Reflexões do paletó de um pastor

Uma crônica sobre o esgotamento pastoral

Crescendo em graça e verdade! Todo catálogo de livros por R$9,90

E depois de tanto tempo, ele finalmente desfrutava de algum sossego em um de seus cabideiros, em um canto tranquilo e pouco arejado próximo à poltrona. O motivo não era dos melhores, não se tratava de férias ou aposentadoria. Pelo contrário, era o resultado de uma longa e exaustiva jornada no sagrado ministério.

Cada linha e costura do paletó contavam, por si só, a história de inúmeras noites mal dormidas, de lágrimas derramadas em oração secreta e de um peso que, aos poucos, se tornava insuportável.

Do cabide, o paletó observava em silêncio o pastor afundado na poltrona, abraçado pela velha mobília, que parecia tão cansada quanto ele. Quase escondido pelos livros que não encontraram o caminho de volta à estante, seu olhar estava distante, perdido entre a exaustão do dia, os compromissos ainda vivos e a falta de forças para se levantar e focar em algo.

O traje, que tantas vezes o protegeu e ajudou, agora só podia contemplar aquele que, antes, enredado pelo ativismo e realizando o labor de muitos, vivia com passos sempre apertados, o ritmo apressado, como quem está constantemente atrasado entre os vários compromissos abraçados. A agenda, sempre cheia, revezava-se com a Bíblia entre a mão e o bolso interno, já alargado. Mas agora, ele estava inerte. O peso dos anos finalmente o havia imobilizado.

Ao lado do pastor, em uma mesinha, sua velha Bíblia permanecia aberta, testemunha dos últimos estudos regados a café e urgência. Enquanto o vento brincava com as páginas já marcadas e desgastadas, um verso ficava em evidência:

“Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina…” (1 Tm 4.16).

Um texto tão familiar, guardado na memória, mas que agora parecia tão distante. Como a lembrança de um bom conselho há muito ouvido, as palavras recordavam os perigos da negligência do ministro para com sua própria condição.

Ora, todas as áreas estão interligadas, afinal. A mente que penetra as profundezas dos livros e se esmera em aplicar verdades bíblicas às almas doentes está ligada ao corpo cansado que veste o paletó. Mesmo uma peça velha de roupa precisa de algum cuidado às vezes. Que dirá daquele imbuído de tão grande responsabilidade?! Seria esse o momento de se lembrar da importância do cavalo que carrega a mensagem, uma lição aprendida com pesar na história do fiel pastor escocês?

Pendurado, o paletó refletia, imaginando quantas outras vestes estariam na mesma condição que ele naquele momento. Enquanto tantos outros ministros amargavam semelhante estafa, enxergando em tons pálidos e sem conseguir dar cabo daquilo outrora tão simples. O cansaço e o sono deveriam servir como alerta, um bendito lembrete das limitações humanas e um convite a descansar em humildade, confiando no cuidado Daquele que não dorme. Ministros deveriam saber disso melhor que paletós.

Mesmo ainda distante de esboçar qualquer tentativa de se levantar – afinal, a recuperação tende a ser tão lenta quanto foi o processo de desgaste –, o tom não era de um fim de carreira. Enquanto descansava, o ministro e seu paletó, mesmo sem perceber (ainda), experimentavam mais uma vez uma verdade maravilhosa: até mesmo pastores, humanos e fracos, são, no fim das contas, ovelhas do aprisco do Sumo Pastor, cuidadas e protegidas, das mãos de quem nem uma só será arrebatada. A luz daquela verdade começava a iluminar e aquecer o quarto silencioso. A graça que o sustentou até ali continuaria a sustentá-lo.

Autor: Leandro Pereira Davin. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Editor e Revisor: Vinicius Lima.