Um blog do Ministério Fiel
Vastidão do cosmos, vida extraterrestre e a infinitude de Deus
Por que um universo tão grande para que exista vida somente na Terra?
“Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis; ” (Rm 1:20 )
É ideia recorrente nos meios tidos como esclarecidos que há vida inteligente fora da terra e que, portanto, não estamos sozinhos no cosmos. Uma das principais razões aventadas é que o espaço é um lugar infinito, sendo razoável a existência de vida alhures. Quando se levanta a objeção que talvez haja vida somente na Terra, uma vez que as Escrituras não dão a entender que o Senhor criou outros seres em outros planetas, é comum ouvir a velha e manjada resposta: se um Deus criou todo o universo e só fez a vida na terra, para que toda essa vastidão? Se é assim, foi um baita desperdício de espaço. Alguns em tom de zombaria completam: o homem não precisa de todo esse espaço se só há vida na terra. Esse Deus não foi muito esperto. Independente se há ou não vida em outros planetas (essa é uma pergunta para outra ocasião), o problema com este tipo de posicionamento é que está fundamentado em duas noções erradas: primeiro se confunde imensidão com probabilidade e, segundo, que o tamanho do universo demanda uma utilidade em escala humana. Explico.
No primeiro caso se imagina que se o universo é infinito, também são infinitas as possibilidades de qualquer coisa ocorrer, como no caso do aparecimento de vida aqui, ou nas vizinhanças de Proxima Centauri ou de Betelgeuse. De fato, o universo é em extremo vasto, talvez infinito (a ciência ainda não fechou essa questão), mas tamanho não é certeza de realidades possíveis. O quintal de casa, que mede 15x10m e provavelmente tenha uns 2,5 m de profundidade de solo cultivável, é virtualmente infinito para vírus nanométricos que porventura possam habitar no gramado ou solo, nem por isso significa que deverá existir algum vírus capaz de se comunicar em japonês ou forte o suficiente para levantar a minha casa. O máximo que surgiu no quintal ao acaso, para nossa surpresa, foi uma melancia (provavelmente de uma semente cuspida em uma tarde de calor). Semelhantemente, um vasto oceano, por maior que seja seu volume em termos de quantidade de moléculas de água, não me permite defender a premissa que, devido sua imensidão, há uma probabilidade não zero de existir uma molécula de água que seja formada por xenônio no lugar de oxigênio. Nunca aparecerá esta molécula. Simplesmente amplidão não é garantia que toda e qualquer coisa poderá existir em algum lugar. Quem pensa assim desconhece as bases mais elementares de probabilidade.
No segundo caso há a falsa correlação entre tamanho e utilidade (notem que não estou me referindo a propósito e sim a utilidade). O raciocínio é simples e rasteiro: se o universo é imenso, logo é obrigatório haver vida em muitos lugares do cosmo; se não houver não há sentido prático na imensidão do espaço. Quem melhor defendeu essa falsa correlação foi Carl Sagan em seu romance de ficção científica “Contato” (1985). Em determinado momento da trama, a personagem, Ellie Arroway, uma cientista atéia (um avatar do próprio Segan), ao discutir a possibilidade da existência de vida apenas na Terra, provoca os céticos e os cristãos ao afirmar: “O universo é um lugar bem grande. Se existir somente nós, parece um terrível desperdício de espaço!”. De lá para cá, muitos utilizaram essa frase como prova “auto evidente” da existência de extraterrestes e, ao mesmo tempo, da inexistência de Deus. Cabe notar que essa concepção não está ligada ao conceito de propósito do universo, pois indicaria um sentido subjacente à vida (e com isso a possibilidade da existência de um Deus), mas uma percepção humana de utilidade (se tem água, logo tem algum ser que possa beber; se é grande então haverá muita gente para caber dentro, etc). A frase de Segan não é uma evidência científica, sequer é uma afirmação da ciência, apenas uma opinião pessoal (aliás, muitas declarações de cientistas não são científicas e jamais passariam pelo crivo da ciência). Voltando à ilustração do quintal de minha casa, este é uma faixa de grama de 15x10m (atualmente um pouco descuidada), com uma pequena jabuticabeira na lateral direita, perto do muro, o que cria uma bela vista da varanda gourmet da casa. É pergunta recorrente entre os que nos visitam à primeira vez: por que você não constrói uma piscina, ou uma pequena quadra de vôlei ou uma edícula? Tanto espaço sem uso…”. E meneiam sutilmente a cabeça lamentando o desperdício daquele espaço. O que é isso? É tendência humana em demandar utilidade para qualquer coisa que se mostre um desperdício em relação às suas aspirações pessoais. De forma semelhante, Segan, assim como tantos outros ateus, varre para baixo do tapete do absurdo existencial qualquer possibilidade de um sentido maior no esquema das coisas apenas se algo lhes parece sem um uso imediato. “Que utilidade teria tanto espaço, se há vida em um único lugar?” é um arremedo de silogismo falacioso utilitarista, cuja premissa, em lugar de conduzir a uma conclusão lógica, entroniza uma opinião rasteira. Não lembro de alguém já ter perguntado: qual o propósito de não teres construído algo nesse belo gramado?
