Um blog do Ministério Fiel
Irmãs à obra!
A Reforma e a transformação dos ambientes
Se você for como eu, provavelmente já olhou para um canto da sua casa e pensou: “Hummm, se eu derrubasse aquela parede entre a sala e a cozinha, criaria um novo ambiente, mais aberto e aconchegante!” Ou, quem sabe, “se eu trocasse aquela porta antiga por uma mais moderna, a entrada de nossa casa teria um aspecto mais acolhedor”. Ou, ainda, “Se, ao menos, eu pudesse ampliar a área gourmet, teria mais espaço para receber as visitas…” Quem nunca sonhou com uma reforminha em um cantinho da casa, ainda mais depois de ter assistido uma temporada daquelas séries de TV?
Nesses programas, uma casa antiga, desgastada pelo tempo e maus tratos, se transforma em um novo lar, um ambiente totalmente diferenciado, agradável e atraente. E tudo isso em apenas 30 minutos de programa! Hum, na TV, tudo parece tão fácil! Mas nós sabemos que, na vida real, reformas não são tão rápidas e fáceis assim, infelizmente. Reforma dá muito trabalho: é poeira que não acaba mais, barulho, quebra-quebra, coisas fora do lugar… Reformas são desgastantes, e não é incomum que, no meio delas, a gente pense: “Por que eu fui mexer com o que estava quieto?!” Embora eu não ame o processo da reforma em si, certamente fico fascinada com os resultados delas. Quando toda a obra termina, e o ambiente é limpo e renovado; quando os objetos entram em cena e trazem cor aos cômodos, e os nossos olhos podem contemplar a transformação, então percebemos que todo esforço realmente valeu a pena.
Pois é, se desejamos mudanças e se queremos desfrutar de ambientes mais atraentes, precisamos encarar o trabalho pesado de uma reforma e “colocar a mão na massa”.
Mês da Reforma, justificação pela fé somente
Calma, não se trata de uma promoção de loja de materiais de construção! No mês de outubro, celebramos os 507 anos da Reforma Protestante. Você, certamente, já ouviu falar de Lutero e suas 95 Teses, pregadas na porta da igreja do castelo, em Wittenberg, um evento memorável que fez com que surgisse a igreja protestante.
Porém, assim como uma reforma em casa, a Reforma Protestante não aconteceu de uma hora para outra. As atitudes de Lutero foram apenas o auge deste movimento que levou muito tempo para ser concretizado e que exigiu muitíssimo esforço, coragem e paciência daqueles que estavam empenhados na missão de transformar aquele ambiente no qual a igreja cristã estava inserida.
Na verdade, como dizem Reeves e Chester, a Reforma não foi trabalho de um homem só. Antes de Lutero, outros homens foram levantados por Deus para apontar a necessidade de se realizar esta grandiosa obra. Alguns pré-reformadores, como John Huss, foram calados pelo martírio. O período da Reforma foi um tempo muito turbulento, com intensos e acalorados embates teológicos e duras perseguições àqueles que se engajaram na luta pela justificação pela fé somente.
O que importa em uma reforma
Nos programas de TV, há um momento de tensão quando os engenheiros vão sondar os alicerces da casa e descobrem que eles estão corrompidos e que precisam ser refeitos. Os donos da propriedade são informados de que o trabalho é maior do que esperavam, e que de nada adiantará criar um ambiente totalmente “novo” sobre alicerces inconsistentes. Assim foi no tempo da Reforma, os pilares da fé estavam escondidos, corrompidos e desgastados sob escombros dos dogmas e das tradições da igreja romana. Essa condição dos alicerces fez com que as paredes da igreja fossem marcadas pelas rachaduras dos desvios doutrinários.
Assim como temos que avaliar a estrutura de nossa casa para deixá-la mais segura, os reformadores do século XVI precisaram revisitar os pilares da fé cristã, reavaliá-los e fincá-los em solo seguro. Deus levantou homens e mulheres corajosos para colocarem mãos à obra. Como em qualquer boa reforma, o trabalho foi duro, mas o resultado foi glorioso. Mais do que derrubar e pintar paredes, a Reforma foi lá no fundo e reestruturou os alicerces da fé. Mais do que atrair olhares, a Reforma atraiu corações às verdades outrora ofuscadas pelo imponente clero romano. E, como resultado dessa Reforma, a igreja cristã pôde retornar às verdades fundamentais reveladas nas Escrituras. A Reforma Protestante foi justamente isso: uma grande obra de restauração da fé cristã, firmada em 5 pilares que, até os dias de hoje, sustentam toda essa transformação — os Cinco Solas.
Fim da Reforma?
Essa transformação incrível não atingiu apenas o ambiente eclesiástico daquela época, mas reverberou por toda sociedade com seus ecos ainda ouvidos nos dias atuais. Se eu e você podemos cultuar ao Senhor com nossas Bíblias em mãos; se podemos anunciar que Cristo é o único Caminho; se, apesar de nós, podemos descansar em sua obra salvadora e afirmar a autoridade das Escrituras, isso é consequência da Reforma do século XVI. Quanta transformação e impacto uma reforma pode causar, não é mesmo?
