“Eu não tenho o dom de aconselhar”

Hoje foi o primeiro dia da Conferência de Treinamento em Aconselhamento Bíblico e confesso que já estou bem empolgado com o que vi. O evento é praticamente um curso intensivo sobre o assunto. São ao total quatro módulos abordando diversos tópicos que vão desde fundamentação teológica até estudos de casos práticos (veja a listagem completa aqui). Conforme você participa, você “sobe de módulo”, sendo que o módulo quatro (o último) tem seu conteúdo renovado a cada ano. Fiquei sabendo, a título de curiosidade, de que recentemente a igreja onde o Piper pastoreia (em breve, pastoreava) adotou o material deste curso.

O evento deve possuir cerca de 400 pessoas participantes, com um divisão bem equilibrada entre homens e mulheres (o que é muito bom). Não vi tantos jovens, mas tem alguns – é bom saber que há jovens interessados neste assunto tão importante. Aliás, gostaria de  aconselhar você a aprender sobre aconselhamento. Creio que é o dever de todo cristão aconselhar biblicamente – não só pastores. Este assunto foi parte do que vi no primeiro tópico do módulo um: “Por que aconselhar?”.

Quem deve aconselhar?

Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração. (Cl 3:16 ARA)

Paulo escreve esta instrução para toda a igreja que se reunia em Colossos. Sendo assim, todo cristão deve instruir e aconselhar. A desculpa “eu não tenho o dom de aconselhar” é tão esfarrapada quanto “eu não sou um evangelista, então não tenho que evangelizar” ou “não tenho o chamado pastoral, então não preciso ensinar (no dia a dia)”. Certamente, Cristo deu à Igreja pessoas capacitadas para realizarem tais serviços, mas isto não significa que, em certo sentido, todos devem evangelizar, ensinar e aconselhar.

Paulo fala algo semelhante aos cristãos de Tessalônica:

Exortamo-vos, também, irmãos, a que admoesteis os insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimos para com todos. (1 Ts 5:14)

E o autor de Hebreus também faz tal recomendação:

Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo; pelo contrário, exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado. (Hb 3:12,13 ARA)

Perceba a importância que o autor de Hebreus dá a isso: exortar o irmão é uma das formas de evitar a apostasia. Assim, todo cristão que ignora essa responsabilidade faz um desfavor a seus irmãos. Somos todos chamados para nos aconselharmos mutuamente.

Prepare-se

Imagino que neste momento você possa estar pensando: “ok, eu devo aconselhar, mas não sou nada bom nisso; o que fazer?”. Quando postei sobre isso no Facebook, uma das preocupações legítimas dos irmãos foi justamente o preparo do aconselhador; e, de fato, um conselho ruim pode ser devastador. Não foi seguindo o conselho da serpente que Eva comeu do fruto proibido? Então, ao mesmo tempo que aconselhar é uma responsabilidade de todo cristão, aconselhar bem e biblicamente também o é.

A exortação que Paulo dá em Colossenses antes de falar sobre aconselhamento é que a Palavra deve habitar ricamente em nós. Você não dará um conselho bíblico eficaz, se ele não for, bem, bíblico. Os termos “aconselhar”, “consolar” e “exortar” dos versículos acima são o mesmo termo em grego (noutheteō), que significa “por na mente”. Ou seja, aconselhar é por na mente da pessoa a Palavra de Deus (e não as nossas opiniões ou as opiniões seculares). O primeiro passo para aconselhar é encher-se a da Palavra. Não tente se justificar dizendo: “mas eu conheço tão pouco a Palavra”. Isso pode ser verdade, mas isso não o isenta de que todo cristão deve desejar e buscar aprender mais.

Esta conferência (e a ABCB – Associação Brasileira dos Conselheiros Bíblicos) é importante pois nos ajuda nesta aprendizagem. Você pode começar lendo os artigos disponíveis no site da ABCB , depois dar uma olhada nos aconselhamentos e na bibliografia sugerida e, por fim, considerar também sua participação neste evento em 2013, se Deus assim quiser.

Então, termino com uma pergunta:

como você tem se preparado para aconselhar seus irmãos?

Dica prática: Aconselhamento não é cobrança. Se alguém faltou ao culto, não chegue com os dois pés no peito perguntando: “Por que você faltou ao culto?”. Esse tipo de pergunta é uma pergunta fechada. Ao invés disso, pergunte “o que aconteceu para que você faltasse ao culto?”. Este tipo de pergunta estimula a pessoa a falar. E depois de perguntar, ouça a pessoa, afinal “o que responde antes de ouvir comete estultícia que é para vergonha sua” (Provérbios 18:13). 

Nos próximos dias de conferência irei participar de diversos tópicos dos quatro módulos, como:

  • O Papel Que o Engano Exerce ao Estimular a Idolatria
  • Aconselhando Pessoas com Diagnósticos Psicológicos
  • Ouvindo, A Habilidade Essencial do Conselheiro
  • Questões nas Filosofias de Aconselhamento
  • Aconselhando Jovens
  • Entendendo e Vencendo Pecados Sexuais
  • Verdades Básicas de Deus a Respeito do Casamento
  • O Papel do Marido
  • O Papel da Esposa
  • Princípios Bíblicos para o Sexo no Casamento
  • Como Conhecer a Vontade de Deus
  • Lidando com o Passado Biblicamente
  • Ajudando Aqueles que Sofrem de Depressão

Se você tem alguma pergunta sobre aconselhamento deixe um comentário nesta postagem. Estou montando uma lista de perguntas para perguntar aos palestrantes.

Para a glória de Cristo e o bem da Igreja,

Vinícius Musselman Pimentel