Que história eu estou escrevendo?

Dois princípios bíblicos para escrever uma boa história de vida

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A professora do meu sobrinho pediu a cada aluno que imaginasse e escrevesse uma história. A dele foi a seguinte:

“Uma família vampiresca

O menino quando os pais saiam, ia ver televisão, sempre para ver YouTube, Disney, HBO ou ir dormir. Um dia o menino acendeu o fogão e foi ver televisão. Umas horas depois a casa incendiou-se, mesmo na hora que os pais chegaram. Pegaram logo no bebé, voaram por cima do bosque e da floresta. Quando estava a amanhecer, os vampiros voaram mais depressa e chegaram ao café e partiram a porta, entraram e mataram todos.”

O que acharam? Confesso que como tia, como mãe, fiquei horrorizada quando li.

Mas não são só as crianças na escola primária que escrevem histórias, todas nós, cada uma escreve a sua. Diariamente, constantemente e com uma agravante: não podemos apagar o que já foi escrito. Torna-se, então, importantíssimo pensar muito bem o que vamos escrever.

Dois princípios bíblicos para escrever uma boa história de vida

“Agora, pois, temei ao SENHOR e servi-O com integridade e com fidelidade; deitai fora os deuses aos quais serviram vossos pais dalém do Eufrates e no Egito e servi ao SENHOR.

Porém, se vos parece mal servir ao SENHOR, escolhei, hoje a quem sirvais: se aos deuses a quem serviram vossos pais que estavam dalém do Eufrates ou aos deuses dos amorreus em cuja terra habitais. Eu e a minha casa serviremos ao SENHOR.” – Josué 24.14-15

Essa passagem (que, por sinal, contém um versículo bastante conhecido e citado no mundo evangélico) que se encontra no final do livro do Josué. Para entender o que está a acontecer aqui, precisamos entender o contexto em que foi dito o que foi dito.

Primeiro, o livro de Josué é um livro histórico (é o primeiro de 12 livros, no Antigo Testamento, que relata a história do povo escolhido por Deus, o povo de Israel). Vem logo após o Pentateuco (os 5 primeiros livros da Bíblia), que contêm a história do início da Criação, como Deus escolheu um povo para si (a partir de Abraão, a quem prometeu uma terra), como tira este povo da escravidão no Egito, fazendo deles uma nação, dando-lhes a Lei e guiando-os à terra prometida.

O livro de Josué relata a história do povo já ao entrar nessa terra, e todas as conquistas do território. É então, no final de todas essas conquistas, quando a terra já foi dividida pelas tribos, que Josué chama o povo para exortá-los para decidirem o que iriam fazer das suas histórias, dali em diante.

O propósito do livro de Josué é, então, registar como Deus capacitou Israel, sob a liderança de Josué, a conquistar Canaã e cumprir a promessa de Deus feita a Abraão, enquanto, ao mesmo tempo, exerceu juízo sobre a iniquidade dos habitantes da terra. Através do livro de Josué, Deus, revela-se fiel para cumprir as Suas promessas de bênção à medida que Lhe somos obedientes.

Então, Deus espera do seu povo obediência. Por isso agora, no momento de despedir as tribos, cada uma para a sua porção de terra conquistada e atribuída, Josué exorta o povo, com dois princípios bíblicos para escreverem bem a sua história dali em diante.

Para escrever uma boa história de vida

Precisamos:

1. Fazer o que Deus deseja (v.14) E isso implica duas coisas, que se destacam neste versículo:

      • Temer o SENHOR — e — Servir o SENHOR

A expressão “Temer o SENHOR” é comum no Antigo Testamento para a fé verdadeira (por exemplo, Salmo 12.1 – “Bem-aventurado aquele que teme ao SENHOR e anda nos Seus caminhos.”)

Israel devia temer ao Senhor. O temor do Senhor é a essência da atitude religiosa que se espera do crente do AT. O termo ocorre com frequência em Deuteronômio (4.10; 6.2, 13, 24). O temor do Senhor é a atitude de respeito e de reverência que se espera de um filho de Deus, diante do seu Criador e Redentor. Esse temor é desejado e aprovado por Deus (Dt 4.10). Não é inconsistente com a experiência do perdão, antes o temor vem como consequência do perdão (Sl 130.4 – “Contigo, porém, está o perdão, para que te temam.”). Esse temor deve ser prestado com sinceridade e fidelidade. Deve ser sem hipocrisia, mas expresso com simplicidade e coração verdadeiro.

