O mistério da informação e a inteligência

Quem codificou as informações dos DNAs e RNAs?

Disse também Deus: haja… e assim se fez.” (Gênesis 1.9)

 

Desde 1953, quando se elucidou a estrutura tridimensional da molécula de DNA, seguido dos esforços para entender como funcionava o código genético, uma questão tem permanecido sem qualquer resposta: a informação presente nos sistemas biológicos veio de onde? Para alguns pode parecer uma questão sem importância, uma tecnicalidade restrita a alguns nichos obscuros, localizados em laboratórios esquecidos, por pesquisadores que não têm o que pensar ou fazer. E, no entanto, essa questão tem se revelado um enigma de primeira grandeza, com implicações que vão muito além da biologia. Por exemplo, o meio pelo qual a informação é armazenada nas células têm revelado incríveis insights para tecnologia, sua mera existência levanta sérias questões na filosofia e, por fim, sua origem remete perturbadoramente à teologia. Não, não é uma questão sem importância. Se há algo que mostra indubitavelmente que algo existe além deste universo material, é a existência prévia da informação nas células.

A estrutura do DNA, uma longa cadeia molecular em forma de dupla espiral, é constituída por nucleotídeos que se unem em uma ordem muito específica. Cada nucleotídeo é formado por um açúcar do tipo pentose, um grupo fosfato e uma base nitrogenada (adenina ou timina ou citosina ou guanina. No RNA, a timina é substituída pela uracila). As bases nitrogenadas são usadas na codificação da informação genética, e permitem armazenar informações à semelhança de um sistema digital. Essas sequências não são aleatórias, e apresentam um padrão matemático que é muitíssimo semelhante à codificação digital de informações. Se em computadores a informação é codificada em base de dois caracteres em uma linguagem binária, o código de DNA é mais complexo e utiliza uma sofisticada base de quatro bases (A, T, C, G). E não para por aí, a armazenagem de informação vai muito além do complexo sequenciamento das bases de DNA, também inclui estruturas tridimensionais de proteínas, enzimas e outras biomoléculas que armazenam informações na própria conformação espacial que exibem. Além disso, há sistemas de redundância e checagem de informação e, para evitar qualquer falha fatal no sistema, há bilhões de cópias de segurança de toda informação armazenada (cada célula é também um tipo de backup). Uma beleza e sofisticação de tal ordem que mesmo os supercomputadores com hardware de ponta, dotados de sistemas operacionais avançadíssimos, sequer se aproximam da maravilha das estruturas e sistemas de informação contidos em uma simples célula. Nas palavras de Bill Gates, alguém que reconhecidamente entende de sistemas operacionais de computadores, “o DNA é como um programa de computador, mas muito, muito mais avançado do que qualquer software que já criamos1.

Mas o que foi descrito acima não é a informação, e sim os meios pelos quais a informação é armazenada, processada e transmitida para ser utilizada no gerenciamento e manutenção de todo um vasto maquinário biológico, que se estende da menor célula ao maior órgão, com o objetivo de manter um ser vivo e funcional. Em outras palavras, é apenas o hardware, o maquinário celular que lê, interpreta e executa os comandos existentes no DNA. A informação, o que nos interessa, está na categoria do software, a parte lógica e intangível que controla e coordena todas as operações do hardware biológico, e inclui os dados que foram embarcados e que são necessários para controlar todo o sistema. Não faz parte do hardware, é algo além. A informação sempre precisará de um meio físico para sua armazenagem, mas ela mesma é imaterial. Uma ilustração simples deste princípio temos em um pen-drive, o qual com a memória vazia ou completa, terá o mesmo peso. Se em uma placa estiver escrito a frase “cuidado, pista escorregadia”, a informação não é a placa, nem a tinta usada para pintar o aviso, nem tampouco os caracteres usados para formar a frase ou mesmo o arranjo específico entre os caracteres. A informação para ser armazenada ou transmitida necessita de todos esses meios, mas está além deles. Transmissão de informação pressupõe a existência de um transmissor e de um receptor, no qual ambos conhecem os códigos e símbolos que permitem que os dados sejam corretamente interpretados, que por sua vez pressupõe a existência de uma inteligência que a codificou. Se alguém ler a placa saberá imediatamente duas coisas: 1) que a pista está escorregadia e, portanto, apresentará algum perigo e, 2) que alguém inteligente, que conhece as condições da pista, que entende a simbologia e o arranjo do idioma que o leitor domina, escreveu o aviso. A informação que estava na mente daquele que escreveu a placa, agora está na mente de quem a leu. Teve origem em um ser inteligente que a armazenou em uma placa e posteriormente transmitida para outro ser inteligente. Usou de um meio físico, mas não é físico, transcende a matéria. E com isso voltamos à pergunta: qual a origem da informação contida no DNA?

