Um blog do Ministério Fiel
Jesus, o Filho de Deus
Último capítulo da série "Um filho se nos deu": a importância das filiações do bebê Jesus
Nota do Editor: Em comemoração ao Natal de 2024, convidamos o Pr André Soares para nos presentear com um série a respeito de Jesus Cristo, onde ele nos mostrará a importância das quatro filiações de Jesus — filho de Davi, filho de Abraão, Filho do Homem e Filho de Deus. CLIQUE AQUI para acessar os demais artigos desta série, que serão postados durante este mês de dezembro. Este conteúdo faz parte do Especial de Natal 2024 do Voltemos ao Evangelho.
No fim da década de 1990, o Masked Magician — ou, como ficou conhecido no Brasil, o Mister M — se tornou uma sensação em todo o mundo. Em rede nacional, sob os olhares curiosos e atentos de milhões de telespectadores, ele revelava os segredos por detrás dos truques de ilusionismo.
Quem nunca se perguntou como um mágico, diante de toda uma plateia, consegue desmembrar uma mulher colocada dentro de uma caixa e, depois, reunir todas as partes, de maneira que, no fim, a sua assistente saia inteira e ilesa? Como ilusionistas fazem as pessoas levitarem? O Mister M revelou cada truque dos principais números de ilusionismo, removendo um pouco do encanto e mistério que envolvem as artes mágicas.
Contudo, ainda que a revelação dos segredos do ilusionismo tenha causado um grande interesse em pessoas de todo o mundo, Marcos, autor do segundo Evangelho, tem um segredo muito mais importante e surpreendente a revelar: Jesus, um judeu que morava na pequena cidade de Nazaré, é o Filho de Deus. O que, porém, há de tão especial nessa revelação que Marcos faz a respeito de Jesus?
O segredo messiânico de Jesus
Nos dois primeiros artigos desta série, chamamos a atenção para as palavras de abertura do primeiro Evangelho, o Evangelho segundo Mateus: “Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão” (Mt 1.1). O escritor sagrado, sem rodeios, inicia o seu escrito com uma afirmação a respeito da identidade de Jesus Cristo: ele é filho de Davi e filho de Abraão. Ao longo do resto do livro, ele demonstra o significado dessas duas filiações do Messias.
Marcos, porém, embora use uma fraseologia semelhante à de Mateus, não atribui a Jesus, na abertura de seu Evangelho, as filiações abraâmica e davídica. Ele inicia o seu escrito revelando um segredo a respeito da identidade de Jesus Cristo: ele é o Filho de Deus.
Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. (Mc 1.1)
Um tema muito importante no Evangelho de Marcos é o que veio a ser conhecido como o segredo messiânico de Jesus. Ainda que o escritor, ao revelar a verdadeira identidade de Jesus logo na primeira afirmação que faz, não permita que os seus leitores fiquem em dúvida, a sua narrativa mostra que Jesus, durante boa parte de seu ministério, se esforçou para manter em segredo a sua messianidade e filiação divina.
Enquanto percorria as cidades da região da Galileia, Jesus curou um leproso. Mas, por algum motivo, ordenou-lhe que não contasse a absolutamente ninguém o milagre que experimentara (Mc 1.44). Como podemos imaginar, porém, esse homem, logo que saiu da presença de Jesus, começou a divulgar a notícia (v. 45).
Quando os demônios, sabedores da real identidade de Jesus, se deparavam com ele, “prostravam-se diante dele e exclamavam: Tu és o Filho de Deus!” (Mc 3.11). No entanto, embora imaginemos que seria vantajoso para Jesus ter a sua filiação divina revelada, a sua reação em face do vazamento de seu segredo foi ordenar aos demônios “severamente que o não expusessem à publicidade” (v. 12).
Após ressuscitar a filha de um importante judeu chamado Jairo, Jesus, surpreendentemente, proibiu que os pais da menina e mesmo os seus discípulos que haviam testemunhado o milagre (Pedro, Tiago e João) divulgassem o ocorrido (Mc 5.43). Era necessário manter segredo, já que, presumivelmente, esse ato milagroso podia manifestar a todos quem Jesus era: o Cristo, o Filho de Deus.
