Um blog do Ministério Fiel
Por que pastores devem se submeter uns aos outros?
Como pastores podem cultivar uma cultura de liderança saudável e humilde
Por que pastores deveriam se submeter uns aos outros?
“Todo o líder, em algum sentido, é um seguidor. Se um homem não segue, não pode liderar.”
“Todo o líder, em algum sentido, é um seguidor. Se um homem não segue, não pode liderar.”
Essas palavras, pronunciadas por um mentor pastoral sumarizam o caráter humilde do ministério pastoral. Mas igualmente expõem um problema endêmico entre pastores reprovados. Eles foram levados por um espírito orgulhoso e autoritário que os impedem de serem seguidores.
Tal orgulho ameaça o coração de todos os pastores — A recusa arrogante de reconhecer a bondade de Deus que limita sua competência e autoridade. Nenhum pastor é totalmente capaz. Nem sua autoridade é absoluta. Consequentemente, líderes piedosos precisam também ser seguidores humildes.
A este respeito, todos os pastores presidentes ou sêniores deveriam se submeter a muitas fontes de autoridade: Ao seu Supremo Pastor (1Pe 5.4; Hb 13.37), a sua própria congregação (Mt 18.17-20, Gl 1.2, 6-9), aos seus irmãos presbíteros (At 20.28), e aos padrões bíblicos que dizem respeito à “vida e a doutrina”, em particular aqueles que estão listados nos documentos oficiais de sua igreja (1Tm 4.7).
Este artigo irá focar nas duas últimas fontes de autoridade, demonstrando como os presbíteros e os documentos oficiais da igreja podem guardar um pastor sênior da soberba do autoritarismo.
SUBMETA-SE AOS SEUS IRMÃOS PRESBÍTEROS
O ministério pastoral é desafiador. Satanás é feroz contra a igreja de Deus. Falsos mestres, como lobos vorazes, devoram-na por fora. O pecado, como uma levedura, consome-a por dentro. Estes elementos fazem parte do contexto diário do ministério pastoral e servem de inspiração para as palavras finais de Paulo aos presbíteros de Éfeso: “Atendei por vós e por todo o rebanho” (At 20.28).
A palavra traduzida por “Atendei” carrega o sentido de estar em estado de alerta e de guarda. Os presbíteros não podem guardar o rebanho adequadamente se não estiverem em guarda uns para com os outros.
Além disso, este tipo de cuidado atencioso é impossível sem submissão mútua. Todo presbítero deve confiar sua vida e ministério aos seus irmãos de ministério e o pastor sênior não é exceção. Mas como um pastor pode cultivar uma cultura de liderança na prática, estando ele na posição de líder e discípulo ao mesmo tempo?
1. Permita que seus companheiros de ministério te guardem do orgulho
“Quais são as três graças das quais um ministro mais necessita?”
Agostinho notoriamente respondia: “Humildade, humildade, humildade”.
A inclinação em direção à uma liderança pastoral de punho de ferro nasce do orgulho perverso de autoglorificação. C.S. Lewis descrevia isso como sendo “o prazer de estar acima do resto”. Todo pastor está vulnerável a essa tentação e deve estar atento às advertências, promessas e mandamentos bíblicos sobre o orgulho pecaminoso em oposição à humildade piedosa. (Pv 29.26; 1Pe 5.5-6; cf. Tg 4.6).
“Quais são as três graças das quais um ministro mais necessita?”
Agostinho notoriamente respondia: “Humildade, humildade, humildade”.
Essas passagens revelam que um pastor genuíno e humilde teme a Deus acima de tudo. Seu alvo principal no ministério é glorificar a Deus e desfrutar dele. Ele sabe que um desejo pela glória de Deus alimenta uma motivação santa para o serviço, enquanto a luxúria da autoglorificação serve como combustível para o desejo mundano de ser servido.
“Não se esqueçam,” escreveu Abraham Booth em seu livro Cuidados Pastorais, “que todo seu trabalho seja ministerial; e não legislativo—que você não seja um senhor sobre a igreja, mas um servo.”
