Pastores, não se esqueçam de pastorear seus diáconos

Boas práticas para liderar diáconos

Há algo bom e correto em um pastor lutar para ficar fora das ervas daninhas da administração da igreja. Lembrando das palavras dos apóstolos, “Não é correto que desistamos de pregar a Palavra de Deus para gerir planilhas e rever políticas de uso de instalações” (ver Atos 6:2). 

No entanto, existe um buraco do outro lado para evitar também. Embora não devamos focar tanto na administração, não devemos ignorá-la totalmente.  

Deus nos chama para prover a supervisão para todo o ministério de nossas igrejas — isso inclui pastorear os diáconos em seu trabalho.  

DOIS PRINCÍPIOS BÍBLICOS

  1. A supervisão da liderança envolve dar certa atenção à administração

Muitas vezes, os líderes são convocados a exercitar sua “supervisão” ou são, simplesmente, chamados de “supervisores” (p. ex. Atos 20.28; Fp 1.1; 1Tm 3.1-2; Tito 1.7, 1 Pedro 5.13). O termo sugere que o trabalho deles compreende a condução de toda a igreja local. O dicionário Walter Bauer English-Greek explica como essa palavra está intimamente ligada ao trabalho “de uma pessoa que tem a responsabilidade de proteger”, “um supervisor, com interesse especial em guardar a tradição apostólica”. O dicionário Louw-Nida afirma que a palavra “superintendente” captura tanto “a responsabilidade de cuidar das necessidades de uma congregação, como a de dirigir as atividades dos membros”. Isso sugere que o trabalho dos líderes inclui um nível de autoridade administrativa. 

Considere também o exemplo dos apóstolos em Atos 6.1-7, que trabalhavam de uma forma pastoral. Eles conduziram a igreja como um todo ao solucionar o problema da distribuição de comida. Eles não, meramente, informavam a igreja dos seus deveres e depois iam embora. Eles ofereceram uma solução concreta: nomear os primeiros diáconos.

Paulo também deu um detalhado conjunto de instruções a Timóteo, que servia como pastor, sobre o ministério da misericórdia de sua igreja. E, em certa medida, ele entra no cerne da questão: dar suporte às viúvas que se enquadravam nas qualificações. Em outras palavras, Timóteo deveria dar algum nível de supervisão ao cuidado físico de viúvas em seu papel pastoral, mesmo que um diácono dê uma atenção mais direta (1Tm 5.3ss)

Nesses tipos de exemplos, o Novo Testamento sugere que o trabalho de um pastor inclui alguma medida de foco administrativo. Enquanto pastores dão maior atenção para o estado da videira, isso requer que, às vezes, eles deem um passo para trás e inspecionem as condições da treliça também. 

Em outras palavras, direcionar os afazeres da igreja significa a supervisão dos líderes até no âmbito do trabalho dos diáconos. 

  1. Os líderes devem providenciar algum grau de supervisão ao trabalho dos diáconos.

O fato de os líderes precisarem dar uma ampla supervisão à administração da igreja significa que devem dar uma ampla supervisão ao trabalho dos diáconos. 

Considere Atos 6 mais uma vez. Não temos qualquer razão para pensar que eles geriram os primeiros diáconos  à medida que iam distribuindo alimentos às viúvas, mas especificaram quem podia servir nessa condição e os colocaram no comando: “escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço” (At 6.3)

No geral, os comentaristas distinguem as preocupações espirituais dos pastores (como sermões, escolas bíblicas dominicais, reuniões de oração e batismos) das preocupações tangíveis dos diáconos (como o edifício, o terreno, a segurança e as finanças), como em “Diáconos”, livro de Matt Smethurst. E isso é muito preciso . Ao mesmo tempo, seres humanos são tanto físicos como espirituais, e os dois aspectos da nossa natureza estão profundamente ligados. O ministério integral de uma igreja, portanto, também não deve tentar separá-los completamente. 

