Um blog do Ministério Fiel
Um cristão deve aceitar um convite para ir a um casamento LGBTQ?
Interpretando e aplicando a Parábola do Filho Pródigo a essa difícil questão
A verdadeira compaixão na parábola do filho pródigo
Talvez nenhuma parábola seja mais amada do que a do filho pródigo em Lucas 15:11-32. Ela fala de preocupações e experiências universais. Todos nós podemos sentir a dor do pai na parábola ao considerarmos a tristeza e a dor de ter um filho ou um amigo rebelde, com o desejo que nosso ente querido retorne em arrependimento e fé. Também podemos nos identificar com o filho pródigo por causa de nosso pecado. Somos como ele quando abandonamos nosso pecado e voltamos para nosso Pai celestial, conscientes de que Ele não reluta em nos perdoar ou nos dá meros restos da mesa. Ao invés disso, Ele celebra nosso arrependimento. Além do mais, muitos de nós conhecemos cristãos professos que são como o irmão mais velho da parábola, que desprezam e se ressentem quanto aos pecadores arrependidos porque nosso Pai celestial os perdoou. Talvez até nós mesmos tenhamos agido como o irmão mais velho às vezes.
É bom que esta parábola seja tão familiar e amada tanto por sua visão do coração de Deus para os perdidos, quanto porque aborda diferentes tipos de respostas humanas à graça de Deus. Entretanto, podemos amar tanto esta parábola e ao mesmo tempo ignorar tudo o que o Senhor Jesus Cristo está nos ensinando através dela. Além disso, nosso bom e correto desejo de não agir como o irmão mais velho pode nos tornar suscetíveis à manipulação emocional de pessoas que são movidas por uma intensa compaixão pelos pecadores perdidos, porém não analisam se essa compaixão é biblicamente consistente e fundamentada com firmeza na verdade imutável de todo o conselho de Deus.
Para entender o que a parábola do filho pródigo nos ensina sobre a verdadeira compaixão de Deus e a compaixão biblicamente fundamentada que Ele nos chama a ter para com os pecadores, devemos primeiro examinar brevemente o contexto imediato da parábola em Lucas 15:1-10. A parábola do filho pródigo é a terceira de uma série de parábolas sobre coisas perdidas: a ovelha perdida (Lucas 15:4-7), a dracma perdida (Lucas 15:8-10) e o filho pródigo (Lucas 15:11-32). Jesus conta essas parábolas em resposta às murmurações dos escribas e fariseus por conta dEle receber e comer com pecadores (Lucas 15:1-2). A partir das observações de Jesus nos vv. 7 e 10 sobre a alegria que há no céu quando pecadores se arrependem, podemos concluir que os escribas e fariseus não entenderam a extensão da misericórdia e graça de Deus. As ações do pastor na parábola da ovelha perdida e da mulher na parábola da dracma perdida confirmam isso. Deus recebe e se alegra com aqueles que antes estavam perdidos em seu pecado, mas agora estão unidos a Cristo, pois se afastaram de seu pecado e confiaram em Cristo somente pela graça de Deus. Jesus também nos ensina sobre a compaixão e o cuidado de Deus, que fará tudo o que for necessário para encontrar e resgatar Suas ovelhas perdidas e trazê-las para Seu aprisco, assim como o pastor e a mulher param de fazer tudo o que estão fazendo para encontrar a ovelha e a dracma perdidas (Lucas 15:3-10). Deus se alegra quando as pessoas se arrependem (Lucas 15:7, 10), e é Sua bondade que nos leva ao arrependimento (Rm 2:4). Os fariseus e escribas estavam errados em reclamar, pois essa murmuração significava que eles não queriam que os pecadores se arrependessem ou que eles pensavam que aqueles que se arrependem de pecados graves não merecem receber de Deus o mesmo acolhimento caloroso, gracioso e celebrativo que recebem aqueles que se arrependem de transgressões menos graves.
