O ministério da conversação

Capítulo 6 da série "Como ajudar sua igreja local"

Acesso a todos os E-books da Editora Fiel por R$ 9,90.

Prepara-se para conversas edificantes no domingo

E se gravássemos uma conversa nos bancos em uma manhã de domingo? O sermão termina, o pregador desce, cantamos em resposta, a bênção é dada, vozes irrompem e a gravação começa. Enquanto as pessoas falam umas com as outras, o que se ouve?

Os homens falam sobre as reformas recentes em casa, o jogo de futebol daquela tarde, o clima, notícias globais, política, um joelho dolorido, irritações no trabalho, aposentadoria. As mulheres falam sobre filhos, educação domiciliar, eventos futuros, ansiedades.

Pergunte a um juiz imparcial: Este é um grupo de cristãos? Pode ser difícil dizer. Estamos ouvindo uma conversa de uma praça de alimentação, um ponto de ônibus ou uma igreja? Essas pessoas acabaram de se encontrar com o Deus do céu e da terra? O Criador todo-poderoso acabou de falar conosco por meio de sua palavra pregada. No entanto, e se isso tiver pouca ou nenhuma consequência em nossas conversas diretamente depois?

O contraste pode ser óbvio com a alegria com que discutimos outros interesses — por exemplo, nossos entretenimentos. Quando você vê um ótimo filme ou programa, você não faz questão de discutir a reviravolta no final, a tristeza da morte daquele personagem ou a glória da redenção deste personagem? A experiência não é de alguma forma incompleta até que você expresse o que pensa e sente e o quão profundamente isso ou aquilo o comoveu? Bem, e o sermão?

Não estou dando uma regra, mas questionando uma cultura. O problema não é que falamos sobre o almoço, o jogo ou preocupações terrenas, mas que nos falta uma conversa deliberada sobre as melhores coisas que acabamos de ouvir. Estamos remindo o tempo? A gravação detectaria conversas muito edificantes, pensativas e bonitas sobre a alma e o Senhor Jesus, ou algo mais próximo de uma conversa sem sal, não espiritual e um tanto ociosa?

Considere como John Owen descreve nosso dever abençoado:

Os crentes, em seu discurso diário comum, devem mencionar continuamente o Senhor em conversas úteis e proveitosas, e não desperdiçar oportunidades com palavras tolas, leves e fúteis que estão fora de lugar [especialmente em um domingo]. (Duties of Christian Fellowship [Deveres da Comunhão Cristã] , 54)

Uma cultura de conversas superficiais parece-me o resultado de uma suposição mais fundamental: a de que realmente nos reunimos para ouvir o pregador falar, e não para promover a graça na vida uns dos outros por meio de nossas próprias palavras.

Que todos sejam profetas

E se chegássemos em oração prontos para falar palavras que “dão graça aos que ouvem”, palavras que o Espírito nos equipou para falar (Efésios 4.29)? E se a cultura de nossas igrejas fosse mais um jantar de junta panelas do que um único prato do chef principal?

Acredito que Paulo tem isso em mente quando ensina à igreja que Deus nos deu evangelistas, pastores e mestres “para equipar os santos para a obra do ministério”. Observe qual ministério: “com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Efésios 4.12–13 ). Os pastores equipam os santos não apenas para fazer discípulos do mundo lá fora, mas para fazer discípulos maduros uns dos outros aqui. Somos equipados por sermões, aulas e cuidado pastoral não apenas para chegar na próxima semana para receber novamente, mas para usar o que ouvimos para falar na vida uns dos outros.

Assim, Paulo continua,

Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem-ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor. (Efésios 4.15–16 )

Quantos membros do corpo não estão funcionando corretamente porque se consideram meros consumidores? Embora falar não seja a única maneira de edificarmos os outros, é o meio que Paulo menciona aqui. A comunidade que se edifica em amor não é construída meramente pelo pastor com o microfone. Em vez disso, esse pastor nos equipa para levar a verdade de Cristo e ecoá-la na vida uns dos outros durante o resto do domingo e ao longo da semana.

De forma prática, o que devemos dizer quando o culto termina?

1. Discuta o sermão

Assim como os clubes de leitura discutem livros, os santos devem discutir sermões. Pergunte como Deus os conheceu; esteja pronto para compartilhar como Deus te conheceu.

Lembro-me de ter aprendido que quando a Palavra de Deus é pregada fielmente, a responsabilidade de administrar essa Palavra muda do pregador para o ouvinte. Agora você tem o dever de amar, meditar, aplicar, compartilhar e falar mais profundamente a verdade pregada (inclusive com aqueles próximos a você).

Pense em como podemos influenciar uns aos outros — positiva e negativamente — por meio de nossas conversas voltadas para o mundo ou para Deus.

