Deixe que os salmos imprecatórios moldem sua ira

Os salmos imprecatórios (salmos 7, 12, 35, 58, 59, 69, 70, 83, 109, 137, 140) possuem uma linguagem forte: “Ó Deus, quebra-lhes os dentes na boca” (Sl 58.6); “Consome-os com indignação, consome-os, de sorte que jamais existam” (Sl 59.13); “Filha da Babilônia, que hás de ser destruída, feliz aquele que te der o pago do mal que nos fizeste. Feliz aquele que pegar teus filhos e esmagá-los contra a pedra.” (Sl 137.8-9); “Caiam sobre eles brasas vivas, sejam atirados ao fogo” (Sl 140.10). Tais palavras geram um questionamento: será que esses salmos não vão de encontro à ética do Novo Testamento de amar os nossos inimigos (Mt 5.22, 44)?

A natureza dos salmos imprecatórios

Primeiro, precisamos entender o que são os salmos imprecatórios. Neste vídeo, trecho do Curso Fiel de Liderança: Teologia Bíblica do Antigo Testamento, Franklin Ferreira faz três observações preliminares sobre os salmos imprecatórios:

O contexto dos salmos imprecatórios

Segundo, precisamos entender o contexto dos salmos imprecatórios. Neste outro vídeo, trecho de uma aula da Escola Charles Spurgeon, Ferreira fala sobre a importância do Salmos imprecatórios diante das calamidades.

O uso dos salmos imprecatórios

Heber Campos Jr. escreve, em seu livro Triunfo da Fé, sobre a relação

Alguns acham que elas são expressões pecaminosas dos salmistas, outros acham que elas pertencem a uma ética sub-cristã do Antigo Testamento e, assim, não tem aplicação para o Novo Testamento. Porém, o próprio Jesus expressa linguagem imprecatória em relação aos seus inimigos (Mt 23.14, 29-36). Alguns poderiam contrapor dizendo que Jesus teria a prerrogativa divina de proclamar maldição pois Deus está acima da sua lei. Jesus, porém, colocou-se debaixo da lei e mesmo proferindo imprecações ele não pecou. Além disto, os salmos imprecatórios são citados no Novo Testamento realçando, assim, status de palavra verdadeira e relevante para todas as épocas. Portanto, não podemos classificar as expressões imprecatórias do Livro de Salmos como sendo pecaminosas ou irrelevantes para hoje.

Para respondermos ao dilema ético e encontrarmos o valor das imprecações é preciso ponderar alguns elementos desses salmos. A linguagem extremamente explícita – que para alguns estudiosos é hiperbólica – expressa o grau de perturbação emocional sentida pelo salmista. Expressá-las ao Senhor não é uma atitude necessariamente pecaminosa. É verdade que elas poderiam resultar de motivações pecaminosas (veja a preocupação de Davi no salmo 139.19-24). Porém, elas estão inseridas em orações, petições. Elas não são relatos de ações iradas e vingativas.

O pedido desses salmistas não é o de fazerem justiça com as próprias mãos, até mesmo porque a vingança pessoal era condenada desde o Pentateuco (Lv 19.18), mas de deixar a vingança com o Senhor (Dt 32.35; Pv 25.21-22; Rm 12.9, 20-21). A indignação deles é lícita pois resulta de opressões injustas. Mais do que isso, ela provém não só de um interesse próprio, mas de um zelo pela honra de Deus. Afinal, é o povo de Deus que estava sendo oprimido, e o Senhor tem grande ciúme do seu povo (Zc 2.8-9). Por isso as imprecações não são contrárias ao ensinamento de Jesus. Gordon Fee e Douglas Stuart fazem uma distinção entre a prática do amor e sentir amor. É o que você faz por alguém, não o que você sente por alguém que determina o seu amor. Cristo nos exortou a praticar o amor, não sentir amor. É lícito expressarmos nossa ira diante de Deus e ainda continuar a praticar amor para com os nossos inimigos.

Uma das melhores evidências de que os salmos imprecatórios não são expressão de um coração amargurado e pecaminoso é que até os santos no céu, onde não pode deixar de haver santidade (Hb 12.15), clamam “até quando?”. Em Apocalipse 6.9-11 está escrito:

Quando ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam. Clamaram em grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? Então, a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e lhes disseram que repousassem ainda por pouco tempo, até que também se completassem o número dos seus conservos e seus irmãos que iam ser mortos como igualmente eles foram.