Mas sejamos justos com os céticos, estima-se que o universo visível tenha um diâmetro em torno de 93 bilhões de anos‑luz - 883 quatrilhões de quilômetros! Um vasto quintal onde existe desde as partículas subatômicas até imensas estruturas como galáxias e aglomerados de galáxias. Nesse contexto é legítimo pensar que a existência de apenas uma só espécie racional seria, no mínimo, extravagante. Contudo, à luz da fé em um Deus que criou todas as coisas com inteligência, sabedoria e poder, a amplidão do espaço não revela descuido, mas grandeza; não denuncia vazio, mas advoga propósito. A contemplação da imensidão do universo revela tanto nossa pequenez quanto a grandeza do Criador. “Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste, que é o homem, que dele te lembres, e o filho do homem, que o visites?” (Sl 8.3-4) é o pensamento e o sentimento do Rei Davi. Se ontem Davi estremecia só em contemplar a magnificência do céu estrelado em relação à finitude humana, como não estremecer ainda mais hoje que sabemos que entre um próton (10-15m) e o superaglomerado Laniaekea (≈10²⁴ m) há quase quarenta ordens de magnitude? Como não ficar perplexo ante o fato que dentro de nosso sol, em termos de volume, cabe tranquilamente um milhão trezentos e vinte um mil planetas Terra? O Sol é grande e brilhante? É, e o apóstolo Paulo dois mil anos atrás já afirmava ousadamente que até entre estrela e estrela há diferença de esplendor (1 Co 15.41). Se isso já nos traria espanto na época dos apóstolos, o que dizer de hoje uma vez que sabemos que cabem, em termos de volume, no interior na estrela VY Canis Majoris, entre 3 e 8 bilhões de Sóis (!!)? O universo é um oceano estrelas, mas nessa comparação as estrelas não compõem a água, são apenas como pequenos agrupamentos aqui e ali de plânctons. O oceano é de vazios, com bolhas nucleares e pequeninas ilhas de matéria dispersas, regulado delicadamente por forças em um ajuste ultrafino além de toda escala de compreensão científica. A física descreve essas forças, mas não as cria. Nossa ciência as mede, mas não explica o porquê de as constantes de força terem os valores que têm. O acaso não é, e nunca será, suficiente para explicar essa orquestra universal. Como li outro dia em para-choque de caminhão, e que se aplica perfeitamente à existência do cosmos, “nunca foi sorte, sempre foi Deus”.
Sim, o universo é grande, amplo, talvez até infinito em termos dimensionais, mas para que tanto espaço? O Senhor precisava criá-lo deste tamanho para fazer habitar apenas a raça humana? Perguntas legítimas, mas a resposta acertada só pode ser dada mediante a pergunta correta. A pergunta nunca foi “para quê”, ou sua similar “qual a utilidade de”, e sim “para quem”. Sagan estava errado quando disse que seria um desperdício de espaço se houvesse apenas a raça humana. Em sua afirmação, ele conseguiu errar as duas perguntas básicas: primeiro ao conceber que existência pressupõe utilidade em escala de valores humanos e, segundo, por achar que esse universo existe para o homem e suas contrapartes extraterrestres. O universo não foi criado para o homem ou para qualquer outra criatura, terrestre, angelical ou alienígena, o universo foi criado exclusivamente para o Senhor Deus, por meio do seu Filho, o Senhor Jesus Cristo. “Tudo foi criado por meio dEle e para Ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste.” (Cl 1.16b-17). Quando imaginamos que universo deva ter alguma utilidade pensamos sempre em termos de benefício próprio, algo que seja útil para nós, mas este não foi o motivo e nem o principal propósito. O universo não foi criado para a glória do homem, mas para a Glória do Senhor e temos o privilégio, dado e mantido por Ele, de habitarmos nesse lugar imensamente maravilhoso. Que é o homem para que o estimes a esse ponto, e o Filho do Homem que o visites?
O universo criado espelha em reduzida escala alguns atributos incomunicáveis do seu Criador. A infinitude é um deles. Mas como compreender um Ser infinito quando nós mesmos somos finitos e habitamos um planetinha minúsculo comparado a outras grandes estruturas cósmicas, que por sua vez são pequenas comparadas à imensidão do cosmos? Como amar algo que não se pode abarcar nem ao menos com a mente? E é aqui, naquilo que parece inefável e inconcebível, que entra a beleza das coisas criadas pelo Altíssimo. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas (Rm 1.20a). Sim! Podemos ter um pequeno, porém verdadeiro e significativo, vislumbre da infinitude do Criador ao observar a imensidão do universo. Nesse oceano cósmico que parece sem fim, podemos reconhecer a Grandeza superlativa do Criador. O universo é grande do jeito que é para que seja claramente reconhecido, por meio de suas escalas superlativas, os atributos, o poder e a divindade do Senhor Deus. Quem rejeita essas verdades reveladas, negando o Criador, rejeita as evidências da ciência, cujo objeto de estudo são as coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis; ” (Rm 1:20b).
Termino, respondendo à pergunta nunca antes feita sobre meu quintal: não construí nada porque um gramado amplo, com uma pequena e charmosa jabuticabeira ao lado, é belo em si e me lembra que nem tudo necessita apresentar uma utilidade imediata às nossas demandas. Não precisa ter uma piscina ou uma quadra, ou churrasqueira, para valida-lo como um quintal. Em seu despojado vazio há propósito e beleza, e se surgir uma melancia, vez ou outra, também me alegrarei. O universo não demanda ETs para ser grande, ele é imenso porque Quem o fez é imensurável em sua infinitude.
Àquele que mede as galáxias na concha da mão e, ainda assim, se inclina para ouvir nossa oração, sejam glória, honra e domínio para todo o sempre. Amém.
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