Temer o SENHOR implica conhecê-lo. Esse conhecimento é a base para uma boa história. Na Bíblia lemos que O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é prudência.” (Pv 9.10).

Como podemos conhecer mais o Senhor, para reverenciá-lo mais e temê-lo mais?

Como, sendo eu pecadora (todas sabemos que somos…!), posso conhecer “o Santo”? Humanamente falando, é impossível porque DEUS é Santo e definitivamente não tem comunhão com o pecado. Foi aí, na nossa incapacidade, que Deus demonstrou o seu grande amor quando “nos amou sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5.8). “O salário do pecado é a morte” (Romanos 6.23a), como tal, sendo pecadoras, merecíamos estar separadas (mortas  espiritualmente), longe de Deus. Mas “Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3.16). Deus solucionou o problema!

“E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida.” (1 João 5.1-12) 

Tens a vida? Tu já depositaste a tua fé naquele que, sendo Deus, se despojou da sua glória, fazendo-se homem (é o Natal que celebramos!) e veio a este mundo para, 33 anos depois, morrer por ti e por mim na cruz do Calvário, pagando o preço do teu e do meu pecado, para que hoje tu possas ter vida e vida em abundância?

Se viras as costas a este convite maravilhoso, ainda assim, deves temer a Deus, mas neste caso como Juiz. Porque a Bíblia diz que é dado ao homem morrer uma só vez, vindo depois disso o juízo.” (Hebreus 9.27). Deus é o Juiz. Se a tua conta não foi paga pelo sacrifício de Jesus na cruz, então, tu pagarás essa conta na eternidade.

Por isso, a nossa oração é que hoje seja o dia de pensar neste tão grande amor com que ele te amou e que te rendas a ele. Não percas mais tempo! Não arruíne a possibilidade de escrever a melhor história de vida! (com um final feliz, literalmente, para sempre!)

Se já, então já tens o básico, o fundamento para uma boa história ser escrita, não por ti, mas por ele.

Como podemos crescer no temor do Senhor, na reverência e respeito por ele? Isso começa com a estima que temos por Deus. Precisamos voltar-nos para a Palavra de Deus. É na Palavra que Deus nos revela quem ele é. Quanto mais eu conheço sobre Deus, mais eu irei amá-lo.

O temor do Senhor também não é algo somente do Antigo Testamento. Jesus não é diferente do Deus do Antigo Testamento. À luz das Escrituras, vamos conhecendo Deus e descobrindo quem ele é. E quanto mais vejo que ele é santo, justo, perfeito, isso vai aumentando a minha reverência pelo tanto que estou a descobrir dele.

Quanto mais eu amo o Senhor e o reverencio, isso vai refletir-se nas minhas atitudes, nas minhas decisões.

Voltemos ao v.14 e vemos que o “temer ao SENHOR” vem acoplado com “servi-lo”.  Exatamente por esta razão: Deus é maravilhoso demais para eu não demonstrar o meu respeito e obediência a ele. Mas quando eu peco, eu não demonstro esse respeito. 

Minha irmã, não dá para conhecer a Deus, aproximarmo-nos dele, deslumbrarmo-nos com a sua grandeza, ao lermos as Escrituras, e não servir-lo! As duas coisas vão juntas.

Tens servido ao Senhor? Se paras para avaliar os teus dias tens servido o Senhor? Tu tomas a tua vida como um contínuo serviço ao Deus que te resgatou “das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pedro 2.9)?

Se foste comprada por preço, a tua vida não é mais tua, mas daquele que te comprou. Deves servi-lo.

Não necessariamente tens de ser uma missionária que abandona tudo e vai para outro país servir a Deus, mas aí, onde Deus te colocou – o teu lar, com o teu esposo, filhos, com os teus pais, no teu local de trabalho, com o teu patrão, com os teus colegas professores, – precisa servir-lo.