Isso nos leva à parábola do filho pródigo. O filho mais novo é um retrato daqueles que pecam gravemente contra o Senhor. Pedir a herança do pai antes de sua morte equivalia a dizer ao pai: “Queria que você estivesse morto”. Para piorar as coisas, o filho não permaneceu com sua família quando recebeu sua herança, pelo contrário, ele os abandonou e fugiu para um país distante, onde desperdiçou a herança vivendo “dissolutamente” (Lucas 15:13). A profundidade de sua queda é ilustrada ainda mais ao ter que trabalhar alimentando porcos quando seu dinheiro tinha acabado. Os porcos eram impuros para os judeus, e nenhum judeu estaria perto deles, muito menos cuidaria deles, a menos que ele mesmo tivesse se tornado completamente impuro (Lucas 15:11-16).
Finalmente, o filho mais novo se sentiu humilhado e, com o espírito quebrantado e contrito por conta de seu pecado e situação, resolveu ir para casa e confessar seu pecado a seu pai. O filho mais novo estava arrependido, convencido de seu pecado e miséria e ansioso para buscar a misericórdia e o perdão de seu pai. Ele pensou que seu pai o receberia de volta como um mero servo e não como seu filho amado, porém para sua surpresa, o pai fez uma festa, deu-lhe a melhor roupa e anel e preparou a comida mais cara. O pai não poupou gastos para comemorar o retorno de seu filho para casa (Lucas 15:17-24). A lição aqui também é clara: a graça e a misericórdia de Deus são tão abundantes que Ele celebra quando os pecadores voltam a Ele em arrependimento. Como comenta o Dr. R.C. Sproul sobre esta parábola: “Este filho que havia desonrado o pai, e que voltava para casa em trapos imundos, foi recebido por seu pai, que o abraçou e o beijou. Isso é o que Deus faz por todo pecador que se arrepende. Ele corre para você, te abraça e te beija na sua imundície. É assim que Deus age”. O pai não guarda rancor do filho quando ele se arrepende e volta para casa.
Porém, se não tomarmos cuidado nos esqueceremos do que o pai não faz na parábola. Ele não vai para o país distante com seu filho. O pai não encoraja o filho em seu pecado, e ele não financia os atos pecaminosos de seu filho. Em sua rebeldia, o filho corta a relação com o pai e, em sua compaixão, o pai quer o filho de volta. A ilustração da parábola é de um pai que, enquanto não vai para o país distante com seu filho, está pronto para recebê-lo quando ele se arrepender de sua devassidão e voltar para a casa. O pai espera na varanda da frente, por assim dizer, olhando e torcendo para que o filho volte. A expectativa do pai é tão grande por esse retorno que ele é capaz de ver seu filho voltando em sua direção enquanto o filho ainda está longe (Lucas 15:20). Ele reconheceu o filho e teve “compaixão” dele, afirma a parábola. Essa compaixão era uma prontidão para receber um filho arrependido, mesmo não tendo o encorajado, agido com conivência, celebrado ou financiado o pecado grave de seu filho. Se quisermos ser imitadores de Deus, como Paulo nos instrui a ser (Efésios 5:1), a lição é clara: devemos estar prontos para receber qualquer um que se arrependa, mas não devemos de forma alguma encorajar, sermos tolerantes, celebrar ou financiar o pecado de alguém. Se a nossa recusa em fazer essas coisas leve pessoas a cortarem laços conosco, a culpa é delas, não nossa. Os cristãos devem obedecer mais a Deus do que aos homens (Atos 5:29). A vontade de amar e abraçar um pecador rebelde não implica afirmar ou aceitar sua rebeldia pecaminosa, estilo de vida ou decisões para manter um bom relacionamento com ele. Como cristãos, devemos ser as pessoas mais graciosas e compassivas que o mundo conhece ao orarmos para que os pecadores se afastem de seus caminhos por meio da proclamação do evangelho de Jesus Cristo. No entanto, a Palavra de Deus é clara ao declarar que não devemos fazer nada que possa demonstrar uma aprovação ao pecado para manter nosso relacionamento com nosso ente querido ou amigo, pois “[o amor] não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade” (1 Coríntios 13:6).
