O que acontece com os bebês que morrem?

Tem salvação para os bebês?

Esta é uma questão difícil e sensível. Qualquer resposta deve levar em conta que todos nós nascemos pecadores e, portanto, dignos de julgamento. A ênfase consistente do Novo Testamento sobre a necessidade de um segundo nascimento indica que nosso estado natural é o de pecado, não de inocência (Jo 3.1-12; Ef 2.1-5; cf. Sl 51.5). Somos “por natureza filhos da ira” (Ef 2.3).

Além de ter naturezas pecaminosas, também viemos ao mundo com o pecado de Adão imputado a nós. Por causa de nossa união com Adão, nascemos culpados de seu primeiro pecado (Rm 5.12-21). Entraremos em detalhes sobre essa doutrina em outro lugar, mas por enquanto é suficiente salientar que, segundo Paulo, o fato de todos morrerem fisicamente (mesmo aqueles que, como crianças, não tiveram a oportunidade de transgredir conscientemente uma lei de Deus — Rm 5.13-14) é uma demonstração de que estamos conectados à culpa do pecado de Adão.

Se todos nós nascemos sob o pecado, e a salvação é pela em Cristo (o que as crianças não parecem ter a capacidade mental de exercer), então pode parecer, à primeira vista, que nenhuma criança pode ser salva. No entanto, não temos conhecimento de alguém que realmente assuma essa posição. Estamos convencidos de que seria uma conclusão prematura e antibíblica.

Uma razão é que existem exemplos evidentes nas Escrituras de crianças que foram salvas. João Batista foi cheio do Espírito ainda no ventre de sua mãe (Lc 1.15), conforme nos é dito. Na teologia de Lucas, ser cheio do Espírito é consistentemente visto como um aspecto da obra do Espírito entre aqueles que são regenerados (Lc 1.41, 67; At 2.4; 4.8, 31; 6.3, 5; 9.17; 11.24).

Centenas de anos antes de João Batista, Davi escreveu: “Contudo, tu és quem me fez nascer; e me preservaste, estando eu ainda ao seio de minha mãe. A ti me entreguei desde o meu nascimento; desde o ventre de minha mãe, tu és meu Deus” (Sl 22.9-10). Por causa dessa aparente menção de Davi de ter fé em Deus ainda criança, alguns concluíram que Deus salva as crianças dando-lhes uma forma “primitiva” de fé. Essa conclusão, no entanto, não é necessária para o nosso ponto; o principal item a se verificar na passagem é que Davi evidentemente tinha um relacionamento de salvação com Deus desde o ventre de sua mãe.

Esses versículos tornam muito improvável que todos os bebês que morrem estejam perdidos. Se Deus salvou João Batista e Davi na infância, certamente podemos concluir que ele salvou, na infância, outros que não tiveram a oportunidade de crescer. No entanto, também seria injustificável concluir a partir desses textos que todos os que morrem na infância são salvos. A regeneração de crianças não parece ser a maneira usual de Deus trabalhar; devemos ter em mente que “Desviam-se os ímpios desde a sua concepção; nascem e já se desencaminham, proferindo mentiras” (Sl 58.3).

À luz dessas coisas, alguns sustentam que Deus salva algumas crianças que morrem e não outras. Eles apontam que isso parece mais consistente com as doutrinas da eleição e do pecado original.

John Piper e muitos outros, entretanto, acreditam que há mais uma linha de evidência bíblica que deve ser considerada. Essa evidência nos leva a concluir que Deus salva todas as crianças que morrem.

Há vários anos, em um sermão no funeral de uma criança, o Dr. Piper resumiu a base para sua conclusão:

Jesus diz, em João 9.41, àqueles que se ofenderam com seu ensino e perguntaram se ele pensava que eram cegos, ele disse: “Se fôsseis cegos, não teríeis pecado algum; mas, porque agora dizeis: Nós vemos, subsiste o vosso pecado.”