Observe que quem ora “Até quando?” são as almas que já estão santificadas e se encontram na presença do Senhor. Não há nada pecaminoso em sua prece.

Assim sendo, pecaminosidade não resolvida na igreja e no mundo deve estimular o mesmo clamor em nós. Devemos nos entristecer pelas divisões presentes no meio do povo de Deus assim como Habacuque lamentou as contendas e o litígio em Judá (veja 1 Co 1.10-17; 3.1-23; 11.17-22). Devemos lamentar a violência e as injustiças recorrentes em nosso país. E tal lamento deve ser acompanhado de um anseio por correção, por castigo. Na verdade, a ausência do anseio próprio de imprecações é sinal de indiferença para com o pecado e para com a justiça divina. “Até quando?” não deve ser entendida como desespero, mas como uma oração esperançosa que provém daqueles que confiam que Deus resolverá a situação, como Habacuque esperava. Portanto, a reclamação de Habacuque é justa. Se o zelo pela justiça divina cresce à medida que nos santificamos, então devemos manifestar o anseio de que o Senhor Jesus volte não só para nos levar consigo, mas também para manifestar a sua justiça.

Um exemplo de salmo imprecatório

John Piper, em sua pregação Derrame sua indignação sobre eles, mostra como os salmos devem moldar nosso pensar e sentir, inclusive com relação à ira. Piper ilustra seu ponto com o salmo 69.

A chave: o uso do Novo testamento

A chave será como os autores do Novo Testamento usam este salmo – como eles o entendem. E nós temos muita ajuda nisso porque 7 dos versos desse salmo são citados explicitamente no Novo Testamento, incluindo as partes que são imprecatórias. Os escritores do Novo Testamento não se constrangeram com os salmos imprecatórios. Parece, na verdade, que os consideraram especialmente úteis para explicar a obra de Jesus e o que ela significa para nós.

Então, vamos examinar rapidamente o salmo e, então, ver como o Novo Testamento o usa.

Uma visão geral do Salmo 69

A situação é que Davi se sente oprimido pelos seus inimigos. Eles não parecem ser inimigos militares, mas inimigos pessoais. E eles são impiedosos e perversos.

Davi não se afirma perfeito. De fato, ele admite no verso 5 que cometeu erros e que Deus sabe disso. Mas as hostilidades contra ele não são devidas a esses erros. Eles o odeiam sem causa. E eles o atacam com mentiras. Verso 4: “Aqueles que me odeiam sem causa são mais do que os cabelos da minha cabeça; aqueles que procuram destruir-me, sendo injustamente meus inimigos, são poderosos; então restituí o que não furtei.”

Zelo pela glória de Deus

A questão é que Davi era zeloso pela glória de Deus, e seus adversários o reprovam por isso. Verso 7: “Porque por amor de ti tenho suportado afrontas; a confusão cobriu o meu rosto.” Verso 9: “Pois o zelo da tua casa me devorou, e as afrontas dos que te afrontam caíram sobre mim.” Em outras palavras, o sofrimento dele não é apenas imerecido, mas ele o recebe precisamente como um representante de Deus. “As afrontas dos que te afrontam caíram sobre mim.” Quando Deus recebe afronta, o salmista está recebendo afronta. “São as pessoas que te odeiam, Deus, que estão tornando minha vida difícil, pois eu te represento.”

Pedindo por resgate

Ele pede a Deus para resgatá-lo da sua situação miserável. Verso 14: “Tira-me do lamaçal, e não me deixes atolar; seja eu livre dos que me odeiam, e das profundezas das águas.” Verso 18: “Aproxima-te da minha alma, e resgata-a; livra-me por causa dos meus inimigos.”

Então vêm os versos 22-28, que são inteiramente imprecações ou maldições aos seus inimigos. Ele ora a Deus que esses inimigos – os inimigos dele e de Deus – experimentem a força completa do julgamento de Deus e que não sejam absolvidos. Ele não está orando pela salvação deles; ele está orando pela condenação deles. Versos 22-24: “Torne-se-lhes a sua mesa diante deles em laço, e a prosperidade em armadilha. Escureçam-se-lhes os seus olhos, para que não vejam, e faze com que os seus lombos tremam constantemente. Derrama sobre eles a tua indignação, e prenda-os o ardor da tua ira.”

