Pensando além das 9Marcas para a plantação de igrejas

Um olhar de um plantador de igrejas que é um crítico do 9Marcas

Nota do editor da versão em inglês, Jonathan Leeman: No 9Marks, há muito tempo valorizamos aqueles com quem temos as coisas mais importantes em comum, mas que discordam de nós de forma construtiva (Pv 27.6). Este artigo de Ed Stetzer é um exemplo de como colocar esse apreço em prática. Esperamos que você se beneficie dele, assim como nós nos beneficiamos.

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Quando Jonathan Leeman me pediu para escrever um artigo para esta edição, ele enviou o título[1] acima dizendo: “Vamos lá, você não gosta do título?”

Veja bem, ele sabe (e Mark Dever também sabe) que eu amo a clareza do evangelho e a eclesiologia bíblica, mas me preocupo com a natureza antiprática que às vezes vemos na comunidade 9Marks.

Este artigo não está em meu lugar, mas no seu, a pedido deles, porque eles sabem que tenho muito em comum. De fato, todas as últimas igrejas que plantei usaram o livro A Display of God’s Glory (Uma demonstração da glória de Deus), de Dever, para descrever nossa política. Mas acho que há algumas questões a serem consideradas na plantação de igrejas. Por isso, criei nove coisas que os puristas do 9Marks devem saber, porque nove é um número sagrado!

1. A pregação não planta igrejas.

Sua pregação não é tão importante quanto você pensa, pelo menos na plantação de igrejas.

Agora, não fique com raiva do que falei ainda – tenha em mente que esta é uma conversa sobre plantação de igrejas. Quero deixar claro que pregar as Escrituras de forma exegética e teologicamente precisa é essencial, significativo e vital para a saúde de sua igreja, mas não é a primeira coisa que você faz. Você também deve construir relacionamentos, compartilhar o evangelho e iniciar grupos.

Você evangeliza uma igreja e depois começa a pregar para a igreja dos recém-evangelizados.

Sim, a pregação e o ensino são marcas de uma igreja bíblica, mas não é assim que se planta uma igreja. A pregação é uma parte de como você pastoreia uma igreja – mas primeiro você precisa plantá-la (por meio do evangelismo).

Agora, se você começar com um grupo sendo enviado, e este grupo já for uma igreja em funcionamento, isso deve ser levado em conta em relação à sua pregação – mas ainda assim você deverá ocupar-se primordialmente com o evangelismo. O evangelismo tem de ser um fator determinante se realmente se tratar de plantação de igrejas e não apenas de um novo ponto de pregação.

Muitos puristas do 9Marks amam mais a pregação do que o plantio (e, às vezes, mais do que as próprias pessoas), o que leva a um “plantio” que, em geral, tem mais a ver com o fato de as pessoas desejarem uma pregação melhor e mais reformada.

2. Ministério prático e pragmatismo não são a mesma coisa.

Nunca plante uma igreja em sua cabeça.

Para teóricos e teólogos, há o perigo de adotar metodologia e modos de plantação de igrejas sem entender sua cultura ou contexto específicos. Precisamos ter uma visão clara sobre quem são as pessoas para as quais Deus está nos chamando, o que significa que devemos conhecê-las e depois desenvolver medidas práticas para realmente plantar uma igreja entre elas. Essas medidas práticas podem ser tão simples quanto conhecer cada vizinho de sua rua, convidar pessoas para irem com você à igreja, participar de eventos comunitários e assim por diante. A plantação de igrejas não pode ficar no mundo das ideias, ela precisa dar o salto prático para as ruas.

E o que você ouviu em uma conferência ou no seminário nem sempre é o mesmo que é aplicado na prática e vivido quando você está plantando no centro da cidade ou na zona rural.

3. Você planta ao envolver os perdidos, não ao mergulhar em uma cultura de igreja.

Você não pode viver e amar como Jesus sem passar um tempo significativo com as pessoas que não o conhecem.

Jesus disse que veio para “buscar e salvar os perdidos” (Lucas 19.10), e somos chamados a nos juntar a ele em sua missão. Como plantador de igrejas, é surpreendente que seja difícil reservar e garantir tempo para passar com pessoas que precisam ouvir sobre Jesus, mas é. Pode ser fácil entrar no modo de ensinar aos outros uma metodologia fantástica para buscar os perdidos, mas dedicar pouco tempo a seguir esse modelo. Isso pode criar uma igreja de missionários intelectualmente bem equipados, mas completamente inexperientes. Como plantadores de igrejas, com as várias demandas de seu tempo, você deve proteger com afinco o tempo que passa com amigos, vizinhos e colegas de trabalho (se você for bi-vocacionado) que ainda não conhecem Jesus. Dar o exemplo e fazer isso junto com os membros de sua plantação de igrejas moldará sua cultura em torno da missão.

