Um blog do Ministério Fiel
O evangelho da Barbie e o Evangelho de Cristo
Contém spoilers e reflexões bíblicas
No momento em que escrevo este artigo, um assunto é comentado em todos os lugares; a estrondosa estreia do filme Barbie. São salas de cinema lotadas, com uma legião de fãs, homens e mulheres, adultos e adolescentes, vestidos de rosa, assistindo ao longa-metragem em live-action. Para se ter uma ideia, apenas no Brasil, aproximadamente 4 milhões de pessoas assistiram ao filme no primeiro final de semana de exibição, o que contribui para Barbie ser a segunda maior estreia da história, com uma arrecadação de mais de 337 milhões de dólares no mundo.
Todo esse sucesso não é por acaso, os produtores investiram mais de 100 milhões de dólares em uma campanha de marketing que buscou uma conexão emocional com um público que cresceu brincando com a boneca. Portanto, não estamos falando de um filme para crianças e sim de um filme para adultos, embora não subestimemos seu potencial para alavancar uma nova onda de produtos voltados para o público infantil.
A influência pretendida com o filme Barbie
Quando falamos de um filme como esse é importante pensarmos sobre como a arte pop, especialmente o cinema, tem o poder de influenciar o pensamento de toda uma geração, criando uma verdadeira cultura ao redor de si. Filmes como das séries Star Wars, Harry Potter, Matrix e outras nunca podem ter seu poder de influência subestimados. Os cristãos, que não devem ter suas mentes moldadas por este século, mas transformadas pela renovação do seu entendimento (Romanos 12.1), devem analisar com criticidade bíblica a mensagem passada por estes filmes, não só para se protegerem de sua influência, mas também para identificar as mentiras pregadas por filmes como da Barbie e confrontá-los com a verdade do Evangelho.
Em princípio, nenhum produtor se contenta em fazer um filme simplesmente para entreter. Você pode até assistir a um filme pensando em apenas passar seu tempo e relaxar, mas o fato é que o filme procura sempre trazer uma mensagem, e com Barbie não é diferente. O principal foco dessa análise é nos ajudar a pensar na mensagem que o filme traz e confrontá-la com a mensagem do Evangelho, identificando pontos de contato e os analisando à luz da verdade bíblica e do enredo do Evangelho.
Praticamente toda trama contém uma ameaça de perdição/problema, o vilão que traz a ameaça, a proposta de salvação (ideal buscado) e o herói que traz esta salvação. Essa estrutura de enredo está presente nas diversas narrativas que concorrem com a verdadeira história de perdição como separação de Deus devido ao pecado junto à proposta de salvação como reconciliação eterna com Deus por meio de seu único e verdadeiro herói (ou melhor dizendo, Messias), Jesus Cristo.
O dilema e redenção no filme Barbie
O tema central do filme da Barbie, ao meu ver, é o dilema existencialista, a lá Sartre, que começa a aparecer no filme quando a Barbie se propõe, no meio de uma festa, a refletir sobre a morte. Esse questionamento fundamental, tão próprio da finitude humana frente ao desejo pela eternidade colocado no coração do homem por Deus (Eclesiastes 3.11), leva a uma série de acontecimentos que desestabilizam o mundo perfeito da Barbilândia. Nesse dilema, a personagem principal é confrontada pela personagem Barbie Estranha a escolher se quer permanecer no mundo de plástico da Barbilândia ou conhecer o Mundo Real, numa proposta platônica do tipo “mito da caverna”. Também há essa referência no filme Matrix, em que o personagem principal também é confrontado a escolher entre a pílula azul ou vermelha para continuar na matrix ou sair e conhecer o mundo real. No filme da Barbie a escolha é feita entre um sapato de salto alto, padrão Barbie ou uma sandália rasteira rústica, padrão vida real.
A ameaça de perdição do filme é viver uma vida falsa, num mundo de plástico. A proposta de salvação é viver uma vida de verdade. Numa saga da Barbilândia para o mundo real, o filme confronta o machismo presente na realidade e termina com o pedido a sua criadora de uma permissão para ser humana. A Barbie é, assim, salva de sua vida de plástico e agora vive a vida real transformada em Bárbara, uma executiva da Matell.O filme faz jus a mensagem feminista, de viés existencialista, pregada pela Barbie ao longo de sua longa trajetória, “você pode ser o que quiser”.