Mas os reformadores não tinham a intenção de entregar um projeto totalmente acabado. O espírito da Reforma é semper reformanda, ou seja, “sempre reformando” ou, ainda, “sempre sendo reformada”, o que indica que este movimento de retorno à Palavra deveria ser contínuo. Ele não pode parar! E isso nos envolve tanto como indivíduos quanto como comunidade cristã.
A Reforma Protestante nos ensina que não podemos negligenciar nossa fé. Vivemos em uma era de grandes mudanças, de muitas novidades e tudo isso tem o seu valor. Mas esse “espírito moderno”, esse desejo por algo “novo”, pode nos levar a nos preocuparmos mais com a decoração do que com o alicerce. Nessas horas, como disseram Michael Reeves e Tim Chester, o que devemos fazer é nos lembrarmos que “os reformadores não estavam tentando forjar algo novo. Os reformadores não saíram dispostos a transformar o mundo. Eles só queriam voltar para a Bíblia. Mas a volta à Bíblia mudou o mundo”. Olhando para o exemplo desses homens, se queremos uma verdadeira mudança em nosso ambiente, o que devemos fazer é, dia após dia, nos voltarmos às Escrituras e, com base nela, observar se as nossas práticas estão firmadas na Palavra ou se estamos correndo o risco de sermos conduzidos à desvios doutrinários que corrompem as estruturas da nossa fé. Isto significa que o mesmo sentimento que levou homens a desafiarem as práticas católicas romanas no século XVI devem nos desafiar, hoje, em nossa prática evangélica.
Mulheres no Canteiro de Obra
Por ser um trabalho pesado, a construção civil é um ambiente majoritariamente, mas não exclusivamente, masculino. Arquitetas e engenheiras estão trabalhando nesse setor da sociedade. É interessante notar que, no período da Reforma, também houve mulheres que adentraram no canteiro de obras. Elas serviram com seus dons, talentos, e algumas com a própria vida, nas mais diversas frentes de trabalho. “Rainha, esposa, teóloga, compositora de hinos, romancista, missionária, filha e amiga. Ainda mais importante, encontramos mulheres de fé cujas vidas manifestaram a graça e a glória de Deus…” (Haykin). As reformadoras se empenharam no serviço em favor de suas famílias, da igreja local e da sociedade daquela época, tornando-se personagens de grande importância para a Reforma Protestante.
Amadas irmãs, nós fomos chamadas por Cristo para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas (Efésios 2.10). Fomos chamadas para manifestar a glória de Deus no serviço à nossa família, igreja, bem como à sociedade na qual vivemos (Mateus 5.16). Precisamos nos conscientizar disso.
Como mulheres cristãs pós-Reforma, não podemos nos deixar enganar. Não podemos achar que a Reforma já terminou e que podemos nos assentar na varanda reformada, a fim de tomarmos o chá e discutirmos o que devemos ou não vestir no próximo evento social, sem considerarmos que vivemos dias em que os pilares da nossa fé estão sendo atacados por um mundo que jaz no Maligno. É necessário que, como crentes, sigamos o conselho de Paulo: “vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus” (Efésios 5.15-16).
Isto significa que não podemos negligenciar a forma como vivemos nossas vidas, seja individualmente ou como corpo de Cristo. É tempo de trabalho duro e há muito o que ser feito do lado de cá da eternidade. Não percamos, portanto, o nosso tempo com animosidades, com disputas insanas, com falatórios inadequados, pois tudo isso é correr atrás do vento. Vivamos de forma que possamos refletir os firmes fundamentos da nossa fé.
Esse não é um chamado fácil, eu sei! Mas, confiantes no nosso Senhor Jesus Cristo, a fim de obtermos os resultados desejáveis de uma reforma – a transformação de ambientes, devemos assumir nossas responsabilidades e encarar o trabalho árduo que ainda temos pela frente. Sigamos o exemplo de resiliência das reformadoras do século XVI, que foram fiéis mesmo em uma época de grande oposição.
Assim como elas, nós também temos um papel importante na obra que Deus está realizando hoje. Não precisamos ser grandes teólogas ou líderes para fazer diferença; Deus nos chama a reformar e restaurar nossos ambientes diários — seja em nossa casa, igreja, no trabalho ou em qualquer outro lugar no qual estejamos envolvidas. Façamos isso confiadas no “Mestre das obras”; seu desejo é nos restaurar por completo, para que reflitamos a imagem de Cristo em cada detalhe da nossa vida – “Estou convencido de que aquele que começou boa obra em vocês, vai completá-la até o dia de Cristo Jesus” – Filipenses 1.6.
Vamos nos inspirar na Reforma Protestante e rogar que, a começar em nós e por meio de nós, Deus transforme corações, lares e comunidades, para a sua glória. Assim como uma casa renovada traz alegria e satisfação, vidas e igrejas restauradas trarão impactos eternos.
Portanto, irmãs, à obra!
Referências:
Grandes Mulheres Da Reforma – James I. Good, Knox Publicações.
Oito mulheres de fé – Michael A. G. Haykin, Editora Fiel.
Porque a Reforma ainda é importante – Michael Reeves e Tim Chester, Editora Fiel.