Deus está convencendo, elevando ou corrigindo o coração de um irmão com a Palavra — aí eu o interrompo para ouvir minha opinião sobre o jogo da final da campeonato de futebol nacional. Jesus ensina que Satanás rouba sermões dos corações; com que frequência somos seus cúmplices involuntários? A semente estava afundando no solo; eu a soprei para longe. Seu espírito queimava agora — apaguei a chama. Seu coração estava sendo perfurado; eu aparei a lâmina.

Mas imagine se eu discernisse sua tristeza silenciosa, perguntasse ao Senhor se eu deveria ir falar com ele e, indo até lá, dissesse: “Irmão, diga-me como Deus encontrou sua alma esta manhã”. Você pode fazer tanto bem ao se juntar ao pregador no ministério, buscando impressionar ainda mais a verdade nas almas por meio de conversas simples sobre Cristo após o culto. Aqui está uma ideia: faça anotações do sermão para você primeiro e depois também para os outros. Você não precisa ser outro pastor. Apenas seja um amante humilde e simples de Deus e das almas, você não faz ideia do bem que pode estar fazendo agindo assim.

2. Cuide da alma

Thomas Watson fez sua avaliação após ouvir conversas cristãs:

É culpa dos cristãos que eles não se provocam em companhia para uma boa conversa. É uma modéstia pecaminosa; há muitas visitas, mas eles não dão uma visita às almas uns dos outros. Em coisas mundanas, sua língua é um escritor pronto, mas em coisas de religião é como se sua língua se agarrasse ao céu da boca. (Heaven Taken by Storm, 38)

Considere como reescrevemos Hebreus 10:24–25 por meio de nossa conduta dominical:

“Que os pastores somente nos considerem, para nos estimularem ao amor e às boas obras só com as palavras deles. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, que os pastores somente façam admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.”

Agora a passagem real: “Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.” (Hebreus 10.24–25). Consideramos os outros, os estimulamos ao amor e às boas obras. “Reunir-se” está ligado a “encorajar uns aos outros”.

Então, fazemos perguntas uns sobre os outros, verificamos as almas uns dos outros, nos estimulamos e “exortamos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama ‘hoje’, para que nenhum de [nós] seja endurecido pelo engano do pecado” (Hebreus 3.13). “Ensinando e admoestando-nos uns aos outros em toda a sabedoria”, formamos as almas uns dos outros (Colossenses 3.16).

3. Orem uns pelos outros

Está escrito: “A minha casa será chamada casa de oração.” (Mateus 21.13)

Você pode não possuir muitas palavras de sabedoria. Você pode não pensar bem depressa. Você pode ficar nervoso, desajeitado e inseguro sobre o que dizer em resposta às perguntas dos outros. Aqui está uma coisa que, quer eloquente e ou não, sábio ou simples, jovem ou velho, todos aqueles que estão em Cristo podem fazer uns pelos outros: orar.

A casa de Deus deve ser chamada de casa de oração. A intercessão deve preencher o lugar antes do culto, durante o culto e depois. Pergunte aos outros como eles estão. Pergunte como você pode orar por eles. E então abençoe a si mesmo, a eles e à igreja perguntando: “Posso orar por você agora mesmo?” “Agora mesmo” — duas palavras que (quando adicionadas consistentemente) podem transformar uma cultura estagnada.

Microfone do Céu

Algumas das palavras mais formadoras ditas na assembleia cristã não vêm do púlpito acima, mas do banco abaixo. Uma igreja ensinada a aproveitar ao máximo o tempo juntos, a vir para falar e não apenas para ouvir, a encher o edifício com conversas sagradas, experimenta um antegosto daquela pátria onde falaremos para sempre de tudo o que Deus fez.

O banco é um lugar poderoso. Casamentos são salvos ali; sermões são gravados para sempre; almas passam da morte para a vida. O banco ou corredor ou o hall de entrada é um lugar grandioso para “que a vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como deveis responder a cada um” (Colossenses 4.6).

A ilustração com a qual comecei não é inteiramente hipotética. Dispositivos de gravação podem nunca capturar nossas conversas, mas tenha certeza de que Deus o faz. Ele ouve e se lembra do discurso sagrado de seu povo então e agora:

Então, os que temiam ao SENHOR falavam uns aos outros; o SENHOR atentava e ouvia; havia um memorial escrito diante dele para os que temem ao SENHOR e para os que se lembram do seu nome. (Malaquias 3.16)

Quando nós que tememos ao Senhor falarmos uns com os outros neste domingo, o que o Senhor ouvirá?


Este artigo faz parte da série “Como ajudar sua igreja local“, de Desiring God.

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Por: Greg Morse ©️ Desiring God Foundation. Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: Prepare to Speak on Sunday | Todos os direitos reservados. Revisão e edição: Vinicius Lima.