Misericórdias renovadas por aqui

As misericórdias do Senhor

A ciência sistematiza nossa memória de acordo com a temporalidade, a sensorialidade, a linguagem, a semântica, situação episódica ou processual. 

Os bebês, desde os 6 meses de gestação, já desenvolvem a capacidade cerebral de recordar. Após o nascimento, em seus primeiros meses de vida, a parte da memória que mais se desenvolve é a sensorial. O recordar de vozes (em especial, dos pais) e cheiros (do leite materno, por exemplo) fazem com que se sinta seguro (ou inseguro), que perceba que certas pessoas são para ele o porto de abrigo.

Aos 9 meses, passam a reconhecer onde estão os brinquedos na casa e a mapear o local que estão inseridos, uma capacidade a nível espaço-temporal. Nestes primeiros anos, como vemos, é desenvolvido a memória sensorial: a informação recebida é processada pelos sentidos (memória visual, olfativa, auditiva e visual-espacial). Toda informação codificada desses estímulos mantém uma curta duração de armazenamento, a memória de curto prazo.

A partir de 1 ano, com o desenvolvimento da linguagem, começa a se desenvolver a memória de longo prazo; mas é somente a partir de 2 ou 3 anos que isso se consolida. Lourenço (meu filho com mais de 1 ano) demonstra sua memória de curto prazo: a cada 30 segundos, ele me entrega o mesmo objeto, e eu faço uma expressão de surpresa e feliz, como se fosse algo novo toda vez.

Ele me surpreendeu com uma flor ao longo de uma manhã inteira: no parque, na cozinha, no escritório. Começou inteira e terminou despedaçada. Agora, ela descansa em um copo com água, que provavelmente, a fará durar apenas mais 2 dias. Para mim, a memória desse ato tão carinhoso não criou raízes quando posterguei por mais 2 dias a vida daquela planta ou se a tivesse guardado em um caderno. E sim, pelo fato, das inúmeras vezes que me a apresentou como se fosse nova para ele.

Com sua capacidade mais singela de memória de curto prazo, sem intenção, ele desenvolveu uma memória de longo prazo em mim. Por meio daqueles pequenos e simples gestos, eu desenvolvi um tipo de memória episódica, em que é entendido como a lembrança de acontecimentos específicos. Nesse caso, o conteúdo da informação armazenada é pessoal e, devido a isso, pode ser conhecida também por memória biográfica.

Assim também são as misericórdias do Senhor. 

Como nos lembra o profeta Jeremias, as misericórdias do Senhor se renovam a cada manhã, e elas são a razão de não sermos consumidos. De modo análogo, é como se Deus, por meio de sua transbordante misericórdia, tivesse essa memória de curto prazo. E, em toda manhã, ele mostrasse novamente sua misericórdia. Ele sabe que se não fosse assim seríamos consumidos, pois ainda lidamos com nosso pecado. Certamente, Deus tem e guarda todo o conhecimento, ele não tem uma memória de curto prazo. Contudo, esse ato reincidente do Senhor nos mostra como ele deseja aprofundar em nosso coração a lembrança de que embora ainda pequenos, sua misericórdia continua estendida em Jesus Cristo.

 

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Por: Victória Arrais. © Voltemos Ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Revisão por Vinicius Lima. Edição por Renata Gandolfo.