Parceria entre igrejas para plantação de novas igrejas

Capítulo 6 da série Plantando igrejas saudáveis

Embora grande parte da conversa em torno da cooperação no Novo Testamento ocorra em linguagem descritiva, a terceira epístola de João eleva a cooperação ao nível do imperativo: “devemos acolher esses irmãos, para nos tornarmos cooperadores da verdade.” (3 João 8, grifo do autor).

A convicção de que igrejas independentes deveriam trabalhar de forma interdependente umas com as outras para plantar novas igrejas levou à formação da Associação de Igrejas Batistas Irlandesas. Em 1895, 27 igrejas batistas irlandesas formalizaram-se em uma associação depois de se aliarem a Spurgeon e romperem com a União Batista em meio à Controvérsia do Declínio (Downgrade Controversy). Agora, 125 anos depois, essa Associação cresceu em mais de 100 igrejas por causa da cooperação e compartilhamento de recursos para estabelecer novas frentes.

Às vezes, a cooperação pode ser difícil entre irmãos. Cresci com três irmãos e nenhuma irmã. Nós brigávamos o tempo todo. Minha pobre mãe vivia basicamente em um dormitório masculino cheio de aspirantes à MMA. Não posso deixar de me perguntar se a passagem favorita de minha mãe foi uma adaptação do Salmo 133, “Como é bom e suave quando os irmãos Akin vivem em comunhão”. Agora, porém, sou incrivelmente próxima dos meus irmãos e nos comunicamos quase todos os dias. Todos eles estão envolvidos no ministério do evangelho. Embora nossa relação tenha sido marcada pela competitividade, hoje fazemos tudo o que podemos para garantir que um ao outro floresça.

Se isso é verdade para os irmãos biológicos, quanto mais deveria ser verdade para aqueles que “não estão ligados apenas por laços de sangue, mas são irmãos segundo o Espírito e em Deus?” [1]

A cooperação é construída sobre uma base teológica. Pastores, somos irmãos! Essa verdade teológica aparece em basicamente todas as epístolas do Novo Testamento. E parte do que o Novo Testamento nos chama é a cooperação na missão que Deus deu à sua igreja. Embora as igrejas sejam independentes e autônomas, elas também são interdependentes por causa daqueles que não conhecem o Senhor. Isso é realizado principalmente através do início e fortalecimento de igrejas.

O Novo Testamento destaca pelo menos duas razões para a cooperação: 1) podemos fazer melhor juntos; e 2) podemos fazer mais juntos.

1. PODEMOS FAZER MELHOR JUNTOS

No Novo Testamento, as igrejas se unem para influência e ajuda mútuas.

Por exemplo, em Atos 11 chega à igreja em Jerusalém um relato de que um bom número de gentios em Antioquia foram convertidos, e eles enviam um de seus membros chamado Barnabé para ajudar a igreja em Antioquia. Quando Barnabé chega, ele é encorajado: “Tendo ele chegado e, vendo a graça de Deus, alegrou-se e exortava a todos a que, com firmeza de coração, permanecessem no Senhor.” (Atos 11.23).

Curiosamente, Jerusalém não envia um apóstolo, mas um ajudante; Jerusalém não está agindo como uma autoridade, mas como um parceiro. Barnabé fica feliz em ver a graça de Deus exibida através do florescimento de outras igrejas. Por isso, exorta-os a permanecerem fiéis com firme propósito. Esse é o tipo de aperfeiçoamento que deve acontecer por meio de nossas parcerias.

As igrejas do Novo Testamento também exercem responsabilidade doutrinária umas com as outras. Considere Atos 15. Alguns usam este capítulo para impulsionar a cooperação hierárquica, mas dê um passo para trás e observe que há na verdade um padrão de parceria mútua. Jerusalém não convoca o encontro. Antioquia toma a iniciativa enviando Paulo e Barnabé para Jerusalém. Lucas registra,

Paulo e Barnabé e alguns dos outros foram designados para subir a Jerusalém para falarem com os apóstolos e presbíteros sobre a questão. Quando chegaram a Jerusalém, foram recebidos pela igreja, pelos apóstolos e pelos presbíteros, e declararam tudo o que Deus havia feito com eles. (Atos 15.2b, 4)

A igreja em Antioquia havia sido agitada por ensinamentos problemáticos que ameaçavam o evangelho. Para obter maior clareza, eles procuraram conselhos de outra igreja. Por meio da cooperação, ambas as igrejas são aperfeiçoadas pelo esclarecimento da doutrina e da prática.