A última parte da parábola diz respeito à resposta do irmão mais velho do filho pródigo, que se ressente do pai por celebrar o retorno do filho. O irmão mais velho não havia reivindicado sua herança prematuramente, muito menos a usou para se envolver em grave devassidão. Assim, ao pensar que seu irmão recebeu algo que ele, o filho fiel, merecia, o irmão mais velho se recusou a participar da festa de boas-vindas do pai para seu irmão, e optou por acusar seu pai de tratamento injusto. A atitude do irmão mais velho, que era semelhante à atitude dos fariseus e escribas a quem Jesus contou pela primeira vez esta parábola, demonstrava um ódio pelo pai que era mascarado pela piedade exterior. Em resposta, o pai explicou que o coração do irmão mais velho não estava em seu devido lugar. O irmão mais velho teve tudo de bom do pai enquanto o filho pródigo estava fora, e mesmo depois que ele voltou. O fato do pai receber o filho arrependido não significava que o filho mais velho sairia perdendo alguma coisa (Lucas 15:25-32). A lição é clara: a graça e a misericórdia de Deus são suficientes para receber de volta pecadores rebeldes sem tirar nada daqueles que foram comparativamente mais fiéis (ver Mateus 20:1-16). O filho mais velho deveria saber disso e deveria ter conhecido o pai suficientemente bem para entender que a resposta certa ao arrependimento é a celebração. A resposta do irmão mais velho colocava em questão o quão bem ele realmente conhecia seu pai e, da mesma forma, colocava em questão o quão bem os fariseus e os escribas conheciam a Deus. Não devemos ser como o irmão mais velho, mas devemos celebrar mesmo quando o mais terrível dos pecadores volta para Deus com fé e arrependimento.
O problema com o irmão mais velho não era em relação a alguma aprovação ao pecado passado de seu irmão. Jesus não está sugerindo que a resposta adequada do irmão mais velho teria sido que ele aprovasse o pecado de seu irmão mais novo. O problema do irmão mais velho também não era que ele achava errado fazer coisas que pudessem indicar ou ser interpretadas como aprovação ao pecado de seu irmão. Em vez disso, seu problema era sua resistência em receber de volta seu irmão com alegria quando ele se arrependeu.
A verdadeira compaixão de Cristo
Está claro na exposição acima de Lucas 15:11-32 que Deus é cheio de compaixão e graça e que Ele celebra o arrependimento dos pecadores perdidos que se voltam para Ele por meio da fé em Jesus Cristo. A compaixão de Deus pelos pecadores perdidos está fundamentada tanto em Sua misericórdia quanto em Sua justiça. Em Sua soberana providência, Ele permite que os pecadores sigam seu próprio caminho, e às vezes Ele os entrega ao seu pecado, mas Ele nunca faz nada que de alguma forma signifique aprovação de seu pecado. Jesus comeu com os pecadores, porém nunca encorajou ou celebrou o pecado deles. Jesus era amigo dos pecadores com verdadeira compaixão por eles, e é precisamente por causa disso que Ele os chamou para se arrependerem e crerem.
Misericórdia e justiça, relacionamento e retidão, coexistem, sem concessões, no trato de Deus com os pecadores, e isso é demonstrado magnificamente no Senhor Jesus Cristo. Nos evangelhos, Ele estava feliz em manter relacionamentos com pecadores, porém Ele sempre traçou a linha quando se tratava de participar, aprovar silenciosamente ou fazer qualquer coisa que pudesse mostrar aprovação – até mesmo de maneira indireta – de seus pecados. Ele comeu com Levi, o cobrador de impostos, e os cobradores de impostos eram bem conhecidos naquela época por roubar dos contribuintes, mas Ele comeu com Levi apenas depois que Levi deixou tudo para segui-Lo, somente depois que Levi se arrependeu (Lucas 5:27-32). Ele recebeu a adoração de uma mulher pecadora, pois Ele perdoou seus pecados, não porque ela o adorou em um estado de impenitência (Lucas 7:36-50). Se hospedou e comeu na casa de Zaqueu, outro cobrador de impostos, aprovando-o, não em seu pecado, dado que Zaqueu estava arrependido, o que fica nítido por conta de sua disposição de fazer o que pudesse para ver Jesus, bem como em sua intenção posterior de restaurar quatro vezes o que houvesse roubado de alguém (Lucas 19:1-10).