Presbíteros piedosos devem guardar seu pastor sênior contra o orgulho, e ele também deve submeter-se a eles. Confiando na palavra de Deus, os presbíteros ajudam um pastor sênior a se colocar no prumo diante da majestade de Deus. Eles oram juntos regularmente, com ações de graças (Fp 4.6). Ele diminui seu ego falando menos em reuniões e escutando mais os presbíteros, mesmo às custas da eficiência e praticidade. Em suma, quando ministros servem e se submetem uns aos outros, eles sufocam o orgulho autoritário.
2. Empreste seus ouvidos aos seus irmãos presbíteros.
Pastores seniores também devem emprestar seus ouvidos ao encorajamento e à crítica piedosa. Joel Beeke e Nick Thompson, em seu valioso livro, Pastors and Their Critics (Pastores e suas críticas, em tradução livre), dão um diagnóstico do porquê de isso ser tão difícil para um pastor:
O pastor humilde e centrado no evangelho irá inclinar seus ouvidos. Não é tarefa fácil para a maioria dos pastores. Estamos acostumados a sermos aqueles que falam. Nosso trabalho consiste em uma sequência interminável de sermões, estudos, conversas de gabinete e aconselhamentos… Nos tornamos mestres em mexermos nossas bocas, mas não tão hábeis em emprestarmos nossos ouvidos.
Considerem isso à luz das palavras de Jesus em Lucas 8: “Vede, pois, como ouvis” (v. 18). Fazendo referência ao seu ensinamento nos versos anteriores: “A que caiu na boa terra são os que, tendo ouvido de bom e reto coração, retêm a palavra; estes frutificam com perseverança.” (v. 15).
A trágica reprovação de tantos pregadores talentosos reforça o ensinamento de Jesus: A vitalidade espiritual e a fidelidade de um pastor não dependem apenas de quão bem ele fala a palavra de Deus, mas também de quão bem ele a ouve e a obedece. (cf. Hb 5.11, Mt 7.24-27).
Portanto, todo pastor deve “emprestar seus ouvidos” aos seus irmãos presbíteros. Ele deve ser humilde no ouvir, ensinável ao receber uma correção, e disposto a submeter-se à admoestação de um irmão. Presbíteros exemplares guardam uns aos outros com suas palavras e ouvidos, falando a verdade um ao outro em amor. (Ef. 4.14-16).
Pastores seniores, em particular, devem criar momentos intencionais onde eles, de maneira ativa, darão e receberão encorajamento e admoestações piedosas de outros presbíteros. Entre as possibilidades estão: reuniões de acompanhamento, conversas privadas antes ou depois de reuniões de presbíteros, ou encontros de almoço ou café da manhã, só para citar alguns exemplos.
Em resumo, presbíteros não podem guardar uns aos outros sem submissão mútua. A submissão pastoral requer humildade divina. E esse tipo de humildade compele um pastor sênior a se submeter aos seus irmãos presbíteros, uma vez que eles protegem sua vida e ministério ao ministrá-lo a palavra de Deus de maneiras espiritualmente benéficas a sua vida.
SUBMETA-SE AOS DOCUMENTOS OFICIAIS DA IGREJA
Mesmo que algumas igrejas ainda não reconheçam a pluralidade presbiteral, todo pastor sênior deve prestar contas aos estatutos oficiais da igreja. Bons documentos oficiais sumarizam e aplicam os ensinos bíblicos concernentes à sã doutrina (confissão), à vida piedosa (pacto), e ao governo da igreja (constituição).
Quando uma igreja emprega estes de maneira sábia, um pastor se torna obrigado a prestar contas diante da congregação, e sua congregação se vê protegida contra os vãos caprichos pastorais. Especificamente, os documentos oficiais da igreja moldam o ministério pastoral de três maneiras:
1. Ensinar de acordo com a confissão da igreja
Uma confissão é mais do que uma página no website da igreja ou um currículo de um curso de membresia. Muito mais que isso, uma confissão diz: “É nisso que acreditamos e essa é a maneira como interpretamos a Bíblia junto de tantas outras igrejas verdadeiras ao redor do mundo e dos séculos.”
