De onde vem a ansiedade?

A fonte da ansiedade é a queda da humanidade

Há quase dois anos, uma pessoa veio a mim e disse, “Acho que você tem muita ansiedade e nem sabe disso”. Sorri e orgulhosamente pensei: “Do que ela está falando? Não tenho ansiedade”. Ninguém nunca me havia sugerido algo assim. Entretanto, comprometi-me a considerar em oração suas preocupações. Cerca de um mês depois, os presbíteros de nossa igreja me concederam um período sabático de emergência. Aquela pessoa estava certa sobre as duas coisas. De fato, estava experimentando uma significativa quantidade de ansiedade, e eu nem sabia disso.

Descobri que a minha ansiedade não afetava somente a mim, ela influenciou a maneira como interagia com os outros, assim, acabou afetando negativamente, em graus variados, os membros de nossa equipe. Passei muito tempo me desculpando com meus colegas e pedindo perdão. Todos foram amáveis. Então, quando meu período sabático terminou, não estava mais questionando se tinha ou não ansiedade. Ao invés disso, comecei a fazer uma pergunta muito importante: “De onde vem a minha ansiedade?”.

Certamente, queria ignorar essa questão. No fundo, sabia que Jesus era a solução definitiva para a minha ansiedade. De fato, acreditava que Ele poderia destruir a ansiedade que estava me destruindo, eu desejava que Sua bola de demolição, pesada e arrasadora, começasse a balançar. Mas, balançar para que lado? As coisas são muito diferentes hoje. Eu até luto contra a ansiedade ocasionalmente, no entanto, estou ciente de que isso acontece e aprendi a como encontrar alívio por meio da fé em Cristo. Para quem deseja lidar com a ansiedade, entender a fonte é uma parte importante da equação.

A ansiedade é difícil de definir, envolve elementos de preocupação, nervosismo, apreensão e medo. Às vezes, a ansiedade é experimentada sem qualquer razão aparente. Com frequência, ela está conectada à antecipação de perigo, infortúnio ou perda. Podemos ver vários exemplos de ansiedade na Bíblia, o pai de Saul ficou ansioso pois não sabia onde seu filho estava (1 Sm. 10:2); o salmista fala metaforicamente sobre “comer o pão que penosamente granjeastes” (Sl. 127:2); Isaías tem palavras aos “desalentados de coração” (Is. 35:4); Daniel disse que seu espírito “foi alarmado” (Dn. 7:15); Marta andava inquieta, preocupando-se com muitas coisas (Lc. 10:41). Até mesmo o apóstolo Paulo experimentou ansiedade (2 Co 11:28). Assim, não deve nos surpreender o fato de 40 milhões de americanos lutarem contra a ansiedade regularmente. Todo mundo eventualmente luta contra algum nível de ansiedade. Isso é inevitável.

Em última análise, a fonte da ansiedade é a queda da humanidade. Quando Adão e Eva comeram do fruto proibido e mergulharam o mundo em pecado e miséria, a emoção seguinte logo experimentada por eles foi o medo (Gn. 3:10). O medo, claramente, é um dos elementos da ansiedade. Tendo se deteriorado o outrora relacionamento perfeito entre Deus e o homem, o senso de segurança e paz de Adão e Eva desaparecera. Não sabiam o que o futuro lhes reservava. Não sabiam o que Deus faria em resposta ao seu pecado. Deus havia prometido que eles morreriam se comessem do fruto proibido (2:17). É possível que não tivessem um conhecimento completo do significado disso. Contudo, pela primeira vez, estavam com medo. Eles estavam ansiosos. A queda é a fonte primária da ansiedade.

Após alguém jogar uma pedra no lago, a superfície da água se agita gerando ondas circulares em torno do ponto da queda, de maneira semelhante, há uma variedade de efeitos relacionados à ansiedade que foram gerados a partir da queda. Podemos chamar esses efeitos de fontes secundárias da ansiedade. Seres humanos caídos são afetados por essas fontes secundárias de diferentes maneiras e em graus variados. Uma das fontes secundárias da ansiedade é o impacto gerado pela queda na bioquímica humana. Cerca de 18 % dos americanos lutam contra a ansiedade porque há um desequilíbrio químico em seus cérebros. Eles têm um transtorno de ansiedade clinicamente diagnosticado. Nesses casos, terapia e medicação são muitas vezes necessárias.

Infelizmente, os cristãos que se encontram em tal situação são frequentemente encorajados a apenas “orar mais” ou “ler mais a Bíblia”. Me entristeci pelos membros de nossa igreja que se sentiam como cidadãos de segunda classe por causa desses (bem-intencionados) conselhos. Portanto, é muito importante identificar a presença desses transtornos de ansiedade e reconhecer outras condições médicas crônicas. Ocorre que muitas vezes, de fato, o problema está fora do controle da pessoa, não é que ela não esteja fazendo o suficiente. Se não aconselhamos um cadeirante a apenas “orar mais”, não deveríamos dizer coisa semelhante a quem sofre com transtorno ansioso. Essas preciosas pessoas precisam de compaixão e de intervenção médica, não de clichês bem-intencionados.