Clamando por ajuda

Então, ele fecha o salmo com outro clamor por ajuda e uma promessa de louvor. Verso 29-30: “Eu, porém, sou pobre e estou triste; ponha-me a tua salvação, ó Deus, num alto retiro. Louvarei o nome de Deus com um cântico, e engrandecê-lo-ei com ação de graças.”

Resumindo, aqui temos o rei Davi, um homem imperfeito (v. 5), mas reto (v. 28), um homem que ama a glória de Deus, um homem que confia na misericórdia de Deus para expiação e redenção (v. 18), que se levanta pela causa dos humildes (vv. 32-33) e que está sofrendo a imerecida perseguição dos seus inimigos e dos inimigos de Deus. E no meio desse lamento e clamor por ajuda, ele devota 7 versos para clamar a Deus que puna tais inimigos.

Salmo 69 no Novo testamento

Então como o Novo Testamento lida com este salmo?

Primeiro, devemos dizer que o Novo Testamento ao citar o salmo nunca está envergonhado do salmo, nem é crítico. Nunca trata o salmo como algo que devemos rejeitar ou deixar pra trás. Nunca trata o salmo como uma vingança pessoal pecaminosa. Então, podemos aprender do Novo Testamento (como já poderíamos esperar uma vez que Jesus honrou os Salmos como inspirados por Deus – Marcos 12:36; João 10:35; 13:18) que esse salmo é reverenciado e honrado como verdade sagrada.

O Novo Testamento cita o Salmo 69 de, pelo menos, duas formas importantes: Ele cita o salmo como palavras de Davi e cita o salmo como as palavras de Jesus. Vejamos cada um por vez e então fechemos questionando como devemos ler o salmo hoje e como devemos pensar e sentir sobre a oração de Davi pela punição de homens violentos e maus.

1) Como as palavras de Davi

Primeiro, Romanos 11:9-11 cita Salmo 69:22-23. Aqui está o que o salmo diz: “Torne-se-lhes a sua mesa diante deles em laço, e a prosperidade em armadilha. Escureçam-se-lhes os seus olhos, para que não vejam, e faze com que os seus lombos tremam constantemente.”

Esse é o começo da oração de Davi para que Deus derramasse sua indignação sobre seus adversários (v.24). Ele ora para que, assim como lhe deram veneno por comida (v. 21), a mesa deles se torne em desgraça para eles. A mesma abundância  que eles acham que têm se mostraria ser sua sentença. E ele ora para que eles se tornassem cegos e inaptos para encontrar seus caminhos e que o tremor se apoderasse deles para sempre.

Em outras palavras, essa oração é uma oração pela sua condenação, destruição e maldição deles. Versos 27-28: “Acrescenta iniquidade à iniquidade deles, e não entrem na tua justiça. Sejam riscados do livro dos vivos, e não sejam inscritos com os justos.” Davi os encomenda para a perdição, para o inferno.

Não é uma vingança pessoal pecaminosa

Agora, você poderia pensar que se este salmo fosse uma vingança pessoal pecaminosa, o apóstolo Paulo teria pelo menos o evitado e talvez consertado. Mas ele faz justamente o oposto. Ele vai direto a este texto para apoiar seu ensino em Romanos 11. Ele nem ao menos se perturbou com este salmo. Em Romanos 11, Paulo ensina que a maioria de Israel havia rejeitado Jesus como seu Messias e havia se colocado debaixo do juízo de Deus. O juízo é que um endurecimento havia vindo sobre a maior parte de Israel a fim de que não cressem.

Romanos 11:7: “Pois quê? O que Israel buscava não o alcançou; mas os eleitos o alcançaram, e os outros foram endurecidos.” Verso 25: “Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado.” Então um dos principais ensinamentos de Paulo em Romanos 11 é que Deus está sentenciando Israel com este endurecimento até que a plenitude dos gentios de Deus seja salva.

Falando por Deus

Neste contexto, Paulo remonta ao então chamado imprecatório Salmo 69 (de todos os textos do Velho Testamento que ele poderia ter citado) para apoiar seu ponto e cita os versos 22-23 em Romanos 11:9-11: “E Davi diz: Torne-se-lhes a sua mesa em laço, e em armadilha, E em tropeço, por sua retribuição; Escureçam-se-lhes os olhos para não verem, E encurvem-se-lhes continuamente as costas.”

