Um blog do Ministério Fiel
Quão boa é a culpa?
A culpa dói e isso é uma coisa boa
Quão boa é a culpa?
O Salmo 32 é uma comparação entre aqueles que são redimidos e aqueles que não o são, e não uma comparação entre o bem e o mal. A pergunta que encaramos é: Quão boa é a culpa?
A culpa dói (e isso é uma coisa boa) “Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia. Porque a tua mão pesava dia e noite sobre mim, e o meu vigor se tornou em sequidão de estio.” (Sl 32.3–4)
Lembro-me de ver uma colônia de leprosos no lugar onde eu falei em Taiwan. A visão de suas mãos, dos pés, das orelhas e dos rostos comidos era horrível. Ao conversar com os médicos, descobri que o problema com a lepra não é a doença em si; o problema é que ela remove a dor. Por exemplo, se eles colocam a mão em um fogão quente, eles não sabem que isso é um problema. Por não sentirem dor, eles não tiram a mão. Sem a ajuda da dor para mantê-los a salvo, alguém com lepra perderá lentamente partes de seu corpo.
A culpa existe para funcionar um pouco como a dor física, mas no âmbito espiritual. A culpa dói, e dói muito. A culpa lhe diz para se afastar de pensamentos e comportamentos que são ruins para você ou para os outros, e é um presente de Deus para manter sua alma segura. A convicção do Espírito de Deus na vida do crente (parte da descrição do trabalho do Espírito Santo) às vezes é dolorosa. Mas o lado positivo é que ela lhe permite saber que você está espiritualmente vivo. Será que às vezes dói porque você foi desobediente? Tudo bem. Isso é um sinal de que ainda há esperança de mudança em você. Mas, mesmo se você não mudar, a culpa é o lembrete de que Deus se importa. Não há nada pior do que um pai que nunca se importa o suficiente para corrigir.
A culpa é o preço que você paga por desejos, pensamentos, palavras e ações que vão contra a boa vontade de Deus para você (e, é claro, geralmente há outros preços a serem pagos também). Mas não há conforto em saber que você adora um Deus que se importa profundamente com você e com o que você faz?
Certa vez, conheci uma mulher de trinta e dois anos que havia sido prostituta. Ela ouviu falar de Jesus e de como ele aceitou prostitutas, então ela veio até mim e perguntou se eu poderia ajudá-la. Ela falou sobre a sua vida com drogas e sobre como precisou se vender a fim de pagar pelo hábito das drogas. À medida que a mulher desabafava a sua história, ela começou a chorar. Ela enfiou a mão em sua bolsa, tirou uma foto amarrotada e a jogou sobre minha mesa. A fotografia era de uma garotinha. Ela disse: “Essa era eu aos três anos de idade. Às vezes, depois de ter feito um programa, quando estou chapada e tentando dormir, tiro a foto, olho para aquela menina, e digo: ‘Meu Deus, o que eu fiz com você?’”
A vida dela tinha tomado direções que ela nunca pretendera. Ela provinha de uma boa família e tinha até sido criada na igreja. Mas uma coisa levou a outra e um dia ela percebeu que havia violado o plano de Deus para a sua vida. Agora ela nem sentia que podia orar – ela acreditava que Deus era bravo e condenador e que ela estava além do perdão dele. A realidade do pecado e da culpa doía profundamente.
Ao contrário do que muitos em nossa cultura diriam, o pecado é real e sentir-se culpado é uma reação genuína e honesta ao pecado. Não se trata apenas de seus problemas, da maneira como você foi treinado para usar o “troninho” ou como foi difícil agradar ao seu pai – essas coisas às vezes estão em jogo na “falsa” culpa. Mas, fora isso, o pecado verdadeiro (e nós somos verdadeiros pecadores) traz culpa verdadeira.
A Bíblia diz: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jeremias 17.9). Se você realmente acredita nisso, por que está tão chocado com o seu próprio pecado? E a Bíblia diz: “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós” (1Jo 1.8). Mais uma vez, se você realmente acredita nisso, por que você está tão chocado com o seu próprio pecado?
Há quatro etapas no processo de culpa. Em primeiro lugar, fazemos algo ruim. Segundo, nos sentimos culpados. Terceiro, somos punidos. Quarto, após a punição, estamos livres da culpa. Há algo psicologicamente saudável na punição que nos liberta da culpa. Isso pode parecer estranho a você, uma vez que hoje em dia não falamos muito sobre punição, mas quando falarmos sobre punição aqui, o que realmente estamos falando é do pagamento de uma dívida que você tem por causa do que você fez. Se você quebrar uma janela, sua punição é pagar o custo da substituição. Um pagamento por substituição torna-se mais complicado quando ferimos a Deus, ou os outros, ou até a nós mesmos.
É aqui que começamos a ficar sobrecarregados, quando vemos que nossas dívidas não podem ser pagas com facilidade. Dói muito ver como temos ferido a Deus e os outros. Dói perceber que existem consequências reais e dolorosas para as nossas ações. Muitas pessoas passam a vida tentando evitar a responsabilidade por suas ações. Elas fogem da dor da punição, mas não podem escapar da dor da culpa, seja na consciência ou nas consequências de suas ações. Por outro lado – e isso é importante – se não houver uma primeira etapa, não haverá uma quarta etapa. Em outras palavras, se você não tiver feito nada de ruim a que você possa atribuir a culpa que sente, mas ainda assim continua a sentir-se culpado, sua inclinação natural é ser punido e assim tentar ser livre. Essa é uma falsa culpa. Esse esforço para ser punido só fará com que você se sinta mais culpado. Então, você somente vai se punir mais e, como resultado, sentir-se ainda mais culpado. É um círculo vicioso. É por isso que muitas pessoas falham. Elas estão aceitando a punição que pensam que lhes é devida. De qualquer forma, dói.
A culpa não se dá no vácuo. Ela sempre se dá no contexto do que Deus revelou na lei e na inteireza da Escritura. Quando temos culpa “verdadeira”, é sempre porque temos medido nossa vida segundo o que Deus diz. A culpa verdadeira é a bússola que Deus usa para nos conduzir de volta a Cristo, onde podemos ser lembrados de que ele pagou a dívida por todos os nossos pecados. Não há mais punição para nós. Somos perdoados, e se somos perdoados, não há razão para sermos engolidos pela culpa.
Também não há necessidade de evitar ou de ter medo da culpa que leva você ao perdão. Se nos desviamos do caminho para casa, há sempre culpa verdadeira, a confissão honesta e o arrependimento, e um esforço para mais uma vez nos orientar para casa. Louvado seja Deus pela culpa que você sente. Essa bússola é um dos presentes mais valiosos que Deus deu de si mesmo.