Pastor administrativo

Todos os anos eu, um pastor administrativo, vou a um retiro com pastores administrativos de igrejas com pensamentos em comum. E todo ano, Alex Duke (editor da 9Marks e meu colega de trabalho na igreja) zomba de mim. “O que vocês vão fazer? Sacar suas calculadoras TI83? Encarar um monte de planilhas juntos?” Ha ha ha.

Brincadeiras à parte, um membro regular da minha igreja (e presumo que de outras igrejas também) não tem uma boa ideia do que um pastor administrativo realmente faz. Pensamentos vagos sobre a manutenção do prédio ou o pagamento das contas geralmente são o que as pessoas têm em mente. Claro, muitas vezes lidamos com essas coisas ou supervisionamos alguém que o faz. Mas ser um pastor administrativo é muito mais do que isso. No final das contas, uma boa administração é necessária para uma igreja saudável.

 

O que é administração — e quem é bom para isso?

 

O que é administração? Provavelmente, uma das primeiras coisas em que pensamos quando ouvimos a palavra administração é governo: “Sob minha administração…” ou “Esta administração fez…”. A igreja hoje admitiu esta palavra? Eu acho que não.

A palavra pode ser traduzida de algumas maneiras diferentes: administração, liderança ou até mesmo governo. Em outros termos, envolve liderar ou orientar. O apóstolo Paulo também lista a administração como um dom espiritual (Romanos 12.8 e 1 Coríntios 12.28). O Espírito Santo equipou algumas pessoas na igreja dessa maneira para que pudessem edificar o corpo de Cristo.

Então, como você sabe se tem o dom para servir na administração da igreja?

Já vi muitas pessoas de diferentes formações serem bem-sucedidas na administração, mas uma característica comum parece ser a capacidade de se concentrar nos detalhes. Pessoas detalhistas normalmente encontram seu caminho nas funções administrativas. Às vezes, essa característica indica que alguém tem um dom sobrenatural na administração. Neste caso, e como em outros dons, a administração pode ser alimentada e aprimorada. Existem professores e pregadores naturalmente talentosos, mas mesmo essas pessoas podem melhorar seus dons e habilidades ao praticar e aprender com os outros.

Que tipo de jogador de tabuleiro você é? Você gosta de ir a fundo e aprender à medida que avança? Ou você quer abrir o manual, ler as regras e entendê-las antes de jogar? Eu imagino que o pastor administrativo pertença ao último grupo. Podemos chamar isso de “regra prática do jogo de tabuleiro”. (O pastor administrativo também costuma ser muito criativo!) Muitas vezes, a administração da igreja não é diferente de jogar um jogo de tabuleiro muito complexo. Não estou falando dos Descobridores de Catan [1]. Isso é apenas um jogo de tabuleiro de entrada. Meu filho de oito anos consegue jogar isso. Estou falando do Agrícola, um verdadeiro jogo de tabuleiro. É claro que liderar uma igreja na área de administração não é um jogo. As pessoas são reais e as apostas podem ser altas. E como você administra pode prejudicar ou ajudar.

 

Por que uma boa administração é importante?

 

A administração não é apenas bíblica; é necessária. Pode não ser a sua habilidade, mas não pode ser ignorada. Alguém precisa conhecer todas as regras ou políticas e ser capaz de administrá-las corretamente. Sem regras claras (uma constituição e as políticas que a acompanham), é provável que um grupo de indivíduos caia na tirania ou na anarquia. A igreja não é diferente.

Portanto, eu diria que uma pessoa que entende de administração é uma das posições mais críticas que uma igreja pode contratar. Como pastor líder em uma igreja pequena, mas em crescimento, você frequentemente se depara com a questão de quem contratar primeiro. Você deve contratar alguém para ajudar nas reuniões de adoração? Você deveria contratar alguém para lidar com missões ou discipulado? Depende um pouco do conjunto de habilidades de cada pastor dirigente, mas eu diria que a primeira contratação geralmente deve ser alguém que possa ajudar na administração. Especialmente se o pastor dirigente não tiver o dom para administração.

É claro que a administração e as políticas não podem simplesmente ser removidas de uma igreja e conectadas em outra. As estruturas e políticas administrativas variam de igreja para igreja. Isso ocorre porque as políticas são criadas regularmente na sequência de um problema para evitar que tal problema ocorra novamente. Independentemente de ter experiência em primeira mão com um problema ou não, são necessárias políticas para lidar com situações que envolvem coisas como dinheiro, segurança infantil e nomeação de líderes. A introdução de uma nova política é uma questão de sabedoria. Esperançosamente, você terá uma pluralidade de presbíteros para te ajudar a tomar essas decisões, mas geralmente cabe aos administradores liderar o caminho.

O que alguém envolvido na administração realmente faz? Tudo, desde lidar com as finanças até a construção, manutenção e reformas do edifício, até o desenvolvimento frequentemente negligenciado de várias políticas relacionadas à igreja. Essas três tarefas podem parecer tediosas, mas são extremamente valiosas para uma igreja saudável e feliz.

Você pode não ser capaz de encontrar capítulos e versículos para demonstrar sua importância, mas mesmo a igreja primitiva lidou com problemas semelhantes. Por exemplo, Atos 6 apresenta um problema de administração. Houve uma disputa na igreja, e com ela veio uma possível divisão e distração. Os cristãos de fala grega sentiam-se negligenciados em relação aos cristãos de fala hebraica. Os apóstolos intervieram para criar uma nova equipe de servos a fim de resolver esse problema. Muitos acreditam que eles foram os primeiros diáconos. Esses servos ajudaram a preservar a unidade da igreja por meio de sua administração.

Não é diferente em nossas igrejas hoje. Às vezes surgem problemas imprevistos e devemos reagir. A resolução de problemas está no cerne de uma boa administração. Em minha experiência, ser treinado como engenheiro muitas vezes provou ser útil na administração da igreja porque a faculdade de engenharia é basicamente de quatro anos para resolução de problemas. Ver as complicações com antecedência e criar sistemas ou políticas para evitá-las é uma grande parte do meu trabalho. Reagir aos problemas e descobrir a solução é igualmente importante.

Eu apostaria que muitas igrejas aprenderam lições valiosas de administração e solução de problemas nos últimos anos. Duvido que muitas igrejas tivessem políticas de pandemia em vigor antes de 2020. Sua igreja criou alguma nova política durante a pandemia? Podemos debater os méritos de ter uma transmissão ao vivo e quem você deve permitir que assista se não for público. Mas quantas igrejas iniciaram uma transmissão ao vivo durante a pandemia e agora não conseguem descobrir como desligá-la ou pelo menos limitar quem tem acesso a ela? Sem uma política de uso, sempre haverá uma tendência para o que é mais fácil. Uma vez iniciada a transmissão ao vivo, é fácil mantê-la, porque desligá-la exigirá conversas difíceis. “Você está dizendo que não quer que as pessoas ouçam o evangelho? Isso é falta de amor. Isso está limitando seu alcance.” Pode ser. Ou talvez você precise ter uma conversa desafiadora com alguém, para que ele comece a voltar à igreja, onde as pessoas se reúnem pessoalmente. Este é apenas um exemplo de como pensar em um problema e chegar a uma solução que busca amar e proteger o rebanho.

Boa administração e bons administradores são um dom de Deus. Não negligencie esses dons só porque parecem chatos ou trabalho de nerds. Isso pode ser verdade, mas Deus deu esses dons para edificar e proteger a unidade da igreja.