Em outras palavras, a forma que Paulo interpreta as palavras de Davi não é como uma vingança pessoal pecaminosa mas como uma fidedigna expressão do que acontece com os adversários do ungido de Deus. Davi é o rei ungido de Deus, e ele está sendo rejeitado e reprovado e injuriado. Davi manifesta muita paciência na sua vida (Salmo 109:4). Mas chega um ponto que Davi fala como um ungido, inspirado por Deus, e pela sua oração entrega seus adversários às trevas e endurecimento. Eles experimentarão esta sentença por que Davi está falando por Deus.

Sóbrias, Proféticas Palavras de Julgamento

Paulo não ouve palavras meramente emocionais de retaliação na voz de Davi. Ele ouve palavras proféticas e sóbrias de julgamento que o ungindo de Deus quer trazer aos seus adversários. Por isso que ele cita estas palavras em Romanos 11 onde ele defende este mesmo ponto: Os adversários de Cristo, o Messias de Deus, vão ser imersos em escuridão e endurecidos como parte do julgamento de Deus.

Esta é a primeira forma pela qual o Novo Testamento cita o Salmo 69, especificamente, como as palavras proféticas de julgamento pelo porta-voz inspirados por Deus sobre os adversários do ungido de Deus.

2) Como as Palavras de Jesus

A segunda maneira pela qual o Novo Testamento cita Salmo 69 é como as palavras do próprio Jesus. A razão para isso é que Jesus é o Filho de Davi (Romanos 1:3; Mateus 21:15; 22:42) e o que aconteceu com Davi como ungido real de Deus é prenúncio do ungido final, o Messias, Jesus. Então Jesus leu esse salmo e viu a sua própria missão sendo vivida em antecedência.

Quatro exemplos rápidos:

a) Jesus limpando o Templo

Em João 2:13-17 nós lemos sobre como Jesus expulsou os vendedores do templo. Verso 16 diz, “E disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui estes, e não façais da casa de meu Pai casa de venda.” Os discípulos impregnados de bíblia veem essa paixão pela casa de Deus, e eles ouvem Jesus chamar o templo de “a casa de meu Pai,” e eles lembram as palavras do Salmo 69:9. Verso 17: “E os seus discípulos lembraram-se do que está escrito: O zelo da tua casa me devorará.” Em outras palavras, eles veem nas palavras e ações de Davi um prenúncio das palavras e ações de Cristo.

b) Jesus odiado pelos seus

Em João 15:24-25 Jesus é odiado pelos líderes judeus assim como Davi foi odiado pelo seu próprio povo (verso 8). Dessa vez o próprio Jesus é quem cita explicitamente Salmo 69 como parte da “Lei” de Deus ou instrução de Deus. Ele diz, “Se eu não tivesse feito entre eles as obras que ninguém mais fez, eles não seriam culpados de pecado, mas agora eles tem visto e odiado a mim e ao Pai. Mas a palavra que está escrita na Lei deles deve ser cumprida: Ele me odiaram sem causa.” Esta é uma citação do Salmo 69:4: “Aqueles que me odeiam sem causa são mais do que os cabelos da minha cabeça.”

Então o próprio Jesus está consciente das experiências de Davi e vê elas como prenúncio das suas próprias experiências e diz, quando Davi é odiado pelos seus adversários, isso aponta para minha experiência e deve ser cumprido em mim.

c) Jesus na Cruz

Na cruz, no momento mais importante da história, Jesus traz sua vida a um fim, intencionalmente cumprindo o Salmo 69 mais uma vez em sua própria experiência. No verso 21 Davi tinha dito, “Deram-me fel por mantimento, e na minha sede me deram a beber vinagre.”

Evidentemente Jesus tinha vivido nesse salmo e absorveu esse salmo e fez desse salmo parte do seu próprio ser. De outra maneira, eu não sei como nós poderíamos explicar João 19:28-30. Aqui ele está pendurado na cruz em horrível agonia e nós lemos:

Depois, sabendo Jesus que já todas as coisas estavam terminadas, para que a Escritura se cumprisse, disse (Para cumprir as Escrituras): “Tenho sede.” Estava, pois, ali um vaso cheio de vinagre. E encheram de vinagre uma esponja, e, pondo-a num hissopo, lha chegaram à boca. E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: “Está consumado.” E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.

