Precisamos de pastores, não de empreendedores

O perfil do plantador de igrejas segundo a Bíblia

Imagine estar em um primeiro encontro com alguém que passou a noite inteira enfatizando um amor por Mario Brothers. Imagine ser servido por um chef que enfatiza a qualidade do molho de carne da marca da loja. Ou imagine andar com um piloto de helicóptero que enfatiza o quão novo ele é para voar.

A ênfase importa.

Quando se tratava de fazer discípulos e plantar igrejas, Jesus ou Paulo nunca enfatizaram o “ser empreendedor”. É verdade, eles acreditam que o inferno é real e que fazer discípulos e plantar igrejas é desesperadamente urgente. No entanto, isso nunca os levou a destacar a produtividade ou a criatividade dos plantadores de igrejas. Em vez disso, eles enfatizaram o caráter (1Tm 3.1–7, Tito 1.5–8), a convicção (1Tm 4.1–4, Tito 1.9) e a capacidade (1Tm 3.2) para os plantadores de igrejas. Eles sublinharam a necessidade de homens que ensinassem o evangelho fielmente e encarnassem essa mensagem em sua vida diária.

Eles enfatizaram o caráter, a capacidade e a convicção porque sabiam algumas coisas que tendemos a esquecer. Eles sabiam que o diabo rondava e era poderoso. Eles sabiam que o espírito estava disposto, mas a carne era fraca. E eles sabiam que o mundo era atraente.

Os primeiros plantadores de igrejas sabiam, como Jesus ensinou, que vários tipos de solos produzem pessoas que professam a fé em Cristo, mas não dão frutos. Apenas um tipo de solo produz crentes que resistirão (Marcos 4.1-20). O Senhor não perde nenhuma de suas ovelhas, mas a taxa de desgaste para aqueles que professam Cristo no mundo é alta. Por isso, os apóstolos enfatizavam o plantio de igrejas com homens resistentes, não homens com criatividade ou carisma que plantavam com palha.

CATIVEIRO EMPRESARIAL DA IGREJA

Martinho Lutero escreveu um livro em meio aos primeiros incêndios da Reforma intitulado O Cativeiro Babilônico da Igreja. Nele, ele critica a corrupção da Igreja Católica Romana. Gostaria de saber se alguém deveria escrever um livro intitulado “O Cativeiro Empresarial da Igreja”. O autor poderia expor a confiança das pessoas contemporâneas em suas capacidades empreendedoras para produzir resultados do reino.

Certa vez, participei da avaliação de possíveis plantadores em um ministério de plantação de igrejas, em que a maior parte do tempo era dedicada a avaliar a capacidade do possível plantador de começar algo do nada. Eles tinham que escrever seu chamado e visão, apresentá-lo e defendê-lo. Eles realizaram um exercício de “speed dating”, no qual foram feitas perguntas e eles foram avaliados de acordo com suas respostas. Esta mesma organização também pediu aos candidatos a plantadores que apresentassem seus trabalhos ao som da música do reality show de negócios Shark Tank.

A ênfase importa.

É difícil encontrar um livro, conferência ou site de plantação de igrejas onde a palavra “empreendedor” não surja rapidamente. Não é uma palavra ou conceito ameaçador em si. Às vezes é útil. Mas o uso frequente da palavra muitas vezes aponta para um objetivo de fazer com que as plantações da igreja cresçam o mais rápido possível em prol da segurança financeira e da multiplicação. Essas duas coisas se tornam as lentes avaliativas pelas quais os plantadores são avaliados.

Com certeza, todos nós devemos querer segurança financeira e multiplicação, mas ao enfatizar o fruto do ministério, você corre o risco de desenfatizar a raiz do ministério: um coração para Deus e seu povo.

Enfatizar a perspicácia de Wall Street e os valores do Vale do Silício no que procurar em um plantador nos distrai de prestar atenção às ênfases do Novo Testamento – quem é um homem.

IGREJA RESISTENTE

Pense na história dos três porquinhos. Os dois primeiros rapidamente constroem casas de palha e madeira e zombam do terceiro porco que constrói meticulosamente com tijolos. Eles se divertem, mas não por muito tempo, pois o lobo derruba suas casas e eles fogem para a casa de tijolos do porquinho diligente.

Precisamos de igrejas feitas de tijolos. Precisamos de plantadores que sejam avaliados com base no que Paulo enfatiza. Precisamos de igrejas robustas, lideradas por homens com uma coragem de aço e corações de compaixão. Precisamos de pastores, não de empreendedores.

O AMOR NUNCA FALHA

Há mais uma coisa que Jesus enfatizou que negligenciamos ao avaliar os plantadores de igrejas. Nossas avaliações não devem apenas enfatizar o caráter, a capacidade e a convicção. Nós devemos também enfatizar o amor de um plantador.

Na conclusão de seu curso intensivo de plantação de igrejas, Jesus perguntou três vezes ao seu plantador líder se ele o amava. Como Pedro respondeu positivamente a cada vez, nosso Senhor respondeu dizendo-lhe para alimentar e cuidar de suas ovelhas (João 21:15–19).

O amor a Cristo leva ao cuidado compassivo das ovelhas que ele comprou com seu próprio sangue. Esta foi a avaliação final de Jesus quando ele comissionou Pedro para que saísse e plantasse igrejas, um chamado pelo qual Pedro ficou evidentemente impressionado, pois ele comandou a dispersão mais tarde (1Pe 5.1-4).

O amor não é eficiente no sentido empresarial. Está disposto a chegar em último agora para chegar em primeiro no final. O amor é lento, é paciente. O amor é gentil – não insistente. O amor não insiste em seu próprio caminho – insiste no modo do Senhor de carregar cruzes, não coroas terrenas. O amor vê as pessoas pelas quais se está pregando e orando. O amor não procura multidões construídas rapidamente, mas um povo construído intencionalmente junto. Esse tipo de amor nunca falha — nunca (1 Coríntios 13.1-8).

É por esta razão que Paulo aconselha seu jovem discípulo Timóteo que nosso objetivo é o amor que emana de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera (1Tm 1.5). Nossa paixão por nos mudarmos para uma nova região para começar uma igreja não é fazer as coisas acontecerem o mais rápido possível – é amar. Amor a Cristo e amor às suas ovelhas compradas pelo sangue.

Portanto, plantador-pastor, busque o amor quando se propor a iniciar uma nova comunidade para Cristo. Ame o caráter de Cristo, ame as convicções de Cristo e rogue pela capacidade de anunciar Cristo nesse amor. Então ame a Cristo alimentando e cuidando de suas ovelhas. O que vier como resultado disso será suficiente. Porque esse tipo de amor nunca falha.

 


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Por: Nathan Knight. ©9Marks. Traduzido com permissão. Fonte: You Can’t Plant a Church If You Don’t Know What a Church Is. Edição e revisão por Vinicius Lima.