Quando minhas pregações e pastoreio parecem não surtir efeito algum

Capítulo 21 da série "As estações na vida de um pastor"

Nota do editor: Este é o capítulo 21 da série “As estações na vida de um pastor”, do Ministério 9 Marcas. A cada segunda-feira de 2025 um novo artigo desta série será disponibilizado.


Em sua mente mitológica, contemple Sísifo. Veja-o se esforçando para rolar uma grande pedra por uma colina íngreme, mas a pedra, pouco antes de chegar ao topo, cai de volta na colina. Imediatamente, ele tenta novamente com o mesmo resultado.

Segundo a história, Sísifo está destinado a reviver esse triste cenário por toda a eternidade. Como é enlouquecedor estar à beira do sucesso e falhar repetidas vezes.

A pregação pode ser parecida com isso. Toda semana, você empurra a rocha morro acima, orando, preparando-se e pregando com todas as suas forças, mas sente que nunca chega ao topo. Talvez você ouça “bom trabalho”, “isso foi útil” e “obrigado por tudo o que você faz”. Mas você não pode deixar de notar algumas coisas:

Os incrédulos visitam a igreja regularmente, mas parecem não ser afetados pelo Evangelho.

Muitos membros da igreja permanecem envolvidos minimamente.

Alguns lutam com os mesmos pecados que têm há anos.

Os casamentos fracassam.

Crianças que cresceram na igreja se afastam da fé.

Os membros vão embora porque você os decepcionou.

As reuniões de oração são pouco frequentadas.

O zelo evangelístico é mínimo.

O impacto missionário da igreja parece insignificante.

O mundo continua a se tornar mais mundano.

Pode parecer que sua pregação não muda nada. A rocha continua rolando de volta para o fundo da colina.

A mentira de Sísifo

Mas isso é realmente verdade? Será que nada está realmente mudando? Mesmo que nossa pregação seja “fora de tempo” (2 Timóteo 4.2), Deus sempre está tramando algo por meio da proclamação fiel de sua Palavra. Isaías viu poucos frutos em seu ministério, mas Deus lhe assegurou que a Palavra não voltaria vazia, mas realizaria tudo o que Deus havia proposto para ela (Isaías 55.11). Simplesmente não é verdade que nada está mudando quando pregamos, apesar do que sentimos.

O mais provável é que o problema seja que estejamos buscando resultados imediatos e óbvios, e não resultados graduais e sutis. Queremos que Deus solte fogos de artifício, mas Ele está mais interessado na agricultura. Espalhe a semente e vá dormir, disse Jesus. Plante e regue, disse Paulo. Com o tempo, Deus dará o crescimento (cf. Marcos 4.26-29, 1 Coríntios 3.6-8). A obra do Espírito por meio da pregação da Palavra é tão explosiva quanto ver um jardim crescer.

Examine sua própria trajetória de crescimento e sinta-se encorajado. Sua linha do tempo provavelmente é pontuada por momentos de mudanças rápidas – agradeça a Deus por esses momentos! No entanto, mais comumente, você provavelmente testemunharia que sua transformação tem sido lenta. Você acha que isso é diferente com as pessoas a quem você prega?

Nas palavras de Ray Ortlund, leva tempo para que as pessoas “repensem suas vidas em um nível profundo, porque as pessoas são complexas e mudar não é fácil”.¹ Normalmente, Deus forma e reforma seu povo por meio de sua Palavra não em minutos ou segundos, mas em anos e décadas. Essa mudança lenta pode ser desanimadora para nós, mas não para ele, para quem mil anos são como um dia. Os resultados de sua pregação podem não ser espetaculares, mas seu trabalho não é em vão. Você não é Sísifo.

Onde procurar

Ainda assim, a falta de mudança aparente pode ser desanimadora. O que o pregador deve fazer quando está pregando o melhor que pode, mas não vê frutos? Eu sugeriria olhar ao redor, olhar para cima e olhar para frente.

Procure os frutos que estão presentes

Aposto que você está deixando de ver os frutos. Aquele santo idoso está perseverando na fé? Aquele novo cristão está seguindo Jesus apesar do custo social? Aquele homem solteiro está procurando maneiras de servir? Aquela mãe está satisfeita em cuidar de sua família? Aquele jovem adulto está considerando oportunidades de missões? Que não haja dúvida de que a pregação da Palavra de Deus contribuiu.

O fato de o fruto ser despretensioso não significa que seja insignificante. Abra seus olhos para a obra simples de Deus na vida das pessoas.

Olhe para Deus enquanto prega

É correto se preocupar com a frutificação. Queremos que Deus use nossa pregação para salvar e santificar. Independentemente do fruto, no entanto, você pode ficar satisfeito sabendo que foi fiel a Deus. “Quem é o servo fiel e prudente”, perguntou Jesus certa vez, “a quem o seu senhor pôs sobre a sua casa, para lhe dar o alimento no tempo certo? Bem-aventurado aquele servo a quem o seu senhor, quando vier, achar fazendo assim” (Mateus 24.45-46).

Prossiga com a pregação fiel – dê às pessoas o alimento na hora certa – e deixe os resultados para Deus. Lembre-se de que, em última análise, você está falando em Cristo “diante de Deus” (2 Coríntios 2.17), portanto, preste seu serviço com boa vontade “como ao Senhor e não aos homens” (Efésios 6:7).

Olhe para o Dia do Senhor

Atualmente, você não consegue adivinhar todo o trabalho invisível que Deus está realizando por meio de sua pregação. Mas na primeira luz da eternidade “a obra de cada um se manifestará, porque o Dia a revelará” (1 Coríntios 3.13). Naquele dia, se você foi fiel em pregar Cristo, verá o quanto Deus o usou neste mundo. Suspeito que você ficará alegremente chocado.

Cortando a grama no escuro

Você já cortou a grama do seu quintal ao anoitecer? Você chega em casa tarde do trabalho, o sol está baixo no céu, mas você não pode deixar a grama sem cortar nem mais um dia. Você liga o cortador de grama e começa a trabalhar. Na luz fraca do entardecer, é difícil ver se está se saindo bem. Suas linhas estão retas? Tudo está sendo cortado? Haverá partes desalinhadas que você deixou passar? Você trabalhou com o máximo de cuidado possível. Agora aguente firme. A luz do dia está chegando, e o amanhecer revelará tudo. (Deixe o leitor entender.)

Continue pregando fielmente. Esta escuridão atual pode obscurecer o fruto de seu trabalho, mas o sol está prestes a nascer.

 


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¹ Ray Ortlund, The Gospel: How the Church Portrays the Beauty of Christ (Wheaton: Crossway, 2014), 72.

Por: David King. ©9Marks. Traduzido com permissão. Fonte: Every Week I Preach My Guts out and . . . Nothing Changes | Edição e revisão por Vinicius Lima.