Pastor, você está em adultério?

Há esperança quando encaramos a verdade face a face

Nos últimos vinte anos, milhares de homens de toda a América que lutam contra o pecado sexual vieram ao nosso workshop intensivo de aconselhamento. Mais da metade eram pastores e missionários.

Gostaria que nossa experiência fosse única.

Há vários anos, um professor do seminário me disse: “Não perguntamos mais aos nossos alunos ingressantes se eles estão lutando com pornografia; assumimos que todos os alunos estão lutando. A pergunta que fazemos é: ‘Qual a seriedade da luta?'”

Uma agência de missões me disse que 80% de seus candidatos voluntariamente confessaram uma luta com a pornografia, resultando em escassez de pessoal no campo.

A pornografia é apenas um nível de pecado – uma forma de sexo visual, ou adultério no coração. O adultério físico inclui um caso, múltiplos casos, prostituição e homossexualidade. Outros comportamentos sexuais dentro do ministério são tão hediondos, são “obras infrutíferas das trevas… é vergonhoso até falar das coisas que fazem em segredo” (Efésios 5.11-12). Para enfrentar a crise, devemos entender corretamente a natureza do problema, pedir a Deus que examine nossos próprios corações e nos comprometer a restaurar cada um pego no pecado sexual “em espírito de mansidão” (Gálatas 6.1).

Refleti longa e profundamente sobre duas questões: Por que as pessoas retornam repetidamente ao pecado sexual e por que as pessoas se afastam do pecado sexual?

Mais profundo que uma doença

Primeiro, eu diria que, depois de duas décadas ajudando a libertar aqueles mantidos cativos pelo pecado sexual, estou convencido de que o conceito de dependência sexual como uma doença não identifica totalmente a gravidade do problema. Se quisermos levar a sério o problema na igreja, não podemos nos dar ao luxo de sermos enganados em nosso pensamento. O verdadeiro problema está escondido profundamente. O mínimo de luxúria é um indício de grande corrupção no coração humano. É uma escravidão que não pode ser quebrada através de qualquer forma de gestão de comportamento, programa de recuperação ou aconselhamento. O interior é tão devastado pelo pecado que não podemos fazer nada para mudá-lo.

“O pecado sexual secreto é um veneno invasivo para a alma, a mente e o corpo.”

Quando alguém é mantido nas garras do pecado sexual, não há esperança de auto-reforma ou esforço próprio para aqueles que vivem de acordo com as “paixões da [sua] carne, realizando os desejos do corpo e da mente” (Efésios 2.3). Falando francamente, aqueles que vivem em pecado sexual habitual estão “mortos em [suas] transgressões e pecados” (Efésios 2.1). Morto – como uma perda de vida espiritual. Morto para encontrar satisfação com Deus. Morto para viver para o propósito de Deus. A santidade está morta. A sabedoria está morta. A pureza está morta. O amor está morto. Como Davi, o pecador sexual pecou “contra o Senhor” (2 Samuel 12.13), e ao fazê-lo “desprezou totalmente o Senhor” (2 Samuel 12.14). O fato horrível é que eles são “por natureza filhos da ira” (Efésios 2.3).

Acredito que olhar este problema como uma doença minimiza a seriedade do pecado e a necessidade da obra de Deus quando incentiva o viciado em sexo a aceitar a teoria de que a recuperação só será bem-sucedida quando ele começar a acreditar que é uma boa pessoa em sua essência e que só tem uma doença.

Os diagnósticos sempre determinam o método de tratamento. Então, as pessoas “boas” só precisam levar o problema a sério, seguir os passos da recuperação e permanecer em recuperação. Pelo contrário. Ao lidar com o pecado sexual, devemos nos apegar ao ensinamento de Jesus Cristo: “De dentro, do coração do homem, vêm os maus pensamentos, a imoralidade sexual… adultério” (Marcos 7.21).

Por natureza e por escolha nos satisfazemos, nos rebelamos contra Deus e não temos uma compreensão precisa da profundidade de nosso problema. O coração é enganoso e, sem mudanças sobrenaturais, vai piorar. A única esperança é “a graça de Deus… treinando-nos a renunciar à impiedade e às paixões mundanas, e a viver uma vida autocontrolada, reta e piedosa na era atual” (Tito 2.11-12).

