Um espírito perdoador (Lucas 11.4)

Perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo o que nos deve. (Lc 11.4)

 

Em um rápido relance, esse pedido pode soar como um quid pro quo[1] — que perdoarmos os outros de alguma forma faz com que mereçamos o direito de sermos perdoados. No entanto, se permitirmos que a Escritura fale por si própria, reconheceremos que o oposto é que é verdade. Deus perdoa apenas os penitentes — aqueles que sentem tristeza santa e se arrependem pelos seus pecados. E qual é uma das maiores evidências de ser penitente? Um espírito perdoador! Em outras palavras, quando perdoamos uns aos outros, não conquistamos o perdão; mostramos que já fomos transformados pela graça perdoadora de Deus.

Jesus ensinou que é inconcebível que nós, a quem tanto se perdoou, nos recusemos a perdoar as dívidas de outras pessoas contra nós (Mt 18.21-35). Entretanto, ainda somos tentados a guardar rancor, a permanecer irados, a “perdoar, mas não esquecer”. Afirma-se que D. L. Moody comparou a ideia a alguém que enterra o machado, mas deixa o cabo para fora.

Um espírito que não perdoa é talvez o maior assassino da vida espiritual genuína. Não devemos afirmar estarmos buscando a Deus se ativamente nutrimos inimizade em nosso coração contra nossos irmãos. Isso extinguirá a chama da alegria cristã e tornará quase impossível nos beneficiarmos do ensino da Bíblia. Não é de surpreender, então, que Jesus diga essencialmente: O que estou dizendo sobre um espírito de perdão é um elemento fundamental da oração piedosa. Pode ter certeza disso.

Você está guardando rancor ou revivendo a injustiça que alguém cometeu contra você em sua mente? Há alguém que você deixou de perdoar? Reflita sobre o perdão que você recebeu e peça a Deus que o ensine e capacite a perdoar — pois, ao perdoar os pecados dos outros contra você, você revela que entendeu a graça de Deus e que foi verdadeiramente perdoado por ele.

Como pode teu perdão alcançar e abençoar

O coração que não perdoa

Que medita sobre erros e não deixará

Uma velha amargura partir?

Em luz ardente tua cruz revela

A verdade que mal conhecemos,

Quão pequenas as dívidas dos homens conosco,

Quão grande o nosso débito a ti.

Senhor, limpa as profundezas de nossa alma,

E ordena que cesse o ressentimento;

Então, reconciliada a Deus e aos homens,

Nossa vida espalhará tua paz.[2]

 

 

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[1] Do latim, “uma coisa pela outra”.

[2] Rosamond Herklots, “Forgive Our Sins as We Forgive” (1969).