Outras fontes secundárias que contribuem para a ansiedade incluem personalidade, experiências de vida e situações estressantes. Há a possibilidade de que aspectos de sua personalidade, que foi dada por Deus, te tornem mais propenso a ter ansiedade. Há também a possibilidade de a ansiedade surgir por causa de alguma experiência ocorrida no passado. Por exemplo, se seu pai ou sua mãe perderam o emprego quando você era criança, não é surpreendente você ficar muito ansioso sempre que seu chefe te chamar para uma conversa. Observamos, assim, que as fontes de ansiedade são variadas e complexas.

Sem dúvida, uma das fontes secundárias mais poderosas é o pecado. O pecado gera em nós culpa e vergonha. Ficamos ansiosos pensando nas consequências. Pense no medo e na angústia de Jacó quando descobriu que Esaú, a quem ele havia defraudado (duas vezes), estava vindo em sua direção (Gn. 32:7). O rei Davi fala do profundo conflito interno decorrente de pecado não confessado (Sl 32:3). Tiago nos diz: “Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados” (Tg. 5:16). Certamente, parte da nossa cura é o socorro que temos para a ansiedade relacionada ao pecado. A boa notícia é que servimos ao Deus da graça, que está sempre pronto para nos perdoar e nos renovar em Cristo.

Outra significativa fonte secundária da ansiedade é a fé fraca. Considere o que Jesus diz em Mateus 6:25-34. Ele nos instrui a não andarmos ansiosos pelas coisas básicas da vida (comida, roupas). Observe como Ele compara nosso valor ao valor das aves (v. 26). Se não acreditarmos que somos preciosos para Deus, ficaremos ansiosos, preocupados com as provisões divinas para isso ou aquilo. Jesus também disse que nossa ansiedade não é capaz de alterar em nada o curso na nossa vida (v. 27). Se não tivermos certeza do que acontecerá quando morrermos, não poderemos evitar a ansiedade sobre nossas mortes inevitáveis. Então Jesus se refere ao vestuário (v. 28). Aparentemente, se preocupar com nossa aparência não é novidade. Finalmente, Jesus conecta essas três formas de ansiedade como uma causa: “homens de pequena fé” (v. 30).

Alguém ansioso pode ter a simples necessidade de fortalecer a sua fé na soberania, bondade e fidelidade de Deus. Essa pessoa pode precisar gastar mais tempo considerando a maneira como a cruz revela o quanto somos valiosos para Deus. Jesus ensina que há uma conexão muito clara entre ter uma fé forte e ter menos ansiedade (não clínica). Entretanto, cabe notar, Ele não ensina que podemos ter fé suficiente a ponto de eliminar a ansiedade de maneira permanente. É necessário ter o cuidado de não equiparar fé forte com ausência de ansiedade. Ora, o apóstolo Paulo tinha a fé forte, talvez mais forte do que a de qualquer outro homem na história, mas, como mencionado anteriormente, ele experimentou ansiedade. Tendo já identificado as fontes secundárias da nossa ansiedade, devemos perguntar a nós mesmos e aos outros como seria se tivéssemos uma fé mais forte. No meu caso, minha ansiedade vinha, em grande parte, de uma perigosa mistura de orgulho e de uma carga de trabalho impraticável. Estava tentando fazer muitas coisas, não estava pedindo ajuda e estava sendo esmagado pelo peso de mais responsabilidades do que poderia carregar. Fortalecer minha fé em Cristo exigia estar disposto a assumir então menos trabalho.

Compreender a fonte primária da ansiedade e identificar as fontes secundárias é um passo extremamente importante em direção à liberdade. Ter consciência dessas coisas nos ajuda de duas maneiras. Primeiro, nos ajuda a sermos gentis, compassivos e pacientes com aqueles que estão enfrentando ansiedade. Saber que a ansiedade tem um conjunto complexo de causas nos impede de sugerir soluções simples. Dessa maneira, podemos ajudar as pessoas que têm ansiedade ao invés de, inadvertidamente, causar-lhes ainda mais preocupação ou medo. Em segundo lugar, compreender a fonte primária e identificar as fontes secundárias de ansiedade são exercícios de esperança.

Nada é demasiadamente difícil para o Senhor (Gn. 18:14). Todas as coisas são possíveis para Deus (Mt. 19:26) e tudo podemos naquele que nos fortalece (Fp. 4:13). Muitos e muitos cristão (inclusive eu) ficaram ainda mais convencidos dessa verdade por causa da maneira como graciosamente e poderosamente o Senhor os ajudou a lidar com a ansiedade e até mesmo a superá-la. Se você luta contra a ansiedade duas coisas são verdadeiras: você precisa de ajuda, e sua ajuda vem do Senhor (Sl. 121:2).

Por: Matt Ryman. © Ligonier Ministries. Website: ligonier.org. Traduzido com permissão. Fonte: A origem da ansiedadeTraduzido e Revisado por Zípora Dias Vieira. Editor: Vinicius Lima.