Qual o significado de 1 Coríntios 2.4?

O que Paulo quis dizer sobre "demonstração do Espírito e de poder"?

“A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder”  (1 Coríntios 2:4)

 

O estilo de ministério é importante. 1 Coríntios 2.4 nos diz que Paulo optou por uma conduta para todo o seu ministério que fosse harmoniosa com sua mensagem. A mensagem de Paulo era Cristo, em Sua cruz e ressurreição (1 Co 15.1-4), então sua conduta também tinha que ser cruciforme, em vez de ser pretensioso ou tentar se autopromover. A maneira como um pregador apresenta sua mensagem e se comporta ilustra ou tira o foco do significado da mensagem que Deus lhe confiou.

Essa é a lógica do ministério que está por trás da recusa de Paulo em confiar em “linguagem persuasiva de sabedoria”. Os coríntios, como o resto do mundo greco-romano, acreditavam que a sabedoria é a capacidade de alcançar status e sucesso, aparentar ser grande, posicionando-se ao lado dos homens célebres da sociedade, atuando e pretendendo ser como eles. Essa sabedoria cultural se manifestou nos oradores populares da época, ou sofistas. Eram celebridades que sabiam se apresentar e falar para obter seguidores, status e sucesso, mesmo que sua mensagem fosse vazia.

Então, quando Paulo diz que decidiu não usar “linguagem persuasiva de sabedoria”, ele não estava dizendo que não era necessário estudar para pregar e ensinar, ou que a maneira como ele usava as palavras não importava (2 Tm 2.15). Decidiu não basear o poder de persuasão de sua mensagem em sua percepção como um grande homem. Não é que ele não pensasse cuidadosamente e raciocinasse com cautela em sua pregação e ensino (At 18.19). Ele decidiu não ocultar sua fraqueza para que o poder do Espírito Santo ficasse evidente em sua mensagem (2 Co 4.7; 12.9-10).

Um breve olhar sobre o contexto da carta de Paulo nos mostra por que isso era importante. A igreja de Corinto se dividia por causa de líderes (1 Co 1.12-13; 3.3-5). É praticamente certo que isso não era um desacordo teológico. Paulo e Pedro, como apóstolos, ensinaram a mesma doutrina que Cristo ensinou (nossa fé depende disso; Ef 2.20). Além disso, Paulo não tratou a divisão doutrinária como inconsequente (Rm 16.17-18). A divisão era quase certamente sobre lealdade a algumas pessoas, seja a Apolo ou a Paulo (1 Co 4.6). Ao que tudo indica, Apolo era um orador talentoso (At 18.24), e os coríntios determinaram que Paulo não era (2 Co 10.10). Esses cristãos dominados pela cultura temiam que a “fraqueza e grande tremor” de Paulo (incluindo seus sofrimentos; 1 Co 4.9-13) não atraísse o interesse das pessoas. Então, Paulo procurou mostrar a eles que seu estilo de ministério modesto, que abraçava a fraqueza e suportava o sofrimento foi projetado não para engrandecer a si mesmo, mas sim a sua mensagem: Cristo, Sua cruz e como Ele salva o pior e o mais fraco dos pecadores (1.17-31).

Entender esse contexto nos ajuda a entender por que 1 Coríntios 2.4 não deve ser usado como desculpa para uma abordagem anti-intelectual, deliberadamente sem estudo, do ministério do evangelho. Paulo não se opõe aqui ao que ele praticou e prescreveu em outro lugar: raciocinar e persuadir de forma robusta usando as Escrituras (At 17.16-31) e a administração de nossas mentes para o crescimento espiritual (Rm 12.2). No entanto, ele nos ensina que aqueles que ministram a Palavra devem tomar uma decisão consciente, em seu contexto cultural, sobre como manter o foco de seu ministério na mensagem que lhes foi confiada (Cristo a partir de toda a Escritura) e o meio pelo qual essa mensagem é efetivada (o Espírito Santo operando em poder através das Escrituras).

Há uma pressão consistente sobre ministros e igrejas para depender das estruturas persuasivas da cultura para alcançar o sucesso popular. Paulo tomou uma decisão deliberada de não empregar esse tipo de sabedoria para tornar o evangelho mais atrativo. Em vez disso, ele decidiu priorizar e confiar na proclamação de Cristo capacitada pelo Espírito, exibida por meio de um servo cuja conduta, por sua vez, dizia: “Este ministério não é sobre mim” (veja 1 Co 1.31; 2.5).

A conduta de um pregador é importante. A maneira como ele anda trairá a mensagem que ele afirma administrar (1.17) ou fornecerá um toque de autenticidade para aqueles que o ouvirem (2 Co 4.2, 7; 2 Tm 2.21). Ele pode optar por usar sua plataforma de liderança para valorizar muito seu conhecimento, seus dons e sua personalidade, ou pode decidir usar essa plataforma para o propósito pretendido por Deus: exaltar a Cristo. Os líderes e pregadores cristãos devem continuamente tomar decisões conscientes sobre como vão exercer o ministério. Podem se conformar com a sabedoria da cultura e buscar o culto do grande homem, ou podem abraçar a imagem cruciforme do Salvador a quem servem (Lc 22.24-27), viver e ministrar na dependência dos meios que Ele tem ordenado. 1 Coríntios 2.1-4 nos lembra que a mensagem mais poderosa é aquela entregue centrada em Cristo, dependente do Espírito e cruciforme.

Por: John Currie. © Ligonier Ministries. Website: ligonier.org. Traduzido com permissão. Fonte: 1 Coríntios 2.4. Traduzido por João Costa. Revisão por Renata Gandolfo. Editor: Vinicius Lima.