Escolhendo com sabedoria as lutas do ministério pastoral

Capítulo 11 da série "As estações na vida de um pastor"

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Nota do editor: Este é o capítulo 11 da série “As estações na vida de um pastor”, do Ministério 9 Marcas. A cada segunda-feira de 2025 um novo artigo desta série será disponibilizado.


“Escolha suas batalhas.” Essa frase é comumente dada a novos pastores porque há muitas batalhas a serem travadas.

Jovem pastor, ao se estabelecer no ministério, você provavelmente identificará uma série de coisas que deseja mudar, desde as mais importantes até as mais triviais: mudar os estatutos, atualizar a iluminação do santuário, contratar (ou demitir) um membro da equipe, revisar as listas de membros, reformatar o boletim, introduzir novas músicas, repintar os escritórios, revisar o currículo das crianças. Que lista!

O bom senso lhe diz que não é possível resolver todos esses problemas imediatamente. Você não tem o tempo, a experiência, o conhecimento institucional e, talvez o mais importante, o capital relacional para lidar com tudo em todos os lugares ao mesmo tempo. Os generais evitam guerras em várias frentes, e os pastores sábios devem saber como escolher suas batalhas com cuidado.

Mas quais batalhas você deve escolher? Como você prioriza as mudanças? Por que você deve renovar uma coisa e esperar outra? Essas são perguntas com as quais estou lutando no momento. Embora eu seja pastor sênior há mais de 26 anos, estou agora em minha terceira congregação e em mais uma janela inicial de cinco anos. Em todas as três igrejas, aprendi que escolher sabiamente as batalhas depende de muitos fatores. Uma vitória fácil para um pastor na Igreja A pode ser uma missão suicida para um pastor na Igreja B. Dito isso, aqui estão cinco categorias de questões que você pode considerar priorizar no início de seu ministério.

1. Questões pré-assumidas

Escolha batalhas que tenham sido declaradas antes de seu primeiro dia de trabalho. Às vezes, a igreja declara a batalha. Em meu segundo pastorado, o conselho administrativo me disse logo de início que queria fazer a transição para um modelo de presbitério. Quando cheguei, imediatamente começamos a trabalhar e alteramos os estatutos em menos de um ano e meio.

Às vezes, o pastor declara a batalha antes de chegar. Na minha igreja atual, deixei claro desde o início que, se eles me chamassem, eu os levaria a substituir o conselho e os comitês por presbíteros e diáconos bíblicos. Alteramos nossos estatutos depois de três anos.

De fato, incentivo fortemente os pastores a colocarem na mesa mudanças importantes e previsíveis já durante o processo de candidatura. Como já ouvi outro pastor dizer: “Tente ser demitido durante a entrevista”. Declarar suas intenções com antecedência é uma gentileza para a igreja e uma proteção para você. Quando a igreja o escolhe, ela também está escolhendo as batalhas que você declarou. Esse princípio não garante um processo sem problemas, mas lhe dá uma espécie de autorização e estabelece uma prioridade para você.

2. Padrões bíblicos da igreja

Falando de presbíteros e diáconos… sobre escolher seguir as prioridades e os padrões bíblicos para a igreja.

Aqui estou pensando em coisas estruturais: a membresia da igreja, a adoração corporativa saturada e governada pela Bíblia, a administração correta das ordenanças e a congregação exercendo as “chaves do reino” (Mt 16.19, cf. 18.18), tanto para a inclusão quanto para a remoção de membros. Tudo isso exige clareza quanto aos cargos de presbítero e diácono.

Mas isso não é tudo. Priorize a pregação expositiva, o evangelismo, a formação de discípulos, a oração e a modelagem de uma cultura de edificação mútua e a plantação de igrejas. Todas essas disciplinas ajudam o trabalho do evangelho na igreja. A igreja é de Jesus, portanto, quando ele fala sobre a forma e a função de sua igreja, precisamos priorizar e aplicar o que ele diz.

É claro que escolher essas batalhas não significa tentar vencê-las em um dia, ou mesmo em um ano. É preciso tempo para ensinar a uma igreja o que as Escrituras dizem. Leva ainda mais tempo para persuadir seu povo de que os padrões bíblicos trazem mais bênçãos do que a mera tradição. Além disso, a implementação geralmente progride lentamente e em etapas. Quando se trata dessas mudanças, lembre-se do adágio festina lente: “apresse-se lentamente”.

Este é o ponto: tenha como meta as prioridades bíblicas, independentemente do tempo que isso leve. Não deixe que as batalhas do ministério diário o distraiam de seu foco na campanha estratégica e de longo prazo de ensinar seu povo a obedecer a tudo o que Jesus ordenou em sua Palavra.

3. Crises de integridade do Evangelho

Às vezes, você não escolhe suas batalhas. Elas irrompem ao seu redor. Nesses momentos, você deve lutar pelo bem da igreja e pela integridade de seu testemunho do Evangelho. Suponha que você descubra nos primeiros meses que o presidente do grupo de diáconos está tendo um caso com a esposa do pastor assistente; ou que a administradora do escritório – que por acaso é filha de uma família proeminente – está cometendo um desvio de dinheiro; ou que um professor influente da escola dominical para adultos está ensinando o Evangelho da prosperidade.

