Amargura, perdão e graça

O perdão não é um sentimento

Uma das palavras bíblicas para amargura descreve literalmente o sabor amargo de certas comidas e bebidas. O verbo traduzido ‘ser amargo’ significa cortar ou perfurar. Então, amargura é como uma ferida interna. A Bíblia diz que essa atitude ressentida e não perdoada cortará e perfurará a outros também; portanto, a amargura pode ser o resultado de não cedermos o perdão a alguém. Pode ser o resultado de reagir de maneira inapropriada a uma ofensa. 

O autor de Hebreus nos adverte: 

Atentando, diligentemente, porque ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus; nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados. Hebreus 12.15

Raízes precisam ser plantadas. Qual semente você imagina que, quando plantada no solo do coração produz uma raiz de amargura? 

Essa semente é a mágoa. Quando alguém nos magoa é como se a pessoa plantasse a semente de amargura no solo do nosso coração. Nesse momento, podemos escolher reagir de duas maneiras: 

Decidir arrancar a semente, perdoando o ofensor ou cultivar, lembrar da mágoa o tempo todo. Amargura é o resultado desse cultivo. 

Lou Priollo cita algumas evidências da amargura, que são indicadores, tais como:   

Dificuldades de resolver conflitos, atos de vingança com comentário maldoso ao ofensor, ignorar o outro; ataque de ira; sarcasmo; desconfiança; intolerância e ressentimento; hipersensibilidade; orgulho; impaciência ou lembrar da ofensa com riqueza de detalhes.      

Não temos uma disposição para perdoar de forma natural. Ficamos iradas e isso se transforma numa amargura profunda

O contexto adequado para entender o perdão:

“Longe de vós, toda a amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda malícia. Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou”. – Efésios 4.31, 32

O alvo da amargura é sempre a outra pessoa (ofensor) ou até o próprio Deus (quando pedimos pra Deus mudar uma situação que está difícil para nós e ele não muda.) 

Com base em Lucas 17.3-10, temos algumas aplicações:

O perdão deve ser concedido quando o pecado tiver sido cometido contra você:

“…Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe. – Lucas 17.3

Por vezes, não é o ofensor que tem que se arrepender, mas, sim, você que deve se arrepender de algum pensamento não bíblico que a faz sentir-se ofendida por algo que Deus não se ofendeu. 

A parte ofendida, às vezes, tem que tomar a iniciativa do perdão. Ir e falar sobre seu pecado com a intenção de ser capaz de conhecer o perdão. 

 Acautelai-vos. “Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o…” – Lucas 17:3

Perdão é caro, mas o custo é mínimo quando comparado ao que custou ao Senhor Jesus para perdoar os nossos pecados. Não importa quanto a ofensa que estamos nos esforçando para perdoar nos machuque; em comparação às nossas ofensas contra Deus e a dor pela qual Seu Filho suportou por nós; a ofensa contra nós é mínima! Perdoamos porque recebemos o poder do Espírito Santo para perdoar.

Perdão não é o mesmo que confiança

O perdão deve ser imediato. A confiança pode levar tempo. 

O amor tudo crê. 1 Coríntios 13.7

O perdão foca na soberania de Deus e não foca no pecado do ofensor

Como Deus pode usar a ofensa para a Sua glória? Deus está mais interessado em nossa reação à ofensa do que na ofensa em si. 

Perdão não é emoção; envolve uma ação

“Se, por sete vezes no dia, pecar contra ti e, sete vezes, vier ter contigo, dizendo: Estou arrependido, perdoa-lhe.” – Lucas 17.4

O perdão não é um sentimento. É uma escolha, um ato da vontade. Se eu esperar sentir vontade de perdoar, pode ser que nunca perdoe. Devo escolher obedecer a Deus, que, no tempo certo, fará com que nossas emoções alcancem as escolhas certas.

Paulo, em Rm 12. 17-21. “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.”  traz estratégias de guerra, enfatizando a importância da paz; adverte a não se vingar e oferece orientação sobre o que fazer contra a retaliação. Há duas ordens:

Primeiro, Não te deixes vencer do mal” e segundo, “Vença o mal com o bem”. Abençoe o seu ofensor com bondade até que a bondade ultrapasse seu pecado e o leve ao arrependimento.   

Você pode ter sido ferida por alguém que você jamais imaginou. Porém, nada que alguém lhe fez ou fará pode determinar o que você se tornará. Isso pode afetar sua vida, mas não pode determinar o resultado de sua vida.

Duas escolhas para o perdão

O caminho dos direitos 

“Alguém precisa pagar o preço pelo pecado que foi cometido contra mim.” São sementes de ressentimento, amargura e ira. Desejo sutil de vingança. Não podendo retaliar com armas, o faço com olhares, atitudes e palavras.

Essas sementes crescerão e produzirão uma colheita múltipla, não apenas na sua vida, mas também naqueles que te cercam. Isso cria raízes e mina os relacionamentos.

O caminho da Graça

Tomo sobre mim a Graça que recebi e estendo ao outro. 

Não por merecimento, mas porque Deus é gracioso e perdoa pecadoras como nós.  

Nosso Deus tomou a iniciativa de se reconciliar conosco e ele nos chama, em seu nome, para iniciar a reconciliação em nossos relacionamentos.

Diante da Cruz, que expõe nossas grandes ofensas, não há justificativas para não perdoar, porque fomos grandemente perdoadas. 

Deixe que a misericórdia de Deus sobre você estenda raízes de paz e não de amargura.

Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. – Romanos 5.8

Deus nos deu seu Filho Jesus, nos dando por meio da fé, por pura Graça, o direito de sermos aceitas, perdoadas de uma vez por todas. Não apenas por um de nossos pecados mas por todos eles.

“E como o Oriente está longe do Ocidente, assim ele afasta para longe de nós as nossas transgressões.”  – Salmo 103.12

Se você é uma filha de Deus, foi lavada pelo sangue de Jesus, experimentou Seu perdão, então você pode ofertar o mesmo perdão aos outros.

O perdão é uma promessa de nunca trazer tal pecado diante do ofensor outra vez – nem pra Deus, nem para ele, ou para outros. É uma promessa de “limpar a ficha” do ofensor.

Quando Deus perdoa ele declara

“Eu dos teus pecados não me lembro” (Is 43.25/Jr 31.34).

A questão do pecado foi tratada de uma vez por todas. Deus é onisciente, ele não tem uma perda de memória; ele os esconde com o seu perdão. Ele promete que jamais os usará contra nós e nos chama para fazer o mesmo.  

Existe alguma situação em sua vida em que o perdão parece impossível? 

O amor de Cristo transplantado em seu coração poderá trocar sua fraqueza pela força dele.

“…Deus é quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele.” (Fp 2.13)

Leve essa pessoa ao Senhor em oração e lembre-se: O que você não é capaz de fazer por si mesma, Deus fará!

Você pode continuar perdoando à medida que a graça e o amor de Cristo fluem através de você, e assim, andar na paz de Deus. 

“Perdoem como o Senhor lhes perdoou.” Colossenses 3.13

Como o Senhor te perdoou?   Vá e faça o mesmo!

 


Amargura in: Aconselhamento para Mulheres: um guia bíblico e prático. John D Street & Janie Street. São Paulo: NUTRA Publicações, 2018, p77-92

Amargura: a Raiz que Contamina. Lou Priolo. São Paulo: NUTRA Publicações, 2019

Por: Luciana Sborowski. © Voltemos Ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Revisão e Edição por Renata Gandolfo.