Observe atentamente e você verá que os pecadores sexuais estão decepcionados com o prazer em sua busca pelo que é essencialmente uma falsa intimidade. Como disse um pastor que vivia em dois relacionamentos adúlteros: “Essa era a insanidade: Assim que terminava o ato sexual, eu imediatamente começava a chorar, arrasado pelo que havia feito, mas voltava sempre ao mesmo relacionamento pecaminoso”.

Embora sejamos pecadores, fomos criados com desejos de intimidade e prazer. Portanto, “o caminho para combater a luxúria é alimentar a fé com a preciosa e magnífica promessa de que os puros de coração verão, face a face, o Deus de glória que tudo satisfaz” (Future Grace, 338).

No entanto, o pecador sexual, não encontrando prazer na intimidade real com Deus, em última análise, também não encontra prazer na falsa intimidade. A intimidade real tem dor e prazer; a falsa intimidade oferece a ilusão de que não há dor, mas no final não há prazer real! Uma parte de trocar “a verdade sobre Deus por uma mentira” (Romanos 1.25) é que você acaba com prazer agora, mas terá dor para sempre!

A espiral descendente do engano

O engano é mais profundo do que pensamos. O engano é inerente ao problema do pecado sexual em dois níveis.

Primeiro, há a vida dupla com ligações secretas, horas intermináveis escondidas em um computador ou o uso indevido do tempo não contabilizado fora do trabalho ou de casa. O comportamento é cuidadosamente escondido do que se pode ver, mas há mentiras, depois mais mentiras para encobrir as mentiras. Encare os fatos: o motivo do sigilo é continuar pecando. Mas o segredo do pecado sexual também indica o compromisso de uma pessoa em fugir da luz. “E as pessoas amavam mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más” (João 3.19).

“Em toda a imundície do pecado sexual, a exposição está nos mostrando a perfeita paciência de Cristo.”

O segundo nível de engano é o autoengano. Se o coração é enganoso, isso afeta a maneira como queremos ver as coisas secretas em nossas vidas, particularmente os pecados sexuais secretos. O missionário pode justificar ir a praias de nudismo; um pastor vê o valor de um caso porque o faz feliz; ir a uma prostituta na segunda-feira é apenas uma recompensa pelo trabalho árduo no domingo.

Quando você diz: “Vou manter essa parte da minha vida em segredo”, o que você está escondendo?

Escondido da vista está um comportamento escandaloso que certamente horrorizaria qualquer congregação ou cônjuge. É também uma forma calculada de preservar a imagem pública que, se revelada, traria ruína. Também pode ser um relacionamento que você acredita ser tão gratificante que você não consegue imaginar terminá-lo.

Todos pensam que estão escondendo seus atos de pecado: luxúria, trapaça, pornografia e adultério. Tal pensamento torna mais fácil justificar o segredo para o bem maior do casamento, da família, do ministério, do emprego e do futuro. Tal racionalização é universal a todo pecado sexual secreto. “Afinal, muitas pessoas ficariam magoadas se soubessem o que eu estava fazendo.” Como disse um pastor, “eu estava em um caso de seis meses, ao mesmo tempo pregando e aconselhando contra o adultério, e dizendo a mim mesmo que Deus não se importava porque a igreja estava crescendo”.

Na realidade, não é apenas o comportamento que está escondido.

O pecado sexual secreto é um veneno invasivo para a alma, mente e corpo. É um veneno no fundo dos recônditos da alma que impede a pessoa de encontrar satisfação em Deus e uma intimidade significativa com os outros. Este é um veneno que vai matar não só nesta vida, mas também para a eternidade! “Pois você pode ter certeza disso, que todo aquele que é sexualmente imoral ou impuro… não tem herança no reino de Cristo e de Deus” (Efésios 5.5). O comportamento sexual que não se distingue do comportamento do mundo incrédulo pode indicar que a pessoa não é verdadeiramente um filho de Deus.

Se afastando do pecado

Por que as pessoas se afastam do pecado sexual?

Em milhares de casos que aconselhei, apenas cerca de 1% dos homens nos procurou voluntária e preventivamente. 99% dos homens foram pegos em seus pecados.