Alguns podem protestar que usar as confissões dessa maneira pode minar o Sola Scriptura. Mas isto não é verdade. As Escrituras são supremas. A confissão da igreja se submete à Escritura. Mas a interpretação de um pastor sobre as Escrituras se submete à confissão.
Eu tenho uma cópia da confissão de fé da minha igreja perto de mim enquanto preparo meus sermões por três razões. Primeira, resguarda meu ensino e pregação. Segundo, permite-me levar minha congregação ao compromisso daquilo que eles já conscientemente se comprometeram. Terceiro, me ajuda a promover graça e liberdade cristã para discutirmos assuntos não fundamentais que estão além do escopo da confissão de fé.
Assim, uma confissão protege a congregação de ser erroneamente conduzida ou de se vincular a interpretações bíblicas pessoais do pastor. Da mesma forma, um pastor que se submete à confissão de sua igreja pode “cuidar de si mesmo e da doutrina” e manter sua integridade no ministério da palavra (1Tm 4.16).
2. Viver de acordo com o pacto da igreja
Caráter é tudo no ministério pastoral. A Bíblia encoraja os presbíteros a serem “modelos do rebanho” (1Pe 5.3). É necessário que sejam “irrepreensíveis” (1Tm 3.2). Paulo disse ao seu pupilo pastoral que “a piedade para tudo é proveitosa” (1Tm 4.8; cf. 6.6).
Se a confissão e uma igreja sumariza a sã doutrina, então o pacto de uma igreja sumariza uma vida piedosa. Ele encoraja a igreja a crescer em piedade e enaltece o caráter exemplar de um pastor. Além disso, previne pastores de transformarem assuntos periféricos da liberdade cristã em assuntos fundamentais da obediência cristã (e.g., álcool, educação, etc.).
O pacto da minha igreja explicitamente me ordena à unidade cristã, amor, santidade, evangelismo, adoração em família, generosidade e muito mais. Então, como seu pastor, eu quero poder segurar o pacto da igreja e dizer: “Irmão e irmãs, sigam-me assim como eu (mesmo que nunca perfeito) busco seguir a Cristo nesses quesitos, pela graça de Deus.”
3. Governar de acordo com a constituição da igreja
A constituição da igreja é mais do que um documento legal. É uma planta para um governo bíblico que sumariza os ensinamentos das Escrituras para que tanto membros, como a liderança, possam trabalhar juntos para preservar o Evangelho. Como a disciplina eclesiástica deve ser executada? Como novos presbíteros e diáconos são ordenados? Como a liderança eclesiástica e a autoridade congregacional convivem juntas na prática?
As respostas a estas questões requerem uma aplicação prudente das Escrituras, junto da aprovação da congregação. Uma constituição descreve como uma igreja viverá em comunhão. É um manual de política eclesiástica.
Nossos presbíteros colocam nossa constituição na entrada da igreja sempre que possível para que nos provemos irrepreensíveis e demonstremos à congregação que não lideramos por autoritarismo. Para assuntos que necessitam do voto da igreja (inscrição e desligamento de membros, ordenações e nomeações de presbíteros e diáconos, disciplina eclesiástica, etc.), nós incluímos as porções relevantes da constituição no envelope de reunião de cada membro. Nosso objetivo é equipar a igreja para que possam refletir bem sobre uma política eclesiástica bíblica e possamos lhes dizer: “Ei! Não estamos inventando isso agora!”.
Como o autoritarismo pastoral seria enfraquecido se as igrejas levassem a sua confissão, pacto e constituição seriamente? Estes são bons princípios para líderes piedosos e congregações saudáveis. E pastores seniores, acima de tudo, fazem muito bem em se submeterem a eles.