Jesus até mostrou compaixão por alguns dos fariseus, para os quais Ele muitas vezes reservou algumas de Suas palavras mais duras de juízo. Ele não resistiu a Nicodemos, mas conversou voluntariamente com ele quando o procurou à noite (João 3:1-15). Porém, quando os fariseus pressionavam Jesus e Seus discípulos a manter tradições extrabíblicas, nosso Senhor não seguia suas práticas. Fazer isso poderia sinalizar que é correto elevar as tradições humanas acima da Palavra de Deus (Marcos 7:1-13). Se Jesus tivesse cedido a tal pressão, teria sido um sinal de que aprovava o pecado (Mateus 15:1–19). Este é o verdadeiro farisaísmo: uma adesão obstinada às tradições criadas pelo homem que estão além ou mesmo contrárias à Palavra autoritativa de Deus e julgar os outros com base nessas tradições. Não é farisaísmo evitar participar nas “obras infrutíferas das trevas” (Efésios 5:11), ou recusar-se a unir-se àqueles que não temem ao Senhor (ver Provérbios 24:21). Em 1 Pedro 4:1-6, Deus nos ordena diretamente a não participar, nem tolerar aberta ou silenciosamente o pecado. Pedro também nos ensina que as pessoas ficarão surpresas quando obedecermos a Deus, podem até nos difamar, pois não entendem ou aceitam as coisas de Deus (1 Coríntios 2:14-16). Devemos evitar “toda forma de mal”, até mesmo a aparência do mal (1 Tessalonicenses 5:22). Enfrentaremos imensa pressão para ceder, nem que seja para aprovar silenciosamente. Porém, fomos chamados a permanecer firmes (Provérbios 1:8-10; 1 Coríntios 16:13).
Misericórdia e justiça, relacionamento e retidão, coexistem, sem concessões, no trato de Deus com os pecadores, e isso é demonstrado magnificamente no Senhor Jesus Cristo.
Cristo não deixou Sua perfeita justiça impedi-lo de estabelecer laços com pecadores, mas Ele também não permitiu que Seu desejo de manter esses relacionamentos o pressionasse a fazer algo que pudesse ser interpretado como aprovação do pecado. Isso não deve nos surpreender, porque Ele é a imagem perfeita do Deus invisível e, portanto, a expressão encarnada do caráter de Deus (Colossenses 1:15). Deus é compassivo com os pecadores perdidos, ao enviar Seu Filho Unigênito para salvá-los (João 3:16). Mas os pecadores que Deus salva são pecadores arrependidos, não aqueles que, por suas palavras ou ações, chamam o bem de mal e o mal de bem (Isaías 5:20). Jesus é o Cordeiro que foi morto para salvar pecadores arrependidos, mas Ele também é o Cordeiro conquistador que porá fim a toda iniquidade (Apocalipse 5:6-10; 17:14) e que não permitirá em Sua glória nada imundo, falso ou detestável (Apocalipse 21:27).
Nosso Deus não é o autor da confusão (1 Coríntios 14:33). Em Sua grande compaixão, Ele não faz coisas que possam sugerir que Ele admite o pecado. Se Ele o fizesse, ficaríamos confusos sobre se Ele é santo e se Ele exige nosso arrependimento e fé para estar em um relacionamento correto conosco. E graças a Deus, que soberanamente nos leva a um relacionamento correto consigo mesmo — somente por Sua graça, somente pela fé, somente por causa de Cristo — levando-nos a uma vida de boas obras (Efésios 2:8-10). Por conseguinte, andamos na luz como Ele está na luz (1 João 1:5-7).