“E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens, cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo.” (Cl 3.23-24)

O Senhor deve ser servido com exclusividade e esse serviço envolve o lançar fora os deuses aos quais serviram os seus antepassados (v. 2). A mesma exigência é feita em outros pontos da história de Israel (Gn 35.2; 1Sm 7.4).

      • Jogar fora os ídolos — e — Servir ao SENHOR

A segunda coisa para fazermos o que Deus deseja é “deitar fora os ídolos”. 

“Mas como assim? (perguntas tu), eu não tenho imagens em casa! Eu não tenho ídolos ou altares a quem ou onde demonstre a minha devoção.”

Vamos pensar, juntas: O que é um ídolo? Um ídolo é algo ou alguém que toma o lugar mais importante das nossas vidas, é o objecto da nossa motivação, da nossa alegria, é aquele (ou aquilo) por quem (ou que) lutamos e defendemos com unhas e dentes, é quem (ou o quê) nos satisfaz e faz feliz, é quem (ou o que) mais almejamos e por quem (ou quê) nos esforçamos mais para ter ou agradar e passar tempo com.

Quem (ou o quê) toma esse lugar na tua vida?

Para melhor fazer esta avaliação pessoal, a passagem também nos ajuda.

Josué exorta o povo a deitar fora dois tipos de deuses: “os deuses aos quais serviram vossos pais“

        • “dalém do Eufrates”– uma referência aos deuses que Abraão tinha e adorava na terra de Ur (Gn 11.28) ou em Harã (Gn 11.31), com seu pai, antes de ser chamado por Deus (Josué 24.2). Eram ídolos que tinham sido trazidos como “recordações de família”, como tradição dos antepassados.

Não somos nós, hoje, expostas ao mesmo tipo de problema?

Avalia, há algum ídolo que roube a exclusividade do teu serviço ao Senhor, que te foi dado “por tradição familiar”? És escrava de jeitos e trejeitos que herdaste dos teus pais, que te impedem de ter um coração totalmente devoto e disponível para servir ao Senhor da tua vida?

        • “E do Egito”- uma referência aos ídolos com os quais se acostumaram (e abraçaram?) quando estavam a viver no Egito. Sendo povo de Deus, ao viverem ali, não mantiveram o seu culto exclusivo e genuíno somente ao Senhor, mas, de alguma forma, deixaram que a cultura egípcia os envolvesse e enredasse.

E nós? A cultura de hoje e aquilo que esta implica, tem enredado o teu coração e limitado o teu serviço, a tua exclusividade ao Senhor da tua vida?

São tantas as distrações. Uma casa de revista (com tudo o que isso implica, a perfeição o conforto, a tecnologia), filhos formados nas melhores universidades, um bom emprego, um bom salário, umas férias anuais dignas de revista também, um bom carro, as redes sociais sempre atualizadas ou estar sempre atualizado das redes sociais dos outros.

Quem tem decidido as metas para a tua história de vida? As tradições ou a cultura?

Quem tem decidido como deve ser o teu casamento (e o teu papel ali)? E a tua maternidade? E o papel que desempenhas na sociedade? As tradições ou a cultura?

Josué não perguntou se eles tinham ídolos para deitar e, caso tivessem, então deveriam desfazer-se deles. Josué assumiu que o povo os tinha e exortou-os a deitá-los fora.

Precisamos, com urgência, identificar o quê ou quem está no lugar que não lhe pertence, arrepender-nos, pedir perdão ao Senhor e deixar que Deus reine nos nossos corações com exclusividade, para poder servir-Lhe como Ele é digno, com integridade e fidelidade (v.14).

Também para escrever uma boa história de vida, é preciso…

2. Não fazer o que eu desejo

A passagem vai-nos fazer ver 3 áreas de desejo: o coração, as tradições e a cultura.

A. Não fazer o que eu desejo – Com o meu coração

Josué diz ao povo: “porém, se vos parece mal servir ao Senhor […]”, ou seja, ainda sendo o povo de Deus, separados para fazer o seu nome conhecido entre as nações, depois de todos os milagres que vivenciaram, tendo visto as manifestações do poder de Deus tão de perto, ainda assim, Josué via neles descaso e a possibilidade de lhes parecer mal servir ao Senhor. No coração do povo poderia haver o desejo de não querer, de lhes soar mal “ter de” servir ao Senhor. A escolha entre servir ao Senhor e servir a todas as outras divindades era real, e essa era a preocupação principal de Josué. O povo estava habituado com outros deuses, de alguma forma tinha-se acostumado, e essa “acomodação” tinha feito com que DEUS, o único e verdadeiro Deus (e a sua Palavra), tivesse perdido o encanto, o brilho, o primeiro lugar nos seus corações.