É extremamente arriscado para você, como novo pastor, enfrentar essas crises de frente. Isso pode lhe custar o emprego. Mas esses tipos de situações são tão graves que você não tem escolha a não ser correr para o fogo. A honra do nome de Jesus colocada em sua igreja está em jogo. Você não escolheu essas batalhas, mas Deus as escolheu soberanamente para você, e você deve defender a glória dele.

4. Oportunidades providenciais

Outras vezes, você escolhe uma batalha não porque ela é muito calamitosa, mas porque é muito fácil. De fato, não há nenhuma batalha real. Deus se move misteriosamente e surge uma oportunidade de progresso. Agarre-a! Seja oportunista, no melhor sentido do termo. Em minha experiência, a reforma da igreja progride por meio de uma liderança intencional e lenta, bem como por meio de providências não lineares e surpreendentes.

Cheguei à minha igreja atual durante a pandemia de COVID. Como as congregações de todo o mundo, nossa igreja havia implementado uma opção de transmissão ao vivo. Sou contra a transmissão ao vivo (ou seja, assistir ao culto on-line, no domingo de manhã, em tempo real) porque ela tenta as pessoas a abandonar a assembleia e faz com que elas pensem na igreja de Jesus de forma consumista. Como exatamente alguém “cultua on-line”?

Então surgiu uma oportunidade. Um furacão monstruoso destruiu o prédio de nossa igreja. Tivemos que nos reunir nas instalações de outra igreja durante meses, onde não tínhamos capacidade de transmissão ao vivo. Aproveitei essa estranha providência e nunca mais reiniciei a transmissão ao vivo. Voltamos ao método antigo de gravar o sermão e publicá-lo no final da semana.

Esteja atento a esses frutos mais fáceis de serem colhidos. Muitas vezes você descobrirá que Deus já preparou o solo para você. Ele pode até ter providenciado as pessoas ao seu redor para ajudá-lo a fazer isso. Tenho visto com frequência como o Senhor levantou influenciadores fundamentais dentro da liderança e dos membros da igreja. Confie em seu conhecimento local para saber como e quando avançar.

5. A batalha mais feroz de todas

Há mais uma batalha que você deve escolher. É uma luta que afetará drasticamente o seu futuro e o de sua igreja. E é a batalha mais feroz de todas.

Irmão pastor, você deve lutar contra a impaciência em seu próprio coração.

Sim, há batalhas a serem enfrentadas logo no início. Mas, na maioria das vezes, você servirá melhor à sua igreja se for paciente, se for mais lento e se jogar o jogo longo. A lista de batalhas que não devem ser travadas é muito mais longa do que você imagina.

Como você luta contra a impaciência? Combata-a com fé na Palavra de Deus. Confie que Deus trabalhará no coração de seu povo por meio de uma pregação expositiva fiel aplicada à vida da igreja. Ajude seu povo a ver, semana após semana, como a Palavra de Deus não só fala à vida pessoal deles, mas também à vida corporativa da igreja. Depois, confie que o Espírito Santo trabalhará em seu tempo. A coisa mais útil que você pode fazer pela sua igreja como um novo pastor é estabelecer o púlpito com uma exposição fiel e centrada no Evangelho. Será que nossa impaciência com a igreja revela nossa falta de confiança na suficiência e no poder das Escrituras?

Resista à impaciência com oração. Faça uma lista de todas as coisas que você gostaria de mudar em sua igreja. Em seguida, coloque-as em oração e espere no Senhor. Você ficará surpreso ao ver como Deus responde às orações das maneiras mais surpreendentes.

Combata a impaciência com humildade. E se alguns dos problemas ou falhas que você vê na igreja forem questões de indiferença, ou até mesmo pontos fortes? E se as coisas que você deseja mudar forem apenas reflexo de suas preferências pessoais, cultura ou consciência? Sua impaciência pode ser resultado de inseguranças pessoais ou orgulho? Cultive a graça da autossuspeição.

Por fim, elimine a impaciência com amor. Sua igreja não é fundamentalmente uma organização a ser reestruturada, um problema a ser resolvido ou um ideal a ser realizado. Ela é uma assembleia de filhos de Deus comprados pelo sangue. Sua igreja é a casa de Jesus, a noiva de Jesus, o rebanho de Jesus. Pastores impacientes geralmente amam mais a ideia da igreja do que as pessoas da igreja. Mas Jesus as ama. E ele está amadurecendo seus filhos lenta, paciente e gentilmente, preparando sua noiva e liderando seu rebanho.

Que Jesus nos encha, seus subpastores e despenseiros, com seu amor e paciência por seus santos.


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Por: Jeremie Rinne. ©9Marks. Traduzido com permissão. Fonte: Patience! Pick Your Battles Wisely | Edição e revisão por Vinicius Lima.