Para muitos puristas, eles mergulharam em uma igreja ou cultura religiosa. Você já notou como é fácil começarmos a dizer frases que soam espirituais perto de pessoas que não têm inclinação espiritual? Esse é um sinal da cultura da igreja, não da verdade bíblica, e de não conhecer e não se envolver com pessoas normais.

4. O engajamento cultural é crucial, mas não é natural para as pessoas mais dadas à teologia.

Você precisa ser teologicamente astuto e culturalmente engajado para plantar uma igreja de forma eficaz.

Às vezes, as pessoas que são mais hábeis no engajamento cultural tendem a ser menos inclinadas à teologia, mas isso nem sempre é uma correlação. Muitas vezes, aqueles que estudaram teologia por anos se deparam com a falta de conhecimento do contexto cultural, e sua pregação acaba por ser distante e díspar.

Plantar bem uma igreja envolve a análise da cultura na qual Deus soberanamente o colocou. Isso requer tempo, energia, esforço e intencionalidade. Devemos pregar Cristo e as Escrituras com uma compreensão fiel da teologia, mas também devemos nos comunicar na linguagem e no contexto cultural de nosso tempo. Acho irônico que aqueles que amam os puritanos às vezes traiam a prática puritana de “falar claramente”.

Você pode e deve estar engajado na cultura e ser teologicamente orientado em sua abordagem ao ministério.

5. Você deve conduzir sua igreja ao evangelismo, engajando-se no evangelismo COM ela.

É um mito que a pregação e o ensino sempre produzirão uma igreja evangelística. Isso geralmente não acontece.

Um bom ensino isolado raramente tem um efeito transformador, embora as pessoas me digam o tempo todo que esse é o plano delas. Os sermões de um pregador devem ser acompanhados pelas atividades de sua vida (1Tm 4.16; 2Tm 3.10). Observar como você participa ativamente do seu próprio evangelismo e do evangelismo deles, pastor, é a ilustração de que seus sermões precisam para criar uma nova cultura. O evangelismo precisa ser capturado e ensinado.

Na verdade, tive uma discussão com um purista do 9Marks (já mencionei que essa era a frase de Jonathan?) exatamente sobre isso. Ele estava frustrado por estar ensinando e pregando, discipulando e se aprofundando, mas o evangelismo não estava aumentando.

Ele concordou em fazer tudo o que eu sugerisse por alguns meses. Então, planejamos dias de divulgação, começamos uma nova série que era fácil para os cristãos trazerem convidados (e depois planejamos uma ênfase em trazer um amigo), planejamos a divulgação de toda a igreja na comunidade, organizamos uma estratégia de oração e muito mais.

O resultado final? Ele não fez nada que violasse seus pontos de vista puristas (esse era o nosso acordo), mas logo a igreja estava crescendo porque estava mobilizada e Deus estava abençoando.

6. Você pode aprender com pessoas que estão alcançando pessoas.

Costumo dizer às pessoas que, se quiserem tirar a má reputação de sua igreja, comecem a crescer. Os pastores que lideram igrejas que não estão crescendo encontrarão maneiras de explicar o crescimento de outras igrejas como ilegítimo.

Sim, há falsos convertidos. Sim, existem metodologias ruins. Não, não queremos ser dependentes do momento. Mas talvez você possa aprender mais perguntando: “O que posso aprender com alguém que está alcançando pessoas que eu não estou alcançando?”

7. Amar Jesus. 8. Pregar o evangelho. 9. Preocupar-se com a eclesiologia.

OK, presumi que todos nós concordaríamos com as três últimas. E queria que você soubesse que estou de acordo com você em muitas coisas.

Quando Mark e eu conversamos sobre isso um dia, eu lhe disse (espero que de uma forma agradável) que acreditava que ele estava criando uma geração inteira de pastores com mentalidade teológica, mas desinformados na prática, que são menos eficazes do que poderiam ser.

Ele respondeu algo como: eles estão lendo todos os livros práticos (e ele gentilmente disse que muitos deles eram meus). Entretanto, não estou convencido de que esse seja sempre o caso. (E, Mark, seus livros vendem muito mais do que os meus).

Mas, em sua resposta, encontrei minha esperança. Mark está presumindo que você está obtendo a prática de algum lugar. Minha preocupação é que os puristas do 9Marks não estão – e precisam estar.

Portanto, aprenda as melhores práticas, aprenda a envolver os perdidos, aprenda a liderar bem sua igreja para envolver sua comunidade, mas não faça isso se afastando do evangelho, das Escrituras e de uma compreensão bíblica da igreja.

Essa é a minha exortação a você… meus amigos, puristas do 9Marks!

 

 

[1] O título original deste artigo, numa tradução direta seria O que os puristas do 9Marks devem saber sobre a plantação de igrejas.


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Por: Ed Stetzer. ©9Marks. Traduzido com permissão. Fonte: What 9Marks Purists Should Know About Church Planting. Edição e revisão por Vinicius Lima.