A verdadeira compaixão e casamentos LGBTQ
O que foi exposto acima possui implicações práticas para uma pergunta que muitos de nós enfrentamos: um cristão pode participar de uma cerimônia de “casamento” de um casal homossexual ou um casal transgênero? Alguns sugeriram que um cristão pode participar de tal cerimônia em certas situações, desde que o cristão tenha expressado ao casal sua desaprovação de seu estilo de vida e tenha dito a eles que essa união é pecaminosa. Outros sugerem que, quando o cristão fala claramente com o casal sobre a ética sexual bíblica, este cristão pode participar do “casamento” e deve até mesmo dar um presente de casamento. Essa sugestão de participar de tal cerimônia às vezes é apresentada como a resposta que leva em consideração nuances a uma pergunta complexa, e que qualquer um que discorde dela está agindo a partir de uma mentalidade crítica, farisaica e fundamentalista, semelhante à mentalidade do irmão mais velho na parábola do filho pródigo. Tem sido sugerido que aqueles que acreditam que em hipótese alguma é apropriado para um cristão participar de uma cerimônia de casamento LGBTQ estão realmente mostrando condenação ao invés de compaixão ao casal.
No entanto, a pergunta em questão não requer de forma alguma uma resposta com nuances quando entendemos bem o que é o casamento, o que significa uma cerimônia de casamento e como os cristãos devem demonstrar verdadeira compaixão em todas as circunstâncias. O casamento foi instituído por Deus na criação como a união vitalícia de um homem e uma mulher (Gênesis 2:24-25). Uma cerimônia de casamento existe para fazer uma declaração pública dessa união diante dos convidados, que são testemunhas do casamento. Aqueles que assistem a um casamento são testemunhas e, portanto, aprovam a união de aliança feita diante de Deus e do homem. O propósito das testemunhas em um casamento é dar testemunho da aliança do matrimônio que é estabelecida, e a própria presença das testemunhas necessariamente sinaliza que a união é desejável e agradável às estipulações claras da Palavra imutável e autoritária de Deus. Não podemos esquecer que as testemunhas estão presentes para mostrar a aprovação do casamento e para responsabilizar o casal por seus votos. As testemunhas não estão presentes apenas para demonstrar seu amor pelo casal como admiradores. Muitos pastores fiéis, ao oficializar casamentos, muitas vezes lembram os noivos e os participantes do propósito e do significado daqueles que estão dando testemunho dos votos de aliança feitos na cerimônia de casamento. É por isso que muitas cerimônias tradicionais de casamento deixam claro que os participantes estão apoiando o casamento quando o oficiante pede a qualquer pessoa presente que declare quaisquer objeções razoáveis à legalidade da união, caso haja alguma razão para que o homem e a mulher não se casem. Se uma pessoa não faz nenhuma objeção, ela está sinalizando que não conhece nenhuma razão legal para que a união não ocorra. Se o participante, de antemão, expressou ao casal que desaprova o estilo de vida LGBTQ é secundário. O que importa é a presença dele no casamento.
Além disso, está claro em Romanos 1 que a homossexualidade e a rejeição impenitente do sexo biológico são pecados particularmente graves. São coisas contrárias à natureza da realidade. Negam o que Deus nos disse nas Escrituras, mas também na ordem criada, ou seja, que o homem é feito para a mulher e a mulher para o homem. Esses pecados, é claro, não são pecados imperdoáveis. Há perdão para todos os que se afastam de tais pecados e abraçam a Cristo somente pela fé. Porém, por ser uma rejeição arrogante da ordem natural, representa uma rejeição arrogante do Deus que estabeleceu essa ordem. Ter uma cerimônia de “casamento” para celebrar tais uniões faz com que o que já é um pecado arrogante se torne ainda mais grave.
