Justiça, misericórdia e humildade (Miquéias 6.8)

Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus? (Mq 6.8)

 

Quando John Newton, escritor de hinos e pastor do século XVIII, pregou sobre este versículo, ele intitulou seu sermão “Sem acesso a Deus, senão pelo Evangelho de Cristo”. Por que ele usaria um título que parece não ter nenhuma conexão com o versículo?! O próprio Newton comentou: “Quase não há uma passagem na Bíblia, em geral, mais mal compreendida que esta”.(1) Seu título de sermão, ao que parece, visava corrigir as más interpretações comuns.

O título de Newton nos alerta para o perigo de ler as virtudes descritas aqui e depois tentar vivê-las sem o Evangelho, ou proclamá-las no lugar do Evangelho, como um meio de acesso a Deus. Nenhuma delas faz justiça à intenção do profeta — e do Senhor. A melhor maneira de entender Miqueias 6.8 não é como uma lista de coisas que contribuem para nossa justificação, mas como evidências de nossa justificação. Quando vemos dessa maneira, com a motivação e os objetivos adequados estabelecidos, podemos entender o que o Senhor estava chamando Israel para fazer, assim como a nós.

O Senhor, por meio de Miqueias, nos manda primeiro “[praticar] a justiça”. Isso significa um compromisso de agir de acordo com a vontade e o propósito de Deus. Por exemplo, em Deuteronômio, Moisés diz que Deus “faz justiça ao órfão e à viúva e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e vestes” (Dt 10.18). Queremos nos importar com as coisas com as quais Deus se importa, o que significa levar essas prioridades a sério, buscando “[fazer] o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé” (Gl 6.10).

Em segundo lugar, o Senhor nos manda “[amar] a benignidade”. Se fazer justiça é a ação, então a benignidade amorosa é a atitude do coração que a alimenta. É compaixão calorosa, garantindo que busquemos a justiça não como um cumprimento de algum dever, mas como uma ação alegre de benevolência.

Terceiro, devemos “[andar] humildemente”. Em outras palavras, devemos andar em submissão à vontade de Deus, abraçando nossa total dependência dele a cada passo do caminho. Por que Miqueias termina esse versículo com humildade? Primeiro, porque a humildade é o necessário para reconhecer que não obedecemos perfeitamente ao chamado de amar a bondade e fazer justiça — e, portanto, precisamos do perdão do Senhor, e não apenas de seus mandamentos. E, segundo, porque, mesmo quando obedecemos a ele da maneira como Miqueias 6.8 nos chama, a fecundidade de nossas obras não depende de nós.

Você e eu não podemos consertar o mundo; devemos, em vez disso, confiar a solução ao Rei e Juiz do mundo. Fazer isso nos motiva e nos sustenta, com a ajuda de Deus, a viver o Evangelho que nos salvou, por meio de expressões de justiça, bondade e humildade, para o bem de nossos próximos, para o testemunho da igreja e para a glória de Cristo. Através dos séculos, Miqueias o chama hoje a refletir humildemente sobre sua necessidade do Evangelho, a olhar para o seu coração e pedir ao Espírito que o faça crescer em misericórdia, semelhantemente a Cristo, e então olhar para o seu mundo e buscar ativamente a justiça e a retidão.

 

(1) The Works of the Rev. John Newton (1808), Vol. 2, p. 543.


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