A realidade do luto (João 11.33-35)

 

Jesus, vendo-a chorar, e bem assim os judeus que a acompanhavam, agitou-se no espírito e comoveu-se. E perguntou: Onde o sepultastes? Eles lhe responderam: Senhor, vem e vê! Jesus chorou. (Jo 11.33-35)

 

O luto é “uma tristeza que abala a vida por causa da perda. A tristeza rasga a vida em pedaços; abala a pessoa dos pés à cabeça. Afrouxa-a; ela se desfaz pelas costuras. O luto é realmente nada menos do que uma perda devastadora”(1). Você pode conhecer essa experiência muito bem. Lembro-me de sua primeira intrusão na minha vida quando eu era adolescente e minha mãe morreu. Nada poderia ser como antes.

Você não precisa viver muito como crente para descobrir que a fé não nos isola da tristeza e do medo dela. Paulo escreveu sobre a experiência de quase morte de seu amigo Epafrodito: “Com efeito, adoeceu mortalmente; Deus, porém, se compadeceu dele e não somente dele, mas também de mim, para que eu não tivesse tristeza sobre tristeza” (Fp 2.27). A ideia de perder Epafrodito partiu o coração de Paulo. Ele entendeu que a morte não era o fim, mas também reconheceu que, na experiência da perda, ou mesmo na probabilidade dela, há verdadeira tristeza.

O luto é difícil, porque algo foi perdido e certas alegrias agora se foram irremediavelmente. Mas também sabemos que o luto é uma realidade sobre a qual a Escritura fala claramente — uma realidade que um dia será redimida por uma alegria muito maior. E sabemos que o luto é uma realidade com a qual nosso Salvador está pessoalmente familiarizado. Enquanto Jesus estava diante do túmulo de seu amigo Lázaro, ele — a segunda Pessoa da Trindade — se entristeceu com aqueles que se reuniram lá. Embora estivesse prestes a ressuscitar Lázaro dos mortos, ele ainda chorava, porque estava sinceramente triste. O mistério nesta cena é que Jesus se identificou tanto com nossa humanidade, que derramou lágrimas genuínas pela perda de seu amigo amado.

Embora a Bíblia nos apresente a realidade da vitória de Cristo sobre a morte e a sepultura, ela não nos chama a algum tipo de triunfalismo brilhante e desumano. Em vez disso, como escreve Alec Motyer, “as lágrimas são apropriadas para os crentes — sem dúvidas, elas devem ser ainda mais copiosas, pois os cristãos são mais sensíveis a todas as emoções, seja de alegria ou tristeza, do que aqueles que não conheceram nada da graça suavizante e vivificante de Deus”.(2)

O fato de que nossos entes queridos que morreram em Cristo agora estão com ele alivia, mas não remove a angústia da perda e da solidão. Continuamos ansiando pelo dia em que essa dor terá cessado. Até esse dia chegar, podemos encontrar conforto em saber que Jesus era “homem de dores e que sabe o que é padecer” (Is 53.3) ao olharmos para ele como nosso exemplo, ao vermos que ele é “a ressurreição e a vida” (Jo 11.25), e ao recorrermos a ele para a nossa eternidade. Saber disso é o que permite que o luto e a esperança coexistam em nosso coração.

 

(1)  Jay E. Adams, Shepherding God’s Flock: A Handbook on Pastoral Ministry, Counseling, and Leadership (Zondervan, 1975), p. 136.

(2) J. Alec Motyer, The Message of Philippians, The Bible Speaks Today (IVP Academic, 1984), p. 90.


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