Antevidência e a ciência no seu reconhecimento

Se olharmos pela ciência teremos de admitir a antevidência

Antevidência. A terra e as leis e constantes da física e da química tiveram que ser finamente ajustadas – e de várias formas – para viabilizar a vida. Muito desse ajuste fino teria que ser previsto antes da vida surgir em nosso planeta. Antes que os pequenos detalhes da bioquímica pudessem ser planejados, a química e as constantes universais teriam que já estar todas finamente ajustadas, ou essa bioquímica seria inviável. Essa dimensão de ajuste fino sugere que a antevidência teve um papel fundamental já na essência de nosso universo. 

Antevidência não seria apenas a capacidade ou ato de prever o que acontecerá, mas também o que será necessário no futuro ou no desdobramento de algum processo, que requer boas doses de previsões preparando um caminho viável para que tudo ocorra bem.

Para neutralizar as implicações inevitáveis de toda essa aparência de antevidência em funcionamento a favor do design inteligente, alguns apostam no multiverso: na existência de incontáveis outros universos – todos nunca observados (só um, o nosso). E pior, creem que o nosso universo teria sido fortuitamente privilegiado com todas as inúmeras condições certas, enquanto a maiorias dos outros universos desse multiverso não tiveram “tanta sorte” assim. Mas a proposta do multiverso e suas muitas variações que tentam explicar o ajuste fino apresentam problemas seríssimos. Vamos considerar um deles: a hipótese do multiverso falha em explicar uma lista longa e crescente de aspectos da biologia que aparentam ter requerido um input criativo na Terra, mesmo antes da origem do universo. Ou seja, o ajuste fino sofisticadíssimo na física e na química, que tem sido descoberto nas décadas recentes, é uma condição necessária, mas não suficiente para a vida biológica. Não só no início, mas mais à frente, outras formas de ajuste fino foram também necessárias. 

Todo esse ajuste fino sugere algo mais que somente constantes ajustadas. Sugere antevidência estupidamente genial, que antecipou problemas e providenciou soluções. E quanto mais aprendemos sobre esse ajuste fino e essas soluções, mais e mais convincentes se tornam as evidências a favor dessa antevidência. 

Mas toda vez que esse argumento é invocado, sempre surge o mesmo protesto: se esteve de fato envolvida no ajuste fino do cosmos, a antevidência emanou de um ser sobrenatural, que transcende o cosmos e suas lei. Portanto, a conclusão por antevidência não pode ser considerada científica. E ponto final. 

Esse “protesto” nos remete, então, a uma questão fundamental: como se define ciência? 

Contrária à percepção popular, a ciência é uma atividade humana muito variada e existem, assim, muitos métodos científicos diferentes. Há certamente uma sobreposição, mas existem distinções muito importantes. Por exemplo, a “ciência experimental” feita em nossos laboratórios, aquela que trata do modo como as coisas funcionam hoje, emprega um tipo de metodologia, enquanto a “ciência histórica” – que inclui a ciência de origens – se baseia na metodologia da “ciência de laboratório”, mas também em outros métodos, pois procura descobrir a causa de eventos do passado. Eventos esses, portanto, que não podem ser investigados com os mesmos métodos pelos quais estudamos os aspectos da biologia molecular, que observa a vida com microscópios e espectrômetros avançados. 

Existem também diferenças em metodologia mesmo entre as ciências experimentais, por exemplo, entre a ecologia e a física. Assim. Cientistas e sociedades científicas têm proposto diferentes definições para a ciência, as quais muitas vezes se sobrepõem ou até mesmo competem entre si. Por exemplo, o Conselho de Educação do Estado de Kansas nos Estados Unidos uma vez definiu ciência como “um empreendimento humano que tem como objetivo explicar o mundo natural”, porém eles adicionaram uma restrição bastante abrangente ao declararem: “a ciência está restrita a explicar o mundo natural usando somente causas naturais (energia, matéria e forças)”. E a justificativa para essa forte restrição foi a de que faltaria à ciência hoje ferramentas para testar explicações que apelem para causas (sobrenaturais) que transcendam as causas naturais. 

Eu discordo dessa alegação, a de que a ciência das nossas origens não teria ferramentas para testar explicações que concluiriam por causas inteligentes, sobrenaturais ou de qualquer outro tipo. Uma objeção salta aos olhos: se a definição de ciência do Conselho de Educação dos Estado de Kansas fosse apropriada, somente uma cosmovisão seria permitida em ciência: o naturalismo.  E essa restrição tendenciosa significaria que o ajuste fino e todas as outras evidências claras de antevidência na natureza teriam que ser obrigatoriamente ignoradas ou “dissimuladas”, por exemplo, com o apelo desesperado para ideias fantasiosas, tais como a do multiverso. Essa restrição empobrece a ciência, pois exclui teorias e conclusões só porque elas não se adequam a uma categoria desejada. 

Deve haver uma definição melhor e mais abrangente para a ciência. E, de fato, há: “A ciência é a busca sistemática e imparcial pelo conhecimento da natureza”. Por essa definição, cientistas se tornaram livres para pensar, investigar, duvidar e concluir baseados em toda e qualquer evidência que obtenham. O princípio norteador da ciência é este: liberdade de pensamento e de fala guiada por dados coletados usando métodos sistemáticos. Se a ciência – a busca por verdades absolutas escondidas na natureza – quer, de fato, ser tida como um empreendimento dirigido exclusivamente pela verdade, suas duas únicas restrições devem ser: razão e evidências. 

Com esse entendimento estabelecido, resta claro que, mediante a investigação de evidências e das causas para o ajuste fino, a antevidência e o design inteligente são um projeto cientificamente válido. Diálogos e debates honestos entre pessoas comprometidas com uma busca cientificamente livre por conhecimento são a força motriz da ciência. Cientistas devem seguir as evidências, seja lá quem for que as encontrem ou as motivações de quem conduziu a pesquisa, ou para onde esses dados apontem sobre a realidade que nos cerca. Essa é a única ciência que vale a pena ser feita. 


 

Artigo adaptado do livro “Fomos Planejados: A maior descoberta científica de todos os tempos”, Editora Kovalpress (www.kovalpress.com).

Autor: MARCOS N. EBERLIN. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Revisão e Edição por Vinicius Lima.