Um blog do Ministério Fiel
O Grande Salmo 119
Um guia para ler com profundidade o maior salmo das Escrituras
O Grand Canyon é espetacular e vasto: 445 quilômetros de comprimento, até 28 quilômetros de largura e mais de um quilômetro de profundidade. Cobrindo cerca de 3000 quilômetros quadrados, o Grand Canyon tem aproximadamente o tamanho do estado de Delaware. Embora milhões de pessoas visitem esse parque nacional todos os anos, a grande maioria vê o Canyon apenas da borda e nunca se aventura nas trilhas para explorar suas maravilhas.
Pense no Salmo 119, o capítulo mais longo da Bíblia, como “o Grande Salmo”. Com 176 versículos, esse único salmo é mais longo do que Efésios e 28 outros livros da Bíblia! Ele inclui muitas frases conhecidas, como: “A tua palavra é lâmpada para os meus pés e luz para o meu caminho” (versículo 105). Mas estudar o salmo inteiro é um pouco como sair em uma caminhada até o fundo do Grand Canyon.
Depois de algumas horas na trilha sob o sol escaldante do deserto, os caminhantes cansados podem concluir que já viram o suficiente das formações rochosas de calcário, arenito e xisto e se dirigem à loja de presentes com ar-condicionado. Talvez você tenha pensamentos semelhantes em relação ao Salmo 119, pois os versículos parecem se misturar quando falam repetidamente sobre as Escrituras como a lei, os testemunhos, os preceitos, os estatutos, os mandamentos, as regras, a Palavra e a promessa de Deus.
Para nos orientarmos, observe que o Salmo 119 é um intrincado poema acróstico com 22 estrofes correspondentes às letras do alfabeto hebraico: aleph, beth e assim por diante. Assim como o poderoso Rio Colorado atravessa o Grand Canyon com suas paredes rochosas, a forma poética do Grande Salmo fornece as paredes pelas quais flui um rio de paixão e louvor. O poeta inspirado ficou tão cativado pela beleza da Palavra de Deus, tão confiante em sua veracidade, que escreveu o poema mais longo e complexo da Bíblia, celebrando o Livro que Deus nos deu para o nosso bem.
Vamos explorar três temas ou “trilhas” dentro e através desse Grande Salmo – devoção, dependência e deleite – para renovar e aprofundar nosso amor pelo Livro de Deus.
Devoção
A primeira trilha do Grande Salmo é a devoção. A devoção é como verificar o mapa, escolher a rota e partir com grande expectativa. Devemos orientar nossa mente, coração e vida para Deus e Sua Palavra. O salmo começa com uma bênção dupla que capta essa ênfase na devoção sincera:
Bem-aventurados os irrepreensíveis no seu caminho,
que andam na lei do Senhor.
Bem-aventurados os que guardam os seus testemunhos
e o buscam de todo o coração;
não praticam iniquidade
e andam nos seus caminhos. (versículos 1-3, NAA)
“Bem-aventurados” significa verdadeiramente felizes e favorecidos por Deus (como no Salmo 1.1). Nossa sociedade define a boa vida pelo acúmulo de bens, pelas conquistas pessoais e pela autonomia. Mas a boa vida, na verdade, é encontrada na busca do Deus verdadeiro, na observância de seus caminhos e na felicidade nele.
E então, depois de apenas três versículos falando sobre Deus, o adorador fala diretamente a Deus. Normalmente, pensamos no Salmo 119 como um poema elevado sobre a Palavra de Deus. Mas ele também é a oração “de eu para o Senhor” mais sustentada da Bíblia. O Grande Salmo reflete a comunhão pessoal, apaixonada e honesta com o Deus vivo – em outras palavras, a devoção ao Deus vivo.
Repetidas vezes, esse salmo pondera verdades preciosas sobre o caráter e os caminhos de Deus. “Tu és bom e fazes o bem” (versículo 68). Nos versículos 4-8, o poeta ensaia a realidade (“Tu ordenaste os teus preceitos para que os cumpramos à risca”), faz um pedido (“Quem dera fossem firmes os meus passos”) e depois expressa sua determinação (“Cumprirei os teus decretos”). Esses e outros versículos do Grande Salmo nos convocam a uma vida de profunda devoção, uma vida marcada pela confiança na Palavra de Deus e pelo compromisso sincero com os caminhos de Deus.
Essa primeira trilha do Grande Salmo nos orienta para o que é verdadeiro, correto e bom e nos motiva a confiar em Deus e buscá-lo. A Palavra é uma lâmpada para os nossos pés. A Palavra é uma lâmpada para os nossos pés e uma luz para o nosso caminho (versículo 105), por isso o adorador ora: “Ensina-me, Senhor” (versículo 33). Precisamos da luz da Palavra de Deus porque muitas vezes enfrentamos a escuridão – o que nos leva ao nosso segundo tema.