Portanto, um cristão simplesmente não pode comparecer a tal cerimônia, muito menos comprar ao casal um presente para prestigiar a ocasião, não importa o quão bem intencionado possa estar ao fazê-lo. Aqueles que sugerem que um cristão pode e deve participar de um “casamento” ilegítimo e pecaminoso como esses sugerem que comparecer a um casamento desses de um amigo ou ente querido é a coisa certa a se fazer para que nós, como cristãos, sejamos compassivos e não pareçamos críticos. Além disso, essa atitude às vezes pode ser necessária para preservar nossos relacionamentos com esses entes queridos. Contudo, a verdadeira compaixão não aprova o pecado nem sugere qualquer indício de concordância com o pecado. Nunca é compassivo aprovar, ser discretamente tolerantes ou celebrar os pecados que são os motivos da condenação eterna para aqueles que se recusam a se arrepender. Na verdade, não comparecer a tal cerimônia é um ato de amor muito maior. Isso mostra ao casal que de fato amamos a Deus acima de tudo e estamos dispostos a mostrá-lo quando os outros exigem para que cedamos. O primeiro e maior mandamento é amar a Deus de todo o coração, alma, entendimento e força (Mateus 22:34-38). O amor correto ao próximo é essencial (Mateus 22:39-40), mas flui do amor correto de Deus, e o amor correto a Deus significa ódio ao pecado e ódio aos atos que aprovam o pecado. Participar, celebrar ou demonstrar uma discreta tolerância ao pecado por causa de um relacionamento é amar esse relacionamento mais do que amar a Deus. Mostra aos outros que Deus não é tão amável e glorioso a ponto de ser estimado acima de tudo. Participar de uma cerimônia de “casamento” LGBTQ afasta o casal de Deus, o único que pode nos satisfazer plenamente e, em consequência, é um ato de ódio contra esse casal. Isso dá ao casal mais razões para justificar sua recusa em amá-lo acima de tudo e se afastarem de seus pecados. Isso permite que continuem avançando no caminho que conduz ao inferno. Os cristãos devem amar os pecadores a ponto de evitar fazer isso. Os cristãos devem amar os pecadores o suficiente até arriscarem serem rejeitados ao invés de fazerem qualquer coisa que os encoraje a permanecer afastados de Deus e sem esperança por toda a eternidade.
Além do mais, a recusa de um cristão em comparecer a um casamento LGBTQ não significa o fim da relação com o casal. Os cristãos não são chamados a evitar pecadores impenitentes nem proibidos de mostrar seu amor a eles de outras maneiras. Jesus não fez tais coisas. Ele ainda falava com os fariseus, embora eles o rejeitassem com frequência. Há inúmeras maneiras pelas quais podemos nos envolver na vida de pecadores impenitentes, bem como buscar compartilhar o evangelho com eles. Uma festa de aniversário, por exemplo, não celebra uma união pecaminosa, mas expressa gratidão pelo celebrante, então não é errado participar de um aniversário de alguém que está vivendo um estilo de vida LGBTQ. Comemorações, como as festas de formatura ou de aposentadoria, que indicam conquistas importantes, não são celebrações formais de uniões pecaminosas. Os cristãos podem jantar com pecadores impenitentes. De fato, como cristãos, devemos fazer tudo o que pudermos para demonstrar amor e bondade aos pecadores impenitentes, desde que isso não constitua aprovação ou aparência de aprovação ao pecado. O apóstolo Paulo também ensinou que os cristãos na igreja não devem cortar relações com os “impuros deste mundo” (1 Coríntios 5:10). Em vez disso, Paulo expressou: “Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns” (1 Coríntios 9:22). Por que Paulo fez isso? “Tudo faço por causa do evangelho, com o fim de me tornar cooperador com ele.” No entanto, Paulo não estava disposto a ceder ou compartilhar com eles as obras das trevas, como afirmou aos Efésios: “E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as” (Efésios 5:11). Esse mandamento exigirá que os cristãos digam “não” a certos convites para eventos e associações que celebram, defendem ou aprovam o pecado. Muitos cristãos seguem estes princípios, e nos dão nobres exemplos de fidelidade a seguir. Confeiteiros, floristas e outros cristãos que se recusaram a usar suas habilidades para celebrar cerimônias de “casamento” LGBTQ perderam seus meios de subsistência e foram levados aos tribunais. Sofreram ameaças de morte e foram chamados de maus simplesmente por buscarem ser fiéis a Cristo. Traímos a esses irmãos e também ao Deus que eles servem quando dizemos que às vezes é aceitável, e até certo, participar de um “casamento” LGBTQ.
