3.4). Nós podemos pensar sobre o nosso espírito como a inclinação invisível de nossas almas, que molda nossas ações visíveis.

Rio, Óleo, Pomba

Além dessas representações, a Bíblia apresenta uma série de outras imagens que nos ajudam a entender o Espírito e sua obra. Em João 7, Jesus descreve o Espírito como um rio que flui da vida dos seus discípulos.

Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva. Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito até aquele momento não fora dado, porque Jesus não havia sido ainda glorificado. (João 7.38-39)

Nós podemos relacionar o rio de João 7 ao rio da água da vida descrito em Apocalipse 22, “que sai do trono de Deus e do Cordeiro” (Ap 22.1). Essa cidade é a Nova Jerusalém, a noiva de Cristo, a igreja do Deus vivo. Dessa forma, o Espírito é o rio de águas vivas que flui de Jesus para o seu povo e a partir deles para o mundo, a fim de curar as nações. Este é o rio “cujas correntes alegram a cidade de Deus” (Sl 46.4), o rio das delícias de Deus e o manancial da vida (Sl 36.8-9).

Associar o Espírito ao rio da água da vida também traz à mente a noção de que o Espírito é “derramado” sobre o seu povo (At 2.33; 10.45; Rm 5.5; Tt 3.6), que o povo de Deus é “cheio” desse Espírito (Ef 5.18) e que nós somos batizados no Espírito assim como somos batizados na água (Mc 1.8; At 1.5; 1Co 12.13).

Além da água, as Escrituras associam o Espírito Santo ao óleo de unção utilizado para consagrar sacerdotes e reis no Antigo Testamento. Davi recebe o Espírito quando Samuel o unge com óleo em 1 Samuel 16.12-13. Ambos, Isaías e Pedro, no livro de Atos, fazem essa conexão em suas descrições do Messias.

O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados. (Is 61.1)

Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder. (At 10.38)

Por último, a Bíblia liga o Espírito à imagem de um pássaro, a pomba. O Espírito “paira” como um pássaro por cima das águas da criação (Gn 1.2). E, de maneira mais notável, o Espírito desce sobre Jesus “como em forma de pomba” durante seu batismo (Mt 3.16; Jo 1.32-33).

Deus em movimento

Se começarmos a desenhar essas imagens juntos, nós vemos a importância do movimento nas descrições sobre o Espírito. O Espírito movimenta-se como o vento, sopra como o ar dentro e fora dos nossos pulmões, flui como a água de uma fonte, paira e desce como um pássaro. Algumas representações (vento, ar e espírito) retratam tanto a invisibilidade do Espírito quanto a evidência inconfundível da sua presença.

Mais do que isso, se examinarmos essas representações em detalhe, nós vemos uma conexão contínua com o amor, a vida, o prazer e a alegria de Deus. As fontes do rio de Deus alegram a sua cidade (Sl 46.4). O amor de Deus é “derramado em nosso coração pelo Espírito Santo” (Rm 5.5). Quando o servo do Senhor é ungido com o Espírito de Deus, ele dá “óleo de alegria, em vez de pranto, veste de louvor, em vez de espírito angustiado” (Is 61.3).

Isso não é uma surpresa, já que o Espírito está intimamente ligado ao amor de Deus por toda a Bíblia. Considere 1 João 4. Lá aprendemos que “Deus é amor” (1Jo 4.8) e que permanecer em amor significa permanecer em Deus e Deus permanecer em nós “pelo fato de nos ter dado do seu Espírito” (4.13; 4.18). É quase como se Deus permanecer, o amor permanecer e o Espírito permanecer sejam jeitos diferentes de se expressar a mesma realidade.

O Salmo 36.7-9 fala sobre o amor inabalável de Deus, usando a figura de um pássaro que fornece abrigo, a abundância da casa de Deus (ligada ao óleo), um rio e uma fonte.

Como é preciosa, ó Deus, a tua benignidade! Por isso, os filhos dos homens se acolhem à sombra das tuas asas. Fartam-se da abundância da tua casa, e na torrente das tuas delícias lhes dás de beber. Pois em ti está o manancial da vida; na tua luz, vemos a luz.

Espírito do Noivo – e da noiva

Todas essas representações alcançam o seu clímax no batismo de Jesus. Na ocasião temos o Filho de Deus encarnado e em pé em um rio fluindo com água. Ele é batizado nessa água e, quando emerge, o Espírito desce sobre ele como uma pomba, sendo o que outras passagens chamam de unção. Então, Deus o Pai fala, com seu sopro, trazendo a totalidade da representação com palavras claras e inconfundíveis: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.16-17).

Na verdade, o batismo de Jesus é o começo do clímax. As Escrituras inspiradas pelo Espírito nos levam a olhar para o Cristo encarnado. Depois, esse Espírito leva Jesus ao deserto para ser tentado, levando-o de volta à Israel para anunciar a chegada do Reino de Deus. O Espírito de Deus empodera Jesus para o seu ministério e o fortalece enquanto ele anda pelo caminho do Calvário. Esse rio é tão potente que flui para cima conforme Jesus sobe o Gólgota com uma cruz em suas costas. E o Espírito sopra através da tumba vazia, para que Jesus, o segundo Adão, se torne o Espírito que dá vida.

Agora, o mesmo Espírito é derramado sobre o povo de Deus, fluindo em nossas vidas com o amor e a alegria que vem de Deus, e fluindo para fora de nossas vidas através do serviço frutífero ao próximo, tudo isso enquanto nos dá uma voz para que o Espírito e a noiva, a pomba de Deus e a amada de Cristo, digam ao seu noivo celestial, “Venha!”

Por: Joe Rigney. © Desiring God Foundation.Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: Invisible and Unmistakable: How Scripture Pictures the Holy Spirit

© Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Tradução: Juliane Teixeira. Edição: Vinicius Lima. Revisão: Renata Gandolfo.