Em outras palavras, se uma pessoa não tem a capacidade natural de ver a revelação da vontade de Deus ou a glória de Deus, então o pecado dessa pessoa não permaneceria — Deus não levaria a pessoa ao julgamento final por ela não crer no que não tinha capacidade natural de ver.

O outro texto é Romanos 1.20, no qual Paulo está lidando com pessoas que não ouviram o evangelho e não têm acesso a ele, mas que têm acesso à revelação da glória de Deus na natureza:

Romanos 1.20 Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis. (grifo do autor)

Em outras palavras: se uma pessoa não tivesse acesso à revelação da glória de Deus — não tivesse a capacidade natural de vê-la e compreendê-la, então Paulo infere que ela teria uma desculpa no julgamento.

A questão para nós é que, embora nós, seres humanos, estejamos sob a pena de julgamento e morte eternos por causa da queda de nossa raça no pecado e da natureza pecaminosa que todos nós temos, Deus só executa esse julgamento naqueles que têm a natural capacidade de ver sua glória, e entender sua vontade, e se recusam a abraçá-la como seu tesouro.

Os bebês, acredito, ainda não têm essa capacidade; e, portanto, da maneira inescrutável de Deus, ele os traz sob o sangue perdoador de seu Filho.

Em outro sermão, ele acrescenta:

Deus em sua justiça encontrará uma maneira de absolver de sua depravação crianças que morrem. Certamente será por meio de Cristo. Mas, além disso, estaríamos adivinhando. Parece-me que a hipótese mais natural seria que os bebês crescerão no reino (imediatamente ou com o tempo) e pela graça de Deus chegarão à fé para que sua justificação seja somente pela fé, assim como a nossa.

É importante enfatizar que, em nossa opinião, Deus não está salvando crianças porque elas são inocentes. Elas não são inocentes, mas culpadas. Ele as está salvando porque, embora sejam pecadoras, em sua misericórdia ele deseja que a compaixão seja exercida sobre aqueles que são pecadores e ainda não têm a capacidade de compreender a verdade revelada sobre ele na natureza e no coração humano.

Também deve ser enfatizado que a salvação de todos os que morrem na infância não é inconsistente com a eleição incondicional (a visão de que Deus escolheu quem salvar por sua própria vontade, independentemente de qualquer coisa no indivíduo). Como Spurgeon apontou, não é que Deus escolha alguém para a salvação porque eles vão morrer na infância. Em vez disso, ele ordenou que somente aqueles que foram escolhidos para a salvação terão permissão para morrer na infância. A justiça de Deus na condenação será mais claramente vista ao permitir que aqueles que não serão salvos demonstrem sua pecaminosidade inerente por meio da transgressão intencional e consciente.

Finalmente, para aqueles que lutaram com esse problema por causa da perda pessoal, gostaríamos de dizer que saber o que acontece com os bebês que morrem é um bom lugar para descansar sua alma. Entretanto, é apenas o segundo melhor lugar para descansar. Como John Piper disse em outro sermão, também no funeral de uma criança pequena:

O primeiro melhor lugar é simplesmente este: Salmo 119:68 — “Tu és bom e fazes o bem”.

Este foi o texto de George Müeller no funeral de sua esposa Mary, que morreu de febre reumática em 1860. Seus três pontos foram:

O Senhor foi bom, e fez o bem, ao dá-la a mim.

O Senhor foi bom e fez o bem, deixando-a por tanto tempo para mim.

O Senhor foi bom e fez o bem, tirando-a de mim.

Ele não partiu de Mary e se moveu para a bondade de Deus. Ele começou com a confiança inabalável na bondade de Deus enraizada em Jesus Cristo e interpretou sua vida e sua perda à vista dessa bondade.

Esse é o ponto de partida, a bondade de Deus — essa é a esperança para todos nós, a única esperança.

Nosso cântico final é um apelo ao Espírito de Deus para nos afastar de tudo na terra que nos tente a não acreditar nisso. 

Por: Matt Perman. © Desiring God Foundation.Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: What Happens to Infants Who Die?

© Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Tradutor: Paulo Reiss Junior. Editor: Vinicius Lima. Revisor: Zípora Dias.