Mesmo quando Jesus perguntou aos seus discípulos se sabiam quem ele realmente era, e Pedro, em resposta, afirmou a messianidade de seu Mestre, Jesus ordenou expressamente aos seus seguidores que “a ninguém dissessem tal coisa a seu respeito” (Mc 8.30).
A consequência do vazamento do segredo messiânico de Jesus
Ao longo da narrativa de Marcos, Jesus, reiteradamente, busca impedir que a sua filiação divina, afirmada logo no primeiro versículo do livro, seja divulgada, quer por meio de uma afirmação direta (“Jesus é o Filho de Deus”), quer por meio do relato de seus milagres, os quais evidenciam a sua identidade. Curiosamente, a única ocasião em que Jesus ordenou que um milagre seu fosse divulgado se deu em território gentílico, na região de Decápolis. Após expulsar de um homem uma quantidade exorbitante de demônios, os quais haviam reconhecido que ele era o “Filho do Deus Altíssimo” (Mc 5.7), Jesus mandou que esse homem, agora liberto, anunciasse aos seus o que lhe fora feito (vs. 19-20).
Entretanto, apesar das constantes solicitações de silêncio por parte de Jesus, o seu segredo messiânico se espalhava rapidamente. Multidões da Galileia, Judeia e até mesmo de cidades gentílicas se acotovelavam para ouvir aquele que, segundo os relatos, operava milagres e era o Cristo, o Filho de Deus. Marcos faz questão de registrar inúmeras ocasiões em que Jesus se viu cercado por multidões que tinham ouvido a respeito de sua fama (Mc 1.45; 2.2, 13; 3.7-8, 20; 4.1; 5.21; 6.33-34; 8.1; 9.14-15; 10.1, 46; 12.37).
À medida que avançamos no Evangelho de Marcos, fica cada vez mais evidente que um número cada vez maior de pessoas conhecia o segredo de Jesus. E, à proporção que se espalhava a fama de que Jesus era o Filho de Deus, as autoridades judaicas se tornavam mais hostis para com ele (Mc 12.1-12).
Mas por que Jesus se esforçou tanto para manter a sua identidade em segredo? Aparentemente, ele desejava que o seu ministério tivesse a longevidade necessária. Ele sabia que a comoção popular ocasionada pela revelação de seu segredo messiânico chamaria a atenção das autoridades judaicas, que buscariam aniquilá-lo. Porém, antes disso, era necessário que ele cumprisse toda a missão que viera executar.
Então, no momento designado por Deus, quando Jesus já fizera tudo o que precisava fazer antes de sua morte, quando a mobilização popular ao redor dele já havia acendido todas as luzes vermelhas do Sinédrio, as autoridades judaicas finalmente tiveram coragem para prendê-lo e buscar uma acusação grave o bastante para que ele recebesse a pena capital.
Se estamos acompanhando atentamente o Evangelho de Marcos, não ficaremos surpresos com a pergunta que o sumo sacerdote dirigiu a Jesus durante seu interrogatório: “És tu o Cristo, o Filho do Deus Bendito?” (Mc 14.61). Em outras palavras: “Jesus, as multidões que o seguem estão clamando que você é o Filho de Deus. Isso é verdade? Você realmente é o Filho de Deus?”
Nesse momento crucial, Jesus está finalmente pronto para revelar abertamente a sua filiação divina. De maneira decidida e resoluta, ele responde ao sumo sacerdote: “Eu sou” (Mc 14.62). A reação do inquisidor diante da confissão de Jesus foi de extrema indignação e repulsa. Ele rasgou as próprias vestes e vociferou: “Que mais necessidade temos de testemunhas? Ouvistes a blasfêmia; que vos parece?” A opinião de todas as autoridades foi unânime: “todos o julgaram réu de morte” (Mc 14.63-64).
