Contemplação e inspiração

Contemplando a Deus inspirados por sua bela criação

Photo by Marcelo Zaldini Hernandes, em https://flickr.com/photos/marcelohernandes/

Podemos nos perguntar: “O que inspira um genuíno poeta?”. Uma resposta plausível pode ser encontrada, por exemplo, em algumas estrofes da bela poesia de Amaro Poeta [i]:

Deus fez o mundo do nada

E em seis dias terminou,

Dois terços de água em cima

O mar na terra plantou,

E o céu bordado de estrelas

Suspenso no ar deixou.

 

O arco íris pintou

No céu como um diadema,

O sol nascer cor de ouro

E morrer da cor de gema,

E no crepúsculo da tarde

Deixou escrito um poema.

 

Com sua força suprema

Deu velocidade ao vento,

Deu as aves asas soltas

Pra bailar no firmamento,

Porque o mestre é o único

De perfeição cem por cento.

O universo perfeito

Pintou de todas as cores,

Fez do chão um lençol verde

E ornamentou de flores,

Com animais e florestas

E deu para os seus pastores [ii],

A chuva que cai do manto

Pingo a pingo é peneirada,

O rio de água doce

E o mar de água salgada,

Que a natureza obedece

A quem fez tudo do nada.

Do poder ilimitado

O mestre é onipotente,

Do saber absoluto

Deus é o onisciente,

E por estar em toda parte

Ele é onipresente.

 

Deus com sua mão potente

É comandante da nave,

A bordo do globo faz

Girar o cosmo suave,

Dos desígnios e mistérios

Só ele possui a chave.

 

Quem do olho tira a trava

Enxerga os defeitos seus,

Que o mestre é dono de tudo

Até da fé dos ateus,

Que até quem não tem fé sabe

Que o dono do mundo é Deus.

 

Parece que a inspiração para este genuíno poeta foi o tema da criação de Deus, revelada nas Escrituras, particularmente no relato histórico e literal do livro de Gênesis. Os versos finais desta poesia também parecem estar em acordo com a teologia paulina, por exemplo, nas sábias palavras encontradas no primeiro capítulo da carta aos Romanos. As palavras do poeta apontam para a soberania, majestade e onipotência de Deus, principalmente no seu aspecto como Criador, dizendo que “o mestre é dono de tudo”, e que “até quem não tem fé sabe que o dono do mundo é Deus”. É possível perceber que esta declaração está alinhada com as palavras do apóstolo Paulo, dizendo que “os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas”, e que, por isso, “tais homens” são “indesculpáveis” (Rm 1:20).

Ao longo deste primeiro capítulo aos Romanos, o apóstolo Paulo também ensina claramente a realidade dos seres humanos que, “tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças”, mas “se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato” (v. 21). Ele ainda declara abertamente que tais seres humanos, “inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos” (v. 22).

Como o livro dos Salmos é notoriamente reconhecido também como literatura poética, podemos lembrar que o salmista “poeta” (o rei Davi, neste caso) nos ensina esta mesma verdade sobre a soberania de Deus na criação do universo e do ser humano:

Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos” (Sl 19:1).

Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste, que é o homem, que dele te lembres? E o filho do homem, que o visites? Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus e de glória e de honra o coroaste” (Sl 8:3-5).

Falando sobre contemplação, também surge a questão: “O que inspira um atento fotógrafo?

Segundo dicionários de etimologia, o termo “fotografia” foi cunhado em 1839 pelo pioneiro inglês, Sir John Herschel (filho do conhecido astrônomo), a partir do grego: photo (que significa “luz”) + graph (que significa “algo escrito”). Desta forma, poderíamos dizer que um fotógrafo seria alguém que tenta “escrever com a luz”, ou seja, alguém que tenta associar “algo escrito” com a “luz”. Neste contexto, é impossível não relembrar do evangelho segundo João, pois aquele que é o Verbo, a Palavra (“Logos”), também é a luz dos homens (Jo 1:1-5). Como discípulos desta Palavra viva, o Senhor Jesus Cristo, a luz do mundo (Jo 8:12; 9:5), não é de se estranhar o fato de também desejarmos associar palavra com luz, tentando “escrever com a luz” através da fotografia [iii].

Neste ponto, também podemos nos perguntar: “O que inspira um sensato cientista?

Somos gratos a Deus, por sua sábia e misericordiosa providência, que tem permitido o desenvolvimento contínuo das diversas áreas da ciência ao longo da história da humanidade [iv].

Partindo-se do princípio que a Palavra de Deus é inerrante e autoritativa, e como todos os seres humanos são indesculpáveis por terem o conhecimento de Deus, e de seus “atributos invisíveis” que são “percebidos por meio das coisas que foram criadas”, então os cientistas poderiam ser considerados ainda mais indesculpáveis, se não o glorificarem como Deus, nem lhe derem graças. E por quê? Porque os homens e mulheres que desenvolvem atividades científicas como sua atividade profissional, em todas as áreas do conhecimento humano, dedicam uma parte significativa de suas vidas para estudar aspectos detalhados da natureza, ou seja, da criação de Deus. Esta é uma dura e difícil verdade, com a qual todos nós, “estudantes da obra da criação”, por meio das inúmeras áreas da ciência, precisamos nos deparar… e tomar uma decisão. Neste aspecto, pensando momentaneamente neste tipo de atividade profissional (pesquisa científica), nossa oração é para que, cada vez mais, outros homens e mulheres da ciência também venham a conhecer a Jesus Cristo como seu suficiente e necessário Senhor e Salvador! 

 

 

Glória somente a Deus, por sua magnífica obra de criação!


*Notas:

[i] Amaro Rodrigues, conhecido como Amaro Poeta: escritor, poeta, cordelista, natural de Vitória de Santo Antão (PE).

[ii] Neste contexto, o poeta deve estar se referindo a pastores de rebanhos, como de ovelhas, por exemplo.

[iii] Exemplos de fotografias de detalhes da magnífica obra da criação de Deus podem ser observados em: https://500px.com/hernandesmar & https://www.flickr.com/photos/marcelohernandes/

[iv] Para ver mais detalhes sobre este tema, seguem duas sugestões de leitura: (1) “A Alma da Ciência: Fé Cristã e Filosofia Natural”, Nancy R. Pearcey & Charles B. Thaxton; (2) “Um mundo com significado: como as artes e as ciências revelam o gênio da natureza”, Benjamin Wiker & Jonathan Witt.