O fardo do profeta (Habacuque 1.1)

O oráculo que o profeta Habacuque viu. (Hc 1.1)[1]

 

A importância dos verdadeiros profetas nunca esteve em quem eles eram, mas na mensagem que proclamavam. O mesmo deveria ser dito de nós também.

Veja Habacuque, por exemplo. O conteúdo biográfico sobre ele é praticamente inexistente. Tudo o que sabemos sobre ele é derivado do livro de profecia que leva seu nome, e isso nos diz muito pouco; você não pode encontrá-lo em nenhum outro lugar do Antigo Testamento. Todavia, esse silêncio é significativo. As credenciais de Habacuque estavam inteiramente em seu chamado.

Encontramos essa mesma perspectiva em toda a profecia bíblica. Sabemos mais sobre alguns profetas do que outros, mas mesmo as coisas que sabemos não são profundas ou convincentes. Amós, por exemplo, era simplesmente um “boieiro e colhedor de sicômoros” antes que Deus colocasse a mão sobre ele (Am 7.14). De igual forma, quando João Batista foi pressionado por informações sobre quem ele era, testemunhou: Eu sou a voz do que clama no deserto. Sou uma lâmpada que está alumiando por algum tempo, mas Jesus é a Luz do Mundo. Sou um dedo que aponta para Cristo; convém que ele cresça e que eu diminua (veja Jo 1.23; 5.35; 3.30).

Neste versículo de abertura de Habacuque, a palavra para “oráculo” às vezes é traduzida como “fardo”.[2] Qual era o fardo? Foi o fardo que o profeta sentiu ao ver as coisas de acordo com a visão que Deus tinha dado, de olhar para circunstâncias que outros tinham visto, mas não entendiam, e de trazer a sabedoria e os desígnios de Deus para aqueles que ouviam.

Apesar de nossas preocupações modernas com personalidades e credenciais, na pregação, ensino e compartilhamento do Evangelho, é a mensagem que deve sempre ser o foco principal. Cada sermão pregado, lição ensinada e conversa do Evangelho que temos acaba murchando como grama. Seu único valor é encontrado à medida que a verdade infalível e a confiabilidade da Palavra de Deus se ancoram na alma do ouvinte. Como David Wells escreve, a pregação — e qualquer forma de comunicação da verdade de Deus, baseada na Palavra de Deus — “não é uma conversa, um bate-papo sobre algumas ideias interessantes… Não! É Deus quem está falando! Ele fala através dos lábios balbuciantes do pregador, onde a mente desse pregador está no texto da Escritura e seu coração está na presença de Deus.”[3]

Quer sejamos chamados a pregar, ensinar ou compartilhar a Palavra de Deus com o próximo, há uma lição importante aqui: em nosso âmago, deve haver uma humildade genuína que vem da compreensão da natureza convincente do chamado de Deus sobre nossa vida. Contudo, também deveria haver uma certa empolgação com isso, pois a que preferiríamos dar nossa vida, se não a esta mensagem que é muito maior do que nós mesmos, cujos efeitos na vida dos outros durarão toda a eternidade? Hoje, não se preocupe tanto com as aptidões e habilidades do mensageiro; em vez disso, preocupe-se em compartilhar a mensagem, da maneira como foi chamado para fazer isso e com quem quer que seja.

[1] Tradução do autor.

[2] N.T.: Em português, as versões ACF e ARC traduzem como “peso”.

[3] The Courage to Be Protestant: Truth-Lovers, Marketers and Emergents in the Postmodern World (IVP, 2008), p. 230. Publicado no Brasil, em português, por Editora Cultura Cristã, Coragem para ser protestante: amantes da verdade, marqueteiros e emergentes no mundo pós-moderno.


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