Qual o significado de Isaías 43.25?

A expressão "Dos teus pecados não me lembro" e suas implicações

Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim e dos teus pecados não me lembro. (Isaías 43.25)

 

Um presbítero da minha congregação costuma brincar: “Dizem que conforme você envelhece, a memória de curto prazo é a segunda coisa que desaparece; não consigo me lembrar qual é a primeira.” Os cristãos concordarão que uma memória finita, que se enfraquece com a idade e pode até ser distorcida pelo pecado, é comum à humanidade. Mas quando em Isaías 43:25 Deus diz: “Dos teus pecados não me lembro”, como devemos entender a memória de Deus? Existem algumas razões pelas quais não devemos interpretar este versículo no sentido de que Deus literalmente se esquece, embora ensine uma verdade importante e maravilhosa.

LINGUAGEM ANALÓGICA

Em toda a Bíblia, nosso Deus infinito se revela por meio de uma linguagem analógica. Essas são descrições sobre Deus, figurativas mais do que literais, para acomodar nossa linguagem limitada e compreensão finita como humanos. Dessa forma, a Bíblia atribui ações humanas a Deus, como cheirar (Gn 8:21), ouvir (Êx 2:24), sentar (Sl 9:7) e descer (Mq 1:3). Emoções humanas como pesar e arrependimento (Gn 6:6) e zelo (Êx 20:5), também servem para nos ensinar por analogia algo de como Deus é. Embora Deus não tenha um corpo, a Bíblia fala de Sua mão (Sl 118:15) e de Seus olhos (Pv 15:3). Com a linguagem das ocupações ou relacionamentos humanos, Ele é descrito como marido (Is 54:5), pai (Dt 32:6), rei (Is 44:6) e pastor (Sl 23:1). Que Deus lembre (Gn 9:15) e esqueça deve ser interpretado como uma linguagem analógica.

A NATUREZA DE DEUS

Partindo da convicção de que a Palavra infalível de Deus não tem contradição em nenhum ponto, a “analogia da fé” é um princípio importante na interpretação bíblica que nos orienta a deixar que passagens mais claras e não figurativas das Escrituras interpretem passagens menos claras e figurativas. O “esquecimento” de Deus não significa uma perda de memória literal, equivalente ao meu esquecimento de fórmulas matemáticas do ensino médio, porque isso contradiz o que a Bíblia ensina sobre a onisciência de Deus, Seu conhecimento total e perfeito. Somos informados de que “o seu entendimento não se pode medir” (Sl 147:5) e que Ele anuncia “desde o princípio […] o que há de acontecer” (Is 46:10). É contra a natureza de Deus literalmente esquecer qualquer coisa.

LINGUAGEM PACTUAL

Se Deus não se esquece literalmente dos nossos pecados, o que significa Isaías 43:25? Devemos entender esta descrição de Deus como uma linguagem pactual pela qual Ele assegura ao Seu povo o completo perdão de seus pecados. Imediatamente antes do versículo 25, Deus havia lembrado Seu povo de sua infidelidade e adoração falsa, ao concluir: “Me cansaste com as tuas iniquidades” (vv. 22-24). No entanto, o capítulo 43 é parte de uma seção maior em Isaías, começando no capítulo 40, na qual Deus está comunicando amplamente conforto e segurança ao Seu povo. Ele lhes diz em 43:1-4, 15:

Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu… Porque eu sou o Senhor, teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador… foste precioso aos meus olhos, digno de honra, e eu te amei.

Essas garantias comunicam a relação pactual que Deus trouxe a Israel, apesar do seu pecado. Então, no versículo 25, Deus diz: “Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim e dos teus pecados não me lembro”. Ao enfatizar que Ele faz isso “por amor de [Si mesmo]”, Deus novamente aponta para o Seu pacto de graça. Não é por causa da dignidade deles, mas por causa da Sua pura graça e amor por eles que Deus tira os seus pecados.

Em duas descrições figurativas, este versículo assegura a Israel como seus pecados são completa e finalmente perdoados. Primeiro, apagar é a linguagem de remover algo escrito. Os pecados de Israel, cada um sendo uma ofensa contra Deus e merece julgamento, são retratados como se tivessem sido escritos em um livro, mas Ele apagou todos estes. Não podem mais ser lidos e usados ​​para acusar o povo de Deus. Segundo, Deus assegura a Israel que seus pecados estão praticamente esquecidos. Deus nunca mais os mencionará e os utilizará contra o Seu povo. Deus na Bíblia usa várias dessas imagens para enfatizar quão completo e final Seu perdão e seus benefícios são. Ele fala de cobrir nossos pecados (Sl 32:1), removê-los para tão longe quanto dista o Oriente do Ocidente (103:12), e lançá-los nas profundezas do mar (Mq 7:19).

O restante das Escrituras revela como Deus pode ter tal relação de pacto com pecadores, como Ele pode “esquecer” seus pecados. Não é por causa de um lapso de memória, nem é uma expressão trivial. É porque Deus enviou Seu Filho para levar todos os pecados de Seu povo e morrer em seu lugar na cruz, apagando a culpa dos pecados de Seu povo e fazendo-os como se fossem esquecidos para sempre em nossa relação com Ele.

Por: H.P. McCracken. © Ligonier Ministries. Website: ligonier.org. Traduzido com permissão. Fonte: Isaías 43:15. Traduzido por João Costa. Revisão por Renata Gandolfo. Editor: Vinicius Lima.