Um blog do Ministério Fiel
Quero ser pastor! — A opinião dos outros importa?
Capítulo 5 da série "As estações na vida de um pastor"
Nota do editor: Este é o capítulo 5 da série “As estações na vida de um pastor”, do Ministério 9 Marcas. A cada segunda-feira de 2025 um novo artigo desta série será disponibilizado.
Considerando que o chamado para pastorear é um assunto de peso, não é algo que deve ser considerado de maneira superficial ou individualista.
Em nossa sociedade, onde desejos, sentimentos e percepções sobre si mesmo são autoritativos, é tentador ancorar o chamado ao ministério principalmente em nossa autoavaliação. Os cristãos querem apontar para alguma experiência “espiritual”, talvez se baseando no chamado apostólico de Paulo (Gl 1.1, 16–17). Mas isso é prudente?
O chamado para o ofício apostólico era exclusivo dos apóstolos e não prescritivo para gerações subsequentes de chamado ministerial. Além disso, o Novo Testamento apresenta evidências de responsabilidade corporativa ao afirmar o chamado de alguém para o ministério. Assim, meu objetivo aqui é persuadi-lo a dar mais peso à avaliação dos outros do que à sua.
Por que ouvir mais os outros do que a si mesmo?
Embora o desejo de servir como pastor seja bom (1 Timóteo 3.5), ele não é base suficiente, por si só, para validar o chamado de Deus sobre alguém, por pelo menos dois motivos.
Primeiro, uma igreja deve avaliar e confirmar a qualificação de um homem antes de instalá-lo no ofício pastoral (1 Timóteo 3.1–7, Tito 1.5–9). Claramente implícito está que o chamado de alguém para o ministério deve ser avaliado e confirmado por outros. Paulo até mesmo adverte Timóteo para não ser “precipitado na imposição de mãos” (1 Timóteo 5.22).
Em segundo lugar, o próprio Deus envolve outros para afirmar publicamente os chamados ao ministério, como em Atos 13.2–3:
Enquanto eles estavam adorando o Senhor e jejuando, o Espírito Santo disse: — Separem-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando e orando, e impondo as mãos sobre eles, os despediram.
Foi ideia do Espírito Santo que a igreja de Antioquia separasse Paulo e Barnabé. O chamado do Espírito Santo, portanto, não ignora a afirmação pública da igreja do chamado ministerial, mas o capacita. Como Calvino disse: “Qual era o propósito daquela separação e imposição de mãos depois que o Espírito Santo atestou sua escolha, exceto preservar a disciplina da igreja na designação de ministros por meio de homens?”
Portanto, considere ouvir os outros mais do que a si mesmo, porque o “chamado externo” é o meio do Espírito Santo para publicamente afirmar e reafirmar seu chamado. Essa realidade corporativa do chamado de Deus prova ser essencial quando precisamos de encorajamento para prosseguir em meio às dificuldades (2 Timóteo 1.6–7).
Como ouvir os outros sobre o seu chamado
Ouça com intencionalidade
Inicie! Conte aos seus pastores como seu coração está lutando com seu senso de chamado para o ministério pastoral. Peça recursos para ler e discutir com eles. Convide-os a orar por você, observá-lo e falar em sua vida sobre esse assunto.
Há algumas armadilhas a evitar aqui. Não confunda intencionalidade com direito. Ou seja, não exija ser observado pelos presbíteros, nem venha com a sensação de ter chegado e esperar que os presbíteros agora lhe deem oportunidades de ministério público. Em vez disso, deixe-os saber como você está lutando e siga a liderança e o ritmo deles.
Ouça com humildade
Há uma maneira orgulhosa de ouvir os outros, ou seja, para obter sua aprovação. Em vez disso, combine intencionalidade com humildade. Ouça para aprender sobre si mesmo e não apenas para ser afirmado. Entre sem nenhuma resposta preconcebida que você espera ouvir.
É fácil deixar que sua identidade ou valor seja envolvida em sua aspiração pelo ministério pastoral. Muitas vezes temos pontos cegos ao avaliar nossas próprias habilidades ou prontidão, sentindo-nos mais sábios do que realmente somos (Rm 12.16b). Deixe que os outros falem com você com franqueza, mesmo que isso signifique ouvir sobre suas deficiências ou despreparo.
Ouça com paciência
Lembre-se de como Moisés esperou várias décadas na obscuridade antes que seu ministério ganhasse força. Não contorne o processo por falta de paciência. É possível pedir confirmação muito apressadamente ou abruptamente. Se sua igreja é lenta em afirmar seu chamado, não encare isso como perda de tempo. Pode ser a maneira de Deus testar se você se submeterá à sua liderança.
Quem ouvir para avaliar meu chamado?
Ouça sua esposa
Deus lhe deu uma esposa para ser sua auxiliadora. Portanto, busque a ajuda dela! Você quer toda a sabedoria que ela tem. Qual é a avaliação que ela faz de você, de seus dons, de seu caráter e das oportunidades que estão à sua frente? Então, ouça as respostas dela, não tente direcioná-las para o caminho que você quer que ela siga. Confie que ela é o presente que Deus lhe deu para ajudá-lo a discernir o chamado dele para sua vida.
Ouça os crentes maduros
Espero que você tenha ao seu redor vários crentes maduros que o conheçam bem. Alguns podem até fazer parte da sua família. Algum deles ficaria surpreso positiva ou negativamente ao saber que você está considerando o chamado para o ministério? Pergunte a eles por que sim ou por que não.
Ouça a sua igreja local
Os membros da sua igreja oferecem feedback não solicitado sobre a fecundidade de como você os serve e lida com a Palavra de Deus, pelo menos em conversas pessoais ou pequenos papéis de ensino? Uma congregação de crentes deve ser capaz de observar sua piedade e talento em ministrar aos outros.
Ouça seus pastores
Embora seja útil ouvir os membros da igreja ou pessoas que o conhecem bem, você deve priorizar ouvir aqueles que também conhecem bem o ministério. Eles conhecem as várias facetas do ministério pastoral e os fardos que pertencem a ele. Espero que você esteja em uma igreja onde os pastores tenham uma compreensão saudável e robusta de seu ofício.
Envolva-os logo no início do processo de discernimento do chamado de Deus. Dê-lhes tempo para observá-lo. Não entre em contato somente quando precisar que eles escrevam aquela carta de referência para uma inscrição no seminário. Ofereça-se para ser um estagiário pastoral (mesmo que não seja remunerado) para que você possa estar mais perto de seus pastores e ser mais bem observado.
O ponto principal é que o chamado para o ministério não é meramente uma autoavaliação ou decisão individual; Deus projetou sua igreja para se envolver na afirmação pública daqueles que ele chama para o ofício pastoral, então ouça-os mais do que a si mesmo.
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