Um blog do Ministério Fiel
Balthasar Hübmaier c. 1480–1528
A mosca de Friedberg
Quando Balthasar Hübmaier propôs um debate com seu ex-mentor, John Eck, em 1524, ele se autodenominou “a mosca de Friedberg” e o renomado teólogo católico alemão “o elefante de Ingolstadt”. Embora Hübmaier às vezes fosse conhecido por sua fome de controvérsia, sua escolha de apelidos era adequada. Afinal, o temível Eck ganhou a reputação de uma das mentes mais perspicazes da Alemanha, tendo se oposto a Martinho Lutero no Debate de Leipzig em 1519. Foi para Eck que Lutero proferiu suas famosas palavras “Aqui permaneço” na Dieta de Worms em 1521. Hübmaier, por outro lado, era uma espécie de mosca – não apenas para as autoridades católicas, mas também para os reformadores protestantes e até mesmo para os reformadores radicais, com os quais ele se alinhou em uma fase de sua vida ou outra.
Com uma voz poderosa e uma caneta mais poderosa, Hübmaier não podia ser ignorado. Seus argumentos para a supremacia das Escrituras, a primazia da fé, a natureza memorial da Ceia do Senhor, a leitura vernácula da liturgia, o batismo do crente e a distinção igreja-estado acabaram custando-lhe a vida nas mãos do governo austríaco. Em vez de renunciar às suas crenças (como havia feito no início de sua vida), o anabatista Hübmaier foi torturado na forca e morto, queimado, por sua devoção à centralidade do evangelho e à pureza da igreja.
Sacerdote e Anti-Semita
Nascido em Friedberg, Alemanha, em 1480 ou 1481, Balthasar Hübmaier não era de ascendência nobre. Começando seus estudos mais tarde do que a maioria das crianças, ele recebeu um mestrado na Universidade de Freiburg em 1511. Em Ingolstadt, onde recebeu seu doutorado em teologia um ano depois, Hübmaier conheceu Eck, o conhecido estudioso escolástico e patrístico, e desenvolveu sua habilidade para a disputa. Mais importante ainda, ele ganhou a reputação de excelente orador, tornando-se pregador e capelão da nova Church of the Virgin. De acordo com o biógrafo de Hübmaier, Henry C. Vedder, o “ponto de virada em sua vida” foi sua mudança em 1516 para Regensburg, onde deixou os auspícios de Eck e se tornou o principal pregador da nova catedral (Balthasar Hübmaier, 37).
Quando Hübmaier chegou a Regensburg, ele encontrou a cidade em uma campanha tumultuada para livrar a cidade de sua população judaica. Hübmaier defendeu a causa, ajudando a expulsar todos os judeus da cidade em 1519. Depois que a sinagoga foi transformada em uma capela católica dedicada “à bela Maria”, os peregrinos se reuniram na cidade para fazer oferendas ao santuário porque supostos 54 milagres ocorreram sob a liderança de Hübmaier. Quando os monges dominicanos locais reclamaram da perda de riqueza e prestígio em seu próprio mosteiro, a batalha legal que se seguiu levou Hübmaier a se mudar para a pequena cidade de Waldshut. E foi aqui que Hübmaier reformou sua doutrina e seu próprio coração.
Ano da decisão
Dedicando-se novamente ao estudo das Escrituras, Hübmaier deu atenção especial às epístolas paulinas, primeiro aos Romanos e depois a 1 e 2 Coríntios. Durante esse tempo, ele se convenceu de que a Igreja Católica havia se afastado dos ensinamentos dos apóstolos. Ele conheceu o grande erudito humanista Erasmo enquanto visitava Basileia, na Suíça, em 1522, mas ele não se impressionou por conta da sua falta de fervor pelas verdades da Bíblia. Ao retornar a Waldshut, Hübmaier começou a consumir tratados de Lutero, identificando-se com a Reforma. Como William R. Estep observou, 1522 foi de fato “o ano da decisão para ele” (The Anabaptist Story, 80). No entanto, Hübmaier acabou se alinhando muito mais com o reformador suíço Ulricoh Zuínglio do que com Lutero.
Quando ele visitou Zuínglio na Segunda Disputa de Zurique, ele conversou com o reformador sobre vários assuntos, incluindo a falta de evidências bíblicas para o batismo infantil. Zuínglio simpatizava com o credobatismo. A primeira obra publicada de Hübmaier, Achtzehn Schlussreden, impressa em 1524, era composta por dezoito artigos nos quais ele convidava pastores locais para debater. O primeiro foi inequivocamente reformado: “Somente a fé nos torna santos diante de Deus”. O quinto afirmava: “A missa não é um sacrifício, mas uma lembrança da morte de Cristo”. No final do ano, Hübmaier removeu todas as imagens e esculturas da igreja.
Batizador no cavalete
Embora a cidade de Waldshut tenha apoiado seu líder recém-casado contra as acusações de Fernando I da Áustria, Hübmaier buscou refúgio em Schaffhausen, em território suíço. Lá ele escreveu vários tratados, incluindo Concerning Heretics (Sobre os hereges) e Those Who Burn Them (Aqueles que os queimam), um panfleto sobre liberdade religiosa e um texto importante para o movimento anabatista.
Em uma carta em janeiro de 1525 a Johannes Oecolampadius, Hübmaier declarou que “o batismo infantil não tem realidade” (Balthasar Hübmaier, 108). Três meses depois, ele foi batizado. Então, no domingo de Páscoa, ele batizou mais de trezentas pessoas utilizando um balde de leite. No ano seguinte, Hübmaier se envolveu em um debate literário com Zuínglio sobre o batismo, que parecia cada vez mais irritado com seu ex-protegido. “Deve haver algum sinal externo de testemunho”, argumentou Hübmaier, “pelo qual irmãos e irmãs possam se conhecer, embora a fé esteja somente no coração”.
Hübmaier fugiu do governo austríaco para Zurique, onde (ironicamente) foi preso por fomentar a insurreição. Heinrich Bullinger admitiu que, na verdade, isso se devia ao fato de Hübmaier ser muito respeitado por seus colegas anabatistas. Ao ser esticado no cavalete, ele retratou suas crenças. No entanto, depois de escrever nada menos que dezessete tratados em Nikolsburg, incluindo On the Sword (Sobre a Espada), onde defendeu a legitimidade do Estado e a pureza da igreja, ele acabou sendo preso pelas autoridades austríacas e torturado. Mas desta vez ele não se retratou. Em 10 de março de 1528, ele foi queimado em praça pública em Viena. Três dias depois, sua esposa, com uma pedra amarrada ao pescoço, morreu afogada no Danúbio.