A música no culto e o perigo de “oferecer o melhor para Deus”

A música no culto não é um fim em si mesma, deve servir ao propósito do culto

“BASEADO” NA PALAVRA

A ideia de “oferecer o melhor para Deus” é muito usada dentro da igreja, ainda mais quando o assunto é música, por se tratar de algo muito técnico e, ao mesmo tempo, muito subjetivo e emocional. Temos diversos versículos bíblicos que nos ensinam sobre a diligência, fidelidade e excelência esperadas no serviço do cristão, não somente na igreja, mas em tudo na vida:

Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens.” (Cl 3.23)

“Sejam sempre dedicados à obra do Senhor, pois vocês sabem que, no Senhor, o trabalho de vocês não será inútil.” (1Co 15.58b, NVI)

“Maldito aquele que fizer a obra do SENHOR relaxadamente!” (Jr 48.10a)

O ARGUMENTO E SEU PERIGO

Por vezes, usamos esse argumento para incentivar aqueles que são mais relapsos na obra do Senhor, aquele membro da equipe que nitidamente não se prepara para os ensaios e para os momentos de execução das músicas, causando diversos transtornos à equipe e também à igreja. Embora coubesse escrever também sobre isso, neste artigo irei focar sobre o argumento de “oferecer o melhor para Deus” sendo utilizado para justificar performances exageradas e chamativas de algum membro da equipe, ou até mesmo de toda equipe no culto do povo de Deus. Este texto é para instrumentistas e cantores já de nível intermediário ou avançado, que podem muito bem, por meio de suas boas capacidades técnicas, fazerem algo muito ruim no culto ao Senhor.

“Precisamos desta guitarra fritando no solo”, dizem aqueles que querem satisfazer seus ouvidos com um belo solo de guitarra, mas no culto. “Vamos aumentar o tom desta música, pra eu usar mais minha extensão vocal”, diz aquele que gosta de chegar ao limite de sua voz com melismas e drivers, mas no culto. “Deixa eu colocar um solo de bateria aqui, vai ficar excelente, a galera vai pirar”, diz o baterista que tem como referências Portnoy, Aposan e Valverde, mas no culto. Irmãos, há beleza nas músicas, nas técnicas, nos estilos, nos limites sendo extrapolados e demonstrados nas músicas, mas culto não é show.

SERVINDO O PROPÓSITO DO CULTO

Oferecer o melhor para Deus é algo relativo ao ambiente e propósito da execução de algum talento. Se você deseja utilizar toda sua capacidade musical, quer na voz ou em um instrumento, sem problemas! Desde que escolha adequadamente o ambiente e momento para isso, e posso te garantir que o culto público, a reunião solene do povo de Deus, não o é.

Oferecer o melhor para Deus, no culto da igreja, é fazer o papel de facilitador do canto congregacional, trazendo, com seu instrumento e/ou sua voz uma harmonia e ritmo adequados a fim de que a igreja cante para Deus e sobre Deus, da melhor forma possível, trazendo então glória somente a Deus. Performances muito complexas, chamativas, e arranjos difíceis colocam a igreja como espectadora, e não participante do culto, desvirtuando assim o propósito do momento de louvor com músicas e até mesmo do próprio culto. O músico ou a equipe são admirados, a despeito de uma reflexão profunda acerca do que se está cantando e para quem se está cantando.

A SATISFAÇÃO MUSICAL TEM O SEU DEVIDO LUGAR

A igreja não é lugar de se satisfazer musical e tecnicamente. É lugar de serviço a Deus e ao povo de Deus. Conquiste sua própria audiência e não usurpe a audiência do nosso Senhor, que é sua igreja. A igreja se reúne para contemplar seu Cristo, e não seus músicos.
Faça uma banda, crie um canal no Youtube, poste suas performances nas redes sociais ou participe de concertos, reúna-se com amigos para uma Gig e tirem um bom som juntos — não há nenhum problema nisso! Faça arte, faça cultura. A arte é feita para ser exibida e gerar boas afeições em quem a contempla. Você quer que escutem seu solo matador? Faça-o, mostre-o, e Deus será glorificado por verem a beleza que pertence a Deus ser executada por meio de sua voz ou instrumento — mas o culto não é lugar nem momento para isso!

O problema não está em fazer boa arte e querer que os outros a apreciem, só compreenda que o culto da igreja não é o ambiente para isso, que a igreja de Cristo não é audiência para isso. A igreja não é um público no culto, é participante ativa, sendo os músicos, pregador, dirigente e demais sujeitos apenas servos do Senhor que facilitam para que a solenidade aconteça da melhor maneira possível, e Deus, somente Deus, seja glorificado (dirigentes de culto, pregadores e algum outro participante de “linha de frente” também podem incorrer nestes mesmos erros ao enfatizarem demais suas performances).

Note, você não está errado em querer se satisfazer musical e tecnicamente, você só está errando o ambiente e momento adequados para isso. Está errando também a audiência. É muito difícil um artista conseguir ter seu público, ser reconhecido pelo seu talento e trabalho, mas te encorajo a se engajar nisso! Precisamos de bons instrumentistas e cantores fazendo arte em nossa cultura e sendo reconhecidos por seus grandes talentos e também por levarem junto a si o nome de Jesus. Só entenda que isto não cabe no culto público do povo de Deus, na igreja do Senhor.

CONCLUSÃO

Fomos chamados a sermos luz do mundo, e não para brilharmos como estrelas dentro da igreja. No culto público deve brilhar somente a luz de Jesus sobre seu povo, luz que os ilumina e capacita a darem o seu melhor para Deus em tudo o quanto fizerem, dentro e fora da igreja, tendo noção do que e para quem estão  fazendo, e a forma mais adequada para o que fazem, a fim de que somente o nome do Senhor seja honrado e glorificado. 

Por: Vinicius Lima. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Revisão por Zípora Dias. Co-Edição por André Soares. Edição por Vinicius Lima.