De acordo com o apóstolo João, Jesus morreu cumprindo o Salmo 69. Que tributo mais glorioso poderia ser dado a um salmo? O salmo que nós tendemos a pensar ser um problema por causa de suas imprecações, foi aquele que Jesus viveu e aquele que o carregou para a cruz e através da cruz.

d) Jesus suportando a afronta

2.4. Mais uma ilustração do Salmo 69 como as palavras de Jesus: No verso 9 Davi diz a Deus, “e as afrontas dos que te afrontam caíram sobre mim.” Em Romanos 15 Paulo está chamando os cristãos para serem pacientes com os fracos e para negarem a si mesmos e receber os outros humildemente.

Maravilhosamente neste ponto, ele entra novamente no Salmo 69:9 e diz, “Portanto cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom para edificação. Porque também Cristo não agradou a si mesmo, mas, como está escrito: Sobre mim caíram as injúrias dos que te injuriavam.” Em outras palavras, ele pega as palavras de Davi e vê elas cumpridas em Cristo. E a coisa específica que ele foca é que Cristo de boa vontade suportou as afrontas dos homens.

Então parece que Salmo 69 tem duas pontas no Novo Testamento. Uma ponta é a do julgamento: As imprecações não são retaliações pessoais pecaminosas mas aprovação profética da justa retribuição de Deus pelo pecado.

A outra ponta é  o sofrimento do ungido de Deus. Este sofrimento é suportado por amor a Deus. E o sofrimento é tanto o meio pelo qual os adversários são trazidos ao arrependimento e são salvos, ou o meio pelo qual eles são confirmados em seu endurecimento e condenados.

Como o Salmo 69 deveria nos afetar?

Então nós voltamos e concluímos com a pergunta: Como nós deveríamos pensar e sentir quando nós lemos o Salmo 69 hoje? Três respostas:

1) Aprovação do Julgamento de Deus

Nós deveríamos ouvir a voz divinamente inspirada de Davi, o ungido do Senhor, sofrendo para a glória de Deus, e expressando seu desejo e aprovação pelo julgamento de Deus sobre os adversários do Senhor que não se arrependem. Ele está deixando claro que o julgamento de Deus vem, e isto é certo, e até mesmo desejável, e que isto deve vir quando os adversários estão além do arrependimento. Existe um julgamento divino a caminho, e naquele dia os cristãos irão aprovar o que Deus fizer. Isto é o que as imprecações de Davi deixam claro. Isto é o que nós deveríamos pensar e sentir.

2) Prenunciando o Ministério de Jesus

Nós deveríamos ouvir Davi como o prenúncio do ministério de Jesus. O que Davi experimenta como o ungido do Senhor, Jesus irá completar de maneiras mais grandiosas em seu próprio sofrimento e morte. Seu sofrimento será um sofrimento de salvação e condenação. Para aqueles que aceitarem isso como sua glória, ele salvará. Para aqueles que são endurecidos por isso, ele condenará.

Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento? Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus. (Romanos 2:4-5)

3) Incentivo a perdoar

E quanto a nós? Quando nós lemos estas palavras, o que deveríamos pensar e sentir e fazer?

A coisa principal para dizer é que nós não devemos tomar as imprecações como encorajamento ou incentivo para amaldiçoar nossos inimigos. De fato, na mente de Paulo o salmo nos leva exatamente à direção oposta. Paulo cita o salmo em Romanos 15:3 para nos encorajar a negarmos a nós mesmos ao invés de satisfazer o desejo de vingança. “Cristo não agradou a si mesmo, mas como está escrito: ‘As afrontas dos que me afrontaram caíram sobre mim.’ ” Em outras palavras, suporte, perdoe.

Mas não é porque não há ira, nem punição e nem julgamento no Salmo 69. É precisamente porque há julgamento. E não cabe a nós executá-lo. O fato de que Deus irá fazê-lo, e para Ele é certo fazê-lo, é a razão pela qual somos capazes de seguir a Jesus no sofrimento por aqueles que nos têm ofendido:

Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor. Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. (Romanos 12:19-21)

As brasas irão purificar se houver arrependimento, e punir se não houver. Deus irá decidir. Nós iremos aprovar. Mas até aquele dia de julgamento, nós seguimos as palavras do Rei Ungido: “Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos aborrecem, bendizei os que vos maldizem e orai pelos que vos caluniam. . . . e sereis filhos do Altíssimo” (Lucas 6:27-29, 35)