Cuidado, irmãs, estejamos atentas. “Enganoso é o coração mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jeremias 17.9)

Quantas vezes, no meu coração, eu desejo não ir ao culto? Quantas vezes eu desejo não sair do meu conforto para socorrer ou servir uma irmã em necessidade (às vezes com uma visita, uma refeição, uma mensagem)? Ou quantas vezes eu não desejo obedecer a Deus levando a cabo aquela exortação em privado, que o Espírito Santo já me chamou a fazer, privando assim a minha irmã em Cristo de crescer no seu processo de santificação? E quando eu não desejo ler a Bíblia? E quando eu não desejo orar?

Também não posso fazer o que eu desejo (como visto anteriormente)

B. Não fazer o que eu desejo – Com a tradição. Que coisas eu desejo, por tradição, por ter aprendido com a minha família, por ter sido influenciado por criação, “porque na minha casa sempre fizemos assim” que vão contra aquilo que o Senhor deseja que eu faça? Não somos chamadas a fazer o que nós desejamos, mas sim a vontade do Senhor. Estejamos atentas, avaliemos as nossas decisões e motivações diárias do nosso caminhar, da nossa vida. 

C. Não fazer o que eu desejo – Com a cultura. Que coisas eu desejo que são, nada mais, nada menos, que meras influências da cultura em que estou inserida? Por que faço o que faço? Por que desejo o que desejo? Por que o Senhor me tem instruído assim na sua Palavra? Desejo porque é a vontade do Senhor ou porque os meus pensamentos estão conformados com o pensamento deste mundo?

Em Romanos 12.1-2, o apóstolo Paulo escreveu aos crentes de Roma. “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”

Josué, o admirado líder do povo naquele momento, apresentou-se como exemplo para reafirmar a exortação. Qualquer que fosse a opção que o povo escolhesse, a sua decisão era clara: Eu e a minha casa serviremos ao SENHOR.

O final da história é muito drástico

Vocês lembram-se da história do meu sobrinho? Houve uma coisa que eu não vos contei. A professora escreveu uma nota na folha do texto, escreveu o seguinte: “O final da história é muito drástico!!”

Realmente, era! Mas, de novo, todas nós estamos a escrever uma história, a nossa história.

Então, que História eu estou escrevendo?

Uma com final feliz, para sempre ou uma com um final drástico?

O que será que as pessoas, no futuro, dirão quando ouvirem a nossa história a ser-lhes contada? Não sei quanto a vocês, mas eu não quero que a minha tenha um final drástico!

Para evitar um final assim, triste (como o da família vampiresca), preciso temer o Senhor, conhecê-lo. Jesus precisa ser o meu único e suficiente Salvador. Devo buscar conhecê-lo cada dia um pouco mais, através da sua Palavra, para que o meu amor por ele aumente e a minha vontade de servir-lhe também.

Preciso temer o Senhor e servir-lhe com a minha vida, na minha vida diária, onde quer que ele me tenha ou onde quer que ele me leve!

Preciso também deitar fora os ídolos! Identificar tudo o que possa estar sentado no trono do meu coração, que só o meu Senhor merece! Identificar, arrepender-me, recentrar a minha adoração com exclusividade no Senhor, e servir-lhe como Ele merece: com integridade e fidelidade.

Para escrever uma boa história de vida, precisamos:

Fazer o que Deus deseja

Não fazer o que nós desejamos.

Somente assim, a história da nossa vida glorificará a Deus e terá um impacto eterno na vida dos que ficam depois de nós.

Desafio final

Toma a mesma decisão que Josué tomou: Eu e a minha casa serviremos ao SENHOR.

Usa os princípios bíblicos para escrever uma história de vida digna do SENHOR.

Por: Sara Capote. © Voltemos Ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Revisão e edição: Renata Gandolfo.