Jesus, o Filho do Homem

Capítulo 3 da série "Um filho se nos deu": a importância das filiações do bebê Jesus

Acesso a todos os E-books da Editora Fiel por R$ 9,90.

Nota do Editor: Em comemoração ao Natal de 2024, convidamos o Pr André Soares para nos presentear com um série a respeito de Jesus Cristo, onde ele nos mostrará a importância das quatro filiações de Jesus — filho de Davi, filho de Abraão, Filho do Homem e Filho de Deus. CLIQUE AQUI para acessar os demais artigos desta série, que serão postados durante este mês de dezembro. Este conteúdo faz parte do Especial de Natal 2024 do Voltemos ao Evangelho.


Talkeetna é uma pequenina cidade do Alaska, com menos de mil habitantes. Em condições normais, é bem possível que o nome dessa cidadezinha jamais aparecesse em nenhum portal de notícias do Brasil ou do resto do mundo. De fato, só costumamos tomar conhecimento da existência dessas localidades ermas quando coisas muito fora do comum acontecem nelas, e é exatamente por isso que Talkeetna ganhou certa notoriedade. Uma ocorrência muito inusual teve lugar ali.

Em 1998, a população de Talkeetna, politicamente insatisfeita, realizou uma campanha informal e elegeu como seu prefeito um gato chamado Stubbs, que permaneceu em seu posto honorário de liderança por cerca de 20 anos, até a sua morte — pensando bem, o fato de um prefeito felino não ser capaz de tomar decisões que atrapalhem a população já faz dele um candidato melhor do que boa parte de nossos políticos humanos.

Comentários ácidos à parte, é realmente surpreendente que um animal tenha recebido a preeminência entre seres humanos, que pertencem à única espécie criada à imagem de Deus. Ainda que a ação dos habitantes de Talkeetna tenha sido meramente simbólica, não deixa de ser digno de nota o fato de um gato ser o líder honorário de um grupo que, obviamente, é composto por membros muito mais inteligentes e dignos do que ele.

Porém, infinitamente maior do que a distância que separa os humanos dos felinos é a distância que separa os humanos do Divino. Ainda mais inusual e inusitado do que seres humanos darem a um gato o direito de governar sua cidade seria se Deus desse a um ser humano o direito de governar seu Reino.

Neste terceiro artigo da série Um filho se nos deu, na qual estamos tratando das filiações de Jesus, veremos que, para a nossa surpresa, um ser humano recebeu do próprio Deus o domínio sobre todo o universo.

Um filho de Adão como qualquer outro

Nos dois primeiros artigos desta série, ao falarmos sobre Jesus como o filho de Abraão e filho de Davi, vimos que, no linguajar hebraico comum, a palavra “filho” não apenas denotava um descendente direto, mas um descendente em geral, como um neto, bisneto, trineto, etc. Jesus era, portanto, um descendente de Abraão e de Davi — um tatatata…raneto.

Contudo, quando Jesus se referia a si mesmo, o título preferido e quase exclusivo com o qual ele se autoqualificava não era “filho de Abraão” ou “filho de Davi”, mas “Filho do Homem”. Por mais de 80 vezes nos quatro evangelhos, Jesus se apresenta como Filho do Homem, isto é, um descendente de um ser humano.

Por que, porém, ele se definia dessa maneira? Todo ser humano não é um descendente de outros seres humanos? Todos nós não somos, nesse sentido, filhos do homem? Por certo, sim. De fato, a expressão “filho do homem”, em seus mais de cem usos no Antigo Testamento, costuma simplesmente chamar a atenção para o pertencimento de um indivíduo à espécie humana, apontando para a sua filiação adâmica.

A expressão hebraica ben ādām, além de poder ser traduzida como “filho do homem”, também pode ser corretamente vertida como “filho de Adão”. A palavra ādām tanto é um substantivo que significa “homem” ou “humanidade” quanto é o nome próprio do primeiro ser humano criado por Deus, Adão. Portanto, um filho do homem é um descendente de Adão, o ancestral de todos os seres humanos.

A expressão destaca a humanidade compartilhada por todos os que descendem de Adão, especialmente em sua fragilidade, pequenez e mortalidade. Ela envolve tudo aquilo que nos torna humanos, que nos caracteriza como tais e que, dessa forma, nos diferencia de Deus. Com efeito, um dos principais usos dessa expressão é traçar uma distinção clara e definida entre o humano e o divino. Alguém que é chamado de filho do homem, por possuir todas as características de um ser humano, é diferente de Deus e está abaixo dele.