Ser pego no pecado sexual não muda o coração.

Não posso provar, mas acredito que Deus providencialmente, em algum momento, expõe o pecado sexual secreto de seus filhos.

Atordoa nossa imaginação finita que Deus deixe seus escolhidos mergulharem fundo no pecado sexual descarado, viver nele por muitos anos e ter tantas pessoas gravemente feridas. E não importa o quão difícil seja para os cônjuges e membros da igreja ver isso no momento, Deus está agindo quando o pecado de um pastor é exposto. A exposição é um ato soberano de Deus. Os caminhos de Deus não são os nossos caminhos (Isaías 55.8)! Em toda a imundície e rebelião contra Deus, que é uma grande parte do pecado sexual, a exposição está nos mostrando a perfeita paciência de Cristo.

Muitas vezes me perguntaram: “Como você pode continuar lidando com homens tão pecadores?” Há duas razões: Primeiro, eu vi repetidamente o poder de Deus para mudar o pecador mais sombrio. Em segundo lugar, a restauração de Deus é mais importante do que qualquer outra coisa. É mais importante do que a carreira ou o casamento. Deus cuida mais de você, de sua alma e de sua esposa do que de seus dons e chamados. Você é filho dele antes de ser pastor ou marido.

Convicção de pecado verdadeira

Depois que o pecado sexual secreto é exposto, podemos cometer o erro de focar nas ações e tentar eliminar o comportamento. Podemos estar inadvertidamente alimentando uma falsa convicção de pecado em vez de ajudar a pessoa a ter uma verdadeira convicção.

“A cruz não é um programa de recuperação. É um lugar para morrer.”

Uma falsa convicção de pecado é uma reação reflexa causada por uma autocomiseração, uma tristeza pelas consequências do pecado. A verdadeira convicção é uma tristeza permanente pela ofensa contra Deus e, embora não seja a resposta natural, demonstra que Deus começou uma boa obra que Ele completará (Filipenses 1.6). A verdadeira convicção é seguida pelo verdadeiro arrependimento. A falsa convicção é seguida pelo falso arrependimento que só vê as consequências do pecado sexual e a dor que ele causou aos outros. Muitas vezes, isso leva a uma mudança temporária de comportamento sem uma mudança de coração.

A mudança de coração é fundamental: “Pois tenhais certeza disso, que todo aquele que é sexualmente imoral ou impuro, ou que é avarento (isto é, idólatra), não tem herança no reino de Cristo e de Deus” (Efésios 5.5). Não há espaço para erro quando se trata de lidar com o pecado sexual. Há uma exigência de arrependimento ou morte (Lucas 13.3, 5). Portanto, deve haver transformação interior do coração, porque ele é “enganoso acima de todas as coisas e desesperadamente doente” (Jeremias 17.9).

Os cristãos devem tomar medidas severas para matar este pecado. Este é o perigo real: “Todo pensamento impuro seria adultério se pudesse” (John Owen). “Matem, pois, o que há de terreno em vós: a imoralidade sexual…” (Colossenses 3.5).

A cruz não é um programa de recuperação, um lugar para melhorar o que já existe de bom. É um lugar para morrer. Não se trata de desistir do pecado sexual, mas de abrir mão dos próprios direitos!

“Mas, graças a Deus, vocês que já foram escravos do pecado se tornaram obedientes de coração ao padrão de ensino ao qual estavam comprometidos e, tendo sido libertados do pecado, tornaram-se escravos da justiça” (Romanos 6.17-18). Como pecadores mortos, vivemos “nas paixões de nossa carne, realizando os desejos do corpo e da mente” (Efésios 2:3). Enganados, tolamente pensamos que podemos usar nossos corpos do jeito que quisermos quando estamos apaixonados, quando isso nos traz prazer, quando nos sentimos “completos” ou alimenta nosso bem-estar de espírito. O pecador sexual verdadeiramente arrependido começa a entender: “Você não é seu, pois foi comprado com um preço. Portanto, glorificai a Deus em vosso corpo” (1 Coríntios 6.19-20).