Dependência
Voltando à analogia da caminhada, a dependência é quando você já está há horas na caminhada e está cansado, sofrendo e se perguntando se está indo pelo caminho certo. Essa segunda trilha do Grande Salmo envolve confiar em Deus durante as provações. Passamos da oração de devoção, “Ensina-me”, para o apelo desesperado, “Ajuda-me!”
O salmista se identifica como “um peregrino na terra” (versículo 19) e expressa regularmente sua necessidade, confusão e problemas. Esse crente está gravemente aflito. Ele chora, fica acordado à noite, clama por ajuda e anseia por salvação. Pense no rei Davi fugindo de seu sogro Saul ou de seu filho Absalão. Pense no Filho maior de Davi, Jesus, um homem de dores, familiarizado com o sofrimento. Ele foi zombado, traído, abandonado, acusado, torturado e morto.
O salmista chega ao fundo do poço nos versículos 81-87. Esse crente em apuros se sente como um “odre na fumaça” – gasto, queimado, enrugado, deixado de lado. Pense em Jó sentado nas cinzas, raspando suas feridas, ou em Jeremias no fundo de uma cisterna lamacenta. O poeta grita: “Até quando? Socorro!” Ele não consegue ver uma saída. Ele está quase no fim, mas se agarra à promessa de Deus. É assim que a luz atravessa a escuridão, transformando o desespero em alegria confiante: “Para sempre, ó Senhor, a tua palavra está firmada no céu.” (versículo 89).
Mesmo depois dessa virada esperançosa para a confiança, a trilha da dependência na aflição percorre o Grande Salmo até sua surpreendente conclusão: “Ando errante como ovelha perdida; procura o teu servo, pois não me esqueço dos teus mandamentos.” (versículo 176). Em outro lugar, o crente insiste que não se desvia dos preceitos de Deus (versículo 110). No entanto, aqui, ao se dirigir ao Deus santo, ele está ciente de seu próprio pecado. “Propenso a vaguear, Senhor, eu sinto isso!” Essa é a oração de alguém que é pobre de espírito e que provou a graça de Deus. O salmista busca a Deus de todo o coração (versículos 2, 10), mas ele também precisa do Divino Pastor para buscá-lo.
Deleite
Nossa última trilha no Grande Salmo é o deleite. Dez vezes, o poeta expressa sua alegria na Palavra de Deus, como no versículo 14: “Mais me alegro com o caminho dos teus testemunhos do que com todas as riquezas”. A ênfase no deleite lembra o homem feliz do Salmo 1, cujo “prazer está na lei do Senhor” (Salmo 1.2). Nosso salmista canta por causa do valor supremo da Palavra de Deus, que é mais preciosa do que ouro ou prata (versículos 72, 127). De fato, as Escrituras são um saboroso banquete para a alma: “Quão doces são as tuas palavras ao meu paladar! Mais que o mel à minha boca!” (versículo 103).
Lembre-se de que essas expressões eufóricas saem da pena do mesmo poeta que suportou dias de angústia, noites sem dormir e inúmeras aflições. Ele pensou que sua vida havia acabado. Sentiu-se esgotado e desgastado. Deus o encontrou na escuridão, sustentou-o no vale e o levou a um lugar de abundância. Assim, ele descansa e se deleita com a Palavra fiel de Deus. Ele valoriza o seu Deus nas provações e por meio delas, expressando a realidade bíblica de que os crentes muitas vezes estão “tristes, mas sempre alegres” (2 Co 6:10).
A devoção diz: “Ensine-me!” A dependência clama: “Ajude-me!” O deleite diz: “Emocione-me!” Essa terceira trilha pelo Salmo 119 revela o objetivo de nossa devoção a Deus e a dependência de suas promessas. Por que um trilheiro parte com uma expectativa ansiosa e continua mesmo quando está cansado, com calor e com dores por todos os lados? Porque ele sabe que a trilha leva a uma cachoeira espetacular onde ele pode contemplar a glória e mergulhar em piscinas refrescantes. Como Agostinho famosamente orou: “[Tu] nos fizeste para Ti, e o nosso coração está inquieto até que descanse em Ti” (Confissões, 1.1.1).
O Grande Salmo nos oferece uma nova visão do Deus que graciosamente nos deu sua excelente Palavra, o Deus que sustenta e satisfaz seus santos cansados. Portanto, pegue e leia o Livro de Deus com devoção, dependência e deleite.
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