Os cristãos do primeiro século enfrentaram imensa pressão para participar de cerimônias pagãs. Eram realizadas em quase todos os eventos públicos, então os cristãos eram com frequência considerados antissociais por se recusarem a comparecer. Além disso, as associações comerciais participavam dessas cerimônias, de modo que os cristãos corriam o risco de perder seus empregos. Não bastava que dissessem aos colegas de trabalho que não aprovavam as cerimônias e depois comparecer mesmo assim. Eles tiveram que se abster inteiramente por causa do que sua presença conotava: a aprovação da idolatria e da adoração demoníaca (1 Coríntios 10:1-22). Em nossos dias, enfrentamos uma situação semelhante com a participação em casamentos LGBTQ. O simples fato de comparecer significa participar de uma cerimônia que distorce o que é o casamento e sobre a aprovação de Deus a isso. Na melhor das hipóteses, a discordância verbal com o ato, mas a participação na cerimônia acaba por enviar uma mensagem confusa de que Deus aprova e desaprova o casamento. Não é um ato de compaixão. É o encorajamento de uma mentira, que é o oposto da verdadeira compaixão. Quando nos recusamos a encorajar tal mentira, seremos injuriados, odiados e chamados de críticos. Sempre foi assim. João Batista se recusou a aceitar um casamento ilícito, e foi decapitado por isso (Marcos 6:14-29). Podemos não perder a vida, porém certamente seremos odiados por não comparecermos a um “casamento” LGBTQ. Mas Jesus nos disse que o mundo nos odiaria por nossa fidelidade a Ele (Mateus 10:22; Lucas 21:17; João 15:19; 17:14). É vital que exerçamos um bom discernimento, pois seremos tentados a pensar que a coisa mais amorosa a fazer seria ceder às exigências daqueles que querem definir a verdadeira resposta amorosa como a aprovação silenciosa ou celebração de seu pecado. Devemos pensar com cuidado sobre essas coisas, como o Senhor nos exorta (Efésios 5:10).
Os cristãos que insistem que não devemos comparecer a uma cerimônia de “casamento” LGBTQ não são o irmão mais velho da parábola do filho pródigo, aquele que não deseja o arrependimento dos pecadores e que se recusa a celebrar quando os pecadores se arrependem. Os cristãos devem imitar o pai na parábola, que permanece sempre disposto a receber um pecador que se desvia de seus caminhos, mas não vai com ele para aquele país distante. Participar de um casamento LGBTQ e comprar um presente são atos que, de alguma forma, comunicam aos outros participantes a aprovação da união.
Os cristãos devem ser as pessoas mais gentis e compassivas com as quais os homossexuais e aqueles que se identificam como pessoas transgênero interagem. A verdadeira bondade e a verdadeira fidelidade a nosso Senhor Jesus Cristo, no entanto, não nos permitem celebrar um compromisso com um pecado grave. Um cristão fiel não pode comparecer e aprovar uma celebração que zomba de uma instituição ordenada por Deus para um homem e uma mulher. Ao comunicar nossa rejeição a um convite de casamento, devemos fazê-lo com delicadeza, mas também com firmeza. A pessoa pode tomar isso como um sinal de ódio e tentar cortar a relação, porém se isso acontecer, a culpa não é nossa. Podemos expressar a eles nossa vontade de nos envolvermos em suas vidas de muitas maneiras, entretanto, não podemos permitir que as pressões de nossa cultura ou as pressões de nossos amigos e entes queridos nos levem a participar daquilo que Deus proíbe. A escolha diante de nós não é compaixão versus condenação. A escolha é compaixão versus transigência. Em meio a uma cultura em constante mudança, o verdadeiro amor e compaixão por nossos amigos e entes queridos significa permanecer firme na verdade imutável da Palavra de Deus. Ceder em nome da compaixão é precisamente a maneira como o liberalismo muitas vezes se infiltrou na igreja ao longo da história. Mas a compaixão que está fundamentada na verdade, demonstrada de forma consistente conforme a verdade e é transmitida através da verdade do evangelho de Jesus Cristo, quem é o caminho, a verdade e a vida, leva, pela graça de Deus, à salvação dos eleitos de Deus de toda tribo, língua e nação para a glória de Deus, e para a glória de Deus somente.