O evangelho de Barbie
Ao ver esse filme, estamos dando ouvidos a um outro evangelho, muito diferente do Evangelho da Cruz de Cristo. O mundo que o cristão deixa para encontrar a Verdade não é o mundo de plástico criado pelos executivos corporativos, onde tudo parece belo, perfeito e cor de rosa. O mundo que devemos deixar tem cores muito mais escuras, é o mundo caído do pecado, no qual o inimigo implantou seu sistema que nos aliena do nosso Criador e da Verdade. Nesse sentido, a salvação que o evangelho propõe não é a salvação que a Barbie alcança no filme com o seu final “feliz” de ser humana e enfrentar suas limitações da vida real sem medo, inclusive indo ao ginecologista (uma referência a última cena do filme). A salvação que o Evangelho de Cristo traz não é assumir sua humanidade com suas imperfeições. A salvação que o verdadeiro Evangelho traz é a transformação pelo poder da morte e ressureição de Cristo, em que a sua finitude e imperfeição humana pecadora será revestida da glória da vida eterna em Cristo.
Assim como o Evangelho de Cristo anuncia os valores do Reino de Deus ao ser pregado, o evangelho da Barbie também anuncia seus valores ao longo do filme. A cena de abertura é emblemática, pois faz uma referência a cena clássica de abertura do filme 2001 – Uma Odisseia no Espaço, que em si já é uma apresentação da ideia de Nietzsche da aurora da humanidade, inclusive tendo a música “Assim falou Zarathustra” ao fundo. No filme da Barbie, as meninas que brincavam de mamãe e filhinha com suas bonecas bebês se encantam com a aparição da primeira Barbie e destroem suas bonecas. Assim como Nietzsche pregava a chegada da evolução da humanidade por meio do super-homem (übermensch), a cena prega a evolução das mulheres de seu papel materno para uma mulher que pode ser o que quiser, conforme anunciado pela “profeta-zarathustra” Barbie.
O filme é claramente uma mensagem contra o patriarcado, sendo definitivamente um filme anti-homem e agressivamente feminista. Os homens que aparecem na Barbilândia são colocados no papel secundário de Ken, que só existe para completar a missão da Barbie, contrariando a ordem da criação em que o homem recebe de Deus a missão e Deus cria a mulher para lhe completar. Por outro lado, os homens do mundo real são grosseiros e tóxicos. No filme, todos os homens são idiotas, e esse é um dos valores claros transmitidos pelo filme.
A Barbilândia no filme é um matriarcado onde as barbies exercem todos os papéis sociais relevantes, são presidente, ganham prêmio Nobel, são astronautas e tudo mais que seja socialmente relevante, ao passo que os kens não aparecem exercendo qualquer função, pelo contrário, estão na praia preocupados com seu físico. O único papel do Ken no filme é ficar babando pela Barbie, que não gosta dele no sentido romântico. O Ken, enquanto homem, é apaixonado pela Barbie, que como mulher poderosa não está nem aí para ele.
O filme escancara seu feminismo no conflito entre o matriarcado da Barbilândia original e o patriarcado emergente que o Ken traz do mundo real no meio do filme. No filme, o Ken consegue estabelecer o patriarcado por meio de uma espécie de lavagem cerebral nas Barbies, como se a estrutura social que temos hoje fosse uma construção dos homens, por meio da manipulação das mulheres, visando a perpetuação do seu poder. Nada mais feminista. Nesse sentido, o Ken passa a ser o vilão e as barbies começam um plano para enganar os homens e voltar ao sistema matriarcal.
Atenção que temos de ter com filme Barbie
Muitos pais de crianças pequenas querem, acertadamente, proteger seus filhos do feminismo presente no filme, mas, creio que o ataque do filme não é diretamente às nossas crianças pequenas. O principal ataque do filme é contra a geração mais adolescente e às adultas que cresceram com suas bonecas e hoje estão no mercado de trabalho tentando ser o sucesso profissional e o padrão de beleza que a Barbie representa, ao mesmo tempo que ouvem a mentira libertadora de que “tudo bem se você não for perfeita, porque quem te oprime é o patriarcado.”
Para além de simplesmente proteger nossos pequenos da influência maligna de um filme como esse, devemos atacar a mentira com a Verdade que liberta. Mostrar que a crise existencial das mulheres da geração Barbie, com o dobro de casos de ansiedade e depressão em relação aos homens, não vem do patriarcado e sim do pecado. Mostrar que a saga de salvação anunciada pela Barbie, que começa num mundo perfeito e irreal e termina no mundo real da humanidade imperfeita, na verdade não salva ninguém. A Verdadeira salvação está no caminho que Cristo nos propõe de deixar o mundo imperfeito do pecado e encontrar-se com Deus no Novo Céu e Nova Terra onde reina perfeita paz e justiça.
Espero que este artigo ajude você a interagir com esse fenômeno popular, não somente se protegendo dos ataques dos principados e potestades, dos dominadores deste mundo tenebroso, mas que você possa também, com o escudo da fé, apagar esses dardos inflamados do Maligno e, calçado com a sandália da preparação do evangelho da paz e com a espada do Espírito (Efésios 6.10-17), vencer essa guerra cultural, que é sobretudo uma guerra espiritual de confronto entre os valores do Reino de Deus e o Reino das Trevas.