O verdadeiro arrependimento é uma mudança radical de dentro para fora. “O significado básico do arrependimento é experimentar uma mudança das percepções, disposições e propósitos da mente” (What Jesus Demands from the World, p. 41). O arrependimento não é apenas tornar-se sexualmente puro, mas uma mudança interior, “para andar de maneira digna do Senhor, plenamente agradável a Ele: frutificando em toda boa obra e crescendo no conhecimento de Deus” (Colossenses 1.10). A mudança interior leva à pureza sexual. O arrependimento acontece por dentro, onde a mudança do coração inclui o desenvolvimento de uma atitude arraigada em fugir da imoralidade sexual.

Não espere para ser pego

Há algum tempo, conheci um pastor que me disse que tinha dois ou três casos em cada uma das várias igrejas que pastoreava. Ele disse: “Minha reputação na minha denominação é pegar uma pequena igreja em dificuldades e vê-la crescer, apenas para novamente pegar outra pequena igreja e vê-la crescer. Eu fiz esse movimento três vezes, mas, na verdade, eu só estava me mudando para uma nova igreja antes de ser pego nesses assuntos.” Esse homem não vê motivos para expor seu pecado sexual ou deixar o ministério. Por que alguém deveria saber?

“Há esperança. Ela começa  quando encaramos a verdade face a face.”

Por que alguém deveria se afastar do pecado sexual antes de ser pego?

Primeiro, não se deixe enganar. “Quem pratica o pecado é do diabo… Ninguém nascido de Deus pratica o pecado, pois a semente de Deus permanece nele; e não pode continuar pecando, porque nasceu de Deus” (1 João 3.8-9). Embora não estejam completamente livres do pecado, o coração dos verdadeiros crentes foi transformado, e eles não podem viver em um padrão de pecado sexual contínuo.

Em segundo lugar, a exortação é para “confessar os vossos pecados uns aos outros e orar uns pelos outros, para que sejais curados” (Tiago 5.16).

Terceiro, o medo não é uma virtude. Sim, a exposição será cara, mas no momento você está morrendo por dentro. Você pode não ter vontade de morrer agora, mas você já está. Você está lentamente matando a si mesmo, seu cônjuge, sua família e sua congregação.

Quarto, se o pecado sexual secreto tem consequências graves, vale a pena lidar com isso antes que a devastação ocorra. Obtenha ajuda antes que seu histórico de navegação na Internet seja descoberto e compartilhado; antes que a prostituta na verdade seja alguém se disfarçando para te descobrir e obter provas inegáveis; obtenha ajuda antes de contrair uma DST (ou contaminar sua esposa com uma DST); ou antes que você seja exposto publicamente, humilhando a si mesmo, seu cônjuge, sua família e sua congregação.

Em quinto lugar, isso virá à tona. Deus nunca é ridicularizado. “Considerai, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas, para contigo, a bondade de Deus, se nela permaneceres…” (Romanos 11.22).

Sexto, ser pego quebra a confiança e a honestidade no casamento, envergonha seu cônjuge e torna a reconciliação mais difícil.

Sétimo, há esperança. Começa com o encarar a verdade. Nunca se trata apenas de uma luta com sua vida de pensamentos; como todo pecado sexual, ele é maligno. Se há um velho eu para se despojar, deve haver um novo eu para se revestir; esse é o evangelho (Efésios 4.20–24).

Ouça a melhor palavra

Cristo carrega a ira que virá por todo pecado sexual. Se você é um verdadeiro crente e a verdadeira mudança ocorreu, você é chamado a se despojar do velho e se revestir do novo. Matar o pecado sexual começa com a exposição; e termina com o fim de não ser mais escravizado (Romanos 6.6). A exposição é dolorosa, mas é melhor ouvir: “Muito bem, servo bom e fiel” (Mateus 25.21) do que ouvir: “Nunca te conheci; apartai-vos de mim, vós obreiros da iniquidade” (Mateus 7.23).

Se você é um pastor preso no pecado sexual, não importa quão bem você tenha tentado encobrir esses pecados com camadas e camadas de mentiras, eu imploro a você, saia da escuridão desses pecados. Entre na luz. Obtenha ajuda. Você nunca encontrará vida nas trevas.

Por: Harry Schaumburg. © Desiring God Foundation.Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: Sexual Sin in the Ministry | Revisor e Editor: Vinicius Lima.