O Novo Testamento também registra parcerias para ajuda financeira em lugares como 1 Coríntios 16 e 2 Coríntios 8–9. Paulo elogia as igrejas da Macedônia por doarem generosamente à igreja em Jerusalém. Curiosamente, essas igrejas ajudam a igreja original — a primeira igreja plantada. As igrejas ajudam-se umas às outras porque juntos somos melhores.

Como isso pode ser em nossos dias? Pode ser algo como The Pillar Network: parceria e aperfeiçoamento, acolhendo outras igrejas em questões de confissões, pactos, estatutos e regimentos, filosofia de ministério, ajuda e apoio financeiro para o início e fortalecimento de igrejas. Por exemplo, a Pillar muitas vezes ajuda tanto plantações quanto revitalizações à medida que formam novos pactos, documentações, políticas de pessoal, status de organizações sem fins lucrativos, sites, ajuda na folha de pagamento e muito mais. Nosso objetivo é modelar a colaboração que encontramos no Novo Testamento.

2. PODEMOS FAZER MAIS JUNTOS

Paulo e outros procuraram obedecer à Grande Comissão plantando e fortalecendo igrejas em todo o mundo. Devemos seguir esse exemplo.

Vemos isso em Atos 13–14, quando Paulo e Barnabé saem para proclamar a Palavra (Atos 13.15–49), pregar a justificação pela fé (Atos 13.39), estabelecer igrejas (Atos 14.23) e nomear presbíteros (Atos 14.23). Em Atos 16, a igreja em Listra libera um membro fiel chamado Timóteo, que é “bem falado pelos irmãos” (Atos 16.2). Eles fazem isso para que ele possa se juntar a Paulo, um homem comissionado por Antioquia (Atos 13–14), e uma parceria se forma para iniciar e fortalecer igrejas.

Da mesma forma, Pillar, como tantas outras redes de igrejas, regularmente testemunham a bênção da cooperação. Recentemente, uma igreja da Pillar na Carolina do Norte enviou um jovem que eles haviam treinado para uma igreja da Pillar na Carolina do Sul. Da mesma forma, Pillar apenas ajudou um plantador e o grupo de igrejas cooperando para ajudá-lo a estabelecer sua plantação de igreja. Ao longo de seis meses, esse plantador pregou em um punhado de outras igrejas Pillar naquela região. O resultado? Todas as seis igrejas enviaram pessoas e dinheiro para ajudar a estabelecer a nova igreja. Esse tipo de história acontece repetidamente à medida que as igrejas enviam líderes para fazer de tudo, desde líderes de música até pastores.

Esse tipo de trabalho de parceria também é consistente com o que vemos na Epístola de Paulo aos Romanos. Embora essa carta seja vista, com razão, como uma obra-prima teológica, Paulo enfatiza que está escrevendo com o objetivo de formar uma parceria na Grande Comissão. Paulo escreve em Romanos 15.24: “penso em fazê-lo quando em viagem para a Espanha, pois espero que, de passagem, estarei convosco e que para lá seja por vós encaminhado…” Paulo via a parceria com a igreja romana como estratégica para o plantio contínuo de igrejas. Na verdade, alguns chegam a argumentar que Romanos é uma grande carta de apoio missionário.

CONCLUSÃO

É verdade que podemos fazer muito mais juntos do que separados, mas devemos ser intencionais em nossos esforços para nos associarmos. Quem pode saber o que o Senhor fará? Que imenso privilégio servir ao Rei juntos como irmãos e irmãs. Que esta unidade para iniciar e fortalecer as igrejas leve a um contínuo fruto do evangelho, “como de fato no mundo inteiro está dando fruto e crescendo” (Cl 1.6b).

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[1] Aristides (The Apology of Aristides, translated by Rendel Harris [London: Cambridge, 1893].


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Por: Nathan Knight. ©9Marks. Traduzido com permissão. Fonte: You Can’t Plant a Church If You Don’t Know What a Church Is. Edição e revisão por Vinicius Lima.