Alguns imaginam que a informação surgiu de forma aleatória em proto-sequências de RNA que se replicaram e evoluíram com o tempo para algo mais sofisticado como o DNA. Parece uma ideia que faz sentido, mas há um grave dilema com essa teoria. A molécula de DNA contém as informações necessárias para a construção das proteínas, no entanto para haver uma replicação ou cópia de uma molécula de DNA é necessário que haja primeiro proteínas que permitam a cópia das informações. Se o DNA precisa de proteínas para recuperar ou copiar as informações armazenadas, e estas por sua vez só podem ser construídas a partir de uma DNA pré-programado para este fim, então a origem da informação primordial que deu origem a ambas as estruturas não pode ter se originado de nenhuma delas. Sejamos muito claros nesse ponto: cientificamente, sabemos que há somente uma origem conhecida para a informação: a inteligência. Se há informação complexa, codificada, funcional e específica nas bioestruturas que constituem os seres vivos é porque inequivocamente um Ser Inteligente codificou, programou e inseriu essas instruções em um hardware perfeitamente projetado para tal. Aqui não podemos nos enganar, a característica mais fundamental de qualquer software reside no fato que este foi projetado, programado com dados, para servir a um propósito, atingir certos objetivos e executar determinadas tarefas. A palavra-chave é “projetado”. Propósito, objetivos e execução demandam intenção, projeto e inteligência. No entanto, a matéria não é dotada de intenção, vontade e propósito. A matéria não projeta, não codifica, não ambiciona, nem acidentalmente, nem aleatoriamente. Ainda que alguns biólogos evolucionistas atribuam a origem da informação à processos cegos, até hoje nenhum modelo de fato comprovou essa hipótese, pois não há lugar para o acaso no que diz respeito à informação. E se não há possibilidade de acaso, então o que resta é intencionalidade, que por sua vez implica indubitavelmente em inteligência. A presença de informação no DNA aponta para uma causa inteligente, para um Programador, detentor dos dados originais. Permanece então a pergunta que perturba os naturalistas: quem codificou as informações e as embutiu em bioestruturas como DNA e RNA? Tempo, acaso, evolução cega, desordem, sequências aleatórias, não criam informações complexas e especificadas, geram apenas ruído. Retirada todas as impossibilidades, a única resposta lógica e coerente que resta é o próprio Deus.

As Escrituras registram que o primeiro e poderoso ato criador do Senhor Deus foi precedido da frase “Disse Deus: haja luz; e houve luz” (Gênesis 1.3). À semelhança de um algoritmo, o que temos aqui é uma ordem, com propósito e objetivo claros, seguida da execução. No Evangelho de João é-nos informado que a execução da ordem coube ao Verbo de Deus, pois sem Ele nada do que foi feito se fez (João 1.1-3), a saber o próprio Senhor Jesus. Quando Gênesis 1.3 é interpretado à luz de João 1.1-3, o que temos é Deus Pai comunicando os termos de uma ação ao Verbo de Deus, que trará à existência o que foi informado. Em todas as etapas da criação, esse processo se repete “Ele disse e se fez”. As coisas criadas, desde a intangível luz até às gigantescas estrelas, vieram a existir de uma ordem dada intencionalmente pelo próprio Deus e executadas com assombroso poder pelo Verbo Eterno. Céus e terra foram criados, plantas, peixes, insetos, animais, por fim o ser humano, com inteligência e propósito. Em todos os seres vivos, da mais simples ameba ao maior cetáceo, foram embarcados milhares de zetabytes de informação, com sofisticada codificação, necessárias para o funcionamento dos corpos.

É impossível não atrelar a origem da informação aos atributos de Deus, uma vez que Deus é fundamentalmente amor (1 João 4.8). Para C.S. Lewis essa definição joanina tem uma poderosa implicação: “essas palavras só podem significar alguma coisa se Deus contiver pelo menos duas pessoas2. Amor implica necessariamente em comunhão, a qual está fundamentada em comunicação verdadeira, que por sua vez necessita de uma troca inteligente e inequívoca de informações entre pelo menos duas pessoas. Aquele que em sua natureza fundamental é Amor, que É de eternidade em eternidade em perfeita comunhão em sua natureza Triúna, é também a fonte primordial de informação.

A origem da informação presente nos sistemas biológicos permanece um mistério não tanto pelas dificuldades científicas em apontar as possíveis causas, mas sim pela recusa dos naturalistas em se dobrar às evidências. Como a única origem conhecida da informação é a inteligência, e nunca a matéria bruta em evolução, a única alternativa que sobra é a própria Inteligência. Gostemos ou não, o fato é que a hipótese de um Deus Criador de todas as coisas, imensurável em Inteligência, Sabedoria e Poder, permanece como a única alternativa que preenche todos os requisitos para o mistério da origem da informação. Como afirma as Escrituras: Ele disse haja, e assim se fez!

 

 

(1) Bill Gates. The Road Ahead. Viking Edit, NY, 1995, pag. 188.

(2) C.S. Lewis. Cristianismo Puro e Simples. Martins Fontes Edit, SP. 2005, pag. 60

 

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Autor: KELSON MOTA. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Revisão e Edição por Vinicius Lima.