Por exemplo, imagine o diácono que cuida do orçamento tentando, unilateralmente, reduzir o financiamento missionário para pagar um grande projeto de construção. Os pastores, em resposta, podem discordar! 

Resumindo, o Senhor coloca tanto o espiritual como o tangível, em níveis variáveis, sob a supervisão dos pastores. O grau de envolvimento dos líderes no trabalho dos diáconos pode variar, dependendo de quão próxima é a relação entre o trabalho do diácono e o ministério da Palavra e a saúde espiritual da igreja. 

Boas práticas para liderar diáconos

Aqui temos três conselhos sobre como os pastores podem supervisionar a administração da igreja sem ficarem sobrecarregados com planilhas e pastas de arquivo. 

  1. Ponha os líderes no comando do processo de orçamento anual.

Poucos assuntos de administração têm mais influência na direção e forma do ministério do que o orçamento da igreja. O que for apoiado irá eventualmente influenciar a direção geral da igreja. Por esse motivo, é sensato colocar os líderes à frente do processo orçamental anual. 

Em nossa igreja, eu sirvo como o pastor que supervisiona o processo do orçamento anual. Temos um diácono que cuida do orçamento que é incrivelmente competente. Ele faz a grande maioria dos cálculos, previsões e coordenação de várias entradas de dados. Uma das minhas principais tarefas inclui definir e gerir um calendário de planeamento orçamental. Ao fazer isso, posso assegurar que os líderes têm tempo suficiente para examinar o orçamento antes que nossos membros o vejam e votem sobre ele. 

O acompanhamento dos pastores sobre o processo orçamental anual pode parecer diferente em outra igreja. Geralmente, é bom evitar que os pastores se percam em ervas daninhas de detalhes financeiros. Mas, também seria insensato não dar tempo suficiente aos líderes para estudar e organizar o orçamento da igreja. 

  1. Encontre diáconos que saibam quando recorrer aos líderes.

Um bom diácono deve ser capaz de realizar tarefas administrativas básicas com pouca supervisão. O seu trabalho deve ser medido, em parte, pela forma como ele protege os pastores e líderes de distrações. No entanto, um bom diácono também se sentirá confortável em levar as grandes decisões para os pastores e líderes. Esse instinto de transferir as responsabilidades preserva o comando dos líderes sobre todos os ministérios da igreja. 

  1. Construa um forte canal de comunicação entre os diáconos e os líderes.

A comunicação entre líderes e diáconos deve ser regular. Após as reuniões de liderança, por exemplo, os líderes devem certificar-se de que contactaram os diáconos que possam ser afetados pelas decisões tomadas por eles. Você não quer que um diácono descubra sobre uma decisão da liderança que tenha um impacto dramático na sua área de serviço numa reunião de membros, juntamente com o resto da congregação. O risco disso é fazer com que os diáconos sintam que o seu trabalho não importa. 

Da mesma forma, os diáconos devem ser rápidos para relatar qualquer atividade que fizeram ou viram que os líderes possam querer saber. Algo que facilita isso é convidar um diácono para cada reunião de liderança e perguntar se eles têm alguma atualização ou se há alguma forma de os líderes ajudarem melhor a diaconia. 

Conclusão

Deus, em sua sabedoria, deu dois ofícios à igreja: líderes e diáconos. Eles não devem trabalhar como dois grupos de autoridade. Pelo contrário, Deus chama pastores e líderes para guiar o rebanho debaixo do cuidado deles, de tal forma que o trabalho dos diáconos faça o ministério da Palavra dos líderes florescer.

Que isso seja verdade em todos os lugares onde Cristo é fielmente pregado!

Por: Gus Pritchard. © 9Marks. Website: 9marks.org. Traduzido com permissão. Fonte: Pastors, Don’t Forget to Shepherd Your Deacons. Tradução: Luise Massa Santos. Revisão: Renata Gandolfo. Editor: Vinicius Lima.