O Maravilhoso Maestro e os ritmos da orquestra

O Senhor dos ritmos não muda

Uma pilha de livros à minha esquerda, meio lidos, meio marcados. O teclado do laptop acelerado embaixo do toque dos dedos ansiosos. A marca da xícara de café na toalha da mesa, a caneca vazia.

Senti o cheiro de pão queimando. 

— De novo! Queimou de novo!

Levantei-me rapidamente para desligar a torradeira, tropecei no cãozinho dormindo enrolado embaixo da mesa. A caneca vazia de café dançou em cima da mesa, tombou, rolou, estilhaçou-se no chão.

Olhei para o relógio na parede da cozinha, o tempo acabou! 

Desliguei a torradeira, limpei a bagunça da xícara quebrada no piso. 

Insultei com um grito o cãozinho assustado com a correria.

Subi os degraus de dois em dois, alcancei minha toalha pendurada no box do chuveiro, entrei embaixo da água fria do chuveiro que não teve tempo de aquecer. 

Vesti as roupas que estavam passadas e separadas aos pés da cama. Desci as escadas com um par de sapatos nas mãos e me despedi dos animais que me seguiam de baixo para cima e de cima para baixo.

Bati a porta atrás de mim, entrei apressada no carro e parti para mais uma jornada de trabalho.

Sim, o tempo vai se escoando pelos vãos dos dedos e dia após dia, manhã após manhã há um ritmo que imprimimos à nossa vida.

Entre os trancos e solavancos do trem da vida, olhamos pelas janelas e vemos flores, sentimos algum perfume que se desprende no ar. Alguns dias sol, outros dias chuva grossa, outros nem tão frios nem tão secos, apenas nuvens vazias. 

Depois de passado algum tempo não podemos mais nos lembrar em quantas estações deixamos para trás. Algumas pessoas desceram do vagão, outras chegaram. Alguma alegria. Alguma dor. Um ou outro suspiro de amor. Uma risada, solta, louca, lançada para o céu azul. Um dia após o outro fazemos o mesmo itinerário da cama para o banheiro, do banheiro para o quarto, do quarto para a cozinha, da cozinha para sala e pela porta afora, trabalho, carona, volta para casa. Vida que segue. 

Um dia tropeçamos em algo extraordinário, mudança de itinerário. Parada na estação com aquele resultado nas mãos. A respiração forte, desritmada. O olhar no infinito. O pensamento no finito. O ritmo mudou, uma novidade chegou. 

Como em uma grande orquestra, a vida tem seus ritmos, seus acordes repetidos, seus arranjos sofisticados. 

A repetição contém um certo conforto. Um som recorrente no fundo da música nos assegura que aquele tom vai se repetir e nos fará bem, nos trará algum conforto.

Em cada repetição que fazemos há uma harmonia cósmica cumprindo a execução da partitura do Grande Regente. A partitura de todo seu conselho.

Entre notas altas e baixas, graves e agudas, surgem os acordes dissonantes, eles nos amedrontam, nos tiram da estabilidade da repetição. O que virá depois disso? Um assombro? Seguimos com os olhos a batuta do Maestro e desafinados, às vezes pelo luto, outras vezes pela dor, seguimos soando nossas próprias notas ruidosas. Cada um de seus instrumentos emite seu próprio som para que toda a orquestra, regida pelo Grande Maestro, toque aquela canção que entoa tudo em todos. 

O Grande Maestro regendo cada um de seus instrumentos para louvor da sua glória.

O ritmo mudou, mas o Senhor do ritmo não muda. Ele é o mesmo, ele é a Rocha, a nossa Rocha, nossa cidadela fortificada. Nosso lugar seguro. Tudo vai passar, mas nosso Senhor não vai passar, ele é o mesmo ontem, hoje e será o mesmo amanhã. Mesmo que eu e você não possamos entender a grande partitura do Senhor da orquestra, sabemos que a vontade dele é boa, agradável e perfeita, então confiamos e seguimos obedecendo as instruções da batuta do maestro até que possamos entoar um cântico novo.

 

Os resgatados do Senhor voltarão e virão a Sião com cânticos de júbilo;

alegria eterna coroará a sua cabeça; 

gozo e alegria alcançarão, e deles fugirá a tristeza e o gemido. 

Isaías 35:10

Por: Renata Gandolfo. © Voltemos Ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Revisor e Editor: Vinicius Lima.