O significado do segredo messiânico de Jesus
Por que, porém, o sumo sacerdote e seus colegas ficaram tão indignados com o fato de Jesus se declarar o Filho de Deus? Os antigos israelitas reconheciam que, coletivamente, eram filhos de Deus (Dt 14.1), mas nenhum judeu em particular ousaria dizer de si mesmo: “eu sou o filho de Deus”.
A heresia que os membros do conselho judaico viram na afirmação de Jesus tem a ver, em primeiro lugar, com o caráter messiânico do Filho de Deus, segundo o pensamento judaico do período (perceba como os dois títulos, “Cristo” e “Filho de Deus”, estão unidos na pergunta do sumo sacerdote [Mc 14.61]). Ao se identificar como o Filho de Deus, Jesus se apresentou como o Messias prometido.
Mas, em segundo lugar, é possível que a filiação divina de Jesus tenha sido considerada blasfema pelas autoridades judaicas devido à maneira única como ele a aplicou a si. Jesus não disse apenas: “Eu sou [o Filho de Deus]”. A sua resposta foi mais completa. Ele prosseguiu: “vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo com as nuvens do céu” (Mc 14.62). Na teologia judaica dominante do período, o Messias, o Filho de Deus, seria um ser humano comum, um descendente de Davi que se assentaria sobre o trono de seu ancestral. No entanto, aplicando a si a profecia de Daniel 7.13, Jesus afirmou que ele, o Cristo, sendo tanto Filho de Deus quanto Filho do Homem, não apenas se assentaria sobre um trono terreno. Ele se assentaria ao lado do próprio Deus Todo-Poderoso no céu.
“Como um homem, ainda que seja o Messias, se assentaria junto a Deus? Esse Jesus realmente está querendo dizer que é divino?”, devem ter raciocinado as autoridades judaicas. E o pior é que elas estavam corretas: ao se identificar como o Filho de Deus, que tem o direito de se assentar num trono celestial ao lado de seu Pai, Jesus realmente estava afirmando a sua divindade. Afinal, o Filho de Deus não pode ser menos do que Deus, assim como o filho de um humano é um humano, o filho de leão é um leão, o filho de uma cobra é uma cobra.
Uma evidência cabal de que os judeus assim entendiam a filiação divina de Jesus se acha em João 5.18:
Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus.
O fato de Jesus se declarar o Filho de Deus e de ser chamado pelo próprio Deus de seu Filho (Mc 1.11; 9.7) aponta para a sua divindade. Aquele homem aparentemente comum que estava prestes a ser executado por autoridades furiosas era o próprio Deus encarnado, em carne e osso.
Quero recomendar a você que tire um tempo para ler atentamente o relato da crucificação de Jesus, registrado em Marcos 15.21-38. Pare a leitura deste artigo e leia o excerto bíblico indicado, por gentileza. Na sequência, volte para cá, pois o próximo parágrafo reserva uma pergunta importante para você.
Ao terminar de ler o versículo 38, qual foi a sua reação? O próximo versículo (39) revela como um centurião romano que contemplou todos os eventos do dia reagiu a tudo que testemunhara:
O centurião que estava em frente dele, vendo que assim expirara, disse: Verdadeiramente, este homem era o Filho de Deus.
Embora, aparentemente, não fosse um seguidor de Jesus, o centurião, com base nos eventos relatos em Marcos 15.21-38, foi capaz de descobrir a real identidade de Jesus: ele é o Filho de Deus. Ele percebeu que a frágil e ordinária humanidade daquele simples carpinteiro de Nazaré escondia o segredo mais precioso da história: Jesus é o Filho de Deus. Ele é o Deus eterno e verdadeiro.
E você sabe qual foi o motivo por que o Filho de Deus assumiu a natureza humana? O Filho de Deus se fez Filho do Homem para que filhos do homem se tornassem filhos de Deus, como famosamente foi dito. Toda a humilhação pela qual o Filho de Deus voluntariamente passou teve a intenção de abrir as portas da família divina para pecadores de todos os lugares, que foram recebidos como filhos adotivos de Deus com direitos plenos. O mistério foi revelado e é a verdade mais cativante e reconfortante da história: Jesus Cristo é o Filho de Deus!