Um blog do Ministério Fiel
Calvinismo em cores
Como um batista carismático se tornou reformado
Um amigo calvinista uma vez me perguntou quais projetos de escrita em história eu estava trabalhando à época. Hesitei em responder, pois tinha certeza de que ele acharia meu foco histórico atual bastante estranho. Mas respondi (e de fato ele achou estranho).
Eu disse a ele que estava escrevendo uma variedade de ensaios sobre a teologia da cor — não a questão da raça, eu rapidamente deixei claro, mas cores reais. Àquela altura, eu tinha escrito ensaios sobre as cores branca, vermelha e rosa, e estava trabalhando duro na cor verde no corpus literário de Jonathan Edwards, que acreditava que o verde era a cor favorita de Deus. Meu amigo olhou para mim com algum espanto, e eu podia sentir em seu rosto que ele achava meus interesses bem estranhos.
Essa pequena troca me fez perceber que, para muitos, ser calvinista tinha a ver principalmente com questões soteriológicas e não com a glória de Deus na totalidade da vida.
Estudando no Espírito
Minha conversão ocorreu em meados da década de 1970 em um mundo evangélico norte-americano convulsionado pelo que veio a ser chamado de Movimento Carismático. Eu conheci o movimento no início da minha vida cristã, e ele me deu um interesse permanente na pessoa e na obra do Espírito Santo. Não deveria ser surpreendente, então, que quando se tratava da minha dissertação de doutorado (escrita no Wycliffe College e na Universidade de Toronto), eu pudesse pensar em estudar apenas algo relacionado ao Espírito (pneumatologia).
Por fim, minha tese tratou do que alguns podem considerar um tópico enigmático: a controvérsia pneumatológica no século IV, que era centrada em debates sobre a divindade do Espírito Santo. Especificamente, examinei como as Escrituras moldaram a maneira como dois teólogos gregos do século IV, Atanásio de Alexandria (c. 299–373) e Basílio de Cesareia (c. 330–379), pensavam e escreviam sobre a divindade do Espírito.
Quando me formei na Universidade de Toronto com meu doutorado em 1982, tive a grande sorte de ser contratado para ensinar história da igreja no Seminário Batista Central em Toronto.
Quais são os cinco pontos?
Ted Barton, o reitor acadêmico responsável por me contratar, foi um mentor tremendo nos primeiros anos do meu ensino. Quando ele me entrevistou, ele me perguntou, entre outros tópicos, o que eu achava dos “cinco pontos do calvinismo ”. Surpreendentemente, apesar do fato de eu ter obtido um doutorado em história da igreja, eu não tinha nenhum conhecimento específico dessas doutrinas.
Eu disse a Ted que se ele me dissesse o que eram, eu seria capaz de responder à sua pergunta. Ele disse que estava tudo bem e rapidamente passou para outra pergunta sem me dar nenhum detalhe sobre essas doutrinas. A escola estava tendo alguns problemas com o calvinismo e, na mente de Ted, deve ter sido uma coisa boa que eu não tivesse ideia do que eram essas doutrinas! Em poucos anos, porém, as doutrinas se tornaram uma parte muito familiar do meu mundo cristão.
Durante a década de 1980, ao ler autores puritanos como John Owen (1616–1683) e livros da Banner of Truth como The Grace of God in the Gospel, cheguei a uma consideração cuidadosa da verdade reformada. Mais significativamente, em algum momento do ano acadêmico de 1985–1986, encontrei os escritos calvinistas do batista particular Andrew Fuller (1754–1815).
Fuller não apenas aprofundou minha compreensão das verdades calvinistas sobre a salvação, mas também aprofundou meus compromissos como batista (alguns que se tornam calvinistas gravitam em direção ao pedobatismo). Ele fez isso me mostrando, antes de tudo, que os batistas tinham uma rica herança: seu corpus literário é uma coleção robusta de espiritualidade, rica em centralidade em Cristo e em sua cruz, ardente sobre a santidade e a importância das afeições, e inundada de amor pelos perdidos, família e amigos.
Eu me perguntava por que Deus havia me salvado entre os batistas evangélicos canadenses, cuja herança parecia estar limitada a um fundamentalismo conflituoso e fissurado. Fuller, cujo pensamento era inspirado em homens como John Owen e Jonathan Edwards, mostrou-me que os batistas do passado tinham uma linhagem muito mais profunda do que a época em que eu estava (século XX).
Ideias em Pedra e Cor
Mais importante, porém, a paixão predominante de Fuller em viver sua vida plenamente para a glória de Deus tem sido central para minha própria formação espiritual como cristão e como historiador. Para mim, essa paixão pela glória de Deus em toda a vida envolveu um grande interesse em arte e arquitetura.
Agora, enquanto Fuller me ajudou a entender que toda a vida deve ser vivida para a glória de Deus, ele próprio podia ser bastante desdenhoso sobre vários campos do esforço humano. Por exemplo, em uma ocasião, um amigo — provavelmente James Hinton (1761–1823), o ministro batista de Oxford — estava levando Fuller para conhecer a Universidade de Oxford e mostrando a ele algumas de suas características arquitetônicas. Depois de um tempo, Fuller aparentemente se voltou para seu amigo e sugeriu que eles retornassem à residência de Hinton para discutir a justificação pela fé, o que era muito mais interessante para o pastor-teólogo batista.
Bem, acho que Fuller estava errado em desdenhar tanto da arquitetura, a qual é corretamente descrita como “ideias em pedra”. Como historiador da igreja reformada, meus interesses, pesquisas e escritos precisam abranger toda a vida e não apenas a teologia propriamente dita, pelo simples fato de que o universo inteiro e seus vários elementos são de profunda preocupação para o nosso Criador. Ele os fez e a cada momento os sustenta. Um crescente interesse filosófico no assunto da estética ajudou a me conscientizar de que, além das questões de verdade e bondade (nas quais pensadores e teólogos reformados gastaram tanto tempo e esforço), nós que confessamos a soberania divina em todas as esferas da vida precisamos gastar energia e tempo refletindo sobre a impressão da beleza divina em nosso mundo.
E aqui, Jonathan Edwards, o mentor teológico de Andrew Fuller, tem sido enormemente útil. Sua ligação do Espírito Santo com a beleza divina uniu meu interesse em coisas pneumatológicas com esse fascínio pela beleza e cor criadas — mesmo que eu discorde de sua estimativa da cor favorita de Deus!
E quanto à cor favorita de Deus, aquela gloriosa refração de luz branca chamada arco-íris pode muito bem oferecer uma pista.