Um filho do homem é, em oposição a Deus, dúplice (Nm 23.19); em comparação com Deus, insignificante (Jó 25.6; Sl 8.4; 144.3); diferentemente de Deus, mortal (Is 51.12). Nós, descendentes de Adão, estamos mais abaixo de Deus do que os animais se acham abaixo de nós. Há um abismo entre os seres humanos e Deus, e esse abismo se tornou ainda mais profundo com a Queda.

Embora o Filho de Deus seja eterno, ele assumiu, ao ser concebido no ventre de Maria, a natureza humana, fazendo-se, assim, um filho do homem — um descendente de Adão, um ser humano. Ele assumiu a fragilidade, a pequenez e a mortalidade inerentes à condição humana. Jesus não tinha um corpo especialmente resistente (Mt 27.50) nem necessitava de menos comida (Mt 21.18) ou sono (Mt 8.24) do que qualquer outra pessoa. Assim, o fato de Jesus ser um filho do homem indica sua igualdade em relação a todos os seres humanos.

Um filho de Adão diferente de qualquer outro

A pergunta, então, permanece: por que Jesus, com tanta frequência e sem nenhum tipo de restrição, se autodenominava “o Filho do Homem”? O segredo para entendermos as filiações de Jesus, como já vimos nos artigos anteriores, se acha em sua singularidade. Se, em um sentido, ele é igual aos demais seres humanos, ele é, em outro sentido, diferente de todos eles. Ele não é apenas mais um filho de Abraão; tampouco é um filho de Davi qualquer. Ele é o filho de Abraão e o filho de Davi. Da mesma forma, ele não é só mais um filho do homem, um descendente de Adão como qualquer outro ser humano. Jesus é o Filho do Homem, que vem cumprir o que foi profetizado a seu respeito.

Segundo a promessa de Daniel 7.13-14, um Filho do Homem muito especial se manifestaria um dia. Duas características desse homem o tornam único: embora seja um ser humano, ele é muito diferente dos demais descendentes de Adão e, de maneira ainda mais notável, ele é perfeitamente semelhante a Deus, sendo até mesmo adorado:

Na minha visão durante a noite, vi alguém semelhante a um filho de homem vindo com as nuvens dos céus. Ele se aproximou do Ancião de Dias e foi conduzido à sua presença. Ele recebeu autoridade, glória e o reino; todos os povos, nações e homens de todas as línguas o adoraram. O seu domínio é um domínio eterno, que não acabará, e o seu reino jamais será destruído. (Dn 7.13-14, NVI)

Um filho de homem, frágil e pequeno como qualquer ser humano, se colocaria na presença de Deus e receberia “autoridade, glória e o reino”. Ele governaria o mundo todo para sempre e seria adorado (em aramaico, pəla [פְּלַח]; cf. Dn 3.12, 14, 18, 28; 7.27) por todos os povos. Nenhum outro ser humano em toda a história é digno de receber o domínio eterno sobre todos os povos, quanto menos de ser adorado. Esse Filho do Homem prometido é especial e único. Ele é o Deus-Homem.

Assim, Jesus, ao se autodesignar tão frequentemente como o Filho do Homem, apresentava-se como o descendente de Adão que cumpriria a profecia de Daniel. Com todas as letras, ele afirmou diante do sumo sacerdote que era o Filho do Homem previsto por Daniel: “… eu vos declaro que, desde agora, vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu” (Mt 26.64).

O Filho do Homem já veio

Ninguém além de Jesus, o Filho do Homem da promessa, tem condições de estabelecer um reino mundial pacífico. Ele é o único que pode e merece ser adorado. É por isso que é tão triste constatar que tantas pessoas ainda aguardam a manifestação de um filho do homem que, durante seu governo, estabelecerá uma ordem escatológica perfeita no país ou no mundo. Como é lamentável ver tantas pessoas prestando adoração a políticos comuns, atribuindo-lhes qualidades divinas, como a infalibilidade, a onisciência e a onibenevolência.

Neste Natal, não nos esqueçamos de que o Filho do Homem da promessa já se manifestou. Não há esperança de paz para as nações senão nele. Ninguém além dele é digno de adoração. Confiemos em Jesus e trabalhemos pelo estabelecimento de seu Reino com muito mais afinco do que os partidários de políticos humanos têm labutado em prol de seus deuses.

Por: André Soares. © Voltemos Ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Revisor e Editor: Vinicius Lima.